segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Nas guerras do poder

 

Centradas nas energias, admirável de se ver, tanta energia. E diversificada. Inês Domingos explica.

A ascensão da Rússia

Na União Europeia procura-se tornar a Europa mais independente da Rússia do ponto de vista energético, mas com consequências para a sua ambiciosa agenda verde.

INÊS DOMINGOS, Colunista do Observador, economista

OBSERVADOR16 jan 2022

“Os mais fortes de todos os guerreiros são esses dois – Tempo e Paciência.”
Lev Tolstoi, Guerra e Paz

Esta semana o Fórum Económico Mundial publicou o inquérito anual sobre os riscos da próxima década. Sem surpresa, e reflectindo a crescente preocupação com temas não estritamente económicos, os riscos ecológicos estão no topo da tabela e os riscos sociais vêm logo a seguir. Em décimo lugar aparece o risco de confronto geoeconómico, o que sendo um lugar de destaque ainda assim parece um pouco optimista à vista dos últimos desenvolvimentos da crise com a Rússia.

A Ucrânia tem sido o palco de um confronto, não só armado, mas que também se tem jogado na economia e no digital. Na passada sexta-feira, um ciberataque deitou abaixo várias páginas de internet do Governo ucraniano. Estes ataques não são novidade. Já em 2017 a Ucrânia foi o principal alvo do ataque informático NotPetya. As crises energéticas têm sido frequentes, com quebras de electricidade em 2015 e 2016. Mais recentemente, desde a pandemia, a Rússia tem pressionado a Alemanha a aprovar o gasoduto Nordstream 2, que permitirá reduzir significativamente as suas exportações de gás através da Ucrânia. Actualmente, segundo a International Energy Agency, a Rússia poderá estar a reter um terço da produção que poderia enviar para a Europa, ao mesmo tempo que reduz as reservas que detém em território europeu para criar uma maior pressão sobre os preços. No mercado de futuros ICE, o contrato para fornecer gás em janeiro de 2023 tem um preço superior a 65 euros/MWh, mais de três vezes superior ao preço de janeiro de 2021 de 17 euros/MWh.

A pressão russa não é de hoje, pelo menos no que diz respeito aos ciberataques e à desinformação para afectar eleições no estrangeiro. Mas durante muito tempo foi tratada como um problema isolado. O arsenal que foi construindo com tempo e paciência só agora está a ser activamente contrariado pelos países ocidentais. Mas nem sempre de forma muito coerente. Se por um lado, o Governo alemão tem atrasado a inauguração do Nord Stream 2, a Ministra da Defesa ainda na quinta-feira procurou separar as questões do início da operação do novo gasoduto do conflito com a Ucrânia.

Na União Europeia, procura-se tornar a Europa mais independente da Rússia do ponto de vista energético, mas com consequências para a sua ambiciosa agenda verde. Com efeito, no dia 1 de janeiro a Comissão Europeia iniciou um processo de consulta para alterar a taxonomia verde europeia, isto é, o conjunto de regras que determinam o que é um investimento verde, de forma a incluir o gás natural e a energia nuclear, sob certas condições, como energias de transição para uma economia verde. Desta forma cria um incentivo aos investimentos nas plataformas de gás, nomeadamente no mar do Norte, e procura moderar os desincentivos à utilização de energia nuclear. No longo prazo, os incentivos às energias renováveis podem diminuir de forma drástica as necessidades de importações energéticas.

A Europa precisa de tempo e paciência para conseguir reduzir a dependência energética da Rússia e ficar com uma posição mais confortável para defender os direitos dos cidadãos que se encontram na esfera de influência da Rússia. Mas o tempo está a escassear, com a ameaça de conflito iminente nas suas fronteiras, e a paciência está a ser duramente testada pelas empresas e famílias na Europa que vêem os preços energéticos em máximos de sempre.

RÚSSIA   MUNDO   EUROPA   UCRÂNIA

COMENTÁRIOS

João Ramos: À Europa faz falta um Churchill para nos dar consciência dos perigos que actualmente se avizinham especialmente por parte da Rússia como anteriormente o foi por parte da Alemanha Nazi. A Europa anda atrás das modas (teorias verdes, gays, etc…) descurando os problemas geopoliticos que já estamos a enfrentar, actualmente a Comissão Europeia não passa de um centro burocrático que apenas se preocupa com regras internas e pouco mais, como se o mundo à sua volta fosse totalmente pacífico e não existisse concorrência entre as partes. Se a Europa não acordar e não se remodelar rapidamente iremos continuar neste plano inclinado até à irrelevância total…         Eu Mesmo: A partir do momento em que a Alemanha desistiu do programa nuclear, pressionada por "activistas", entregou os pontos todos à Rússia e ao seu gás. A "ambiciosa agenda verde" é uma absoluta fantasia, a energia "verde" não pode nem vai poder nos próximos 50 anos suprir a necessidades energéticas da Alemanha, ou de qualquer grande pais industrializado, uma idiotice que é constantemente vendida à opinião publica e que os comentadores nunca têm a coragem de desmontar. A Rússia simplesmente aproveita a estrada que lhes constroem.             César Fernando Diniz das Neves: Todos os defeitos e pecados que aponta á Rússia, caem que nem uma luva, em muito maior quantidade e com mais intensidade, nos EU, UE e NATO. Por isso não troque as coisas por favor. A Rússia não é inimiga da Europa: os EU é que o são, uma vez que a China e a Europa são os maiores concorrentes dos EU por mercados e recursos. E convém não esquecer que um presidente americano, o trumpas, afirmou que a Europa era mais perigosa que a China, só que mais pequena; e que não se ensaiava nada de enfiar uma bomba atómica na Europa. Por estas e por outras, é que a Europa se devia unir á Rússia, única forma de poder fazer frente aos EU e á China. Percebeu? Duvido.         klaus muller > César Fernando Diniz das Neves: Fico fascinado com o grau de intensidade com que tu e o disparate se associam a qualquer hora e sem consideração de espécie nenhuma. E atendendo ao que vais publicando, não podemos deixar de concordar que é duvidosa a tua competência nestas questões. Aliás e para ser franco, tudo o que dizes só não é um absurdo porque já é tradição em ti           PortugueseMan: ...A Europa precisa de tempo e paciência para conseguir reduzir a dependência energética da Rússia... 13 anos passaram, após o famoso "corte" do gás russo de 2008. Nessa altura gritavam a alto e bom som, que os russos não eram um fornecedor de confiança e que se tinha que reduzir a dependência. O que fez a Europa nestes 13 anos? Eu digo-lhe o que fez a Europa. Aumentou o consumo de gás russo e duplicou o nº de pipelines que vêm da Rússia para a Europa, tornando redundantes os pipelines que passam pela Ucrânia e Polónia. O que passa pela Polónia há 25 dias que não passa gás e pela Ucrânia passa apenas o gás contratado por pressão europeia e que a Rússia acabou por aceitar por mais uns 2 anos. E nestes 13 anos que fez a Rússia? Investiu nos novos pipelines para a Europa, mas também investiu em pipelines para a China, entrou de forma brutal no mercado GNL e abriu uma nova rota marítima pelo Árctico para abastecer a Ásia. E é isto que a Europa quer não é? que a Rússia passe a vender o seu gás a preços mais baixos à Ásia em detrimento do mercado europeu. Vai ser óptimo para a competitividade europeia. Energia mais cara para a Europa e energia mais barata para a China. Os chineses agradecem do fundo do coração, estarem a empurrar a Rússia para os braços deles....Na União Europeia, procura-se tornar a Europa mais independente da Rússia do ponto de vista energético... Claro que não pretende tornar-se mais independente. Se assim fosse, o Nord Stream 1, Nord Stream 2 e o South Stream (transformado em Turkish Stream) nunca teriam avançado. Agora se me disser que PARTE da Europa quer reduzir essa dependência é claro que quer. E que essa parte da Europa com o apoio dos EUA, tudo está a fazer para impedir que os pipelines que passam pela Polónia e Ucrânia sejam desactivados. Mas não estão a conseguir, e não me parece venham a ter sucesso. Porque a parte da Europa que quer o gás russo também está a lutar por isso, com a Alemanha à frente do pelotão. A Alemanha não quer estar dependente dos polacos e não quer estar dependente do GNL americano. É um problema? para alguns é. A nova ministra dos negócios estrangeiros alemão do "Green Party" vai fazer uma visita à Rússia. Será interessante como será a conversa dela. Principalmente porque alguém lhe deve ter mostrado um excel com os valores da energia brutais que vão passar a ter se os pipelines russos não forem activados.          Pontifex Maximus: A Europa não tem alternativa a curto prazo ao gás russo, essa é que é a verdade, sendo evidente que as barragens e as ventoinhas são um desastre político por completamente ineficazes em termos reais. O solar poderia ser, mas se resolvido o problema da acumulação e da sazonabilidade diária (como produzir à noite) e o hidrogénio, esse sim será a solução mas dependente da investigação e, portanto, só muito lá para a frente. Resta, portanto, o nuclear e a Europa já percebeu isso. Mas sabemos que no estádio actual isso significa (la está, no futuro, também aqui as coisas serão diferentes, com a passagem da fissão / fusão mas esse futuro ainda está muito longe). E as matérias primas minerais (não só o gás)…          bento guerra: A Rússia tem o gás e coloca militares no centro da Europa, em quantidade e com meios, que mais ninguém pode , aparte os chineses. Deixem estar o urso quieto.

 

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