segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O saber ocupa lugar


Dois comentários reveladores desse saber - sobre os artifícios de quem governa o país - de resposta ao texto de MANUEL VILLAVERDE CABRAL - «Mistificações e oportunidades». Foram os últimos, que coloco em primeiro lugar:

De augusto sousa:  Sempre uma análise clara , concisa e cheia de oportunidade. Sabemos que a falta de visão estratégica, o conservadorismo e a ausência de modernidade social e  política  para o país, não é monopólio do "habilidoso"  "and friends" . É um estado de alma, uma mediocridade militante, que facilmente se deixa enganar por oportunistas, bem falantes  e quem lhe vende o vigésimo premiadoSinceramente e do coração lhe digo, " não sei como pôr termo a isto "     

De  Eduardo Fernandes: Análise correctíssima. A última do habilidoso é o mecenato salarial. O Estado vai interferir também no processo de formação do salário médio, diz ele com incentivos às empresas. Mais intervenção do Estado na economia, mais  distorção económica, mais corrupção, menor eficiência! O habilidoso, em vez de se preocupar com os custo de contexto onde se incluem os custos de energia dos mais elevados na UE para empresas e a justiça menos eficaz da UE, está focado em mais clientelismo é mais vigarice. É isto que historicamente mais Estado significa para o nosso país!

Mistificações e oportunidades

Este processo partidário, redutor e abusador, para não dizer autoritário e clientelista, é ao mesmo tempo consequência e causa da precipitação e incompetência com que Guterres agiu a partir de 1995.

MANUEL VILLAVERDE CABRAL

OBSERVADOR, 10 jan 2022

Já só faltam três semanas para uma inesperada eleição legislativa provocada pela derrota do governo PS na aprovação do orçamento de Estado para o presente ano. A rapidez e a insistência com que o presidente da República dissolveu o parlamento, praticamente sem prévio aviso, fazem pensar que o líder do PS aproveitou a oportunidade que lhe era oferecida de ir a votos e conquistar a maioria absoluta parlamentar por quatro anos, a fim de governar sem oposição e aproveitar a montanha de dinheiro oferecida pela UE a fim de tentar recuperar o enorme rombo económico do país.

É isso que se verá. Com o actual surto da pandemia em curso e com perdas económicas significativas por recuperar interna e externamente, o PS anseia pela maioria absoluta a fim de usar o fundo gratuito da UE à maneira dele e dos seus próximos. Pior que as quebras sanitárias e económicas é a incapacidade política de o país se recuperar a si próprio. Entretanto, a inflação despertou da acalmia em que a economia mundial vivia desde finais do século passado até a pandemia surgir. Isto não deixará de afectar a dívida pública, a qual já ultrapassa largamente o PIB anual e só diminui um instante para voltar a aumentar de novo.

É este o quadro que espera uma dezena de partidos que se apresentarão à eleição: dois grandes, o PS e o PSD, que abarcarão à vontade, segundo as sondagens, dois terços dos votos; depois, os pequenos partidos, por ordem da votação prevista pela sondagem do ICS-ISCTE: o Chega (o primeiro até agora com 7%), o BE, o PCP, a IL, o PAN, o CDS e, por ora, o Livre em últimoPara já, acentua-se cada vez mais a monopolização dos dois partidos situados ao centro do leque ideológico esquerda-direita, enquanto aumenta a abstenção e diminui o apoio popular a antigos partidos relevantes como o PCP e o CDS, mas também aos novos candidatos à representação parlamentar.

Este processo partidário, simultaneamente redutor e abusador, para não dizer autoritário e clientelista, é ao mesmo tempo uma consequência e uma causa da precipitação e incompetência com que o sucessor de Cavaco Silva – António Guterresagiu a partir de 1995. A época dos anteriores governos de Cavaco Silva – o primeiro minoritário (1983-1985) e depois com maioria de 50% — Portugal teve um progresso económico e social significativo e continuado, sobretudo a partir da adesão à então CEE. Com efeito, tal não ocorria desde a quinzena de anos que vai da década de 1950 até à crise do petróleo em 1972, a qual levou por sua vez ao levantamento militar de 1974. A «esquerdização» da política dá sempre um mau resultado económico!

Com a subida ao poder de Guterres, este apressou-se a aderir ao recém-criado «euro» por um preço que Portugal nunca teve condições para pagar, conforme se tem visto até agora! É bom recordar que a adesão à «Europa» promovida por Mário Soares contra gente do seu próprio partido, para não falar do PCP e dos grupúsculos esquerdistas, assim como das reticências do CDS e do próprio PSD, tinha como alvo exclusivo obter a protecção da Europa para a frágil democracia portuguesa. Como Pessoa, Soares «não sabia nada de finanças», mas sabia o que era e o que não era uma democracia!

Se dúvida houvesse acerca do resultado económico dos últimos 25 anos, sobretudo os «anos loucos» de Sócrates, cuja sombra se projecta há mais de 10 anos e daí que não possa ser julgado de vez, a pandemia pôs a nu o arrastamento da economia, ao mesmo tempo que os governos continuavam a ignorar o galopante envelhecimento do país. Foi assim que, num só ano (2020), a economia já caiu metade do que aumentara durante a geringonça.

Entretanto, a dívida não cessa de subir mas agora a inflação e os juros parecem querer aumentar também de forma a «limpar» os bancos, grandes empresas e dirigentes partidários! Estamos de volta a 2011 quando Sócrates foi afastado mas ficou livre…Neste momento, o PIB português está ao nível de 2005, quando Jorge Sampaio entregou o poder a Sócrates a fim de este enterrar o escândalo da Casa Pia e… restaurar o «socialismo». O resultado foi a corrupção seguida da pré-falência e, por causa disso, a austeridade!

A votação do domingo 30 apanhou toda a gente de surpresa e os seus fins não foram bem explicados. Antes pelo contrário: o primeiro-ministro limitou-se a prometer aumentos de salários, esquecendo o aumento dos preços e juros. Ficaram à vista, contudo, a extrema profundidade da crise económica a que o país chegou assim como revelou uma crise social que vai do envelhecimento e a saúde à justiça e a educação! É preciso pôr termo a isto.

LEGISLATIVAS 2022   ELEIÇÕES   POLÍTICA

COMENTÁRIOS

P Censurado Censurado: O Villaverde terá aberto outra vez a caixa de comentários para os leitores comentarem as suas suposições? Como um suposto arranjinho entre o PR e o PM ou a novidade que com Cavaco nunca teríamos aderido ao euro? Porque a esta última já não podemos chamar propriamente uma suposição de alguém são da cabecinha, digamos assim. Até porque há muitos factos e documentos que a desmentem categoricamente. E como é que ficamos daqui para a frente? Fingimos que o Villaverde também nunca insinuou que Portugal nunca tinha entrado no euro com Cavaco? Ou também é preciso pôr termo a isto?            Ediberto Abreu: Ó José Maria francamente...acredita mesmo no que acabou de escrever?           josé maria: Ó Manuel Cabral, será preciso voltar a demonstrar, com factos estatísticos irrefutáveis, que António Guterres, a seguir a António Costa, foi um dos melhores PM portugueses? Se quiserem que volte a fazê-lo, é só desafiarem-me...        Rui Brandao > josé maria: Sim, calcule o valor actualizado dos aumentos da despesa pública dos governos Guterristas, incluindo as despesas fora do balanço (aka PPPs). Pode até descontar o efeitos de aumento da receita fiscal. Divida isso pelo PIB. Aliás, o Guterres foi-se embora porque estava tudo fantástico. No curto prazo, gastar dinheiro dá bom resultado - aumenta logo o PIB mesmo sem grande efeitito multiplicador. Depois é que é uma ... chatice.          josé maria > Rui Brandao: Já que me desafiou, e não é capaz de demonstrar o que alega, com factos comprovados, eu respondo-lhe com dados estatísticos irrefutáveis. António Guterres deixou de ser PM em 2002 e conseguiu o défice público de 3,3%. Cavaco Silva governou até 1995 e deixou o défice em 5,2%.Durão Barroso saiu em 2004 e deixou o défice em 6,2%.Santana Lopes saiu em 2005 e deixou o défice em 6,2%.   Cavaco Silva governou entre 1987 e 1995, com a dívida pública sempre a subir. Em 1995, a dívida ficou em 58,3%.   Durante o governo de António Guterres,   a dívida baixou de 59,5 % em 1996 para 55,2% em 1997. Em 1998, baixou para 51,8%. Em 1999, baixou para 51,0%. E em 2000 baixou para 50,3%.Quanto ao défice, em 1999, Guterres deixou o défice em 3,0%, em 2000,  3,2%, em 2001, 3,3%. Quanto ao desemprego, Cavaco Silva fixou-o em 7,1%, no ano de 1995. Guterres conseguiu colocá-lo em 5,0% em 2002. Contra factos, não há argumentos. São diferenças muito significativas, Guterres bate Cavaco aos pontos por larga margem de diferença, na dívida pública, no défice e no desemprego. António Guterres, o socialista que "não sabia" governar...  Défice : 1999 -3,0%    2000 -3,2%    2001 -3,3% .     Dívida Pública: 2002 - 56,2             Desemprego:  2002- 5,0%       Rui Brandao > josé maria: Para o caso de dificuldades de compreensão escrita, falei dos cash-flows futuros resultantes das opções do Governo Guterres, não o que simpaticamente acontece nas contas do ano - ou dos anos subsequentes. E a inclusão das obrigações fora das contas públicas. Por exemplo, as centenas de milhões de euros anuais que temos de pagar graças aos contratos PPs do governo. Que, maravilha das finanças públicas, não aparecem nas contas nem contam para o défice (do ano). Essas % de défice e de DP não valem o dinheiro do papel onde são escritas. E também juntava a esta lista as obrigações não financiadas da Segurança Social (pensões). Não é só cá - fraca consolação (não perguntem à Alemanha sobre o assunto). A verdade é que o nível de reporte das contas públicas é de mercearia do bairro. Mas olhemos ao que se seguiu ao Guterres: estagnação económica. Cada vez pior em termos comparativos.           josé maria >  Rui Brandao: Para o caso de dificuldade de compreensão escrita, sugiro-lhe que você volte a ler os dados estatísticos irrefutáveis, que tive a amabilidade de lhe indicar no meu anterior comentário e que você ainda nem sequer agradeceu. Talvez consiga perceber a enorme distância, que vai entre afirmações despejadas à vontade do freguês e o rigor dos factos comprovados. Olhe que não é difícil...          José Paulo C Castro > josé maria: Meu caro, como sempre mistificador. Toda a gente sabe que a festa corre bem se a conta ficar a crédito dos netos. Uma grande festa. A diferença entre Cavaco e Guterres é que o primeiro pagava as contas na hora, no ano, com excepção da ponte que foi a primeira PPP mas que ninguém duvida que será paga pelas portagens. Guterres, já agora, deixou contas até 2035 que não conseguirão ser pagas pelas portagens. Repare na última frase. Já agora, sabe a diferença entre Passos e Costa (antes de comparar estatísticas anuais) ?  O primeiro não cativava despesa, o novo truque de Costa, que o foi buscar diretamente a Salazar. Passos corrigia orçamentos para mostrar tudo. Costa cativa e não mostra a execução orçamental até muito tarde, com a dívida a aparar o golpe. Um adiar do buraco, um atraso de vida, aliás, de dívida.           Vitor Batista > josé maria: Está a falar na dimensão do pântano? sim foi o melhor a seguir a Sócrates.           josé maria > José Paulo C Castro: Meras parlapatices não conseguem refutar os dados estatísticos que eu citei... São apenas palavras, despejadas ao sabor do vento e do preconceito...           José Paulo C Castro > josé maria: Assim fala a cigarra, a que devemos ignorar quando voltar no inverno! Você paga a conta das PPP, pelo menos, ou diz que essa dívida não é sua ?            David Pinheiro: Enquanto 60% do eleitorado viver directa ou indirectamente dependente do Estado e das prestações sociais, não sei como "pôr termo a isto". Atrever-me-ia a pedir à direita que passasse o tempo todo a explicar ao eleitorado como funciona a macro economia. Mas acho que é pedir muito...            bento guerra: A bola é deles e os cidadãos apenas compram os bilhetes da bancada de que gostam mais. E mesmo sem assistir, pagam na mesma.           Maria Nunes: Excelente, MVC. Obrigada por mais uma oportuna  análise da situação do país.           

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