Já o dizia António Gedeão:
Eles não sabem, nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.
Mas referia-se a
mundos passados, poderosos, dos outros, com o nosso contributo também, é certo,
na caravela a rimar com canela, mas tudo se foi na canção monocórdica de António Freire, a terminar em lá lá lá rá … ao nosso jeito.
O melhor mesmo
era deitar mãos às obras…
EDITORIAL
Troika: isto é só um intervalo
Portugal continua a apresentar
debilidades estruturais que o deixam à mercê da irracionalidade dos mercados ou
de uma mudança de política monetária.
PÚBLICO, 6 de
Abril de 2021
Foi há dez anos, “o dia mais
longo e difícil” de Teixeira
dos Santos, o ministro das Finanças na altura. Pela
noite, o primeiro-ministro José Sócrates, à frente de um executivo de gestão,
anuncia: “O Governo decidiu hoje mesmo dirigir à Comissão Europeia um
pedido de assistência financeira.” Estava aberta a era da troika, que, para além da Comissão,
integrava o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco
Central Europeu (BCE).
Foi há dez anos que Portugal sucumbiu
à pressão dos mercados e teve de pedir ajuda externa quando os juros da dívida
a curto prazo atingiam os 6% e havia dificuldade em encontrar financiadores.
Seguiu-se um período em que a palavra dominante foi a austeridade, num conjunto
de medidas que procurou diminuir a despesa do Estado e reduzir a dívida
pública, que, em 2011, tinha um rácio de 100% do PIB.
Dez anos depois, a dívida é de
mais de 130% do PIB, mas o actual ministro das Finanças, João Leão, conseguiu
pagar, em Janeiro, pela primeira vez na história, um juro negativo numa
colocação de dívida a dez anos. O
país mudou? Certamente. A receita da troika foi dura, levou a muitos
cortes e sacrifícios, alguns dos quais ainda vigoram, apesar da
fase de “reversões” que se seguiu com a “geringonça”. Mas Portugal continua a
ser hoje um dos países com a dívida mais elevada do mundo.
Mudou muito mais o mundo,
nomeadamente a atitude das autoridades europeias, especialmente do BCE, que tem
hoje uma política de juros a zero e de compra de dívida, que dificilmente
permitirá que volte a acontecer uma crise como a de 2011. A pandemia veio ainda carregar mais nas mudanças ao
fazer com que a União suspendesse as regras orçamentais e, pela primeira vez,
emitisse dívida conjunta. Investimento público a qualquer custo parece mesmo
ser o mantra actual, vindo até de protagonistas como o FMI, que no passado
defenderam praticamente o oposto.
É
óbvio que a conjuntura hoje é muito diferente, mas também é claro que as
graves limitações da resposta à crise anterior também produziram ensinamentos que
permitiram uma resposta diferente. Quer isto
dizer que estamos hoje completamente livres de uma crise semelhante à de 2011?
O melhor é não confiar. Portugal continua a apresentar debilidades estruturais
que o deixam à mercê da irracionalidade dos mercados ou de uma mudança de
política monetária.
O mais correcto é encarar a pandemia
como um intervalo nas políticas de rigor orçamental, mesmo sem vontade nenhuma
de regressar aos ditames da troika. É preciso, sem esquecer as lições do
passado, “reconstruir, virando para o futuro a economia e a sociedade
portuguesa”, como pede o Presidente da República. E há tanto
por fazer.
TÓPICOS
OPINIÃO EDITORIAL CONJUNTURA DÍVIDA PÚBLICA FINANÇAS PÚBLICAS COMISSÃO EUROPEIA FMI
Carvalho Carvalho.881625 INICIANTE: A questão é "Portugal sucumbiu à pressão dos
mercados", como escreve no editorial ou será que Portugal sucumbiu com a
rejeição do PEC na AR? Provavelmente já não se lembram do chumbo do PEC quando
foi este que criou as condições para a entrada da Troika Rita Cunha Neves INICIANTE: Para alguns o euro é um dogma: não se discute; é quase
como uma criação divina. Mas para muitos é um pesadelo: países mais pobres,
Estados mais endividados. Há um elefante no meio da sala, quem não quer ver? Jonas Almeida INICIANTE: subscrevo, Rita, é a realidade de uma religião cega. MODERADOR: Bem pelo contrário. O elegante é discutido todos os
dias. Mas em vez de se matar o elefante, cuida-se dele, entende? Samuel Silva INICIANTE: Irracionalidade dos mercados? Não se viraram para a
Alemanha, talvez haja mais racionalidade do que se apregoa. Jonas Almeida INICIANTE: Os números dizem que Portugal está economicamente
estagnado e com um contrato social em desagregação desde a não referendada
entrada para o euro. Vamos na 2a crise desastrosamente gerida (excepto para os
amigos) por um centralismo neocolonial. Dizer que "é a realidade que se
engana" como ironizava Bertholt Brecht resolverá tantos problemas hoje
como resolveu no tempo em que ele escreveu essas palavras. Roberto34 MODERADOR: Quais números? Desde 2015 que a economia Portuguesa
passou a convergir com o resto da Europa e não estava estagnada. Obviamente que
ninguém previu a crise pandémica. A segunda crise não está a ser gerida por
nenhum centralismo neoliberal, nem sei onde foi buscar tal coisa. Aliás bem
pelo contrário. A UE tomou passos bem diferentes daqueles tomados em 2009, uma
crise provocada pelo país onde vive. Os problemas estruturais de problema não
são causados pelo Euro, quando muito o Euro apenas os expõe. Já não há o escudo
nem a sua desvalorização para os mascarar. Mario Coimbra INFLUENTE: O que nos deve preocupar é a racionalidade dos mercados
e não o contrário. O BCE por causa do Euro está a segurar-nos. Mas o quanto
isto irá durar não é certo. E mais grave o país na verdade mudou pouco e com a
pandemia estamos a regredir e a puxar dívida para os nossos filhos e netos. A
nossa geração falhou ou está a falhar às futuras gerações. É uma pena e
devíamos todos envergonhar-nos. AM.242743 INFLUENTE: Se bem entendi, com a pandemia estamos a regredir, ao
contrário dos outros países europeus que estão a progredir e a abater as suas
dívidas para não as deixar para os filhos e netos? O Mário vive numa realidade
paralela? É que na realidade em que vivo, todos os países europeus aumentaram
brutalmente o seu endividamento e tiveram quedas brutais no PIB por causa da
pandemia... e, seguramente, vão deixá-la (à dívida) em herança aos seus filhos
e netos, como acontece com todos os países "normais". Claro que o Mário
terá as suas razões para se sentir envergonhado, e tem todo o direito a
confessá-lo. Roberto34 MODERADOR: O AM tem razão. A emissão e consequente aumento de
dívida é transversal na Europa e na maior parte do resto dos países do mundo.
Os dados sobre isso são públicos. A forma de combater as consequências
económicas foi através da emissão de dívida. Agora a questão é como iremos
pagar e tornar essa dívida sustentável no futuro. Por enquanto parece que os
erros cometidos em 2011 não serão cometidos. Usar a austeridade para abater a
dívida não iria resolver os problemas, é preciso apostar no crescimento
económico para tornar a dívida mais sustentável e aumentar ou ser criativo nos
impostos como na área ambiental, empresas tecnológicas ou maiores riquezas. Jonas Almeida INICIANTE: Concordo Mário, é uma inapelável vergonha como a nossa
geração desprezou a liberdade e democracia que os nossos pais conquistaram. Em
temas suprapartidários como a transferência de soberania (Maastricht não foi
referendado), e nos avisos de uma mão cheia de nobeis da economia que estávamos
a entregar o tecido político à ruína do extremismo neoliberal em fim de época
(o euro). Um arranjo neocolonial intra-europeu com raízes históricas óbvias
("Globalists: The End of Empire and the Birth of
Neoliberalism" por Quinn Slobodian) é de facto, e simplesmente, o desleixo e desprezo
pelo futuro dos nossos filhos. Mas agora, Mário, que o BCE e a sua alma de
directores gerais da Goldman (Mario
Draghi) e
presidentes do FMI (Christine Lagarde)
seja a tábua de salvação, não bate certo. Roberto34 MODERADOR: O Euro não é nenhum arranjo neocolonial Jonas. Não bate
certo porquê? Porque não está de acordo com a sua agenda anti Euro é isso? O
mundo, felizmente não é como o Jonas o pinta. Pensava que já tinha percebido
isso. tecosta EXPERIENTE: O que não aprendemos como País é que me preocupa.
Continuamos sem uma ideia de País. Apostar no turismo não é sustentável e não
contribui nem para a coesão social nem territorial. O que me sossega é o
Excelentíssimo Presidente da República Dr. Marcelo Rebelo de Sousa e a notícia
de ontem - reunir diversas entidades e pessoas para estudar, reflectir e
acompanhar o PRR. Os políticos deste País, na sua maioria, não estão à altura
dos desafios, não têm visão estratégica a médio e longo prazo, nem estão
preocupados com o legado geracional ao contrário do Exmo. Presidente. A ele
bem-haja. bentoguerra69.1045698 INICIANTE: Sim, o PS é o mesmo, ou pior. Agora faz negócios de
ocasião e colocou a sua tropa nos lugares importantes do Estado e do sistema. Venham
os "troikiteiros"! jomar INICIANTE: bom texto.
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