sábado, 15 de janeiro de 2022

Pretexto para uma revisão


Acerca do que foi a “Guerra Fria”, o texto de Diana Soller, sobre a ameaça de uma guerra – quente, hoje, sem receio já do “nuclear”, como no tempo daquela? Um agradecimento à Internet pelo seu texto em brasileiro. E, naturalmente, a Diana Soller, pelo seu tema, revelador de preocupação natural, na nova escalada ameaçadora, não propriamente da paz, mas da vida do planeta.

Muito mais do que a Ucrânia

A Rússia conseguiu criar a ilusão de que é o elo mais forte e que a NATO está encostada a uma parede da qual não pode sair sem ceder às exigências do Kremlin.  

DIANA SOLLER, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 15 jan 2022, 00:141

Esta semana ficou marcada por conversações inconclusivas entre a Rússia e os Estados Unidos e a Rússia e a NATO quanto à “crise da Ucrânia”. Escrevo entre aspas, porque se trata, essencialmente, de uma escalada da ameaça do uso da força da parte de Moscovo que tem muito mais a ver com a sua posição no sistema internacional do que com qualquer instabilidade na fronteira com Kiev.

Os cerca de 100.000 soldados na fronteira da Rússia com a Ucrânia são a árvore que nos está a impedir de ver floresta. Washington e Moscovo estão a negociar um entendimento que se pretende duradouro e apaziguador. O Kremlin quer restaurar a área de influência que perdeu em 1997 e a Casa Branca quer uma Rússia satisfeita que lhe deixe espaço para travar a sua luta de transição de poder com a China.

Todo este quadro teve início em junho do ano passado na Cimeira de Genebra, quando Joe Biden e Vladimir Putin se encontraram pela primeira vez. Aí, o presidente americano concedeu ao homólogo russo o estatuto de grande potência, o que significa, em linguagem diplomática, o reconhecimento de um estatuto especial a um estado – o poder de participar nas decisões internacionais – e o direito desse estado de estender a sua influência, especialmente na vizinhança próxima. Aquilo a que normalmente chamamos “esferas de influência”.

Putin percebeu que tinha uma janela de oportunidade para negociar. Esperou por um momento de fragilidade do presidente norte-americano – que eventualmente chegou com a descida abrupta da sua popularidade devido à saída atabalhoada do Afeganistão, bem como com o adensar de problemas internos – e apostou tudo. Deslocou as tropas para a fronteira e apresentou dois documentos que quer ver assinados pelos parceiros atlânticos. Esses documentos são, sobretudo, ultimatos: a paz nas fronteiras depende de exigências hiperbólicas, como o congelamento definitivo do alargamento da NATO e o recuo das forças e dispositivos militares da Aliança Atlântica para onde se encontravam antes do primeiro alargamento, em 1997. E, para não restarem dúvidas da seriedade com que Moscovo leva estas exigências, Sergei Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros, intimou o Ocidente a responder durante a próxima semana se quer evitar uma escalada na fronteira. Independentemente do resultado destas negociações, a Rússia conseguiu criar a ilusão de que é o elo mais forte e que a NATO está encostada a uma parede da qual não pode sair sem ceder às exigências do Kremlin.

Não é exactamente assim. Os Estados Unidos e não tenhamos dúvidas de que quem está a negociar com a Rússia são os EUAnão deixaram, de um dia para o outro, de ser uma grande potência. Se é certo que em condições sistémicas como as atuais, de transição de poder, poderá ter de fazer cedências (não me admirava que sacrificasse a Ucrânia, por exemplo), mas não tantas que ponham em causa o seu sistema de alianças e de segurança. Washington não pode ceder a ponto de parecer um actor internacional fraco e incapaz de conter uma potência regional como a Rússia.

Este duelo tornou-se um braço de ferro, em que ambas a potências têm muito a perder – ou a ganhar. A Rússia é um gigante com pés de barro, mas com vontade política para fazer valer as suas exigências – nem que seja pela força. Os Estados Unidos são uma superpotência fragilizada, mas que precisa de fazer a quadratura do círculo: garantir aos aliados que não os deixa cair num momento tão delicado, apaziguar Moscovo num momento em que Kremlin sente que pode conseguir o que há poucos anos era impossível, sem para isso perder o prestígio internacional que precisa para fazer face à China.

Este é mais um episódio das grandes mudanças sistémicas que estamos a passar. Mas um que vai ditar a forma do quadro de segurança na Europa. Diz-nos muito, mas simultaneamente mostra o quanto somos impotentes relativamente ao nosso futuro.

UCRÂNIA   EUROPA 

 COMENTÁRIOS:

Hugo c: Sleepy Joe Biden? you sure about that?            bento guerra: É demasiado nova para saber que o Kennedy forçou o retorno à Rússia de um carregamento de mísseis ,que queriam instalar na Cuba comunista. E isto foi há sessenta anos. A geo-política funciona aos "quintais", o meu,o teu o do outro          César Fernando Diniz das Neves: Cada vez aumenta a probabilidade desta  "senhora" ser uma colaboracionista de papel passado, porque ter uma tola pequena já é uma certeza há muito. Mas que ameaça é que a Rússia é para a Europa?

NOTAS DA INTERNET:

Guerra Fria

A Guerra Fria foi o conflito político-ideológico responsável pela polarização do mundo na segunda metade do século XX. EUA e URSS foram os protagonistas desse conflito.

Características

A Guerra Fria estendeu-se de 1947 a 1991 e algumas características desse período podem ser destacadas.

Polarização do mundo: a disputa travada entre americanos e soviéticos resultou em uma forte polarização do mundo que afetava as relações internacionais dessas nações como um todo. Houve uma tentativa de criar um movimento não-alinhado em que algumas nações procuravam seguir um caminho independente sem necessariamente se vincular com alguma das duas potências.

Corrida armamentista: a procura pela hegemonia internacional fez com que as duas potências investissem bastante no desenvolvimento de novas tecnologias bélicas. Assim, no período, o número de armas nucleares e termonucleares produzidas disparou.

Corrida espacial: a corrida espacial foi um dos campos de disputa entre americanos e soviéticos e, ao longo da década de 1960, inúmeras expedições espaciais foram realizadas.

Interferência estrangeira: tanto americanos quanto soviéticos interferiram em assuntos internos de diferentes países do planeta. Dois exemplos são a interferência americana na política brasileira na década de 1960 e a interferência militar no Afeganistão na década de 1980.

Acontecimentos importantes da Guerra Fria

A Guerra Fria criou um clima de forte tensão internacional a respeito da possibilidade de um conflito aberto entre americanos e soviéticos. A existência de armamentos nucleares e termonucleares sob a posse desses países tornava essa expectativa de um conflito muito mais pavorosa, pois um conflito desse tipo causaria a aniquilação da humanidade. Ao longo das décadas da Guerra Fria, houve inúmeros momentos de tensão que serão destacados a seguir.

Revolução Chinesa: A Guerra Civil Chinesa, que se arrastava desde a década de 1920, retornou com força depois da Segunda Guerra Mundial, e o fortalecimento dos comunistas, liderados por Mao Tsé-tung, levou os americanos a apoiar os nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek. A vitória dos comunistas, conhecida como Revolução Chinesa, em 1949, alarmou os americanos sob a possibilidade de que o comunismo fosse disseminado pelo continente asiático por meio da influência chinesa.

Guerra da Coreia: Primeiro momento de grande tensão após a Segunda Guerra Mundial. Esse conflito iniciou-se em 1950, quando os comunistas norte-coreanos, apoiados por chineses e soviéticos, invadiram o território sul-coreano, apoiados pelos americanos. O objetivo era reunificar a Península da Coreia sob a liderança dos comunistas. Esse conflito contou com o envolvimento direto de soldados americanos, mas ao longo do conflito nenhum dos dois lados sobressaiu e o conflito teve fim em 1953, com um armistício que ratificou a divisão das Coreias – divisão que existe até hoje. Os soviéticos também participaram desse conflito, mas os americanos não tomaram nenhuma ação, pois queriam evitar um conflito direto.

Crise dos Mísseis em Cuba: Crise dos Mísseis foi o momento de maior tensão entre as duas potências da Guerra Fria e se passou em 1962. Naquele ano, o serviço de inteligência dos EUA descobriu que a URSS estava instalando uma base de mísseis em Cuba, país que havia passado por uma revolução nacionalista em 1959. A inteligência americana sabia que os mísseis soviéticos representavam pouca ameaça para os EUA, mas o presidente americano sabia que a questão teria repercussão negativa sob seu governo e decidiu intervir. O governo americano disse aos soviéticos que se os mísseis não fossem retirados, seria declarada guerra. As negociações arrastaram-se durante semanas e os dois lados chegaram a um acordo. Os soviéticos decidiram retirar os mísseis de Cuba e os americanos aceitaram retirar seus mísseis instalados na Turquia.

Guerra do Vietnã: Guerra do Vietnã foi um conflito travado entre 1959 e 1975 entre Vietnã do Norte e Vietnã do Sul e ambos lados procuravam unificar o país sob seu controle. Os americanos entraram nesse conflito, em 1965, e enviaram milhares de soldados ao Vietnã. Essa guerra foi extremamente impopular nos EUA, e os americanos retiraram-se do conflito, sem alcançar seus objetivos, em 1973. Os comunistas tomaram o controle do país, em 1976, logo após vencerem a guerra.

Guerra do Afeganistão de 1979: O Afeganistão é mencionado por muitos como o “Vietnã da União Soviética”. Esse conflito foi travado entre 1979 e 1989 e se iniciou quando os soviéticos invadiram o Afeganistão para apoiar o governo comunista daquele país contra rebeldes islâmicos. A invasão soviética levou os americanos a financiarem e treinarem os rebeldes islâmicos e esse conflito foi extremamente penoso para os soviéticos que se retiraram em 1989.

Cooperação política e militar: Ao longo dos anos da Guerra Fria, americanos e soviéticos procuraram coordenar ações para concentrar o seu poder sob sua zona de influência. Uma das estratégias utilizadas foi a criação de formas de cooperação econômica e militar dos quais destacam-se o Plano Marshall e a Comecon, no âmbito econômico, e a OTAN e o Pacto de Varsóvia, no âmbito político-militar.

Plano Marshall e Comecon

O Plano Marshall, conforme mencionado, foi um plano de cooperação econômica mediante o qual os americanos disponibilizavam grandes somas de dinheiro para financiar a reconstrução dos países destruídos por conta da Segunda Guerra Mundial. O projeto defendia a ideia que apoiar o desenvolvimento econômico de determinados países ajudaria a conter o avanço do comunismo.

Em contrapartida, os soviéticos criaram o Conselho para Assistência Econômica Mútua, mais conhecido como Comecon (sigla em inglês). Nesse plano, as nações do bloco comunista, foram agrupadas sob a liderança dos soviéticos. Esse plano foi criado pelos soviéticos para evitar que o Plano Marshall seduzisse as nações do bloco comunista a aliarem-se com os americanos.

Otan e Pacto de Varsóvia

No campo militar, foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em 4 de abril de 1949. A ideia da OTAN era criar uma aliança militar de países alinhados aos Estados Unidos visando a impedir uma posição de agressão dos soviéticos. A OTAN foi uma forma de os EUA imporem a sua hegemonia sobre o continente europeu.

Na mesma proposta, os soviéticos criaram o Pacto de Varsóvia, em 1955. A ideia era garantir a segurança das nações do bloco comunista e evitar uma possível agressão realizada pelos estadunidenses. Assim, se uma nação fosse agredida, todas as outras se mobilizariam em defesa dela.

Alemanha na Guerra Fria

No caso da Alemanha, a Guerra Fria teve impactos muito maiores do que em grande parte do mundo. Isso porque ao final da Segunda Guerra a Alemanha foi dividida em zonas de influência de soviéticos, americanos, franceses e britânicos. Essa divisão teve reflexos no futuro do país que acabou sendo dividido em duas nações: República Democrática Alemã (RDA), alinhada à União Soviética e conhecida como Alemanha Oriental; República Federal da Alemanha (RFA), alinhada aos Estados Unidos e conhecida como Alemanha Ocidental. A cidade de Berlim também foi dividida e transformou-se na capital das duas Alemanhas. O lado oriental era comunista e o lado ocidental era o capitalista. Ao longo da década de 1950, milhares de cidadãos da Alemanha Oriental começaram a mudar-se para Berlim Ocidental. Para impedir essa fuga de cidadãos, as autoridades da União Soviética e da Alemanha Oriental decidiram construir um muro isolando Berlim Ocidental. Durante 28 anos, o Muro de Berlim separou os dois lados da cidade de Berlim e, por isso, converteu-se em um grande símbolo da Guerra Fria.

Fim da Guerra Fria

A Guerra Fria teve fim com a dissolução da União Soviética que ocorreu em 26 de dezembro de 1991. O fim da URSS foi resultado da grande crise econômica e política que atingiu aquele país a partir da década de 1970. A falta de ações para resolver os problemas do bloco comunista foram responsáveis por levar o país ao fim.

A economia soviética demonstrava, já na década de 1970, claros sinais de esgotamento e o país era mais atrasado em relação às grandes potências. A indústria soviética estava em queda, a produção agrícola era insuficiente e os indicadores sociais começaram a regredir demonstrando um claro empobrecimento do país.

A disparada no valor do petróleo criou uma falsa sensação de prosperidade no começo da década de 1980 e, por isso, o país não passou por reformas importantes em sua economia. Além disso, a sociedade soviética não tinha acesso a tecnologias que garantiam avanço na qualidade de vida no ocidente e a corrupção tornava tudo pior.

Dois acontecimentos na década de 1980 acabaram agravando a situação do país. A invasão do Afeganistão forçou a União Soviética a gastar milhões na luta contra os rebeldes islâmicos e, em 1986, o acidente nuclear em Chernobyl causou morte e destruição, além de forçar os soviéticos a gastarem altas somas para conterem os efeitos do acidente nuclear.

A situação econômica ruim contribuiu para aumentar a insatisfação da sociedade com os governos comunistas. Em todo o bloco, a pouca liberdade de expressão e o autoritarismo manifestado pelos governos comunistas era uma realidade, e a insatisfação com a crise econômica e a questão política fizeram surgir movimentos de oposição por todo o bloco comunista.

(FOTO: A queda do Muro de Berlim, em 1989, simbolizou o fim da Alemanha Oriental e deu início à reunificação alemã

Os primeiros sinais manifestaram-se na Alemanha Oriental, Hungria e Polônia. Os alemães derrubaram o Muro de Berlim, no final de 1989, e promoveram a reunificação da Alemanha, os húngaros abriram as fronteiras do país com o Ocidente e os poloneses elegeram o primeiro governo não comunista desde a Segunda Guerra.

A União Soviética começou a promover a abertura da sua economia no governo de Mikhail Gorbachev por meio da Glasnost e Perestroika. Logo, as nações que formavam a URSS começaram a se mobilizar pela sua independência. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev renunciou e, no dia seguinte, a União Soviética foi dissolvida.

Em sequência, uma série de países conquistaram a sua independência, tais como Ucrânia, Bielorrússia, Armênia etc. Esses países reuniram-se na Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e realizaram a transição para o capitalismo.

 

 

 

 

Nenhum comentário: