Centradas nas energias, admirável de se ver, tanta energia. E diversificada. Inês
Domingos explica.
A
ascensão da Rússia
Na União Europeia procura-se tornar a
Europa mais independente da Rússia do ponto de vista energético, mas com
consequências para a sua ambiciosa agenda verde.
INÊS DOMINGOS, Colunista do Observador, economista
OBSERVADOR16
jan 2022
“Os
mais fortes de todos os guerreiros são esses dois – Tempo e Paciência.”
Lev Tolstoi, Guerra e Paz
Esta
semana o Fórum Económico Mundial publicou o inquérito anual sobre os riscos da
próxima década. Sem
surpresa, e reflectindo a crescente preocupação com temas não estritamente
económicos, os riscos ecológicos estão no topo da tabela e os
riscos sociais vêm logo a seguir. Em décimo
lugar aparece o risco de confronto geoeconómico, o que sendo um lugar de
destaque ainda assim parece um pouco optimista à vista dos últimos
desenvolvimentos da crise com a Rússia.
A Ucrânia tem sido o palco de um confronto, não só armado, mas
que também se tem jogado na economia e no digital. Na passada sexta-feira, um ciberataque deitou
abaixo várias páginas de internet do Governo ucraniano. Estes ataques
não são novidade. Já em 2017 a Ucrânia foi o principal alvo do ataque
informático NotPetya. As crises energéticas têm sido frequentes, com
quebras de electricidade em 2015 e 2016. Mais recentemente, desde a pandemia, a
Rússia tem pressionado a Alemanha a
aprovar o gasoduto Nordstream
2, que permitirá reduzir
significativamente as suas exportações de gás através da Ucrânia. Actualmente, segundo a International Energy Agency, a Rússia
poderá estar a reter um terço da produção que poderia enviar para a Europa, ao
mesmo tempo que reduz as reservas que detém em território europeu para criar
uma maior pressão sobre os preços. No mercado de futuros ICE, o contrato
para fornecer gás em janeiro de 2023 tem um preço superior a 65 euros/MWh, mais
de três vezes superior ao preço de janeiro de 2021 de 17 euros/MWh.
A
pressão russa não é de hoje, pelo menos no que diz respeito aos ciberataques e
à desinformação para afectar eleições no estrangeiro. Mas durante muito tempo foi tratada como um problema
isolado. O arsenal que foi construindo com tempo e paciência só agora
está a ser activamente contrariado pelos países ocidentais. Mas nem sempre de
forma muito coerente. Se por um lado, o Governo alemão tem atrasado a
inauguração do Nord Stream 2, a Ministra da Defesa ainda na quinta-feira
procurou separar as questões do início da operação do novo gasoduto do conflito
com a Ucrânia.
Na
União Europeia, procura-se tornar a Europa mais independente da Rússia do ponto
de vista energético, mas com consequências para a sua ambiciosa agenda verde. Com efeito, no dia 1 de janeiro a Comissão
Europeia iniciou um processo de consulta para alterar a taxonomia verde europeia, isto é, o conjunto de regras que determinam o que é
um investimento verde, de forma a incluir
o gás natural e a energia nuclear, sob certas condições, como energias de
transição para uma economia verde. Desta forma cria um incentivo aos investimentos
nas plataformas de gás, nomeadamente no mar do Norte, e
procura moderar os desincentivos à utilização de energia
nuclear. No longo
prazo, os incentivos às energias renováveis podem diminuir de forma drástica as
necessidades de importações energéticas.
A
Europa precisa de tempo e paciência para conseguir reduzir a dependência
energética da Rússia e ficar com uma posição mais confortável para defender os
direitos dos cidadãos que se encontram na esfera de influência da Rússia. Mas o
tempo está a escassear, com a ameaça de conflito iminente nas suas fronteiras,
e a paciência está a ser duramente testada pelas empresas e famílias na Europa
que vêem os preços energéticos em máximos de sempre.
COMENTÁRIOS
João Ramos: À Europa faz falta um Churchill para nos dar consciência dos perigos que
actualmente se avizinham especialmente por parte da Rússia como anteriormente o
foi por parte da Alemanha Nazi. A Europa anda atrás das modas (teorias
verdes, gays, etc…) descurando os problemas geopoliticos que já estamos a
enfrentar, actualmente a Comissão Europeia não passa de um centro burocrático
que apenas se preocupa com regras internas e pouco mais, como se o mundo à sua
volta fosse totalmente pacífico e não existisse concorrência entre as partes. Se
a Europa não acordar e não se remodelar rapidamente iremos continuar neste
plano inclinado até à irrelevância total… Eu Mesmo: A partir do momento em que a
Alemanha desistiu do programa nuclear, pressionada por "activistas",
entregou os pontos todos à Rússia e ao seu gás. A "ambiciosa agenda
verde" é uma absoluta fantasia, a energia "verde" não pode nem
vai poder nos próximos 50 anos suprir a necessidades energéticas da Alemanha,
ou de qualquer grande pais industrializado, uma idiotice que é constantemente
vendida à opinião publica e que os comentadores nunca têm a coragem de
desmontar. A Rússia simplesmente aproveita a estrada que lhes constroem. César Fernando Diniz
das Neves: Todos os defeitos
e pecados que aponta á Rússia, caem que nem uma luva, em muito maior quantidade
e com mais intensidade, nos EU, UE e NATO. Por isso não troque as coisas por
favor. A Rússia não é inimiga da Europa: os EU é que o são, uma vez que a
China e a Europa são os maiores concorrentes dos EU por mercados e recursos.
E convém não esquecer que um presidente americano, o trumpas, afirmou que a
Europa era mais perigosa que a China, só que mais pequena; e que não se ensaiava
nada de enfiar uma bomba atómica na Europa. Por estas e por outras, é que a
Europa se devia unir á Rússia, única forma de poder fazer frente aos EU e á
China. Percebeu? Duvido. klaus
muller > César Fernando Diniz das Neves: Fico fascinado com o grau de
intensidade com que tu e o disparate se associam a qualquer hora e sem
consideração de espécie nenhuma. E atendendo ao que vais publicando, não podemos deixar
de concordar que é duvidosa a tua competência nestas questões.
Aliás e para
ser franco, tudo o que dizes só não é um absurdo porque já é tradição em ti. PortugueseMan: ...A Europa precisa de tempo e paciência para
conseguir reduzir a dependência energética da Rússia... 13 anos passaram, após o famoso
"corte" do gás russo de 2008. Nessa altura gritavam a alto e bom som,
que os russos não eram um fornecedor de confiança e que se tinha que reduzir a
dependência. O que fez a Europa nestes 13
anos? Eu digo-lhe o
que fez a Europa. Aumentou o consumo de gás russo e duplicou o nº de pipelines que vêm da
Rússia para a Europa, tornando redundantes os pipelines que passam pela Ucrânia
e Polónia. O que passa pela Polónia há 25 dias que não passa gás e pela Ucrânia passa
apenas o gás contratado por pressão europeia e que a Rússia acabou por aceitar
por mais uns 2 anos. E nestes 13 anos que fez a
Rússia? Investiu nos novos pipelines para a Europa, mas também investiu em
pipelines para a China, entrou de forma brutal no mercado GNL e abriu uma nova
rota marítima pelo Árctico para abastecer a Ásia. E é isto que a Europa quer não
é? que a Rússia passe a vender o seu gás a preços mais baixos à Ásia em
detrimento do mercado europeu. Vai ser óptimo para a competitividade europeia.
Energia mais cara para a Europa e energia mais barata para a China. Os chineses
agradecem do fundo do coração, estarem a empurrar a Rússia para os braços deles....Na
União Europeia, procura-se tornar a Europa mais independente da Rússia do ponto
de vista energético... Claro que não pretende tornar-se mais independente. Se
assim fosse, o Nord Stream 1, Nord Stream 2 e o South Stream (transformado em Turkish
Stream) nunca teriam avançado. Agora se me disser que PARTE da Europa quer reduzir
essa dependência é claro que quer. E que essa parte da Europa com o
apoio dos EUA, tudo está a fazer para impedir que os pipelines que passam pela
Polónia e Ucrânia sejam desactivados. Mas não estão a conseguir, e não me
parece venham a ter sucesso. Porque a parte da Europa que quer o gás russo também
está a lutar por isso, com a Alemanha à frente do pelotão. A Alemanha não
quer estar dependente dos polacos e não quer estar dependente do GNL americano.
É um problema?
para alguns é. A nova ministra dos negócios estrangeiros alemão do "Green Party"
vai fazer uma visita à Rússia. Será interessante como será a conversa dela.
Principalmente porque alguém lhe deve ter mostrado um excel com os valores da
energia brutais que vão passar a ter se os pipelines russos não forem activados. Pontifex Maximus: A Europa não tem alternativa a curto
prazo ao gás russo, essa é que é a verdade, sendo evidente que as barragens e
as ventoinhas são um desastre político por completamente ineficazes em termos
reais. O solar poderia ser, mas se resolvido o problema da acumulação e da
sazonabilidade diária (como produzir à noite) e o hidrogénio, esse sim será a
solução mas dependente da investigação e, portanto, só muito lá para a frente. Resta,
portanto, o nuclear e a Europa já percebeu isso. Mas sabemos que no estádio
actual isso significa (la está, no futuro, também aqui as coisas serão
diferentes, com a passagem da fissão / fusão mas esse futuro ainda está muito
longe). E as matérias
primas minerais (não só o gás)… bento guerra: A Rússia tem o gás e coloca militares no centro da
Europa, em quantidade e com meios, que mais ninguém pode , aparte os chineses. Deixem
estar o urso quieto.
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