sexta-feira, 2 de abril de 2021

Reforço

 

Do artigo de Jorge Fernandes, de 31/3, também sobre Louçã, no texto deste blog, “Recorro à Wikipédia”, esta crónica de Paulo Tunhas, que mereceria inúmeras torpezas de comentários, naturalmente.

O conselheiro de Estado Louçã e os canibais /premium

Louçã – é uma evidência – não é um democrata. É um espírito autoritário vindo de outros tempos, de tempos de horror e morte que não o podem em nenhuma circunstância chocar. É neles que vive de facto.

PAULO TUNHAS

OBSERVADOR; 01 abr 2021

Será que vale a pena falar de Francisco Louçã? A deputada à Assembleia Municipal de Lisboa Aline Hall de Beuvink teve de falar, porque Louçã exibiu no seu programa da SIC, com pretensões humorísticas, um vídeo em que ela falava do chamado Holodomor, em que morreram à fome, em 1932 e 1933, por acção directa e planeada de Estaline, vários milhões de Ucranianos. Ela, descendente de Ucranianos, teve de falar porque foi alvo de uma tentativa de ridicularização por se ter pronunciado sobre uma imensa tragédia que afectou o povo dos seus antepassados. Quem não se sentiria no dever de o fazer? Quem não se veria obrigado pela sua consciência a mostrar que o mais desumano horror  nada tem de divertido ou propício ao gozo?

Mas nós? Nós, que conhecemos Louçã de há muito e que estamos mais do que habituados ao seu costumeiro delírio de virtude e ao seu desprezo pela verdade, será que vale a pena gastar tempo para reflectir no que representa a personagem? Não o sabemos nós já? Não conhecemos nós já demasiado bem o fundo de crenças a partir do qual ele fala e que Marcelo Rebelo de Sousa honrou através da sua nomeação para o Conselho de Estado, o órgão consultivo do Presidente da República? Não sentimos nós todos já a degradação institucional que a presença dessa figura ali representa? Vale a pena dizer mais alguma coisa?

Vale. A completa obscenidade do programa da SIC – e deixo apenas aqui a SIC de lado porque me pretendo concentrar em Louçã — não permite sequer alternativa. O conselheiro de Estado Francisco Louçã deu ali uma imagem perfeita da sua dimensão política e humana, que não pode passar sob silêncio. Está lá tudo: o arremedo de humor que não é senão um esgar de desprezo; o fanatismo que lhe permite decretar, sem qualquer lugar para dúvida, quem caminha na direcção certa da história e quem contra ela marcha; o cinismo disfarçado de virtude; o sentimento de impunidade assegurado pela pertença à categoria política que o regime mais venera – a esquerda; a indiferença por relação à verdade e à busca dela; o desejo latente, visível a cada esgar, do desaparecimento de todos os seus adversários.

É esta criatura, eternamente acabada de chegar de um dos vários lugares da história em que o terror fez lei, e disposta a acomodar a propaganda às dimensões permitidas pelos costumes locais, esperando alargá-las, que desprezivelmente procurou rir-se das palavras de Aline Hall de Beuvink sobre o horror do Holodomor, onde a fome induzida por Estaline levou milhões de Ucranianos à morte e muitos à prática do canibalismo.

Beuvnik refere, na sua resposta ao conselheiro de Estado, o clássico de Robert Conquest, The Harvest of Sorrow, e também a obra mais recente de Anne Applebaum sobre a “fome vermelha”. São leituras muito recomendáveis, mas em relação às quais Francisco Louçã se encontra imunizado. Como se encontra imunizado, já o disse, a tudo aquilo que respeite à preocupação com a verdade e com a sua busca. As características que enumerei no penúltimo parágrafo só podem atingir o grau de desenvolvimento que nele adquirem com base numa condição: a redução do universo mental a uma dimensão que exclui qualquer contacto com a diversidade das opiniões, que é o estado natural da vida política democrática. Dito de outra maneira: a sua tão celebrada “inteligência” é o resultado directo de uma insensibilização radical face à experiência humana, só possível por uma espécie de ignorância do mundo dos indivíduos dedicadamente cultivada. É inútil, por isso, esperar dele qualquer compreensão do sofrimento humano e do horror em grande escala que o cria. Encontra-se metodicamente protegido desses transtornos e não tenciona, em caso algum, abdicar dessa protecção.

Louçã – é uma evidência – não é um democrata. É um espírito autoritário – totalitário, se preferirmos a palavra — vindo de outros tempos, de tempos de horror e morte que não o podem em nenhuma circunstância chocar. É neles, no desejo do seu regresso, que vive de facto. O seu tempo é o dessa memória. E, embora se tenha sem dúvida habituado à ideia que não testemunhará em vida o seu retorno, a imagem dos doces fantasmas do terror, agindo e premeditando a destruição de quem se lhes opõe, habita em permanência a sua cabeça. Como se poderia ele não rir da grande fome ucraniana e das palavras de Aline Hall de Beuvink? O terror é-lhe perversamente familiar, enquanto que a ela lhe surge como a introdução de algo radicalmente estranho – “estranho” como uma substância que o ser próprio se recusa a incorporar — na sua vida, e algo que lhe permanece estranho, de uma estranheza terrível, por mais que a história o descreva em todas as suas minúcias. É essa estranheza que lhe faz exprimir o horror do canibalismo. E é a intimidade – dialéctica, como mandam as regras — com o terror que permite a Louçã gozar com ela. E connosco. Um perfeito canibal espiritual.

COMUNISMO   POLÍTICA   FRANCISCO LOUÇà  PAÍS

COMENTÁRIOS:

Carlos Gonçalves: E por falar no recorrente desprezo pela verdade: quando é que a criatura será objecto de escrutínio  por parte do matarruano do "polígrafo"? É preciso pedir? Peçam ao matarruano para dar uma olhadinha no conselheiro anacleto.          Mario Nunes: A presença deste "democrata" no Conselho de Estado e no Banco de Portugal, tudo pago pelos contribuintes, é um insulto a todos os contribuintes. Os responsáveis são aqueles que os promovem a esses lugares. Quanto à SIC, não faço qualquer comentário, apenas relembro que Francisco Balsemão é o lider (não sei se já foi substituído por Durão Barroso que pela sua formação maoista preencha melhor os requisitos) em Portugal do grupo Bilderberg. Fala-se na Maçonaria e na Opus Dei que, só para os incautos são coisas idênticas, mas esqueceram-se de quem vai às reuniões do Bilderberg, cujo impacto, na minha opinião, é muito mais profundo.        Andrade QB: Louçã tanto poderia ser comunista como militante do Daesh a decapitar por missão divina, mas numa coisa ainda é pior do que qualquer um desses seus colegas fanáticos, é mentiroso compulsivo, pelo que  Marcelo acertou em cheio na sua elevação a Conselheiro de Estado.            Joaquim Almeida: Belo momento de combate pela liberdade. Parabéns ao OBSERVADOR  (e aos autores, óbviam.) por este conjunto de artigos a propósito de um assanhado totalitário.           Liberales Semper Erexitque: O bicho em causa acha-se o maior, e é um puro "chico-esperto" na mais lastimosa tradição tuga (até tem o nome certo para ser chico-esperto). Claro que noutras circunstâncias ele gostaria de ser um canibal a sério, dispondo de inquisidores, guilhotinas, polícia política, campos de "reeducação", etc. Em 2021 no país dos brandos costumes, tem que se contentar com ser um canibal do espírito. Há muitos anos que associo os burguesinhos de esquerda a vampiros (m/f). O professor Loucão é o vampiro-mor. E não lhe tem faltado o sangue para chupar.        josé maria: Paulo Tunhas, já viu a vergonha por que está a passar com a sua falácia non sequitur ? Já se apercebeu do tipo de gente, intelectualmente diminuída, que diz amen com a sua deriva falaciosa ? Sente-se bem com essa companhia? Porquê degradar-se tanto ? Algo que Freud explicaria com o princípio da compulsão masoquista? Sente-se bem ao lado dos medíocres, do seu séquito pacóvio de admiradores, ou trata-se apenas de um castigo auto-infligido, mordendo o isco, sarcasticamente venenoso, de Francisco Louçã? Francisco Tavares de Almeida: Abomino Louçã e tudo o que representa. Nunca gostei de Marcelo (desde 1974) mas incomoda-me a aparente ignorância do autor e dos comentaristas.

Louçã não foi nomeado por Marcelo.

"A Assembleia da República elegeu hoje os seus representantes para o Conselho de Estado, o órgão consultivo do Presidente da República. A Lista B (PS, Bloco e PCP) obteve 116 votos e elegeu Carlos César, Francisco Louçã e Domingos Abrantes.

A Lista A afecta ao PSD e ao CDS teven104 votos tendo elegido Pinto Balsemão e Adriano Moreira. A votação teve ainda um voto nulo e cinco em branco."

Clarisse Seca > Francisco Tavares de Almeida: Afinal foram os socio comunistas que elegeram Louçã! Os mesmos que usurparam o governo em 2015, perdendo eleições! e para fazer desandar o país, com mentiras! Alguém ainda acredita nessa gente que nos faz andar de rédeas, sem que muita gente perceba?

Paulo Barata > Paulo Guerra: Deixa o Tunhas e foca-te no Holodomor!!! Houve ou não? Achas que os erros de uns desculpam os outros!!!! Avençados da treta que não acrescentam nada ao pensamento crítico. Mais um desonesto intelectual ou troll da internet.

Paulo Guerra: Mais um a candidatar-se ao abono do Louçã esta semana. E cá estou eu a contribuir para o peditório para ver se nunca deixam cair este muro das lamentações. Além de que como já sabemos, quando este colunista afiança que há armas de destruição maciça é porque sim. Nem que depois venha dizer que afinal enganámo-nos todos. Só acho que é uma tremenda falta de respeito com qualquer genocídio não ser mais preciso no número das suas vítimas. Ou ainda restarão algumas dúvidas? A julgar pelos poucos países que o reconhecem eu diria que muitas mas já nem quando nos referimos aos Milhões da bazuca utilizamos um pronome tão indefinido.  E não podemos esquecer que desta vez não está só em causa uma tentativa de uma histérica ideológica, por acaso até proveniente de um povo aliado dos nazis na II WW, em compará-lo com o próprio Holocausto para o qual alguns dos seus antepassados contribuíram e de que maneira, como ainda creditar-lhe o grande mito do Século XX - o tal que dizia que os comunistas comiam criancinhas ao piqueno almoço. Merecia sem dúvida mais precisão! E a seguir mais luta pelo seu reconhecimento pleno para além das ex-Repúblicas Soviéticas e alguns dos mordomos mais habituais dos yankees. Por quem o colunista, como se confirma mais uma vez está sempre pronto para penhorar a sua palavra. Mesmo que valha o que vale.   

Luis Teixeira-Pinto: Estes esquerdosos, reles e traiçoeiros, são sempre muito inteligentes. Subiram à custa dos fretes dos pares, também eles seleccionados para os lugares que ocupam e cuja obrigação é sempre o de elevar os Big Brothers que lhes impõem. Subiu este, como subiu o Rosas, como subiram outros, gente bem pouco recomendável. Dizem que é inteligente, como também dizem que o é o homem de Belém. Mas com tanta inteligência e ao fim de tanto tempo, o que fizeram eles senão tratar da vida? Qual o estado de Portugal ao fim de 45 anos de abrilada? Confinados ao nosso canto, reduzidos à nossa dimensão, foi com umas auto-estradas (construídas para favorecer amigalhaços) que evoluímos? Que gente temos hoje que possa ter comparação com os meus professores de antigamente, alguns ainda vivos, grandes engenheiros, grandes mestres que davam cartas no Congresso Mundial das Grandes Barragens, presidido durante vários anos pelo Engº Rebelo Pinto, Director-Geral dos Serviços Hidráulicos. Onde estão indivíduos da craveira do Manuel Rocha, do Joaquim Sarmento, do Bonfim Barreiros, do Joaquim Sampaio, do Barreiros Martins, do Armando Lencastre, do Fernando Abecassis, do Vasco Sá, do Afonso Sousa Soares, do António Carvalho Quintela, ou do Laginha Serafim? Falo da Engenharia que é o que melhor conheço, nas outras áreas o valor não seria certamente diferente. Quem são estes Louçãs, estes Costas, estes Marcelos, estes pequenos homens que não mostram nada do que deveriam ter aprendido com quem os antecedeu? 

Carlos Quartel: Em tempos de máscara, Louçã teve um descuido e deixou cair a sua. Enganou (e continua a enganar) muita gente desatenta. Pelas bandas de Louçã e afins o fanatismo tudo invade, a realidade é desprezada, a verdade um inimigo e o desprezo pelos infiéis é total. Daí a desejar a sua eliminação é um pequeno passo. Infelizmente não está só, muita gente da informação pertence à tribo (o entrevistador, ao que parece, contribuiu alegremente para o destempero) e mesmo no Conselho de Estado tem companhia. Mais tosca e menos sofisticada, mas com a mesma intolerância para com os infiéis. Há que ter a noção de que a desaprovação e o asco causado por este triste episódio é assunto de alguns milhares, que por aqui andamos. A grande maioria dos cidadãos acompanha, com grande preocupação, a carreira do Sporting.

 

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