“O povo é sereno”, habituado que
está ao respeito. Em minha opinião, Costa não tem que recear.
“Não sou
Cavaco!” Ou será que sou?
A estratégia do tudo ou nada é aquela que melhor serve o
líder do PS. É por isso que não apresenta nada de novo nesta campanha eleitoral
e anda com um orçamento chumbado e requentado debaixo do braço.
OBSERVADOR, 18 jan 2022
No
debate com Rui Rio, António Costa garantiu aos portugueses que não é Cavaco
Silva. A afirmação serviu para dizer que, mesmo que não tenha a desejada
maioria absoluta, estará disponível para governar.
A
estratégia do líder do PS suscita, no entanto, algumas dúvidas. Ao agitar o
orçamento chumbado como a última coca-cola do deserto. Ao fechar portas e pontes com os parceiros de
outrora garantindo que com eles não há condições para governar. Ao
escolher como primeira acção de campanha apanhar um avião da Ryanair porque a
TAP, que garante ser essencial para o país, não tem voos disponíveis para os
Açores. Ao admitir, como único parceiro possível, o PAN em claro
desgaste nas sondagens… O Primeiro-ministro demonstra que não tem plano B e
parece estar a dizer aos eleitores: Ou me dão o que peço ou prefiro perder.
Se
há coisa de que temos a certeza é que a máquina socialista é profissional e o
seu secretário-geral também. O homem do diálogo, que é também conhecido pela
sua visão política, não dá nenhum passo sem avaliar as consequências. O próprio
debate com o seu principal concorrente demonstra que Costa não apostou em
espetar a agulha onde mais doía a Rui Rio. O tema da prisão perpétua e as
propostas para a Segurança Social eram armas poderosas na contenda.
Surpreendentemente não foram usadas.
O
próprio facto de António Costa ter deixado de lado o pudor em pronunciar a
expressão “maioria absoluta”, sem medo que as palavras queimem ou que os
eleitores vejam aí uma arrogância a penalizar nas urnas, deixa no ar esta
sensação de que Costa está a ser Cavaco sem o assumir.
A opção pelo caminho do vai ou racha
é a via que melhor serve o atual Primeiro-ministro. Depois de 6 anos a guiar a geringonça, ou caranguejola,
como também lhe chamaram. Depois de assumir publicamente o falhanço da sua
solução milagrosa de 2015. A única forma de Costa sair por cima, sem admissão
de falhanço e sem frustrações no exercício do poder, é ganhar por muitos e
governar sozinho ou não governar de todo.
A
estratégia do tudo ou nada
é, portanto, aquela que melhor serve os interesses do homem que ainda está ao
leme. É por isso
que o líder do PS não apresenta nada de novo nesta campanha eleitoral e anda
com um orçamento chumbado e requentado debaixo do braço. Se os portugueses
ainda veem em Costa o homem providencial, vão entregar-lhe o voto para fazer
mais do mesmo. Se o encanto tiver acabado, é provável que com esta estratégia
perca as eleições.
Costa comporta-se como a noiva
caprichosa que se recusa a fazer mudanças para conquistar o noivo. Ou gostam
dele como é ou ele prefere ir pregar para outra freguesia. Ganhar por
poucochinho é o pior dos seus pesadelos.
PS:
Algures no país, António José Seguro deve estar a seguir estas eleições com
bastante interesse.
LEGISLATIVAS
2022 ELEIÇÕES POLÍTICA ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS:
Carlos Chaves:
Na “mouche” Raquel, obrigado pelo artigo.
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