A voz persuasiva e o olhar de dureza
sorridentemente inflexível do PM lá vão impondo as suas ordens, que resultam do muito amor deste por nós, pela nação que pisa, corroborado por um PR que também vai
pisando o que pode. Os critérios são científicos. Mas o PM
agradece o nosso bom comportamento, e nós ficamos enternecidos com a gratidão
dele e vamos continuar cumprindo, apesar de outras verdades aterradoras que AG nos traz.
«O Governo estabeleceu um Plano de Desconfinamento, cruzando diversos critérios científicos, dividido em
quatro fases e com um período de 15 dias de intervalo entre cada fase, de forma
a poder ir avaliando os impactos das medidas na evolução da pandemia».
Somos intelectuais. Acreditamos na ciência
que presidiu ao Plano de Desconfinamento.
Quando a esmola é pouca, o pobre
desconfina /premium
O empobrecimento é o destino comum de
cada governação socialista. A diferença é que nem o eng. Sócrates aproveitou a
gripe das aves para trucidar a economia e suscitar dependência por duas
gerações.
ALBERTO
GONÇALVES
OBSERVADOR 03
abr 2021
Novidades da pandemia? Aqui vão elas. Dois terços das famílias portuguesas sofrem
dificuldades financeiras. Em apenas um ano, a quantidade de
desempregados inscritos – os não inscritos são um caso à parte – nos ditos
centros subiu 37%. A Rede de Emergência Alimentar auxilia 80 mil pessoas, algumas com profissões que
teoricamente as colocariam na classe média e que agora passam fome. Os
indivíduos sem-abrigo
multiplicaram-se. O
comércio a retalho perdeu 200 milhões de euros em 2020. Na hotelaria as
perdas rondam os 90%. Metade dos restaurantes fecharam, muitos para
sempre. As falências em geral vão crescer 19% em 2021 (estimativa
optimista). E boa parte das moratórias ao crédito, que
envernizavam a catástrofe, acabaram esta semana.
Etc. Etc. Etc.
Na
verdade, nada disto decorre da pandemia: tudo decorre das medidas
tomadas para alegadamente combater a pandemia.
Até ver, a Covid matou 16 mil pessoas (tradução: morreram 16 mil pessoas com
teste positivo à Covid). Em breve, saberemos quantas pessoas foram arruinadas
pelas medidas “contra” a Covid. Se é que não sabemos já: a pretexto de um
vírus com mortalidade irrisória para a grande maioria da população, o governo e
o presidente da República atiraram para um desastre garantido a quase
totalidade da população. Não falo aqui dos milhões de consultas canceladas, das
54 mil cirurgias urgentes “adiadas” e dos não sei quantos homicídios por
negligência. Nem falo das liberdades que se aboliram, do estado policial que se
criou e da humilhação progressiva dos que eram cidadãos e hoje são lacaios.
Aqui,
falo apenas do desastre material. Uma percentagem significativa começa a sentir
no bolso e na barriga as consequências deste crime, porque perdeu emprego,
casa, e o hábito de um jantar decente.
Centenas de milhares experimentarão em breve os prazeres desse “lifestyle”
alternativo. E um dia, que não será longínquo, mesmo os que ficam
em casa por medo ou preguiça, a respeitar “confinamentos”, a desrespeitar o
sofrimento alheio, a receber o salário e a esgotar a selecção da Netflix, vão
pagar a factura do monstro que ajudaram a alimentar. Embora pensem que não.
Por
enquanto, estamos em fase de transição, sob uma espécie de anestesia
feita de “layoffs” e promessas incumpríveis.
Ou de promessas que, como se viu no recente diferendo “constitucional” com
Belém, não ocorre a quem manda cumprir. Quando não são puras mentiras, os
famosos “apoios” são uma pequena fracção dos anunciados, e uma fracção
minúscula dos necessários. Se o povo espera por dinheiro, convém que espere
sentado – se entretanto não lhe retirarem o sofá por dívidas ao fisco ou à
banca. Salvo por umas migalhas para apaziguar momentaneamente a
administração pública, a “bazuca” metafórica, agitada por trafulhas para
espantar pacóvios, está evidentemente reservada ao patrocínio de negociatas
ruinosas. Uma bazuca literal, que afugentasse para as Galápagos as
quadrilhas em funções, talvez nos poupasse a males maiores. Assim como estamos,
resta-nos o “novo normal”. E não tenham dúvidas: o “novo normal” é a miséria.
Naturalmente,
o empobrecimento é o destino comum de cada governação socialista. A diferença é
que nem o eng. Sócrates aproveitou a gripe das aves para trucidar a economia e
suscitar dependência por duas gerações. A pobreza que se aproxima
transformará a de 2011 numa saudade. E as ilusões em sentido contrário não
mitigam a realidade. Independentemente das intenções, reduzir o
mundo à Covid tem um preço. Aos
poucos, o mundo vai lembrar-nos que não deixou de existir e o que o desprezo a
que o votaram custará caro. Aos poucos, com ou sem casos, com ou sem mortos,
com ou sem vacinas, com ou sem R(t), os portugueses perceberão que a Covid é
uma ligeiríssima maçada se comparada com um sofrimento colectivo a sério. Aos
poucos, o lendário risco de cair num ventilador será anedótico perante o sufoco
garantido em que a vida se tornou. Em
Janeiro, a fim de ilustrar as mortes com Covid, pediam-nos para imaginar a
queda diária de um Boeing: a solução passou por enfiar os 9.984.000
sobreviventes num imenso Titanic. E há um imenso iceberg ali à frente.
Fora
as sociedades que, por escassez de “confinamentos”, não sentiram a loucura
“motivada” pela Covid, as outras dissiparão a loucura por uma de três vias: a
sensatez dos líderes, a insurreição do povo, o desespero dos infelizes. A opção caseira é evidente. Connosco, isto só vai
lá pelo instinto de subsistência, a incerteza da renda e da refeição seguintes,
o instante em que se descobre que matar o bicho é ainda mais improvável do que
ser morto por ele.
Claro
que, nessa altura, será tarde e Inês morta. Ou estraçalhada por taxas
“solidárias” e “regeneradoras”. Ou desempregada e na fila da cantina social. E
claro que mesmo então os desgraçados atribuirão a respectiva penúria aos
“excessos” do Natal, ao sr. Bolsonaro, às festas “ilegais” ou à aurora boreal.
É pena os desgraçados esquecerem-se de que a culpa da penúria não
foi dos fenómenos míticos que a propaganda lhes meteu na cabeça: foi do dr.
Costa, do prof. Marcelo, das “autoridades” em geral, dos “especialistas” em
particular, dos “telejornais” e, na vasta maioria, deles próprios. Quando a
esmola é pouca, o pobre desconfina. Por azar, estará pobre como nunca e
inimputável como sempre.
POBREZA SOCIEDADE PANDEMIA SAÚDE GOVERNO POLÍTICA
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