Julgo que os argumentos de José Rodrigues dos Santos a respeito da deturpação grosseira feita por alguém à sua ideologia supostamente nazi, equiparando judeus a porcos, são perfeitamente claros e justos, e o seu texto lê-se com agrado, tal como o único livro que dele li, já há uns anos – “Códex 632”- que me pareceu bem escrito, numa intriga de cariz detectivesco, embora denso na pesquisa e exposição de dados sobre a nacionalidade do descobridor da América, apesar de não ter chegado, todavia, a esclarecer tal dúvida. Mas penso que JRS fez bem em se defender, acompanhado pela maioria dos comentadores - alguns outros, na realidade, avessos à “certidom da verdade”, preferindo optar pela suposição de maquiavélicas manobras publicitárias do seu autor, que me parecem antes expressão de maldade ou pretensiosismo cioso, desses tais.
Matadouros, Auschwitz e Literatura
Sou nazi porque disse que o dia
chegará em que as gerações futuras verão o que fazemos aos animais da mesma maneira
que nós hoje vemos o que nazis e comunistas fizeram nos seus campos de
concentração?
JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS, Jornalista
e romancista
OBSERVADOR, 08 jan
2022
O
meu romance O Jardim dos
Animais com Alma anda a
agitar as águas da pecuária. Ainda bem. Os produtores e respectivas associações
já me dirigiram vários ataques em textos que têm o condão de alimentar o debate
sobre este assunto. Excelente. As ideias e os problemas existem para serem
discutidos. Já a minha resposta aos argumentos dos produtores está no meu romance
– e remeto-os para a respetiva leitura.
Acontece
que o presidente da Federação dos Suinicultores, David Neves, publicou um texto no Observador que
vai muito para além de um debate normal sobre a cognição animal, a pecuária e
as alterações climáticas. Usando uma declaração minha a propósito dos meus
romances O Mágico de Auschwitz e O Manuscrito de
Birkenau, David Neves resolveu dizer que a minha “grande referência
moral” é Hitler e que eu estou “equiparando judeus a porcos”. Chegou ao
ponto de afirmar que para mim “é um acto de humanismo gasear seres humanos” e
que eu tenho “um discurso antissemita travestido de estratégia comercial”.
Estas
declarações são graves, difamatórias e lamentáveis, e deveriam envergonhar quem
as produz. A vida ensinou-me que só precisa de recorrer à ofensa quem não tem
outros argumentos. Não alimento a menor ilusão de que David Neves queira
verdadeiramente ser esclarecido sobre o que eu realmente disse e escrevi sobre
o Holocausto, pois sei bem que os seus insultos não passam de mero expediente,
discurso de ódio lançado por quem sente que lhe estão a tocar no negócio e para
quem vale tudo, incluindo a calúnia. Este texto não é pois destinado a David
Neves, mas aos leitores do Observador.
Comecemos
pela tentativa de me associar a uma suposta desculpabilização do Holocausto.
Em causa está o extrato descontextualizado de uma entrevista que dei no ano
passado a propósito dos meus romances O Mágico de Auschwitz e O
Manuscrito de Birkenau. Durante uma explicação sobre a forma gradual como os
nacional-socialistas tomaram a decisão de exterminar os judeus, culminei
dizendo: “A certa altura há alguém que diz: ‘Eh pá, estão nos ghettos,
estão a morrer à fome, não podemos alimentá-los. Se é para morrer, mais vale
morrer de uma forma mais humana. E porque não com gás?’.”
Num
acto que me abstenho de qualificar, o jornalista Carlos Vaz Marques resolveu
isolar esta frase e metê-la na Internet, proclamando aos quatro ventos que eu
estava a defender que o gaseamento dos judeus foi um ato humanitário.
Como se pode dizer um disparate destes é coisa que me deixa embasbacado, pois
não se compreende que se confunda uma citação com uma opinião. Eu estava a
citar.
Se
eu noticiar que quem se opõe à vacinação diz que “a vacinação é perigosa”, isso
significa que eu acho que a vacinação é perigosa? Quando um jornalista ou
um investigador faz citações não é porque concorda ou discorda, mas porque
essas citações expõem o ponto de vista de alguém. Alguém que não eu. Citar
não é validar. Faz-me confusão que uma coisa tão elementar não seja
compreendida.
Mas
então quem estava eu a citar? Leia-se este documento enviado de Poznan a Adolf
Eichmann a 16 de julho de 1941 pelo oficial SS Rolf Hoppner: “Existe este
inverno o perigo de não se conseguir alimentar todos os judeus. Dever-se-ia
considerar seriamente se não seria uma solução mais humana eliminar os judeus,
designadamente os que não conseguem trabalhar, através de um agente de morte
rápida. Seria melhor do que deixá-los morrer à fome.”
Este
documento é de tal modo relevante que é citado por Hannah Arendt em Eichmann
in Jerusalem e por um grande número de historiadores especializados
no estudo do Holocausto. Fazendo um rápido apanhado, constata-se que entre
os historiadores que valorizaram o documento Hoppner estão Raul Hilberg
em Documents of Destruction, Paul Bartrop e Michael Dickerman em The
Holocaust – An Encyclopedia and Document Collection, Donald McKale em Hitler’s
Shadow War – The Holocaust and World War II, Nicholson Baker em Human
Smoke – The Beginnings of World War II, The End of Civilization, Michael Robert
Marrus em The Nazi Holocaust – The Final Solution, Hans Mommsen em “Die
Realisierung des Utopischen: Die ‘Endlosung der Judenfrage’ im ‘Dritten
Reich’”, entre muitos outros, e sobretudo Christopher Browning, o maior
especialista mundial sobre as etapas que conduziram ao Holocausto, em The
Origins of the Final Solution – The Evolution of Nazi Jewish Policy, 1939-1942 e
em The Path to Genocide – Essays on Launching the Final Solution. Browning
observou que desde Mommsen que o documento Hoppner era encarado como uma maneira
de naquele momento se “racionalizar o assassínio em massa como uma alternativa
mais ‘humana’”[1] à
morte pela fome nos ghettos.
Está
claro agora?
É
importante sublinhar que o rabino Shlomo Pereira, professor universitário
nos Estados Unidos e especialista no Holocausto, autorizou-me a citá-lo a dizer
que estava “pasmado” com a polémica e que tinha “a convicção imediata de que
quem comenta não leu os livros”. Ele fez uma apreciação sobre as obras em
causa que, de tão esclarecedora, vale a pena
ver neste link.
A
distorção caluniosa das minhas palavras desencadeou as habituais correntes
de ódio, de que o texto de David Neves é apenas o último exemplo. Levados
ao engano por esta campanha de difamação, alguns espectadores apresentaram
queixa contra mim à ERC. Esta abriu um inquérito para apurar os factos, mas
curiosamente as suas conclusões não foram na altura noticiadas por ninguém.
Vamos então ver o que descobriu a ERC:
“Cumpre
dizer, em primeiro lugar, que as declarações de José Rodrigues dos Santos na
entrevista sinalizadas nas participações dirigidas à ERC não podem, sob pena de
as mesmas se encontrarem truncadas, ser observadas sem o devido contexto,
discurso e raciocínio explanados ao longo de toda a entrevista pelo
entrevistado. E, nessa medida, a análise permitiu verificar que o
entrevistado não minimiza nem aligeira os crimes cometidos contra os judeus nos
campos de concentração, patente em declarações como: a) ‘Porque quando nós
vamos ler os documentos e os testemunhos originais em textos muito
especializados, percebemos que a realidade era pior do que aquilo que eu estava
habituado a ver nas descrições da televisão ou noutros romances. De tal maneira
foi assim que, a certa altura, quando eu estava a fazer a pesquisa, há um
momento em que eu desisti de escrever o livro (…)’; b) ‘(…) as pessoas que
sobreviveram são, de facto uma ínfima minoria. Portanto, quando lemos essas
histórias, dá a impressão que, pronto, quase toda a gente sobreviveu e tal, e,
na verdade, quase toda a gente morreu. E falta na literatura uma obra que
mostre a voz dessas pessoas. E, portanto, foi isso que eu fui recuperar.’; c)
‘Mas a maior parte dos judeus que foram para Auschwitz, eles não foram para um
campo, não tinham uma escola, eles foram para ser mortos. E a voz desses judeus
não é contada’.”
Em
conclusão, depois de estabelecer que eu não minimizei nem aligeirei o Holocausto,
bem pelo contrário, e depois de admitir “truncagem” das minhas declarações, a
ERC deliberou “não dar provimento” às queixas.
O
que nos remete para a verdadeira fonte destas campanhas de ódio: os meus
romances. Ao contrário do que alguns académicos pensam, a literatura não
serve para fazer exercícios de estilo e de linguagem ou simplesmente para
entreter, embora estas funções sejam legítimas e se enquadrem na actividade
literária. O que torna a literatura uma arte nobre é a sua capacidade de
questionar, de problematizar, de chocar, de suscitar debate, de pôr em causa
ideias feitas.
Escrever
um romance alinhado com a ideologia do momento, dizendo sempre o que o establishment
espera que se diga e nada escrever que ponha em causa o status quo, é a
coisa mais fácil. Não traz problemas aos escritores e atrai até a ajuda
“benemérita” e “desinteressada” do poder instituído. Chovem convites, viagens e
ações de “mecenato”. Não há nada como navegar na onda do momento.
Mas,
lamento, não é isso o que se espera de um escritor. As grandes obras literárias
não são as alinhadas com o poder político, económico ou ideológico prevalecente
em determinado momento, mas aquelas que, em contracorrente com a ideologia
dominante, suscitam questões, incomodam e põem em causa os preconceitos do seu
tempo.
Eça
de Queiroz problematizou
a questão do celibato do clero em O Crime do Padre Amaro numa altura
em quem isso não se podia fazer, as irmãs Brontë,
Flaubert e D. H. Lawrence fizeram o
mesmo sobre o papel da mulher na sociedade, George
Orwell revelou
em 1984 a realidade tirânica de um regime comunista numa altura em
que o comunismo era santificado pelos intelectuais ocidentais. Todos estes
escritores foram vilipendiados pelo que escreveram, mas, com a sua coragem em
enfrentar o status quo, todos eles prestaram um enorme serviço à
humanidade.
A
descrição do que se passa nos matadouros insere-se nesta linha. O primeiro
romance a tocar neste tema foi The
Jungle, de Sinclair Lewis. Conta-se que
o presidente dos Estados Unidos estava a comer uma costeleta de porco quando
leu uma passagem do romance sobre o que acontecia nos matadouros e, chocado,
atirou a costeleta pela janela da Casa Branca. O certo é que essa obra de 1906
questionou o status quo e obrigou-o a alterar determinadas
práticas nos matadouros americanos.
Não
tenho a menor pretensão de chegar aos calcanhares destes gigantes da literatura
universal. Mas sei bem qual o papel mais nobre da literatura e qual a minha
bússola moral para na atividade literária me orientar. A minha obra não existe
simplesmente para entreter nem para fazer exercícios estilísticos; para isso
encontram-se em qualquer livraria muitos outros livros. Escrevo sobretudo para
questionar, para colocar mitos em causa e para fazer pensar. Precisamos de problematizar
as verdades feitas, quebrando dogmas e violando tabus – e é para isso que a
literatura existe.
Fazê-lo,
porém, implica mexer em interesses instalados. Se os dogmas e os tabus
existem é porque convém a alguém que existam. O Último Segredo foi
vilipendiado pela Igreja por ter revelado as descobertas dos historiadores
sobre Jesus, Vaticanum provocou irritação por abordar a corrupção no
Vaticano, O Anjo Branco por questionar o colonialismo, Fúria
Divina por mostrar a faceta violenta do islão, A Vida Num Sopro por
pôr em causa o Estado Novo, As Flores de Lótus por expor as origens
marxistas do fascismo. Tudo temas verdadeiros, tudo tabus que o status quo,
ou parte dele, não quer ver expostos nem questionados. Pois foi justamente por
isso que os expus e questionei.
O
preço a pagar são os insultos do costume. Mas todas estas campanhas de ódio e
difamação apenas devem é envergonhar os seus autores. Sou nazi porque disse que
o dia chegará em que as gerações futuras verão o que fazemos aos animais da
mesma maneira que nós hoje vemos o que os nazis e os comunistas fizeram nos
seus campos de concentração?
Então
leia-se a epígrafe final de O Jardim dos Animais com Alma, uma citação de
Isaac Bashevis Singer. “No seu comportamento para com as criaturas, todos os
homens são nazis”, escreveu ele. “A presunção de que o homem pode lidar com as
outras espécies como bem lhe apetecer exemplifica as teorias racistas mais
extremas, o princípio de que a força tem sempre razão”. Isaac Bashevis
Singer era Prémio Nobel da Literatura. E, permitam-me lembrar, judeu.
Já
agora, os vegetarianos não me passaram nenhuma procuração para os defender, mas
o que dizer da sugestão de David Neves de que Hitler é a “grande referência
moral” de quem desaconselha o consumo de carne porque Hitler era vegetariano?
Então agora também os vegetarianos são nazis?
Não
há dúvida, o disparate anda à solta.
© José Rodrigues
dos Santos, 2022
[1] Christopher Browning, “Nazi Ghettoization Policy in
Poland: 1939-41”, Central European History, Volume 19, Número 4, Cambridge
University Press, dezembro de 1986, p.344.
POLÉMICA POLÍTICA ANIMAIS NATUREZA AMBIENTE CIÊNCIA LIVROS LITERATURA CULTURA
COMENTÁRIOS
Alexandra Moreira: A minha solidariedade e apoio a JRS, pela coragem de denunciar as duras
realidades, a crueldade e os graves impactos globais que a indústria pecuária
intensiva quer manter bem longe dos olhares públicos. É natural que o andem a
perseguir, é o que costumam fazer a quem se “atreve” a desmascarar os meandros
ocultos do negócio da pecuária massiva. Muito obrigada pelo seu importante
contributo, JRS! José
Carvalho: Acusar JRS
de simpatias com o nazismo é indesculpável. Mas o animalismo é um dos vários
temas estúpidos que estão na moda. "A vida alimenta-se de vida", para
sobreviver é preciso matar, é cruel mas é mesmo assim. Mesmo que uma alface não
sofra ao ser comida (do que não estou certo) há muitos animais que não podem
ser vegetarianos, outros melhoram muito sendo carnívoros. Nesta circunstância,
o que importa é minimizar o sofrimento dos que têm que ser abatidos. Com a actual
geração é a primeira vez que uma espécie se preocupa com minimizar o sofrimento
dos que tem de matar. O que se faz ainda é pouco, e é preciso melhorar o
bem-estar animal? Sem dúvida! Mas não é possível que as gerações futuras nos
rotulem de nazis por matar animais, porque se os fundamentalistas forem
seguidos simplesmente não haverá gerações futuras. Thunder Jack: O que o JRS propõe por
"razões éticas" é simplesmente uma alteração de hábitos alimentares:
não devemos comer seres vivos do reino animal, devendo substituí-los
na nossa alimentação por seres
vivos dos outros reinos,
onde avulta desde logo o das plantas,
que desgraçadamente nem conseguem fugir quando são atacadas. Essas razões éticas ignoram que
todas as formas de vida são justamente isso: formas de vida, que no caso do
planeta Terra têm quase seguramente todas elas um antepassado comum, o que
significa que, sem esticar muito
a ética, o Homem pratica o canibalismo porque come os seus parentes mais
distantes!... Mas mesmo que as formas de vida na Terra não tenham um
antepassado comum, partilham a característica mais essencial de qualquer forma
de vida no Universo: a vontade de sobreviver, a qual é obviamente incompatível
com a vontade de acabar no prato e no garfo do JRS. A ideia de que eticamente é
"mais certo" comer plantas do que comer animais baseia-se num sistema
de valores antropocêntrico, que eu julgava ultrapassado desde que a Ciência
tirou a Terra do centro do Universo e o Homem como a medida de todas as coisas.
Não tenho a mínima dúvida de que um sistema de valores que promove à classe da
Nobreza os Animais e mantem os outros seres vivos na classe do Povo tem, à
semelhança da Monarquia, os dias contados. Em síntese, o livro do JRS para
romance de cordel está muito bem. Procurar nele uma lição moral é tão absurdo
como fazer esse esforço com o Mein Kampf. Amando Marques: "Matadouros, Auschwitz e
Literatura" - é só acrescentar antirracismo temos um best-seller da
extrema esquerda. Luis
Nabais: Nao JRS. Graves e difamatórias são as
acusações que fazes relativamente ao tema. É que das duas uma: Ou nada sabes do
tema e como tal devias era estar calado. Foram propositadas com o intuito,
conseguido, de ganhar propaganda. Qualquer uma indigna, e grave para quem
exerce a profissão de jornalista.
Salazar Presente: É natural, perante o estado de
consciencialização humana extremamente baixo do momento presente, que este
romance levante os mais disparatados comentários críticos (o que é sempre bom),
destrutivos (já é péssimo), e pessoais... A diabolização dos nossos irmãos
animais (parece que grande parte da humanidade se esqueceu que são
animais, constatação facilmente comprovada pelos seus comportamentos de
rebanho)...É das mais antigas tradições culturais humanas (exceptuando algumas
tribos com uma visão holística da vida). Destruímos no nosso imparável" desenvolvimento"
incontáveis espécies de flora e fauna e seus ecossistemas, envenenando no
processo, rios, oceanos, atmosfera e terra numa ignorância soberba de elefantes
á solta num armazém de porcelana. E apelidamos este processo de
"civilizacional", "progresso" e "desenvolvimento".
Paralelamente à exterminação de uma exuberante e diversificada plêiade de
culturas humanas, perdidas para sempre neste afã uniformizador canibal, tão
próprio da moderna civilização planetária ocidental. Triste conquista! Esta que
assenta em cima da avidez, ganância, brutalidade e exploração mais abjecta, sem
integridade ou ética de espécie alguma. Merecemos bem tudo o que a universal e
justa lei universal do retorno enviar para nos corrigir e afastar desta
tenebrosa senda. O mundo e tudo o que nele existe, subsiste bem sem a
humanidade, esta não é nada sem o mundo... José Rafael Branco: Texto brilhante! Francisco Crato Nunes: Lá está ele a promover-se (e
aos seus "romances"). Qualquer pretexto serve, até os animaizinhos...
Vaidade sem limites... Tiago
Maymone: Posso até
concordar com algumas coisa que o autor diz, mas contestar por contestar não é,
em si, uma virtude. Não define a nobreza ou sequer a função dum escritor.
Segundo, que “establishment” é que o autor está a pôr em causa com uma obra
deste tipo (assim como algumas das anteriores que ele próprio refere)? Diz ele
não andar alinhado? Se atacar a Igreja ou defender que não se consuma carne não
é andar alinhado com a cultura do momento, então não sei o que seja. FME: Já li uns quantos livros de
José Rodrigues dos Santos, e gosto. Um estilo muito inspirado em Dan Brown, mas
bom. Como é português é sempre uma escolha a considerar para a cota de
escritores de língua oficial portuguesa na minha biblioteca. Por falar em escritores
de língua oficial portuguesa, acabei recentemente um excelente (melhor para
quem tem vivências de Moçambique, mas não só) romance de Paulina Chiziane -
Balada de Amor ao Vento - que se for parar aos olhos de Carlos Vaz Marques,
certamente irá acusar Paulina Chiziane de defender a poligamia. Fica a dica
para um próximo romance; a poligamia, que muita gente culta defende como uma
forma de proteger a mulher e de não a deixar ao-deus-dará; não numa sociedade
Parisiense como é óbvio. Portugal é uma fábula às
avessas, já que para alguém ler um livro é um caso sério. Com as “Netflix’s” a
coisa piorou e piorou muito, porque não foi apenas a parca leitura que foi à
vida, foi também a vontade de fazer alguma coisa pelo trabalho. Ler foi sempre
uma coisa complicada e muito cansativa. Tarda o dia em que possamos injectar um
livro via Bluetooth pela mioleira adentro enquanto assistimos a um debate para
as legislativas ou a mais um episódio da série preferida. Encontrar frases chocantes num
livro e denunciá-las publicamente fora do contexto é como esgravatar um bolo
rei sem o provar para encontrar o brinde; sinal de grande inteligência nos dias
de hoje. Para muito boa gente, ler um livro é ler a resenha crítica de alguém
com que nos identificamos ou que possa partilhar a mesma opinião. Como JRS deve
ter muitos amigos de estimação e outros tantos com dor de cotovelo, deve também
ter resenhas críticas feitas por medida. Como diz o outro, os cães ladram e a
caravana passa. Não obstante, não consigo entender tanta celeuma à volta dos
livros de JRS. Será que animais falam mesmo? João Floriano > FME: Bom dia FME: A celeuma tem a ver com uma
certa inveja da intelectualidade doméstica. A literatura correcta tem de ser
de molde a que o leitor não perceba nada do que está a ler. Tenho
aí um livro de uma consagrada escritora portuguesa cuja leitura eu já iniciei
várias vezes e não continuo porque não entendo nadica do que estou a ler. Com o
cinema português é a mesma coisa. Se aparecer um filme sucesso de bilheteira é
imediatamente considerado uma obra menor, porque a nossa tradição de
cultura de esquerda leva a diabolizar o lucro. Um filme só é bom
quando é subsidiado pelo erário público e depois aplaudido por uma pequena
plateia de elite. Ao fim de uma semana de sala às moscas a obra-prima
desaparece. Por isso JRS não é bem visto por certos sectores. Eu gosto do
escritor. Sobretudo os primeiros livros: A Filha do capitão, A vida num Sopro,
o Anjo Branco, a Fúria Divina. Não tenho este dos animais. Também pedi para não
me darem mais livros mas agora vou mesmo dar a indicação para os meus
anos em Abril. Maria
Soares: É natural que se
congratule pelo facto de o seu último romance estar a agitar as águas… Sempre
poderão ser mais uns livros comprados por incautos leitores movidos por
curiosidade mórbida e pouco seletiva nas escolhas. O que é facto é que um
estado de espírito alterado, ou mesmo a sua vaidade, o levou a comparar o
Holocausto aos matadouros. A leviandade (no mínimo), a ignorância, o relativismo
moral contidos nessa comparação, constituirão uma nódoa no seu intelecto e na
sua dimensão ética, que o irão marcar para sempre Antiwoke Tuga: Esquerdistas a cancelar
esquerdistas. Acho isso irónico. Já só há dois campos: nazis de esquerda e
nazis de direita. Vivemos numa espécie de ditadura das redes sociais em que a
guilhotina do cancelamento paira em cima da cabeça dos que recusam aderir às
duas facções extremistas. Vivemos uma idade das trevas em que se promove a
mediocridade, a cor da pele e a orienta ao sexual ao invés do mérito. Não
contem comigo para entrar neste circo. Cisca Impllit: Pode -se não simpatizar com JRS
por mil e um pretextos, mas neste caso encontro-lhe razão. Não banaliza
nem diminui no comparativo que faz, mas expõe a ferocidade desalmada dos
humanos - contra si próprios e contra os demais animais das outras
espécies. Infelizmente, o achincalhamento tornou-se um desporto com
muitos praticantes. bento
guerra: Ainda Auschwitz?
Promoção de autor. Battering
EU: Em breve um desses apaixonados por recriar um Auschwitz contemporâneo, ligará ao
jornalista, e perguntará: "Porque
escreveu aquilo? Não haverá a possibilidade de aceitar incentivo financeiro
(€)?"
César Fernando Diniz das Neves: Olhe que os aliados fizeram bem
pior na mesma altura. Depois da guerra acabada: os EU, deliberada e
intensionalmente, deixaram dois milhões de soldados alemães em cativeiro, a
grande maioria crianças, morrer á fome. Os alemães, pelo menos, invocaram a desculpa de não
terem comida para alimentar os judeus, para os gazear: os EU e a Inglaterra
não: isso era ter consciência a mais: deixaram a comida apodrecer nos armazéns
de propósito, e não a distribuíam, para o sofrimento ser superlativo. Assim, enquanto rezavam
um Salmo, e a propaganda guinchava que eles eram os melhores dos melhores, e
que tinham salvo a Europa, iam matando aquelas crianças deliberadamente à fome
em profundo sofrimento. E claro: a dialéctica e a propaganda tinham papel
igual ao de agora para branquear as atrocidades. Agora, a propaganda chama às invasões
que chacinam crianças às centenas de milhar, "implantações de
democracia". Por sua vez: as crianças chacinadas são "danos
colaterais". Os bombardeamentos que chacinam as crianças são
"cirúrgicos". O fomento de guerras civis que chacinam e deslocam
milhões de pessoas, são "primaveras". Pois na altura a treta já era a
mesma. Os soldados alemães massacrados eram: "
combatentes inimigos desarmados". E as crianças que morriam á fome: "other
casualties". Convinha falar disto: mas claro, o pessoal que
provavelmente o tem bem abocanhado pelo cachaço não o permite. E já agora: para nada ficar
para o gato digo: você escreve mal como o caraças: e provavelmente não vende
livro nenhum: mas não há problema os seus prováveis donos encarregam-se de o
fazer. Nota: As barbaridades dos EU na Alemanha ocupada após
a II Guerra Mundial, estão bem descritas no livro. After the Reich: The Brutal
History of the Allied Occupation de Giles MacDonogh: está á venda na Amazon: no
livro, poderão ver que nas suas ocupações, os nazis foram mais humanos que os
EU. Julio
Carreira > César Fernando Diniz das
Neves: Vá mentir para o diabo Miguel Rodrigues Franco
> César Fernando Diniz das
Neves: Caro César Neves, também li esse livro q mencionou, e
outros sobre o tema. São testemunhos reais da triste e cruel realidade,
escondida e disfarçada pela vitória do "bem sobre o mal"... Mas, o q
chega ao comum cidadão, é uma informação distorcida e completamente manipulada,
já na época, e mais fácil ainda com o passar do tempo, o esquecimento
generalizado e o desaparecimento gradual dos poucos sobreviventes. No final,
prevalece sempre mais do mesmo: quem vence, dita a Lei e escreve a História...
Distorcida e manipulada, conforme a conveniência instituída. A propaganda
existiu dos dois lados, cada um tinha seus motivos e fortes razões, mas no
rescaldo, aumentam-se uns factos para eliminar outros, ou trocar de lado os q
sejam mais inconvenientes... Massacre de Katyn, Holomodor, bombardeamento de
Dresden, entre muitos outros, são também factos q representam a morte de
milhões de pessoas, sem quaisquer justificações militares ou necessidade, mas q
não convém lembrar, nem sequer q se saibam, ou, se alguém falar nisso, foram os
outros q fizeram, os "maus da fita"... César Fernando Diniz
das Neves > Julio Carreira: A sua raiva é sinal que sabe
que o que digo é verdade. Mas para ninguém ficar com dúvidas, tente por favor apontar uma única coisa
que eu tenha dito que não seja verdade. Veja lá se é capaz. Carlos Matos: Vivemos tempos de loucura,
ignorância e intolerância. José
Dias: Perdoa-lhes Rodrigues dos Santos que eles não sabem o que dizem ... são
daqueles que dos livros lêem as críticas e uma resenha ao estilo "reader's
digest". Reflectir sobre o que lêem implicaria primeiro que efectivamente
lessem! PS: será escusado referir que há por aí muita gente que nunca percebeu,
ou irá perceber, a diferença entre ficção e não ficção ... o que lhes justifica
a existência é meramente indignarem-se. FME > José Dias: Muito bem. Ana Palhais: Tens vindo a apanhar nas
orelhas e, neste caso, lamento, mas são bem dadas e tens que apanhar mais. Não
posso deixar de confessar que sempre tive a maior simpatia e respeito pelo
trabalho e presença do jornalista, mas esta coisa de enriquecer a vender
livros, trouxe exigências com impacto e consequências muito substanciais, e
esta parvoíce última do fundamentalismo animalista foi um rombo fatal. Embora o
veja como perda até pessoal, o que espero e desejo, é que o jornalismo deixe de
contar com a presença do escritor de massas.
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