O de Helena Matos.
Todavia, como
comentários, coloco antes as sínteses do facebook de Luís Soares
de Oliveira, que recebi por email, e dos
comentadores deste, que confirmam o retrato de corpo inteiro, colocado pela
articulista, sobre os protagonistas dos destinos da nação. Ei-los, antecipando –
e motivando - a leitura do texto de HM:
De Luís Soares
de Oliveira: “António
Costa engana-se: não é a História que explica a Economia; as mais das vezes é a
Economia que explica a História”.
De Jaime
Ramires: Estejamos atentos: amanhã vai dizer
exactamente o contrário: é um especialista no trapézio da política.
De Jorge Costa: Não se enganou… não tinha era mais nada para dizer, sem que se enterrasse
ainda mais.
De Fernando
Figueiredo: Acho que ambas as realidades existem.
António
Costa no tempo do professor Cavaco
Porque está
António Costa obcecado com as maiorias absolutas de Cavaco Silva? Porque a
única maioria absoluta obtida pelo PS deixou de ser um caso de política para se
tornar num caso de polícia.
HELENA MATOS, colunista do Observador
OBSERVADOR, 23 jan 2022
“Eu não sou o professor Cavaco” – António
Costa no debate com Catarina Martins.
“Seguramente Cavaco Silva não é um bom exemplo de Presidente da República para
ninguém” – António Costa no debate que os candidatos fizeram para as
rádios.
“...nesse
tempo do cavaquismo nós tínhamos uma televisão única” – António Costa em
entrevista ao Observador (certamente num momento de forte nevoeiro mental
pois foi precisamente “nesse tempo do cavaquismo” mais exactamente a 13 de
Julho de 1990 que foi votada a lei que permitiu a existência de televisão
privada em Portugal e terminasse aquilo que Costa designa como “uma televisão
única”).
… À
hora a que escrevo provavelmente António Costa já voltou outra vez àquele
que se tornou o seu tempo-espaço de antagonismo nesta campanha: “o tempo do
professor Cavaco”. Num primeiro momento é naturalmente de estranheza a
reacção a esta fixação de António Costa na figura de Cavaco Silva que deixou a
política activa em 2016 e que, ao contrário do que aconteceu com os seus
antecessores na presidência da República, não fundou um partido como fez
Ramalho Eanes, não criou uma fundação nem dá sinais de querer recandidatar-se a
qualquer cargo como aconteceu com Mário Soares e nem sequer se desdobrou
internacionalmente em múltiplas intervenções políticas como Jorge Sampaio (a
propósito o que será feito da Aliança das Civilizações a que o antigo PR deu o
seu alto patrocínio?).
Porque
está então António Costa obcecado com Cavaco Silva? Afinal, como o próprio José Sócrates fez
questão de recordar na entrevista que deu à CNN, o PS já teve uma maioria
absoluta: a que
ele, Sócrates, conseguiu! Sim, entre
Março de 2005 e Setembro de 2009, Portugal foi governado em maioria absoluta
pelo PS, facto que António Costa não pode ignorar não só porque já era nascido
nessa data mas também e sobretudo porque integrou esse governo socialista de
maioria absoluta nos nada irrelevantes cargos de ministro de Estado e ministro
da Administração Interna.
Ora
porque não fala então António Costa desse governo, o único em que o PS teve até
agora maioria absoluta e, dando um salto para trás no tempo, se foca na
maiorias absolutas de Cavaco Silva acontecidas entre 1987 e 1995? Porque
não quer, não pode nem deve pois a maioria absoluta obtida pelo PS deixou de
ser um caso de política para se tornar num caso de polícia para vários dos
rostos do socialismo, a começar pelo próprio primeiro-ministro, José Sócrates,
e como se isso fosse pouco acrescentou ainda mais um capítulo à história das
nossas falências nacionais.
António Costa fala das maiorias
absolutas de Cavaco Silva pela prosaica razão de que a maioria absoluta
conseguida pelo PS se tornou um assunto tabu para os socialistas.
Mas
sigamos António Costa nesta sua viagem ao tempo do professor Cavaco: usando um
termo caro aos socialistas “malhar” em Cavaco Silva resulta sempre pois não só a
esquerda adora como a direita se acanha na hora de o defender e é incapaz de
contrapor a um António Costa que afirma “Eu não sou o professor Cavaco” que o
problema é mesmo esse: é na hora do balanço da acção governativa não ter nada
de equivalente ao ”professor Cavaco”.
Registe-se
que este recurso “ao tempo do professor Cavaco” enquanto antagonista imaginário
representa também uma alteração significativa no discurso dos últimos anos: afinal
os socialistas deixaram cair o célebre “a culpa é do Passos”. Porquê?
Provavelmente porque já não estava a resultar, isto apesar de os candidatos de
direita, à excepção de Francisco Rodrigues dos Santos, nada terem feito para
desmontar a vergonhosa demagogia em torno dos cortes do “tempo da troika” e da
“culpa é do Passos” na aplicação de um programa negociado pelos socialistas.
E
aqui chegamos ao momento mais burlesco desta campanha, aquele em que António
Costa desata a perguntar: “Quem é que acredita que com um Presidente da
República Marcelo Rebelo de Sousa uma maioria do Partido Socialista podia pisar
a linha?”. Desconheço se esta pergunta brotou da cabeça de António Costa ou se
lhe foi sugerida por algum assessor ou consultor. No caso de a resposta ser
“assessor ou consultor” o PS devia despedi-lo já porque de cada vez que António
Costa pergunta “Quem é que acredita que com um Presidente da República Marcelo
Rebelo de Sousa uma maioria do Partido Socialista podia pisar a linha?” milhares
de portugueses sentem uma irreprimível vontade de rir. Um Marcelo
fiscalizador das acções do Governo está nos antípodas do seu desempenho. Do caso de Tancos à escolha da PGR, das 35 horas
na função pública à nomeação do novo presidente do Tribunal de Contas, da
substituição do Chefe do Estado-Maior da Armada à reviravolta de opinião sobre
a regionalização… Marcelo permitiu tudo e o seu contrário. António Costa sabe-o e sabe também que este seu
contraponto entre Cavaco e Marcelo é uma forma de ganhar ascendente sobre o
actual presidente da República. Afinal à pergunta: “Quem é que acredita que com
um Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa uma maioria do Partido
Socialista podia pisar a linha?” a resposta só pode ser “Quase ninguém”,
a começar pelo próprio, Marcelo, e a acabar em António Costa.
Não
por acaso é quando trata do tempo de Cavaco Silva como presidente da República
que esta viagem de Costa “ao tempo do professor Cavaco” se torna mais
interessante. Na frase “Seguramente Cavaco Silva não é um bom exemplo de
Presidente da República para ninguém” pronunciada por António Costa num dos
debates, cabe a exasperação dos socialistas com Cavaco quando este estava em
Belém e Sócrates em São Bento mas também a impaciência de um António Costa
desejoso de queimar etapas na sua posse como primeiro-ministro em 2015. Mas
lá no íntimo António Costa sabe (ou devia saber) que deve muita da estabilidade
do seu primeiro governo ao facto do presidente Cavaco Silva ter exigido um
acordo escrito aos partidos que apoiaram e integraram a geringonça. Entre as exigências de Cavaco
Silva a António Costa contava-se precisamente a de que fossem
apresentadas garantias em relação à “aprovação de moções de confiança” e
“aprovação dos Orçamentos do Estado“.
Em
2019, devidamente libertos do professor Cavaco, PS, BE e PCP auto-isentaram-se de celebrar acordos
escritos e o
presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, não só não
viu nessa alteração qualquer sinal de crise de futura como normalizou essa
mudança naquele
seu frasear que parece uma versão jurídica do nacional-porreirismo: “Não me parece essencial haver acordo escrito por uma
questão de princípio, mas também não me parece essencial haver acordo escrito
porque as dúvidas que se poderiam formular sobre o acordo escrito acabaram por
ser resolvidas pela prática da fórmula política“. O resultado chegou em 2021: BE e PCP chumbaram o Orçamento do Estado; António Costa anda por aí agarrado ao dito OE como um
pregador a uma Bíblia; os antigos
parceiros de Governo trocam acusações sobre quem provocou a queda do Governo e
o presidente da República faz-se transparente numa crise que claramente também
resultou da sua leviandade, pois não só não exigiu acordo escrito em 2019 como,
em 2021, achou por bem anunciar que um chumbo do OE levaria a eleições
antecipadas. A crise
presente confirma que o formalismo institucional de Cavaco Silva faz muita
falta a todos. E António Costa não é excepção.
LEGISLATIVAS 2022 ELEIÇÕES POLÍTICA ANTÓNIO COSTA ELEIÇÕES
Nenhum comentário:
Postar um comentário