MANUEL VILLAVERDE CABRAL - «Mistificações e oportunidades». Foram os últimos, que coloco em primeiro lugar:
De: Sempre uma análise clara , concisa e cheia de
oportunidade. Sabemos que a falta de visão estratégica, o conservadorismo e a
ausência de modernidade social e política para o país, não é
monopólio do "habilidoso" "and friends" . É
um estado de alma, uma mediocridade militante, que facilmente se deixa enganar
por oportunistas, bem falantes e quem lhe vende o vigésimo premiado! Sinceramente e do coração lhe digo, "
não sei como pôr termo a isto "
De Eduardo
Fernandes: Análise correctíssima. A última do habilidoso é o mecenato
salarial. O Estado vai interferir também no processo de formação do
salário médio, diz ele com incentivos às empresas. Mais intervenção do
Estado na economia, mais distorção económica, mais corrupção, menor
eficiência! O habilidoso, em vez de se preocupar com os custo de contexto onde
se incluem os custos de energia dos mais elevados na UE para empresas e a
justiça menos eficaz da UE, está focado em mais clientelismo é mais vigarice. É
isto que historicamente mais Estado significa para o nosso país!
Mistificações e oportunidades
Este processo partidário, redutor e
abusador, para não dizer autoritário e clientelista, é ao mesmo tempo
consequência e causa da precipitação e incompetência com que Guterres agiu a
partir de 1995.
MANUEL VILLAVERDE
CABRAL
OBSERVADOR, 10 jan 2022
Já
só faltam três semanas para uma inesperada eleição legislativa provocada pela
derrota do governo PS na aprovação do orçamento de Estado para o presente ano. A rapidez
e a insistência com que o presidente da República dissolveu o parlamento,
praticamente sem prévio aviso, fazem pensar que o líder do PS aproveitou a
oportunidade que lhe era oferecida de ir a votos e conquistar a maioria
absoluta parlamentar por quatro anos, a fim de governar sem oposição e
aproveitar a montanha de dinheiro oferecida pela UE a fim de tentar recuperar o
enorme rombo económico do país.
É
isso que se verá. Com o actual surto da pandemia em curso e com perdas económicas
significativas por recuperar interna e externamente, o PS
anseia pela maioria absoluta a fim de usar o fundo gratuito da UE à maneira
dele e dos seus próximos. Pior que
as quebras sanitárias e económicas é a incapacidade política de o país se
recuperar a si próprio. Entretanto, a inflação despertou da acalmia em que a
economia mundial vivia desde finais do século passado até a pandemia surgir.
Isto não deixará de afectar a dívida pública, a qual já ultrapassa largamente o
PIB anual e só diminui um instante para voltar a aumentar de
novo.
É
este o quadro que espera uma dezena de partidos que se apresentarão à eleição:
dois grandes, o PS e o PSD, que abarcarão à vontade, segundo as sondagens, dois
terços dos votos; depois, os pequenos partidos, por ordem da votação prevista
pela sondagem do ICS-ISCTE: o Chega (o primeiro
até agora com 7%), o BE, o PCP, a IL, o PAN, o CDS e, por ora, o Livre em
último… Para já,
acentua-se cada vez mais a monopolização dos dois partidos situados ao centro
do leque ideológico esquerda-direita, enquanto aumenta a abstenção e diminui o
apoio popular a antigos partidos relevantes como o PCP e o CDS, mas também aos
novos candidatos à representação parlamentar.
Este
processo partidário, simultaneamente redutor e abusador, para não dizer
autoritário e clientelista, é ao mesmo tempo uma consequência e uma causa da precipitação e
incompetência com que o sucessor de Cavaco Silva – António Guterres – agiu
a partir de 1995. A época dos anteriores governos de Cavaco Silva – o
primeiro minoritário (1983-1985) e depois com maioria de 50% — Portugal teve um
progresso económico e social significativo e continuado, sobretudo a partir da
adesão à então CEE. Com efeito, tal não ocorria desde a quinzena
de anos que vai da década de 1950 até à crise do petróleo em 1972, a
qual levou por sua vez ao levantamento militar de 1974. A «esquerdização» da
política dá sempre um mau resultado económico!
Com a subida ao poder de Guterres,
este apressou-se a aderir ao recém-criado «euro» por um preço que Portugal
nunca teve condições para pagar, conforme se tem visto até agora! É bom
recordar que a adesão à «Europa» promovida por Mário Soares contra gente do seu
próprio partido, para não falar do PCP e dos grupúsculos esquerdistas, assim
como das reticências do CDS e do próprio PSD, tinha como alvo exclusivo obter a
protecção da Europa para a frágil democracia portuguesa. Como Pessoa, Soares «não sabia nada de finanças»,
mas sabia o que era e o que não era uma democracia!
Se
dúvida houvesse acerca do resultado económico dos últimos 25 anos, sobretudo os
«anos loucos» de Sócrates, cuja
sombra se projecta há mais de 10 anos e daí que não possa ser julgado de vez, a
pandemia pôs a nu o arrastamento da economia, ao mesmo tempo que os governos
continuavam a ignorar o galopante envelhecimento do país. Foi assim que, num só ano (2020), a
economia já caiu metade do que aumentara durante a geringonça.
Entretanto, a dívida não cessa de
subir mas agora a inflação e os juros parecem querer aumentar também de forma a
«limpar» os bancos, grandes empresas e dirigentes partidários! Estamos de volta
a 2011 quando Sócrates foi afastado mas ficou livre…Neste momento, o PIB português está ao nível de
2005, quando Jorge Sampaio
entregou o poder a Sócrates a fim de este enterrar o escândalo da Casa Pia e…
restaurar o «socialismo». O
resultado foi a corrupção seguida da pré-falência e, por causa disso, a
austeridade!
A
votação do domingo 30 apanhou toda a gente de surpresa e os seus fins não foram
bem explicados. Antes pelo contrário: o primeiro-ministro limitou-se a
prometer aumentos de salários, esquecendo o aumento dos preços e juros. Ficaram
à vista, contudo, a extrema profundidade da crise económica a que o país chegou
assim como revelou uma crise social que vai do envelhecimento e a saúde à
justiça e a educação! É
preciso pôr termo a isto.
LEGISLATIVAS
2022 ELEIÇÕES POLÍTICA
COMENTÁRIOS
PO
Villaverde terá aberto outra vez a caixa de comentários para os leitores
comentarem as suas suposições? Como um suposto arranjinho entre o PR e o PM ou
a novidade que com Cavaco nunca teríamos aderido ao euro? Porque a esta última
já não podemos chamar propriamente uma suposição de alguém são da cabecinha,
digamos assim. Até porque há muitos factos e documentos que a desmentem
categoricamente. E como é que ficamos daqui para a frente? Fingimos que o
Villaverde também nunca insinuou que Portugal nunca tinha entrado no euro com
Cavaco? Ou também é preciso pôr termo a isto? : Ó
José Maria francamente...acredita mesmo no que acabou de escrever? : Ó
Manuel Cabral, será preciso voltar a demonstrar, com factos estatísticos
irrefutáveis, que António Guterres, a seguir a António Costa, foi um dos
melhores PM portugueses? Se quiserem que volte a fazê-lo, é só desafiarem-me... : Sim, calcule o valor actualizado dos aumentos da
despesa pública dos governos Guterristas, incluindo as despesas fora do balanço
(aka PPPs). Pode até descontar o efeitos de aumento da receita fiscal. Divida
isso pelo PIB. Aliás,
o Guterres foi-se embora porque estava tudo fantástico. No curto prazo, gastar dinheiro dá bom resultado -
aumenta logo o PIB mesmo sem grande efeitito multiplicador. Depois é que é uma
... chatice. : Já que me desafiou, e não é capaz de demonstrar o que
alega, com factos comprovados, eu respondo-lhe com dados estatísticos
irrefutáveis. António
Guterres deixou de ser PM em 2002 e conseguiu o défice público de 3,3%. Cavaco
Silva governou até 1995 e deixou o défice em 5,2%.Durão Barroso saiu em 2004 e
deixou o défice em 6,2%.Santana Lopes saiu em 2005 e deixou o défice em 6,2%.
Cavaco Silva governou entre 1987 e 1995, com a dívida pública sempre a
subir. Em 1995, a dívida ficou em 58,3%. Durante o governo de António
Guterres, a dívida baixou de 59,5 % em 1996 para 55,2% em 1997. Em 1998,
baixou para 51,8%. Em 1999, baixou para 51,0%. E em 2000 baixou para
50,3%.Quanto ao défice, em 1999, Guterres deixou o défice em 3,0%, em 2000,
3,2%, em 2001, 3,3%. Quanto ao desemprego, Cavaco Silva fixou-o em 7,1%,
no ano de 1995. Guterres conseguiu colocá-lo em 5,0% em 2002. Contra factos,
não há argumentos. São diferenças muito significativas, Guterres bate Cavaco
aos pontos por larga margem de diferença, na dívida pública, no défice e no
desemprego. António Guterres, o socialista
que "não sabia" governar... Défice : 1999 -3,0% 2000 -3,2% 2001 -3,3% . Dívida
Pública: 2002 -
56,2 Desemprego:
2002-
5,0% : Para o caso de dificuldades de compreensão escrita,
falei dos cash-flows futuros resultantes das opções do Governo Guterres, não o
que simpaticamente acontece nas contas do ano - ou dos anos subsequentes. E a
inclusão das obrigações fora das contas públicas. Por exemplo, as centenas de
milhões de euros anuais que temos de pagar graças aos contratos PPs do governo. Que, maravilha das finanças públicas, não aparecem nas
contas nem contam para o défice (do ano). Essas % de défice e de DP não
valem o dinheiro do papel onde são escritas. E também juntava a esta lista as
obrigações não financiadas da Segurança Social (pensões). Não é só cá - fraca
consolação (não perguntem à Alemanha sobre o assunto). A verdade é que o nível
de reporte das contas públicas é de mercearia do bairro. Mas olhemos ao que se
seguiu ao Guterres: estagnação económica. Cada vez pior em termos comparativos. : Para
o caso de dificuldade de compreensão escrita, sugiro-lhe que você volte a ler
os dados estatísticos irrefutáveis, que tive a amabilidade de lhe indicar no
meu anterior comentário e que você ainda nem sequer agradeceu. Talvez consiga
perceber a enorme distância, que vai entre afirmações despejadas à vontade do
freguês e o rigor dos factos comprovados. Olhe que não é difícil... : Meu caro, como sempre mistificador. Toda a gente
sabe que a festa corre bem se a conta ficar a crédito dos netos. Uma grande
festa. A diferença entre Cavaco e Guterres é que o primeiro pagava as contas
na hora, no ano, com excepção da ponte que foi a primeira PPP mas que ninguém
duvida que será paga pelas portagens. Guterres, já agora, deixou contas até
2035 que não conseguirão ser pagas pelas portagens. Repare na última frase. Já
agora, sabe a diferença entre Passos e Costa (antes de comparar estatísticas
anuais) ? O primeiro não cativava despesa, o novo truque de Costa, que o
foi buscar diretamente a Salazar. Passos corrigia orçamentos para mostrar tudo.
Costa cativa e não mostra a execução orçamental até muito tarde, com a dívida a
aparar o golpe. Um adiar do buraco, um atraso de vida, aliás, de dívida. : Está a falar na dimensão do pântano? sim foi o melhor a
seguir a Sócrates. : Meras parlapatices não conseguem refutar os dados
estatísticos que eu citei... São apenas palavras, despejadas ao sabor do vento
e do preconceito... : Assim fala a cigarra, a que devemos ignorar quando
voltar no inverno! Você
paga a conta das PPP, pelo menos, ou diz que essa dívida não é sua ? : Enquanto 60% do eleitorado viver directa ou indirectamente
dependente do Estado e das prestações sociais, não sei como "pôr termo a
isto". Atrever-me-ia a pedir à direita que passasse o tempo todo a
explicar ao eleitorado como funciona a macro economia. Mas acho que é pedir
muito... : A bola é deles e os cidadãos apenas compram os bilhetes
da bancada de que gostam mais. E mesmo sem assistir, pagam na mesma. : Excelente,
MVC. Obrigada por mais uma oportuna análise da situação do país.
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