Acerca do que foi
a “Guerra Fria”, o texto de Diana Soller, sobre a ameaça
de uma guerra – quente, hoje, sem receio já do “nuclear”, como no tempo
daquela? Um agradecimento à Internet pelo seu texto em brasileiro.
E, naturalmente, a Diana
Soller, pelo seu tema, revelador de
preocupação natural, na nova escalada ameaçadora, não propriamente da paz, mas
da vida do planeta.
Muito mais do que a Ucrânia
A Rússia conseguiu criar a ilusão de
que é o elo mais forte e que a NATO está encostada a uma parede da qual não
pode sair sem ceder às exigências do Kremlin.
DIANA SOLLER, Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 15 jan 2022, 00:141
Esta semana ficou marcada por
conversações inconclusivas entre a Rússia e os Estados Unidos e a Rússia e a
NATO quanto à “crise da Ucrânia”.
Escrevo entre aspas, porque se trata, essencialmente, de uma escalada da ameaça do uso da força da parte de Moscovo
que tem muito mais a ver com a sua posição no sistema internacional do que com
qualquer instabilidade na fronteira com Kiev.
Os
cerca de 100.000 soldados na fronteira da Rússia com a Ucrânia são a árvore que
nos está a impedir de ver floresta. Washington
e Moscovo estão a negociar um entendimento que se pretende duradouro e
apaziguador. O Kremlin
quer restaurar a área de influência que perdeu em 1997 e a Casa Branca quer uma
Rússia satisfeita que lhe deixe espaço para travar a sua luta de transição de
poder com a China.
Todo este quadro teve início em junho do
ano passado na Cimeira de Genebra, quando Joe Biden e Vladimir
Putin se encontraram pela primeira vez. Aí, o presidente americano concedeu ao homólogo
russo o estatuto de grande potência, o que significa, em linguagem
diplomática, o reconhecimento de um estatuto especial a um estado – o poder
de participar nas decisões internacionais – e o direito desse estado de
estender a sua influência, especialmente na vizinhança próxima. Aquilo a que
normalmente chamamos “esferas de
influência”.
Putin
percebeu que tinha uma janela de
oportunidade para negociar. Esperou
por um momento de fragilidade do presidente norte-americano – que eventualmente
chegou com a descida abrupta da sua popularidade devido à saída atabalhoada do
Afeganistão, bem como com o adensar de problemas internos – e apostou tudo. Deslocou as
tropas para a fronteira e apresentou dois documentos que quer ver assinados
pelos parceiros atlânticos. Esses
documentos são, sobretudo, ultimatos: a paz nas
fronteiras depende de exigências hiperbólicas, como o congelamento definitivo do alargamento da NATO e o
recuo das forças e dispositivos militares da Aliança Atlântica para onde
se encontravam antes do primeiro alargamento, em 1997. E, para não restarem dúvidas da seriedade com que
Moscovo leva estas exigências, Sergei
Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros, intimou o Ocidente a responder durante a próxima
semana se quer evitar uma escalada na fronteira. Independentemente do resultado destas negociações, a Rússia
conseguiu criar a ilusão de que é o elo mais forte e que a NATO está encostada
a uma parede da qual não pode sair sem ceder às exigências do Kremlin.
Não é exactamente assim. Os Estados
Unidos – e não
tenhamos dúvidas de que quem está a negociar com a Rússia são os EUA – não
deixaram, de um dia para o outro, de ser uma grande potência. Se é certo
que em condições sistémicas como as atuais, de transição de poder, poderá ter
de fazer cedências (não me
admirava que sacrificasse a Ucrânia, por exemplo), mas não tantas que ponham em causa o seu sistema de
alianças e de segurança. Washington
não pode ceder a ponto de parecer um actor internacional fraco e incapaz de
conter uma potência regional como a Rússia.
Este duelo tornou-se um braço de ferro, em que ambas a potências têm
muito a perder – ou a ganhar. A Rússia é um gigante com pés de barro, mas
com vontade política para fazer valer as suas exigências – nem que seja pela
força. Os Estados Unidos são uma
superpotência fragilizada, mas que precisa de fazer a quadratura do círculo:
garantir aos aliados que não os deixa cair num momento tão delicado, apaziguar
Moscovo num momento em que Kremlin sente que pode conseguir o que há poucos
anos era impossível, sem para isso perder o prestígio internacional que precisa
para fazer face à China.
Este é mais um episódio das grandes mudanças sistémicas que estamos a
passar. Mas um que vai ditar a forma do quadro de segurança na Europa. Diz-nos
muito, mas simultaneamente mostra o quanto somos impotentes relativamente ao
nosso futuro.
COMENTÁRIOS:
Hugo c: Sleepy Joe Biden? you sure about that? bento guerra: É demasiado nova para saber que o Kennedy forçou o
retorno à Rússia de um carregamento de mísseis ,que queriam instalar na Cuba
comunista. E isto foi há sessenta anos. A geo-política funciona aos
"quintais", o meu,o teu o do outro César Fernando Diniz das Neves:
Cada vez aumenta a probabilidade desta
"senhora" ser uma colaboracionista de papel passado, porque ter uma
tola pequena já é uma certeza há muito. Mas que ameaça é que a Rússia é para a
Europa?
NOTAS DA INTERNET:
Guerra
Fria
A Guerra Fria foi o conflito
político-ideológico responsável pela polarização do mundo na segunda metade do
século XX. EUA e URSS foram os protagonistas desse conflito.
Características
A Guerra Fria estendeu-se de 1947 a 1991 e algumas
características desse período podem ser destacadas.
Polarização do mundo: a disputa travada entre americanos e soviéticos resultou em uma forte
polarização do mundo que afetava as relações internacionais dessas nações como
um todo. Houve uma tentativa de criar um movimento não-alinhado em que algumas
nações procuravam seguir um caminho independente sem necessariamente se
vincular com alguma das duas potências.
Corrida armamentista: a procura pela hegemonia internacional fez com que as duas potências
investissem bastante no desenvolvimento de novas tecnologias bélicas. Assim, no
período, o número de armas nucleares e termonucleares produzidas disparou.
Corrida espacial: a corrida espacial foi um dos
campos de disputa entre americanos e soviéticos e, ao longo da década de 1960,
inúmeras expedições espaciais foram realizadas.
Interferência
estrangeira: tanto americanos quanto soviéticos interferiram em assuntos internos de
diferentes países do planeta. Dois exemplos são a interferência americana na
política brasileira na década de 1960 e a interferência militar no Afeganistão
na década de 1980.
Acontecimentos
importantes da Guerra Fria
A Guerra Fria criou um clima de forte tensão
internacional a respeito da possibilidade de um conflito aberto entre
americanos e soviéticos. A existência de armamentos nucleares e termonucleares sob
a posse desses países tornava essa expectativa de um conflito muito mais
pavorosa, pois um conflito desse tipo causaria a aniquilação da humanidade. Ao longo das décadas da
Guerra Fria, houve inúmeros momentos de tensão que serão destacados a seguir.
Revolução Chinesa: A Guerra Civil Chinesa, que se
arrastava desde a década de 1920, retornou com força depois da Segunda Guerra
Mundial, e o fortalecimento dos comunistas, liderados por Mao Tsé-tung, levou os americanos a apoiar
os nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek. A vitória dos comunistas, conhecida como Revolução Chinesa, em 1949, alarmou os americanos sob a
possibilidade de que o comunismo fosse disseminado pelo continente asiático por
meio da influência chinesa.
Guerra da Coreia: Primeiro momento de grande
tensão após a Segunda Guerra Mundial. Esse conflito iniciou-se em 1950, quando os
comunistas norte-coreanos, apoiados por chineses e soviéticos, invadiram o
território sul-coreano, apoiados pelos americanos. O objetivo era reunificar
a Península da Coreia sob a liderança dos comunistas. Esse conflito contou com o
envolvimento direto de soldados americanos, mas ao longo do conflito nenhum dos
dois lados sobressaiu e o conflito teve fim em 1953, com um armistício que
ratificou a divisão das Coreias – divisão que existe até hoje. Os
soviéticos também participaram desse conflito, mas os americanos não tomaram
nenhuma ação, pois queriam evitar um conflito direto.
Crise dos Mísseis em Cuba: A Crise dos
Mísseis foi o momento de maior tensão entre as duas potências da
Guerra Fria e se passou em 1962. Naquele ano, o serviço de inteligência dos
EUA descobriu que a URSS estava instalando uma base de mísseis em Cuba, país
que havia passado por uma revolução nacionalista em 1959. A inteligência americana
sabia que os mísseis soviéticos representavam pouca ameaça para os EUA, mas o
presidente americano sabia que a questão teria repercussão negativa sob seu
governo e decidiu intervir. O governo americano disse aos soviéticos que se os
mísseis não fossem retirados, seria declarada guerra. As negociações
arrastaram-se durante semanas e os dois lados chegaram a um acordo. Os
soviéticos decidiram retirar os mísseis de Cuba e os americanos aceitaram
retirar seus mísseis instalados na Turquia.
Guerra do Vietnã: A Guerra do
Vietnã foi um conflito travado entre 1959 e 1975 entre Vietnã do Norte e Vietnã do Sul e ambos lados procuravam unificar o
país sob seu controle. Os americanos entraram nesse conflito, em 1965, e enviaram milhares de
soldados ao Vietnã. Essa guerra foi extremamente impopular nos EUA, e os americanos
retiraram-se do conflito, sem alcançar seus objetivos, em 1973. Os comunistas tomaram o controle do país,
em 1976, logo após vencerem a guerra.
Guerra do Afeganistão de 1979: O Afeganistão é mencionado por
muitos como o “Vietnã da União Soviética”. Esse conflito foi travado entre
1979 e 1989 e se iniciou quando os soviéticos invadiram o Afeganistão para apoiar o governo
comunista daquele país contra rebeldes islâmicos. A invasão soviética levou
os americanos a financiarem e treinarem os rebeldes islâmicos e esse conflito
foi extremamente penoso para os soviéticos que se retiraram em 1989.
Cooperação política e militar: Ao longo dos anos da Guerra Fria, americanos e
soviéticos procuraram coordenar ações para concentrar o seu poder sob sua zona
de influência. Uma das estratégias utilizadas foi a criação de formas de
cooperação econômica e militar dos quais destacam-se o Plano Marshall e a Comecon, no âmbito econômico, e a OTAN e o Pacto de Varsóvia, no âmbito político-militar.
Plano Marshall e Comecon
O Plano Marshall, conforme mencionado, foi um plano de cooperação econômica
mediante o qual os americanos disponibilizavam grandes somas de dinheiro para
financiar a reconstrução dos países destruídos por conta da Segunda Guerra
Mundial. O projeto defendia a ideia que apoiar o desenvolvimento
econômico de determinados países ajudaria a conter o avanço do comunismo.
Em contrapartida, os soviéticos criaram o Conselho para Assistência
Econômica Mútua, mais conhecido como Comecon (sigla em inglês). Nesse plano, as nações do bloco
comunista, foram agrupadas sob a liderança dos soviéticos. Esse plano foi
criado pelos soviéticos para evitar que o Plano Marshall seduzisse as nações do
bloco comunista a aliarem-se com os americanos.
Otan e Pacto de Varsóvia
No campo militar, foi criada a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan), em 4 de abril de 1949. A ideia da OTAN era criar uma aliança militar de países alinhados aos Estados Unidos visando a
impedir uma posição de agressão dos soviéticos. A OTAN foi uma forma
de os EUA imporem a sua hegemonia sobre o continente europeu.
Na mesma proposta, os soviéticos criaram o Pacto de Varsóvia, em 1955. A ideia era garantir a
segurança das nações do bloco comunista e evitar uma possível agressão
realizada pelos estadunidenses. Assim, se uma nação fosse agredida,
todas as outras se mobilizariam em defesa dela.
Alemanha na Guerra Fria
No caso da Alemanha, a Guerra Fria teve impactos muito
maiores do que em grande parte do mundo. Isso porque ao final da Segunda Guerra a Alemanha
foi dividida em zonas de influência de soviéticos, americanos, franceses e
britânicos. Essa divisão teve reflexos no futuro do país que acabou sendo
dividido em duas nações: República Democrática Alemã (RDA), alinhada à União Soviética e
conhecida como Alemanha Oriental; República Federal da Alemanha (RFA), alinhada aos Estados Unidos
e conhecida como Alemanha Ocidental. A cidade de Berlim também foi dividida e
transformou-se na capital das duas Alemanhas. O lado oriental era comunista e o
lado ocidental era o capitalista. Ao
longo da década de 1950, milhares de cidadãos da Alemanha Oriental começaram a
mudar-se para Berlim Ocidental. Para impedir essa fuga de cidadãos, as
autoridades da União Soviética e da Alemanha Oriental decidiram construir
um muro isolando
Berlim Ocidental. Durante 28 anos, o Muro de Berlim separou os dois lados da cidade de Berlim e, por isso, converteu-se em um
grande símbolo da Guerra Fria.
Fim da Guerra Fria
A Guerra Fria teve fim com a dissolução da União Soviética que
ocorreu em 26 de dezembro de 1991. O fim da URSS foi resultado da grande crise econômica e política que
atingiu aquele país a partir da década de 1970. A falta de ações para resolver
os problemas do bloco comunista foram responsáveis por levar o país ao fim.
A economia soviética demonstrava, já na década de
1970, claros sinais de esgotamento e o país era mais atrasado em
relação às grandes potências. A indústria soviética estava em queda, a
produção agrícola era insuficiente e os indicadores sociais começaram a
regredir demonstrando um claro empobrecimento do país.
A disparada no valor do petróleo criou uma falsa
sensação de prosperidade no começo da década de 1980 e, por isso, o país não
passou por reformas importantes em sua economia. Além disso, a sociedade
soviética não tinha acesso a tecnologias que garantiam avanço na qualidade de
vida no ocidente e a corrupção tornava tudo pior.
Dois acontecimentos na década de 1980 acabaram
agravando a situação do país. A
invasão do Afeganistão forçou a União Soviética a gastar milhões na luta contra
os rebeldes islâmicos e, em 1986, o acidente nuclear em Chernobyl causou morte e
destruição, além de forçar os soviéticos a gastarem altas somas para conterem
os efeitos do acidente nuclear.
A situação econômica ruim contribuiu para aumentar a
insatisfação da sociedade com os governos comunistas. Em todo o bloco, a pouca
liberdade de expressão e o autoritarismo manifestado pelos governos comunistas
era uma realidade, e a insatisfação com a crise econômica e a questão política
fizeram surgir movimentos de oposição por todo o bloco comunista.
(FOTO: A queda
do Muro de Berlim, em 1989, simbolizou o fim da Alemanha Oriental e deu início
à reunificação alemã
Os primeiros sinais manifestaram-se na Alemanha
Oriental, Hungria e Polônia. Os alemães derrubaram o
Muro de Berlim, no final de
1989, e promoveram a reunificação da Alemanha, os húngaros abriram as
fronteiras do país com o Ocidente e os poloneses elegeram o primeiro governo
não comunista desde a Segunda Guerra.
A União Soviética começou a promover a abertura da sua
economia no governo de Mikhail Gorbachev por meio da Glasnost e Perestroika. Logo, as nações que formavam a
URSS começaram a se mobilizar pela sua independência. Em 25 de dezembro de
1991, Gorbachev renunciou e, no dia seguinte, a União Soviética foi
dissolvida.
Em sequência, uma série de países conquistaram a sua
independência, tais como Ucrânia, Bielorrússia, Armênia etc. Esses países reuniram-se na Comunidade
dos Estados Independentes (CEI) e realizaram a transição para o capitalismo.
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