terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Sirvo-me da mesma figura

 

Que faz o título do comentário de Luis Soares de Oliveira, que recebi por email, comentário, que utilizarei igualmente como epígrafe do meu texto, pese embora a diferença de contextos em que a personagem Tartufo surge aplicada. No caso de A. Costa, a hipocrisia esconde esperteza, fuga temerosa - apatetada - à frontalidade, em defesa do tacho, talvez, não tem, de facto, a ver com a História dos heróis do mar e da nação valente de outrora. Mas isso de mentira tem sido uma constante por cá, de graves consequências, de resto, sobre o estado da Nação, desde que descambámos na senda do parasitismo económico contínuo e definitivamente insolúvel – talvez na sequência da pequenez de formação literária de que sempre enfermou este país, por razões que Antero bem explicou. Eis o comentário do Sr. Embaixador:

«O Novo Tartufo.»

«Perguntado porque é que o seu país se atrasa em matéria de crescimento económico, A. Costa respondeu «É a História». Tartufo não teria feito melhor.»

O caso que me serve de paralelo com o tal Tartufo - que não tem mãos a medir nos jeitos histriónicos curvilíneos de sedução maliciosa, que apenas engana os tolos - não se parece, de facto, com o que vou referir. Trata-se de uma Mulher extremamente culta – Clara Ferreira Alves – a propósito de um texto que acabo de ler, na sua Pluma Caprichosa de 7 de Janeiro, da Revista E, com o título “O Mundo não está bem”, em que, pelo contrário, varre com admirável saber e enorme convicção, à esquerda e à direita, toda a panorâmica humana, quer social, quer política, quer da sua vizinhança nacional, sendo essa a que mais despreza, na sua superioridade intelectual brilhante e majestosamente irrequieta.

Refiro-me, no seu artigo de fôlego global, sobretudo ao último parágrafo, que transcrevo, por nele estar contida uma frase que, de certo modo, me atinge, no anonimato de uma vida – a minha – que desde sempre desejou dele sair, sobretudo na fúria de um desejo que fosse obstáculo – esse sim - à cobarde destruição pátria que – essa sim – mereceu a adesão das Claras Alves e demais compinchas do nosso país, na altura defensores entusiastas e ardilosos dessa destruição – à la page – e que, passada ela, no decurso de uma evolução reveladora de graves fraquezas sociais, ignoram esse facto para sempre inócuo, para passarem ao ataque a tudo quanto de mau nos vai sucedendo, de decadência nos usos, nos interesses espirituais, no envilecimento económico, o que é fácil de descortinar, mas difícil de exprimir, como o faz CFA…

O último parágrafo de “O Mundo não está bem”:

«… Para onde estes sistemas forem, iremos nós, europeus, mais lentamente. A fraqueza e a falta de qualidade das personagens políticas, a ausência de debate intelectual, a mediocridade das instâncias artísticas devotadas a propósitos políticos e identitários de autocomplacência, a cobardia dos praticantes da indignação anónima e dos idólatras do like, a inexistência de uma comunidade internacional actuante e preocupada, a indigência de grandes instituições nacionais e internacionais, a ausência de uma consciência moral que se sobreponha à ganância e à indiferenciação e relativismo que cobrem todas as questões do nosso tempo, incluindo as alterações climáticas, são a manta de retalhos com que cobrimos a passividade e os falhados propósitos. Com ou sem pandemia, o mundo não está bem.»

Na realidade, pertenço hoje ao anonimato dos comentadores bloguistas, embora sem a cobardia que nos atribui a expressiva Clara. De facto, vários livros tenho publicado, no frenesi de uma dor jamais ultrapassada – a da derrocada mandatada pelos povos superiores do comando, contestada por um Salazar clarividente e patriota, mas definitivamente arrumada por uma sociedade que se autodenominou fabricante de um novo espírito que traiu a história da sua pátria.

Clara Ferreira Alves foi das que diligentemente seguiu as imposições dessa esquerda que mais tarde pareceu renegar, na escolha decisiva de um caminho pátrio mais aprazível, segundo as suas coordenadas sofisticadas de humanidade e amor pelo próximo, como convinha, para hoje se revelar severamente e intransigentemente agressiva com esse povinho – essa gentinha - que desde sempre, aliás, desprezou, na superioridade de um saber e um exprimir que não se orienta pelo conceito já banalizado da velha e modesta relatividade, é bem de ver, mas que apresenta um carisma de oportunismo e hipocrisia, conforme temos seguido, nos seus passos de prudência, já como seguidora zelosa dos passos de Mário Soares, como vimos em tempos, talvez de amizade, talvez de subserviência interesseira, imprópria da Mulher que admiramos, pela inteligência de um discurso que se impõe, a vários níveis… Salvo o pedagógico.

Quanto aos outros comentadores, aqueles que tenho lido e transcrito de textos vários a que, com gratidão, tenho tido acesso, dum modo geral reconheço a qualidade de muitos, reveladores da qualidade mental, por vezes científica, textos que muito me apraz ler e transcrever, pela sua dimensão política. O que, para mim, reforça o valor de uma Internet que nos proporciona tanto de belo em tantos níveis. Nisso, o Mundo está bem, sobretudo se o compararmos com o passado, despojado de tanta comodidade e amplitude, para as quais também nós, gente portuguesa, contribuímos… Não, não se destrua - ditatorialmente - a Internet, que nos traz tanto do Mundo, hoje.

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