Neste caso sobre a despenalização
prioritária da eutanásia (que não coloquei, selecionando apenas os dos seus
opositores), prova que o assunto é antes alvo de chufas – não sei se contra a
eutanásia, se contra a Igreja, se contra o P. Portocarrera. Ele há gostos para
tudo. Por mim, agradeço ao P.GPA a retoma da
questão, sem esperança, embora, de que resulte, amantes que somos de limpezas…
ou puramente de escamoteação das razões reais que implicam tal ânsia legalizadora…
O voto dos que vão (ou não) ser eutanasiados
Deve-se supor que os votos no Partido
Socialista, no Bloco de Esquerda, no PAN e na Iniciativa Liberal são, de facto,
votos a favor da legalização da eutanásia.
P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA
OBSERVADOR, 08 jan
2022
Não se esperava que a legislatura acabasse tão
abruptamente, mas assim tendo sido, caducou o diploma que se propunha
despenalizar a eutanásia e que tinha sido vetado pelo Presidente da República.
No entanto, é previsível que o
próximo Parlamento reinicie o processo legislativo necessário para a
legalização do homicídio a pedido da vítima.
Este tema é, certamente, o mais relevante da actual agenda política nacional, na medida em que põe
em causa um princípio matricial da civilização humanista cristã: o respeito
absoluto pela vida humana inocente. Assim sendo, é imperioso que esta matéria seja
referida por todos os partidos concorrentes às próximas eleições legislativas.
Sem essa informação, nenhum cidadão poderá decidir, em consciência, o seu
voto. Por se tratar de um tema ético e moral, as religiões e associações
profissionais, nomeadamente a Igreja católica e a Ordem dos Médicos, devem
também contribuir, no âmbito das suas competências próprias, para o cabal
esclarecimento moral e científico, respectivamente, dos cidadãos, no mais
escrupuloso respeito pela sua liberdade de voto. Calar, por oportunismo político ou medo, seria, para além de uma grave
omissão, uma indesculpável cobardia.
No final do ano transacto, o Movimento Acção Ética
(MAE), que reúne personalidades de grande prestígio, como o economista António Bagão
Félix, o jurista Paulo Otero e os médicos Pedro Afonso e Victor Gil, exigiu aos partidos que
divulguem as suas posições sobre “temas
de assinalável componente ética”, como os cuidados a prestar às pessoas
em fim de vida, ou a eventual legalização das drogas leves.
O MAE
lamenta que o Parlamento tenha legislado sobre temas morais, “sem que os mesmos tenham sido propostos nos
programas eleitorais dos partidos proponentes”. Por isso, “será indispensável
que, nestas eleições, [esses temas] possam ser conhecidos e discutidos, sem ambiguidades, porque só o voto
esclarecido é verdadeiramente livre”. Este Movimento espera que a
campanha eleitoral seja marcada por “ações
necessárias para o mais completo esclarecimento dos eleitores sobre as questões
essenciais, não se concentrando em problemas menores, epifenómenos meramente
circunstanciais ou ligados a interesses de clientelas ou grupos”.
Razões não faltam ao MAE porque, se houve um processo
legislativo pouco transparente e democrático, esse foi, sem dúvida, o que
respeita à eutanásia. Como é sabido, em cerca de trinta dias, mais de 95 mil cidadãos
subscreveram uma Iniciativa Popular de Referendo sobre esta matéria, que a
Assembleia da República inviabilizou. A decisão de despenalizar e
legalizar o homicídio a pedido da vítima é, sem dúvida, fracturante e, por
isso, não deveria ser tomada sem o envolvimento e participação da sociedade
civil. No entanto, a maioria dos deputados, temendo o resultado da consulta
popular, optou por reservar para o Parlamento essa
decisão, não obstante a sua falta de legitimidade democrática para tal, bem
como a sua manifesta incompetência para decidir uma questão moral.
É sabido que o
Partido Socialista é um dos principais promotores da eutanásia em Portugal: a
sua deputada Isabel Moreira tem dado a cara por este diploma, que já por duas
vezes foi vetado pelo Presidente da República, não tanto por razões de fundo ou
de princípio, que o Chefe de Estado não teve necessidade de invocar, mas por
deficiências técnicas ou jurídicas, dadas as imprecisões do diploma. Neste sentido, mais do que
um veto político, poder-se-ia dizer, recorrendo ao argot académico, que se tratou de um verdadeiro ‘chumbo’:
o Professor Marcelo reprovou, por duas vezes, os medíocres autores do
diploma, cujos conhecimentos jurídico-constitucionais são, no douto parecer do
mestre, manifestamente insuficientes.
Na extrema-esquerda, o Partido Comunista Português e
o Bloco de Esquerda têm, em relação à eutanásia, posições antagónicas: enquanto o primeiro
defende a vida até à morte natural, o BE pretende a despenalização da
eutanásia, sobretudo pela voz do deputado ‘católico’ José Manuel Pureza, que é
o principal promotor do respectivo projecto de lei. O PAN também é favorável à
eutanásia, mas só dos seres humanos, pois está mais interessado no bem-estar
animal, do que na defesa da vida humana.
Mais à direita, a Iniciativa Liberal é abertamente
favorável à legalização da eutanásia, tendo apresentado, tal como o PS, o BE, o
PAN e o PEV, um projecto de lei nesse sentido. O CDS/PP tem sido, graças à sua actual direcção, coerente com o ideário
democrata-cristão, na defesa da vida humana desde a concepção e até à morte natural.
Outro tanto se diga do Chega. O PSD é, sobre esta matéria, um caso à parte.
Com efeito, o Jornal de Notícias, de 9-2-2020, deu a
conhecer que “o congresso do PSD
aprovou, […], por larga maioria, uma moção temática que pede que o partido
desenvolva ‘todos as diligências políticas, institucionais e legislativas’ com
vista à realização de uma consulta popular” sobre a despenalização do
homicídio a pedido da vítima. Embora aprovada em congresso, “por larga maioria”, o PSD não só não
honrou esse seu compromisso, como o seu presidente é favorável à implementação
da eutanásia.
Salvo melhor opinião, ou mudanças na posição dos
partidos sobre esta matéria, é de supor que o voto no PS, no BE, no PAN ou na
IL, possa ser ilegitimamente usado, na próxima legislatura, para despenalizar e
legalizar a eutanásia, que esses partidos defendem.
Pelo contrário, o voto no PCP, no CDS/PP ou no Chega
é, previsivelmente, um voto a favor da vida e contra a legalização da
eutanásia, porque tem sido também esta a praxe política recorrente dessas
forças partidárias.
Por sua vez, o voto no PSD, salvo se o partido,
até à data das eleições, tomar uma posição clara sobre esta questão, é um
cheque em branco, sendo de esperar que os seus próximos deputados votem,
nesta matéria, em função das suas convicções, ou falta delas.
As eleições legislativas não habilitam os deputados
eleitos para uma decisão que, por ser essencialmente ética, excede a sua
competência política. Por isso, os dois maiores partidos, PS e PSD, consideram
que, em relação à eutanásia, os deputados devem votar em consciência. Não votam
como membros do partido, em cujo caso deveriam observar a disciplina de voto;
nem como mandatários dos seus eleitores, o que exigiria que fossem, para esse
efeito, por eles autorizados. Embora titulares de um órgão de soberania e
representantes políticos dos seus eleitores, os deputados, atendendo à natureza
moral da questão, devem ter absoluta liberdade de voto, para que o possam fazer
em consciência.
Quer isto dizer igualmente que o PS e o PSD entendem
que, tal como os seus deputados, também o Chefe de Estado é libérrimo de
promulgar, ou não, um eventual diploma que se proponha despenalizar e legalizar
o homicídio a pedido da vítima. Não seria razoável que o representante de todos os
portugueses, como é o Presidente da República, no desempenho das suas funções
tivesse menos liberdade moral e política do que um deputado em exercício. O
Chefe do Estado, tal como os membros da Assembleia, também pode – mais ainda:
deve! – agir nesta matéria segundo a sua consciência, por uma questão de
elementar coerência ética e porque também não está, nem jurídica, nem
eticamente, obrigado a submeter-se à opção pessoal (neste particular, os
deputados, na medida em que votam em consciência, apenas se representam a si
próprios) da maioria dos membros do Parlamento.
Os gladiadores, quando se apresentavam na
arena para um combate de vida ou morte, saudavam o imperador romano,
dizendo: Salvé, César, os que vão
morrer te saúdam! Os cidadãos que vão votar no próximo 30 de Janeiro,
devem ter consciência de que são também os que, em função do seu voto, poderão
em breve ser, ou não, legalmente assassinados.
EUTANÁSIA SAÚDE ELEIÇÕES LEGISLATIVAS POLÍTICA PARTIDOS E MOVIMENTOS SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Fernando Soares Loja: Eu
sou contra a eutanásia, e isso faz de mim um extremista e radical a favor da
vida, mas não faz de mim um cidadão perigoso. O que é perigoso é a possibilidade
legal de um técnico matar um paciente. Quando eu me oponho à eutanásia não
estou a impor a minha vontade a quem não pensa como eu, estou a defender a
dignidade da vida e estou a impedir que um dia, sem o meu consentimento, um
médico me mate. Na Holanda alguns idosos têm recusado o internamento em
hospitais holandeses com medo de serem eutanasiados, e procuram ser tratados na
Alemanha. A eutanásia quando entra num sistema legal entra de pantufas, mas com
o passar do tempo a lei abranda nos mecanismos de controles dos médicos e o
risco dos "inúteis" serem mortos aumenta exponencialmente.
Riaz Carmali > Fernando
Soares Loja: Subscrevo o que diz mas isso não faz de nós
extremistas!!! Extremistas são os senhores do PAN que defendem a Eutanásia
Humana, mas rejeitam a Eutanásia Animal. Eu e pelos vistos o Fernando
também, somos conservadores!! Não há mal em expressarmos o nosso Pensamento!! Se
há quem defende a legalização da droga, da prostituição, da Eutanásia e de
outros "cancros sociais", porque nós conservadores não podemos
defender os nossos valores? Um abraço .
Coronavirus corona: A IL invoca
falsamente a liberdade. Não, não se trata de liberdade. A eutanásia não é uma
prerrogativa que qualquer cidadão maior de idade vá poder "usufruir".
Só aqueles cidadãos que se encontram em sofrimento num hospital. Ou seja, é preciso estar em estado de inutilidade
e ser um peso para o Estado para se poder "usufruir" dessa dita
liberdade. A lenga-lenga da liberdade é isco para totós. Por trás
desta medida (como do aborto, entre outras) está uma utopia positivista de
higienização social. Essa ideia tem raízes longas e tem como pressuposto uma
submissão completa ao cientifismo sem qualquer tempero ético. Tem
subjacente uma rejeição completa da metafísica, da religião e de qualquer
axiologia moral. Somos apenas matéria e o bem e o mal são meras
construções humanas. Esse pensamento já nos conduziu para grandes
desgraças e parece vir a conduzir para outras iguais. Só que agora as vítimas
não gritam nem estão expostas: ora são silenciadas num quarto de um hospital
ora no ventre da sua mãe. Tudo tem um ar limpo e desinfectado, tudo tem uma cor
branca para esconder o horror.
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