Que há comentadores televisivos, e entrevistadores que os interrogam,
para que os leigos, pelo menos, se vão apercebendo dos desastres possíveis a
que o mundo está sujeito, pese embora muita da mastigação em torno dos sucessos
diários, com a panorâmica de atrocidades cometidas e essas sim, injustificavelmente,
por parte de um agressor sem escrúpulos e de uma ambição sem limites, que se
aproveita muito bem do extraordinário saber do tal sábio com a sua teoria e a
fórmula da sua falsa humildade de sábio, certamente que bem orgulhosa do seu
feito diabolicamente e cinicamente aterrador, que tanta destruição promoveu, com
o sucesso adequado…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A
BEM DA NAÇÃO, 21.09.22
A
propósito dos ilustres comentadores televisivos que de todos os círculos e de
todos os quadrados tudo sabem, lembrei-me hoje de uma historieta que o meu pai
contou à mesa do jantar já lá vão cerca de sessenta anos ou mesmo mais.
Eis
do que me lembro:
«Antes de emigrar para os EUA, Einstein
reunia-se regularmente em Zurique com uma tertúlia de eruditos composta
sobretudo por filósofos e historiadores. Todos falavam sobre as respectivas
confabulações histórico-filosóficas e Einstein deixava-se ficar discretamente
num canto, calado e encantado com o que ouvia.
Até
que, instado a que dissesse algo, respondeu que não tinha nada de interessante
nem sequer importante a dizer mas que, sendo assim tão simpáticos para o
convidarem a falar, ele avisaria quando tivesse alguma coisa que merecesse ser
ouvida por tão distinta assistência.
Chegado o dia que Einstein considerou
apropriado, avisou o grupo e este reuniu de imediato para escutar o que há
tanto tempo estava calado.
E
Einstein, recorrendo a sua encantadora simplicidade,
escolheu a linguagem mais comum para que a silenciosa, atenta e reverente
audiência não se enfadasse, explicou as funções matemáticas que deram origem à
teoria da relatividade.
Consta que os “sábios” ouvintes não
perceberam patavina da exposição mas que se convenceram de que o mundo acabava
de dar uma grande reviravolta».
*
* *
E
hoje, com o mundo à beira de um ataque de nervos por causa do perigo do
lançamento de uma bomba atómica, reconheçamos a inocência de Einstein no mau
uso que outros fizeram dos seus prolegómenos nucleares.
Cheguei
ao fim do presente texto sem que nenhum azougado carregasse num fatídico botão
vermelho.
Deo
gratias!
No extremo ferroviário oposto a Vladivostok,
22 de Setembro de 2022
Henrique Salles
da Fonseca
Tags: avulsos
COMENTÁRIOS:
Rui Bravo Martins 22.09.2022 11:20: Boa historia a de seu pai Fico feliz que
tivesse assinado, o seu interessantíssimo texto adaptado aos nossos tempos, no
extremo oposto a Vladivostok, pois aqui não corre o risco de ser mobilizado!!!
Anónimo 22.09.2022 17:20: Um dos melhores professores que tive (o de Matemáticas teóricas do
Instituto Comercial de Lisboa) costumava ler trechos de livros nas aulas a
propósito de alguns eventos. Em contrapartida, o de Matemáticas práticas,
conforme se adivinhava pelo recorte sob a bata branca, levava um coldre de
pistola (e certamente esta também), aquando da crise académica de 1962. Aquele,
para nos desejar um Natal Feliz, leu umas linhas do livro “Homens e Bichos”, de
Axel Munthe. A propósito já não sei do quê, noutra ocasião, leu-nos um trecho
em que uma “socialite” qualquer pediu a Albert Einstein para que “em duas
palavras simples explicasse o que era isso da teoria da relatividade”. Já não
me recordo o que o sábio respondeu, se é que respondeu, talvez que fosse
demasiada areia para a carroça (ou camião) dela, mas o que retive foi a
ligeireza da pergunta. Pois eu, Henrique, desde o primeiro
momento, que me apercebi da superficialidade, da ligeireza, para não dizer
ignorância, e da parcialidade de alguns comentários que se produziam sobre a
guerra que a Rússia tem imposto, a qual, embora injusta, cruel e desnecessária,
tem de ser analisada com um mínimo de objectividade. Alguns dos comentários
fariam corar de vergonha “As Seleções Reader´s Digest” (nem sei se ainda
existem), tidas, como sabemos, pela sua parcialidade e superficialidade. Mas aí
já sabíamos ao que íamos, e estávamos preparados para o embate. Como acontece
quase sempre, os piores comentários proveem dos “cristãos-novos”. Como se o
fenómeno a que assistimos, e com o qual também sofremos, pudesse ser
interpretado apenas às luzes branca e negra, como se a paleta não tivesse
inúmeras outras cores, designadamente uma gama ampla de cinzentos. Já me
acolheste um número significativo de comentários sobre o conflito (desde 1 de
fevereiro, quando ainda não havia guerra) e mais não produzirei, pelo menos nos
próximos tempos, enquanto pressentir que os protagonistas relevantes não querem
a paz, salvo, certamente, muitos dos que estão a combater, bem como as
respetivas Famílias, e os infelizes civis ucranianos vítimas da guerra. Sublinho, todavia, que a solução do
conflito também não estará no cerceamento dos meios de defesa militar ao País
agredido. Deixei de ver os
telejornais longos e confinei-me a um diário de 30 minutos. Pelo menos, se
houver tentativa de manipulação, ela durará pouco tempo. Sabemos desde outubro de 1962, desde a crise dos
mísseis de Cuba, que as potências nucleares, perante a ameaça à sua existência,
consideram a utilização, in extremis, de arma nuclear. Todas as Chancelarias o
sabem, mesmo que algumas aparentem ter ficado admiradas com o imprudente,
escusado e inútil anúncio do leader russo. Que não é bluff, sabemos. Se ele
sentiu necessidade de o proferir publicamente, certamente os destinatários não
serão as Chancelarias, pois isso elas sabem, como disse, e bastavam os canais
diplomáticos adequados para lhes recordar. Então os
destinatários são outros. A população do Ocidente? Talvez venha procurar aqui
um apoio para que esta, sofrendo já as consequências negativas da energia,
pressione os seus dirigentes, perante esse eventual cenário dantesco, para que
seja encontrada uma solução para o conflito. Outra hipótese é que os
destinatários estejam no próprio interior da Federação Russa. E neste caso, só me restará concluir que
“algo está podre no Reino da Dinamarca”. Grande abraço. Carlos
Traguelho
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