Que seja um primeiro e único texto a
dar-nos um cheirinho saboroso da crise papal que, na Idade Média, motivou o
“Grande Cisma do Ocidente”, o certo é que Avignon leva o carimbo 1, embora a
respeito dessa crise o Dr. Salles informe ser definitiva a referência. Mas, com
a sua leveza graciosa de sempre, tal referência serviu para um despertar de
velhas lembranças de ligeira história, que o recurso à internet mitigaria, pelo
que o seu texto foi duplamente útil. Em agradecimento ao Dr. Salles pelos seus
apontamentos carregados de graça e leveza não fastidiosa, e porque Avignon fica
situada na Provença, aqui vai, enquanto se espera o nº 2, com outra
temática, um excerto de uma cantiga de amor do nosso rei D. Dinis, dessas
cantigas que se inspiravam na poesia provençal, onde o amor se manifestava
apenas por altura das graças e frescura da primavera, o que não acontecia por
cá, constantes que somos, nessa questão do amor, em todas as estações do ano
(pesem embora as dúvidas sobre tal tese):
Proençaes soem mui bem trobar
E dizem eles que é com amor
Mas os que trobam no tempo da flor
E não em outro, sei eu bem que não
Ham tam gram coita no seu coraçom
Qual m’eu por mia senhor
vejo levar...
AVIGNON 1
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 04.01.22
Filipe IV de França. «o Belo» (n.1268/r.1285-f.1314) era por dinheiro como macaco por banana – lá do
assento etéreo a que subiu, que o diga Jacques de Mollay. Então,
querendo também tributar a Igreja secular francesa, rapidamente entrou em
conflito com o Papa Bonifácio VIII que em matéria de finanças não tencionava
deixar os seus créditos por mãos alheias.
Mas a vida terrena é efémera e o firme Bonifácio passou à eternidade.
Finado aquele Papa, logo a Diplomacia Francesa soube motivar os Cardeais
suficientes para o Conclave eleger um francês para o trono de S. Pedro. Coube a
sorte a um natural de Bordéus que adoptou o nome de Clemente V. Corria 1305. Consta que tanto a Diplomacia francesa
como a vaticana usaram diversos argumentos contra e a favor da permanência da
sede papal em Roma mas uma lâmina bem afiada assente sobre uma carótida de
Clemente V parece ter finalmente conseguido a unanimidade das opiniões a favor
de Avignon. Corria 1309 quando a mudança se realizou. Não encontrei
informação sobre a «sorte» que coube aos diplomatas franceses que fizeram
Filipe esperar durante quatro longos anos mas posso imaginar…
A Filipe restavam cinco curtos anos
para mandar e desmandar na gestão da «coisa» católica mas após a sua morte (no
mesmo ano de Clemente V) só houve mais seis Papas a residir em Avignon. Em 1377, Gregório XI decretou o regresso a
Roma se bem que se tenha instalado um período de instabilidade a partir de 1378
quando os franceses instalaram mais uns quantos anti-Papas em Avignon. Os
problemas teológicos (se os houve) e de poder temporal entre Avignon e Roma só
ficaram resolvidos em 1414 no Concílio de Constância.
A partir desta concórdia, Avignon apostou no turismo para suster
todas aquelas construções colossais.
E porque praticamente tudo é sabido acerca deste conjunto de Papas,
pretendo não voltar a falar deles nem mesmo que a vaca tussa – na dúvida, meto ao bolso alguns rebuçados peitorais
de uso veterinário. (continua)
1
de Janeiro de 2022
BIBLIOGRAFIA:
«OS PAPAS DE AVINHÃO»https://pt.wikipedia.org/wiki/Papado_de_Avinh%C3%A3o,
Tags: viagens"
NOTAS DA INTERNET
Grande Cisma do Ocidente
Origem: Wikipédia,
a enciclopédia livre.
Grande
Cisma do Ocidente. O Grande Cisma do Ocidente, Cisma
Papal ou simplesmente Grande Cisma foi uma crise religiosa
da Igreja Católica que se estendeu de 1378 a 1417.
Entre
1309 e 1377, a residência papal mudara-se
de Roma para Avinhão, França. Isto
porque, em 1309, o Papa Clemente V havia
sido forçado, pelo rei francês Filipe o Belo, a residir em Avinhão.
A
população italiana desejava que o papado fosse restabelecido em Roma. Em 1378,
o Papa Gregório XI voltou a
Roma, onde morreu. Foi então eleito Urbano VI, de origem italiana mas, por se demonstrar
excessivamente autoritário, acabou por desagradar uma parte considerável
do Colégio dos
Cardeais, que decidiu então anular a eleição e realizar um
novo conclave, quando foi eleito Clemente VII, que
se estabeleceu em Avinhão.
No entanto, Urbano VI
permaneceu em Roma. Iniciava-se
assim o Grande Cisma: o Papa, em Roma, e
o Antipapa, em Avinhão - ambos reclamando
para si o poder sobre a Igreja Católica. Posteriormente, surgiria ainda um
outro Antipapa, em Pisa.
O Cisma só seria resolvido no Concílio de
Constança, em 1417, quando o papado foi definitivamente
restabelecido em Roma.
História
De
1309 a 1377, o papa não residia em Roma, mas em Avinhão, um período geralmente
chamado de Cativeiro Babilónico,
em alusão ao exílio bíblico de Israel na Babilónia. O Papa Gregório XI deixou
Avinhão e restabeleceu a Santa Sé em Roma, onde morreu em 27 de março de 1378. A eleição de seu sucessor definiria a residência do
futuro papa em Avinhão ou em Roma. O nome do Bartolommeo Prignano,
Arcebispo de Bari,
considerado com uma rígida moral e inimigo da corrupção, foi proposto.
Os 16 cardeais italianos presentes em Roma reuniram-se em conclave em
7 de abril. No dia seguinte escolheram
Prignano. Durante a
eleição houve grande perturbação na cidade, pois o povo de Roma e dos arredores
esforçou-se para influenciar a decisão dos cardeais, que tomaram meios para
evitar possíveis dúvidas. No dia 13 eles realizaram uma nova eleição e,
novamente, escolheram o Arcebispo Prignano para se tornar papa. Durante
os dias seguintes todos os membros do Colégio dos Cardeais aprovaram o novo
papa, que tomou o nome de Urbano VI e tomou posse. Um dia depois, os cardeais
italianos notificaram oficialmente a eleição de Urbano aos seis cardeais
franceses em Avinhão, que o reconheceram como papa e, em seguida, escreveram ao
Imperador e aos demais soberanos. Tanto o cardeal Roberto de Genebra, o
futuro Antipapa Clemente VII de Avinhão, e Pedro de Luna
de Aragão, o
futuro Antipapa Bento XIII, também aprovaram sua eleição.
O
Papa Urbano não
atendeu às necessidades de sua eleição, criticou os membros do Colégio dos
Cardeais e recusou-se a restaurar a sede pontifical em Avinhão. Os cardeais italianos, então, em maio de 1378,
se retiraram para Anagni, e em julho para Fonti, sob a proteção da Rainha Joana de Nápoles e Bernardon de la Salle,
iniciaram uma campanha contra a sua escolha, preparando-se para uma segundo
eleição. Em 20 de setembro, treze membros do Colégio do Cardeais fizeram um
novo conclave em Fondi e escolheram Roberto de Genebra como papa, que tomou o
nome de Clemente VII.
Alguns meses depois, esse antipapa,
apoiado pelo Reino de Nápoles, assumiu sua residência em Avinhão. O cisma começava.
Clemente VII mantinha relações com as principais famílias reais da
Europa. Os estudiosos e os santos da época normalmente apoiavam o papa adoptado
pelo seu país. A maior parte de estados italianos e alemães, a Inglaterra e a Flandres apoiaram o papa de Roma. Por outro lado, França, Espanha, Escócia e todas as nações aliadas da
França apoiaram o antipapa de Avinhão. O conflito rapidamente deixou de ser um assunto da
Igreja para se tornar um incidente diplomático disseminado pelo continente
europeu:
Os papas excomungaram-se mutuamente,
nomeando outros cardeais para compensar as deserções, enviando mensageiros para
a cristandade defendendo sua causa e estabelecendo sua própria administração.
Posteriormente Bonifácio IX sucedeu
a Urbano VI em Roma e Bento XIII sucedeu
a Clemente em Avinhão. Vários clérigos reuniram-se em
concílios regionais na França e em outros
lugares, sem resultado definitivo. O rei da França e seus aliados em 1398 deixaram
de apoiar Bento, e Geoffrey
Boucicaut sitiou Avinhão, privando o antipapa de comunicação com todos aqueles
que permaneceram fiéis a ele. Bento retomou a liberdade somente em 1403. Inocêncio VII já
tinha sucedido a Bonifácio de Roma, e após um pontificado de dois anos, foi
sucedido por Gregório XII
Habemus Papam no Concílio de Constança
Na
época do cisma ocorriam na Península Ibérica as guerras fernandinas e a crise de 1383-1385, ambas opondo os reinos
de Castela e Portugal por
questões dinásticas. Assim, no tempo de Fernando I de
Portugal a sua desastrosa política externa levou-o a apoiar o
Papa de Avinhão, que também tinha o apoio de Castela; depois da crise sucessória,
como Castela continuasse a defender o Papa de Avinhão, não será de estranhar
que João I de Portugal,
para mostrar bem a sua independência, fosse pelo Papa romano.
Em 1409, um concílio que se reuniu
em Pisa acrescentou um outro antipapa e
declarou os outros dois depostos. Depois de muitas conferências, discussões,
intervenções do poder civil e várias catástrofes, o Concílio de Constança (1414) depôs
o Antipapa João XXIII, recebeu a
abdicação do Papa Gregório XII, e finalmente, conseguiu
depor o Antipapa Bento XIII. Em 11 de
novembro de 1417, o concílio elegeu Odo
Colonna, que tomou
o nome de Martinho V, com o que terminou o grande cisma do Ocidente e foi
restabelecida a unidade. O prestígio do papado foi profundamente afectado com
esta crise, o que causou a criação da doutrina conciliar, que sustenta que a autoridade suprema da
Igreja se encontra com um concílio ecuménico e não com o papa,
sendo efetivamente extinta no século XV.
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