terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Passividade também ..


De todos nós, que nos acomodamos a um status grotesco e conveniente, por desonesto que seja, e sem brio.

Promessas e literacia financeira

Há promessas que nenhum partido se atreveria a fazer se os portugueses tivessem um pouco mais de literacia económica e financeira.

HELENA GARRIDO               0BSERVADOR, 25 jan 2022

Na apresentação do livro de Fernando Teixeira dos Santos, Mudam-se os tempos, mantêm-se os desafios, Daniel Bessa falou de um tipo de negacionistas especial, os que negam as leis da economia. Foi essa negação e esse desprezo pelo que diz a maioria dos economistas que nos levou ao resgate financeiro em 2011. Um negacionismo que, em Portugal, tem um vasto número de simpatizantes por causa da iliteracia económica e financeira dos portugueses.

No conjunto dos países da Zona Euro, Portugal é o campeão da iliteracia financeira, conforme foi identificado pelo Banco Central Europeu no seu Boletim Económico publicado em Janeiro deste ano e aqui noticiado pelo Eco. Somos os que menos conhecimentos temos de finanças. As primeiras posições são ocupadas pela Alemanha, Holanda e Finlândia – países que nos habituámos a ver criticados em Portugal sempre que nos recusam almoços grátis.

Quando entramos em campanha eleitoral, como agora acontece, torna-se dramaticamente visível o uso e abuso que os protagonistas partidários fazem da falta de formação económica e financeira dos portugueses. E hoje em dia quase se tornou um crime perguntar quanto custa – um pouco menos do que no passado recente, uma vez que António Costa já introduziu o tema, por exemplo, no debate com Catarina Martins a propósito da eliminação do factor de sustentabilidade.

Vejamos alguns exemplos.

O PAN quer reduzir o IRS, o IRC com excepção das empresas poluentes –, algumas taxas de IVA, aumentar o salário mínimo, reduzir o horário de trabalho no sector privado para as 35 horas e dar mais férias, ao mesmo tempo que se compromete com o saldo orçamental zero. Tudo isto, dito assim, parece uma impossibilidade porque ficamos sem saber como se conciliam os objectivos de redução de impostos com o equilíbrio orçamental e os mesmos serviços públicos.

O Chega é ainda mais extraordinário na quadratura do círculo. Propõe uma pensão de reforma mínima igual ao salário mínimo, promete a descida do IRS e do IRC, benefícios fiscais para os jovens e uma redução da despesa pública proporcionalmente superior à diminuição dos impostos, garantindo que os gastos públicos “nunca serão superiores às receitas, salvo em circunstâncias excepcionais”. Quanto custa uma pensão mínima garantida de 705 euros não se sabe, nem como é que isso condiciona o excedente orçamental que promete.

O Livre tem como uma das suas bandeiras o rendimento básico garantido, tendo-se percebido nos debates que a ideia é criar um grupo para o testar, na linha do que outros países já fizeram, uns com mais sucesso do que outros, com alguns a abandonarem a ideia como se pode ver neste trabalho do Vox . O problema é que, num País como Portugal, pode não existir dinheiro nem para esse grupo de teste. E com o sucesso eleitoral que as criticas ao Rendimento Social de Inserção têm tido, com o crescimento do Chega, estamos a alimentar o risco de essa atitude agravar as tensões sociais entre quem trabalha com salários próximos do mínimo e quem recebe o rendimento básico.

Também nos partidos que são ou querem liderar o poder há promessas que seriam impossíveis se os portugueses soubessem alguma coisa de economia ou de finanças. É o caso da promessa de aumentar o salário mínimo com calendário pré-definido, como promete o PS. Claro que o argumento é: o salário mínimo subiu nos últimos anos sem que tenha aumentado o desemprego – pelo contrário, o emprego aumentou. Sem dúvida que assim aconteceu. Mas isso não significa que a regra geral tenha sido invalidada. A evolução recente do salário mínimo foi acompanhada por um crescimento da economia com forte criação de emprego. Se crescermos menos ou se o crescimento for induzido por sectores menos intensivos em trabalho, a subida do salário mínimo pode, de facto, gerar desemprego. Num quadro de crise, o PS não poderá cumprir a sua promessa, como aliás se viu no passado. Além disso, é claro que a subida do salário mínimo tem sido acomodada pelas empresas através do não aumento dos outros escalões de remunerações, o que explica a aproximação ao salário médio.

O PS promete ainda uma espécie de IRC para cada empresa, criando incentivos para determinados comportamentos empresariais através dos benefícios fiscais. O PSD faz o mesmo, embora em menor grau, ao mesmo tempo que promete a descida da taxa de IRC. Qualquer uma das políticas é bastante interessante, mas a do PS é menos transparente e mais burocrata acabando por beneficiar as empresas com maior capacidade financeira para pagarem a quem consiga entender-se nos meandros dos benefícios fiscais, retirando deles o máximo de proveito.

Um outro sinal da falta de exigência do eleitorado, por défice de literacia financeira, é a indiferença com que se olha para o que pode acontecer às taxas de juro. Promessas de redução de impostos – como a que o PSD faz a prazo – podem cair por terra se desaparecer a protecção do BCE aos baixos juros da dívida pública. E certamente que em 2023 os juros serão mais altos.

Quanto custa? Como se vai pagar? Estas deveriam ser as perguntas que devíamos estar sempre a fazer perante cada promessa eleitoral. Hoje até fazemos menos essas perguntas do que no passado, fruto da desvalorização do papel dos economistas por parte da elite política, que encontra terreno fértil para essa sua estratégia num eleitorado com falta de formação económica e financeira. Só conseguiremos dar cabo, de vez, de promessas economicamente irresponsáveis quando os portugueses começarem a perceber quão importante é saberem de economia e de finanças.

LEGISLATIVAS 2022   ELEIÇÕES   POLÍTICA   ECONOMIA

COMENTÃRIOS:

João Eduardo da Costa L. Gata: Estou cada vez menos disposto a arcar com os custos resultantes da iliteracia económico-financeira de boa parte dos eleitores portugueses. Talvez valesse a pena impor um exame sobre literacia económico-financeira a todos os eleitores, e só os que fossem aprovados no exame poderiam depois exercer o direito de voto.         Miguel Seabra: Discordo. Os portugueses dominam a verdadeira literacia financeira: viver à custa do € dos iletrados do norte da Europa e dos compatriotas que trabalham diariamente e são espoliados por via fiscal. Já sem falar dos que têm um amigo generoso e uma mãe com um cofre cheio.... Paulo Loureiro: Se a inflação não pessimista esperada na Europa se aplicar ao salário mínimo de 705€ proposto para 2022, em 2026 os prometidos 900€ vão estar praticamente todos comidos pela inflação, ou seja, não representam aumento nenhum. Por que julgam os portugueses que a economia e o cálculo percentual foram desconsiderados no ensino secundário? Andaram distraídos?         josé maria: Pib Per capita 2015 Irlanda =  62 000,12 USD Portugal =19 242,37 USD 2011 Irlanda =   51 886,51 USD Portugal = 23 186,91 USD Notável a evolução de Portugal entre 2011 e 2015, tudo por grande mérito de um governo de direita. Ena que grande crescimento de Portugal nesse período. É obra. Se querem mudança e voltar ao tempo em que Portugal era competitivo,votem PSD           Paulo José » josé maria O plano  da Troika foi pedido pelo PS devido ao seu desvario coletivo. António Costa fazia parte da corte de Sócrates. Apresentador de serviço, segundo ouvi nos debates na TV. O PS é um partido de escroques e aldrabões. Arguidos, arguidos e arguidos...

Hoyo de Monterrey » josé maria: José Maria está-se a tentar aproveitar da tal iliteracia financeira de que fala a colunista. Como é evidente foi o Governo de Sócrates que nos colocou na bancarrota, obrigando o Passos a tomar as difíceis medidas impostas pela Troika que o PS cá pôs. A seguir vem o Costa (que nem ganhou as eleições) tentar colher louros do que o Passos fez. A economia crescia no fim da legislatura do Passos, que andou a tentar remendar asneiras alheias. Não é uma opinião, são factos!

Seknevasse: Excelente, como sempre.  O tema da (i)literacia financeira dos portugueses é central, mas excepto nos picos de crises, ninguém parece preocupar-se com ele. No fundo quem detém a informação (por exemplo cúpulas partidárias ou administradores da banca) não têm absolutamente nenhum interesse em "educar" a população. Em Espanha, na Galiza, muitos reformados perderam fortunas com as "preferentes", fundos sem capital garantido, que serviram para enterrar a tentar salvar as Caixas... vendiam-nas aos balcões como se fossem depósitos a prazo, com melhor juro. Muitos idosos ficaram sem nada, pois não conseguiram demonstrar o desconhecimento das cláusulas. Outros ainda recuperaram o património. Pessoalmente dei-me conta do ínfimo que sabia, muito depois de terminar a universidade, numa área não ligada a economia. Em todo o meu trajecto académico nunca me foi ensinado NADA do básico, juros compostos, seguros de vida a acompanhar empréstimos de habitação ou pessoais, poupança para a reforma com capitalização, em vez de simples descontos para a segurança social...  Pela inadequada linguagem percebe-se que não domino os temas... Bem, mas agora pergunto: numa disciplina como educação para a cidadania não deveria SER OBRIGATÓRIO ensinar alguma coisa ás crianças nesta área? Ou é apenas para "vender" a ideologia de género?      Hoyo de Monterrey > Seknevasse: É para “doar” ideologia de género. Substituir por cadeiras de economia e finanças está fora de questão. Não dá votos a certos partidos            Jorge Silva: Quem quiser deixar como herança para os filhos e netos uma divida para toda a vida, vote geringonça! Os filhos e netos dos governantes do PS do 44 e do kosta  vão ficar muito agradecidos…           Carlitos Sousa: As promessas e a defesa que Marta Temido faz ao SNS. A pior ministra que o ministério da saúde já teve, ainda tem o descaramento de dar entrevistas e entrar em debates, defendendo aquilo que piorou no SNS. Diz ela ... Vamos aumentar as verbas... Vamos meter mais médicos e enfermeiros... Vamos... qualquer coisa. Esquece a Temido que o SNS serve para servir prioritariamente uma população de baixos rendimentos, já que a outra sem paciência, recorre ao sector privado. A população que precisa do SNS, não consegue marcar uma consulta em tempo útil (mais de 1 ano de espera). Não consegue ter uma cirurgia em tempo útil (mais de 2 anos de espera). A um milhão dessas pessoas é-lhe negado um médico de família. A classe média paga a maior carga fiscal de sempre, não usa o SNS, e paga do seu bolso os cuidados nas entidades privadas. Os médicos públicos, manifestam o seu descontentamento, batendo com a porta em muitos hospitais. Os enfermeiros emigram aos milhares por serem pagos abaixo duma empregada de limpeza.
A Marta Temido tem mesmo muito descaramento em defender um SNS que ainda ficou pior desde que lhe foi entregue. Mais uma ministra de enorme incompetência escolhida por António Costa. A próxima só pode ser pior.
Para o Ministério das Finanças fala-se em Fernando Medina. A sério ??...................................................................

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