quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Pode ser


Que seja um primeiro e único texto a dar-nos um cheirinho saboroso da crise papal que, na Idade Média, motivou o “Grande Cisma do Ocidente”, o certo é que Avignon leva o carimbo 1, embora a respeito dessa crise o Dr. Salles informe ser definitiva a referência. Mas, com a sua leveza graciosa de sempre, tal referência serviu para um despertar de velhas lembranças de ligeira história, que o recurso à internet mitigaria, pelo que o seu texto foi duplamente útil. Em agradecimento ao Dr. Salles pelos seus apontamentos carregados de graça e leveza não fastidiosa, e porque Avignon fica situada na Provença, aqui vai, enquanto se espera o nº 2, com outra temática, um excerto de uma cantiga de amor do nosso rei D. Dinis, dessas cantigas que se inspiravam na poesia provençal, onde o amor se manifestava apenas por altura das graças e frescura da primavera, o que não acontecia por cá, constantes que somos, nessa questão do amor, em todas as estações do ano (pesem embora as dúvidas sobre tal tese):

Proençaes soem mui bem trobar

E dizem eles que é com amor

Mas os que trobam no tempo da flor

E não em outro, sei eu bem que não

Ham tam gram coita no seu coraçom

Qual meu por mia senhor vejo levar...


AVIGNON 1

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA           A BEM DA NAÇÃO,  04.01.22

Filipe IV de França. «o Belo» (n.1268/r.1285-f.1314) era por dinheiro como macaco por banana – lá do assento etéreo a que subiu, que o diga Jacques de Mollay. Então, querendo também tributar a Igreja secular francesa, rapidamente entrou em conflito com o Papa Bonifácio VIII que em matéria de finanças não tencionava deixar os seus créditos por mãos alheias. Mas a vida terrena é efémera e o firme Bonifácio passou à eternidade.  Finado aquele Papa, logo a Diplomacia Francesa soube motivar os Cardeais suficientes para o Conclave eleger um francês para o trono de S. Pedro. Coube a sorte a um natural de Bordéus que adoptou o nome de Clemente V. Corria 1305. Consta que tanto a Diplomacia francesa como a vaticana usaram diversos argumentos contra e a favor da permanência da sede papal em Roma mas uma lâmina bem afiada assente sobre uma carótida de Clemente V parece ter finalmente conseguido a unanimidade das opiniões a favor de Avignon. Corria 1309 quando a mudança se realizou. Não encontrei informação sobre a «sorte» que coube aos diplomatas franceses que fizeram Filipe esperar durante quatro longos anos mas posso imaginar…

A Filipe restavam cinco curtos anos para mandar e desmandar na gestão da «coisa» católica mas após a sua morte (no mesmo ano de Clemente V) só houve mais seis Papas a residir em Avignon. Em 1377, Gregório XI decretou o regresso a Roma se bem que se tenha instalado um período de instabilidade a partir de 1378 quando os franceses instalaram mais uns quantos anti-Papas em Avignon. Os problemas teológicos (se os houve) e de poder temporal entre Avignon e Roma só ficaram resolvidos em 1414 no Concílio de Constância.

A partir desta concórdia, Avignon apostou no turismo para suster todas aquelas construções colossais.

E porque praticamente tudo é sabido acerca deste conjunto de Papas, pretendo não voltar a falar deles nem mesmo que a vaca tussa – na dúvida, meto ao bolso alguns rebuçados peitorais de uso veterinário. (continua)

1 de Janeiro de 2022

  BIBLIOGRAFIA: «OS PAPAS DE AVINHÃO»https://pt.wikipedia.org/wiki/Papado_de_Avinh%C3%A3o,  Tags: viagens"

NOTAS DA INTERNET

Grande Cisma do Ocidente

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Grande Cisma do Ocidente. O Grande Cisma do Ocidente, Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma foi uma crise religiosa da Igreja Católica que se estendeu de 1378 a 1417.

Entre 1309 e 1377, a residência papal mudara-se de Roma para AvinhãoFrança. Isto porque, em 1309, Papa Clemente V havia sido forçado, pelo rei francês Filipe o Belo, a residir em Avinhão.

A população italiana desejava que o papado fosse restabelecido em Roma. Em 1378, o Papa Gregório XI voltou a Roma, onde morreu. Foi então eleito Urbano VI, de origem italiana mas, por se demonstrar excessivamente autoritário, acabou por desagradar uma parte considerável do Colégio dos Cardeais, que decidiu então anular a eleição e realizar um novo conclave, quando foi eleito Clemente VII, que se estabeleceu em Avinhão. No entanto, Urbano VI permaneceu em Roma. Iniciava-se assim o Grande Cisma: o Papa, em Roma, e o Antipapa, em Avinhão - ambos reclamando para si o poder sobre a Igreja Católica. Posteriormente, surgiria ainda um outro Antipapa, em Pisa.

O Cisma só seria resolvido no Concílio de Constança, em 1417, quando o papado foi definitivamente restabelecido em Roma.

História

De 1309 a 1377, o papa não residia em Roma, mas em Avinhão, um período geralmente chamado de Cativeiro Babilónico, em alusão ao exílio bíblico de Israel na BabilóniaPapa Gregório XI deixou Avinhão e restabeleceu a Santa Sé em Roma, onde morreu em 27 de março de 1378. A eleição de seu sucessor definiria a residência do futuro papa em Avinhão ou em Roma. O nome do Bartolommeo Prignano, Arcebispo de Bari, considerado com uma rígida moral e inimigo da corrupção, foi proposto. Os 16 cardeais italianos presentes em Roma reuniram-se em conclave em 7 de abril. No dia seguinte escolheram Prignano. Durante a eleição houve grande perturbação na cidade, pois o povo de Roma e dos arredores esforçou-se para influenciar a decisão dos cardeais, que tomaram meios para evitar possíveis dúvidas. No dia 13 eles realizaram uma nova eleição e, novamente, escolheram o Arcebispo Prignano para se tornar papa. Durante os dias seguintes todos os membros do Colégio dos Cardeais aprovaram o novo papa, que tomou o nome de Urbano VI e tomou posse. Um dia depois, os cardeais italianos notificaram oficialmente a eleição de Urbano aos seis cardeais franceses em Avinhão, que o reconheceram como papa e, em seguida, escreveram ao Imperador e aos demais soberanos. Tanto o cardeal Roberto de Genebra, o futuro Antipapa Clemente VII de Avinhão, e Pedro de Luna de Aragão, o futuro Antipapa Bento XIII, também aprovaram sua eleição.

 O Papa Urbano não atendeu às necessidades de sua eleição, criticou os membros do Colégio dos Cardeais e recusou-se a restaurar a sede pontifical em Avinhão. Os cardeais italianos, então, em maio de 1378, se retiraram para Anagni, e em julho para Fonti, sob a proteção da Rainha Joana de Nápoles e Bernardon de la Salle, iniciaram uma campanha contra a sua escolha, preparando-se para uma segundo eleição. Em 20 de setembro, treze membros do Colégio do Cardeais fizeram um novo conclave em Fondi e escolheram Roberto de Genebra como papa, que tomou o nome de Clemente VII. Alguns meses depois, esse antipapa, apoiado pelo Reino de Nápoles, assumiu sua residência em Avinhão. O cisma começava.

 Clemente VII mantinha relações com as principais famílias reais da Europa. Os estudiosos e os santos da época normalmente apoiavam o papa adoptado pelo seu país. A maior parte de estados italianos e alemães, a Inglaterra e a Flandres apoiaram o papa de Roma. Por outro lado, FrançaEspanhaEscócia e todas as nações aliadas da França apoiaram o antipapa de Avinhão. O conflito rapidamente deixou de ser um assunto da Igreja para se tornar um incidente diplomático disseminado pelo continente europeu:

Os papas excomungaram-se mutuamente, nomeando outros cardeais para compensar as deserções, enviando mensageiros para a cristandade defendendo sua causa e estabelecendo sua própria administração. Posteriormente Bonifácio IX sucedeu a Urbano VI em Roma e Bento XIII sucedeu a Clemente em Avinhão. Vários clérigos reuniram-se em concílios regionais na França e em outros lugares, sem resultado definitivo. O rei da França e seus aliados em 1398 deixaram de apoiar Bento, e Geoffrey Boucicaut sitiou Avinhão, privando o antipapa de comunicação com todos aqueles que permaneceram fiéis a ele. Bento retomou a liberdade somente em 1403. Inocêncio VII já tinha sucedido a Bonifácio de Roma, e após um pontificado de dois anos, foi sucedido por Gregório XII

Habemus Papam no Concílio de Constança

Na época do cisma ocorriam na Península Ibérica as guerras fernandinas e a crise de 1383-1385, ambas opondo os reinos de Castela e Portugal por questões dinásticas. Assim, no tempo de Fernando I de Portugal a sua desastrosa política externa levou-o a apoiar o Papa de Avinhão, que também tinha o apoio de Castela; depois da crise sucessória, como Castela continuasse a defender o Papa de Avinhão, não será de estranhar que João I de Portugal, para mostrar bem a sua independência, fosse pelo Papa romano.

Em 1409, um concílio que se reuniu em Pisa acrescentou um outro antipapa e declarou os outros dois depostos. Depois de muitas conferências, discussões, intervenções do poder civil e várias catástrofes, o Concílio de Constança (1414) depôs o Antipapa João XXIII, recebeu a abdicação do Papa Gregório XII, e finalmente, conseguiu depor o Antipapa Bento XIII. Em 11 de novembro de 1417, o concílio elegeu Odo Colonna, que tomou o nome de Martinho V, com o que terminou o grande cisma do Ocidente e foi restabelecida a unidade. O prestígio do papado foi profundamente afectado com esta crise, o que causou a criação da doutrina conciliar, que sustenta que a autoridade suprema da Igreja se encontra com um concílio ecuménico e não com o papa,  sendo efetivamente extinta no século XV.

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