E Carlos Traguelho o revela, nos seus comentários judiciosos, de
sabedoria e experiência vivida, num pensamento onde a racionalidade se impõe, em
apoio e paridade com a do seu amigo Henrique
a
quem reconhece a disciplina mental na compreensão dos fenómenos económicos e
tantos outros, que ambos transmitem, com elegância, simplicidade e clareza,
quando não com o espírito de humor que torna aliciantes as propostas pertinentes
do Dr. Salles, a quem ficamos prazenteiramente gratos.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA
NAÇÃO, 20.01.22
QUESTÃO - Hoje, a questão é a de saber o que é uma empresa
estratégica que deva ser «pública».
RESPOSTA - Estratégica é a empresa sem a qual o País
deixa de funcionar com a normalidade típica dos tempos actuais. Ou seja, esta
condição de «estratégica» tem por inerência a imprescindibilidade nacional.
Nessa
imprescindibilidade incluo as energéticas, nomeadamente a «REN», a «EDP»
e a «Galp»; fora do
sector energético, a «ANA».
Empresas
de grande relevância como a «TAP» e
a «CP», tenho-as
como de mero interesse público mas sem o carácter de imprescindibilidade ao
normal funcionamento do País pois ambas têm alternativas de acesso
relativamente fácil.
O
conceito de «empresa pública»
tem entre nós a conotação marxista de o capital ser integralmente
possuído pelo erário público (vulgo, o Estado) mas há outros conceitos. Dentre estes, destaco a fórmula de o capital
estar disperso em Bolsa por pequenos e médios
aforradores/accionistas, o
público em geral, dando assim à empresa o carácter de «pública», com o capital
disperso pelo público. Tivesse
sido este o modelo de privatização das empresas estratégicas bem como das de
interesse público e não estariam elas hoje a servir os interesses estratégicos
estrangeiros. Estamos a tempo de
iniciar o processo de correcção dessa fatalidade e também nesse sentido
orientarei o meu voto, o da valorização das pequenas e médias poupanças, da
democratização do capital das empresas estratégicas e de interesse público –
interesse da generalidade do público.
(continua)
Janeiro
de 2022
Tags:
"política
por
Henrique Salles da Fonseca
19.01.22
(… Carlos Selvagem: «Sem
disciplina, qualquer Exército não passa de um bando de facínoras armados»
in «PAZ,
GUERRA E FORÇAS ARMADAS», Óscar Gomes da Silva, DG Edições, Janeiro de
2019, pág. 20
COMENTÁRIOS:
Anónimo 20.01.2022 12:16: Uma simples frase e revelaste-me, Henrique, outra face
de Carlos Selvagem – a de militar -, pois a que conhecia era a de dramaturgo,
representado, se a minha confusão não é muita, no Nacional no tempo da
Companhia Amélia Rey-Colaço-Robles Monteiro. Quanto à frase propriamente dita,
não tenho dúvida que a disciplina é inerente ao Exército, como o
concebemos, mas está longe de ser condição necessária e suficiente.
Atenta, por exemplo, para não irmos mais longe, nas atrocidades que
exércitos disciplinados fizeram no século passado (nas duas guerras mundiais,
na guerra civil de Espanha e na chamada guerra da Jugoslávia) e já neste século
no Iraque, no tempo de Bush filho. Abraço. Carlos Traguelho).
COMENTÁRIOS
Anónimo 20.01.2022 14:35: O tema
qual deve ser o âmbito do Estado na Sociedade, de que as empresas públicas, ou
de capitais exclusivamente públicos ou de capitais maioritariamente públicos
são uma vertente, suscita as mais diversas posições, muitas delas baseadas em
conceitos puramente ideológicos e nem sempre com um mínimo de racionalidade
económica. Basta ver
o que aconteceu na Europa, designadamente no Reino Unido e em França, bem como
aconteceu e tem acontecido entre nós. Aprendi (aprendemos) nos bancos
universitários, que o Estado deve estar onde a sua presença é fundamental
para que o País funcione como é desejável que funcione, como começas por dizer
no teu post, e também naquelas empresas cujo investimento, sendo importante
para o País, tem um retorno a longo prazo ou/e que envolve um risco inicial que
não é atractivo para empresários privados. E mais uma vez, dás exemplos
destes casos. Depois há situações hibridas e outras que evoluem ao longo dos
tempos. Dou-te um exemplo. Henrique: ainda nos anos 80, a SOPONATA, com os
seus petroleiros e superpetroleiros, era considerada estratégica e até de
bandeira. O que é feito dela? E os combustíveis continuam a afluir ao País… A
privatização (bem como a nacionalização) da Banca acompanhei de muito de perto,
como calculas. Achei um erro na altura (continuo a achar) a privatização, não
do Grupo Banco de Fomento e Exterior, mas sim de este Banco. A fundamentação
era que bastaria a CGD manter-se pública. O que se seguiu demostrou que
o pressuposto não era verdadeiro, a tal ponto que houve praticamente uma
unanimidade política na criação do novo Banco de Fomento. Entretanto,
quantas asneiras e recursos desperdiçados tiveram lugar por falta de análise
técnica adequada de investimentos relevantes?! Se
não há doenças, mas sim doentes, como se costuma dizer, também nesta
problemática da natureza da titularidade do capital empresarial, cada caso é
um caso, e a verdade não é perene. Nos primeiros anos da
década 70, houve uma preocupação de criar exactamente o capitalismo popular a
que te referes no último parágrafo do teu post, que terminou mal, como sabemos. Mais tarde, tentou-se recriar esse modelo
quando da reprivatização de certas empresas, em que os pequenos aforradores
(assim como os Colaboradores) tinham “tranches” reservadas e em condições
financeiras mais favoráveis. Infelizmente,
a falta de capitais nacionais, contribuiu para que a titularidade do capital
dessas empresas tivesse o destino que sabemos – e que explicitas -, para além
de algumas delas terem sofrido uma regressão, designadamente na sua projeção
internacional, como foi o caso da CIMPOR. Forte abraço. Carlos Traguelho
Miguel
Magalhaes 20.01.2022 16:17: Totalmente de acordo contigo, Henrique.
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