Não movem, de facto, moinhos. Agora
é a energia eólica que faz mover as velas branquinhas, no alto dos cerros, por
via da energia eléctrica, já que de outra energia não se fala por cá, que
vivemos num espaço de prazer e lindas vozes, como a que estou a escutar, de António Zambujo, homenageando Max. Ainda
assim, também o Éolo nos vai abandonando, na seca geral. Mas temos que nos
adaptar às secas, embora o Dr. Salles
continue a evocar os dados passados, num frisar dos acontecimentos que viveu em
choque, como muitos de nós. Todavia, o foguetório explosivo também virou de
direcção e mesmo de intenção, e o sofrimento das gentes do leste é de tal forma
expressivo, que nem nos atrevemos a considerar o nosso, já antigo, a oeste, que, de resto, os cravos vermelhos muito bem disfarçaram, em ficção de arrojo.
«... E VÓS,
TÁGIDES MINHAS...» - 3
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 23.09.22
ou
O
MUNDO VISTO A PARTIR DE LISBOA
1975 – entrega das
colónias portuguesas aos «cuidados do Império Soviético; entrada em vigor da nova Constituição «rumo ao
socialismo»; inversão de todos os Valores até então vigentes pelo PREC
(Processo Revolucionário Em Curso; golpe militar em 25 de Novembro repondo a
democracia;
1976 – ano 0 (zero) da Democracia na 3ª República Portuguesa.
* * *
De regresso à dimensão territorial
do séc. XV, a europeia, havia a necessidade de obstar aos apetites soviéticos e
aos do iberismo. A
solução foi a da adesão à então CEE a qual, para além do mais, era totalmente
compatível com a já então longa pertença à NATO.
A partir daqui, afastado o perigo (real) de sovietização e de absorção
(potencial) ibérica, todas as opções estruturais foram sendo tomadas por
arrastamento e por validação democrática à posteriori, nas eleições que se
foram seguindo em que foram homologadas as decisões anteriores pela vitória
sucessiva ou alternada dos Partidos que haviam «assinado» as ditas opções. Refiro-me à adesão
à CEE, à transformação
desta em União e à adesão ao Euro. A alternativa teria sido a nossa albanização «envers
ohxiana» ou o retorno ao «orgulhosamente sós», mas já sem Império e sem o
correspondente afluxo de divisas e oiro aos activos do Banco de Portugal.
Reconheçamos hoje que, apesar de nem sempre termos estado do lado
maioritário, as opções seguidas foram as sensatas.
Perdemos parte da Soberania Nacional? Sim, sem dúvida e isso foi muito
penoso para muitos de nós, nomeadamente para mim próprio mas…
… uma das primeiras perdas da nossa Soberania terá sido quando há muito
tempo aderimos à Convenção Internacional dos Correios…
… estas últimas perdas (no âmbito da CEE/UE) foram o «preço a pagar»
pela garantia desse Valor mais alto que é a Independência Nacional integrada
num espaço plurinacional solidário e de coesão sempre negociada.
E agora?
Agora, aqui chegados e depois de termos evitado alguns exageros (Federação
e Constituição p. ex.), vamos continuar a viver numa União de Estados
Soberanos.
Vejamos, pois, como é o mundo a partir de Lisboa…
Lisboa, 22 de Setembro de 2022
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo 23.09.2022 13:29: Concordando com o que escreveste, Henrique, apenas
dois sublinhados muito curtos: O primeiro para recordar que
depois do século XVII, este cantinho europeu já foi, por mais de uma vez, na
realidade Protetorado: uma vez por motivo alheio (invasões napoleónicas e
defesa inglesa), com o Chefe de Estado em terras brasileiras; e outra, por
causa própria, aquando da recente Troika, cabendo ao Prof. Adriano Moreira a
autoria da expressão Protectorado. O segundo sublinhado, para enaltecer os esforços de um
punhado de valorosos portugueses que negociaram a nossa Adesão à CEE. Em boa hora, um Colega nosso, Henrique, Embaixador de
profissão – João Rosa Lã – promoveu na Sociedade de Geografia, ao longo de um
período largo, uma série de conferências, com muitos desses protagonistas, o
que deu uma imagem do esforço que terá havido para defender, com êxito, as
nossas posições. Felizmente, essas conferências estão espelhadas em três
livros, editados pela Book Builders, um sobre a negociação da Adesão, outro
sobre as décadas europeias desde a nossa Adesão até 2017 e o terceiro sobre a
previsão, nesse ano, da Europa no futuro.
Adriano Miranda Lima 24.09.2022 00:21: Sr. Doutor, tem toda a razão. Está fora de
qualquer dúvida que fizemos a opção certa e a mais recomendável depois da perda
do império. A única alternativa seria a albanização sob a égide de um grupo de
militares e civis que se julgaram mandatados sabe-se lá por que desígnio
superior. Ou secreto. Resta agora cerrar fileiras para defender a
democracia liberal no chão da nossa união, já que ela é e terá de ser sempre o
cimento da sua consistência e a razão do seu futuro. Alguns sinais negativos que surgem na Itália, na Hungria ou,
eventualmente, possam surgir noutros lados, terão de encontrar resposta
adequada e alicerçada na convicção da superioridade dos valores que elegemos
para a nossa bandeira. Porque é um orgulho estar na dianteira da civilização. E
é mister não ignorar que os bárbaros não foram todos derrotados. Eles por aí
andam bem disfarçados nos seus fatos de alta costura. Um abraço Adriano
Lima
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