sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Mas ainda bem


Que há comentadores televisivos, e entrevistadores que os interrogam, para que os leigos, pelo menos, se vão apercebendo dos desastres possíveis a que o mundo está sujeito, pese embora muita da mastigação em torno dos sucessos diários, com a panorâmica de atrocidades cometidas e essas sim, injustificavelmente, por parte de um agressor sem escrúpulos e de uma ambição sem limites, que se aproveita muito bem do extraordinário saber do tal sábio com a sua teoria e a fórmula da sua falsa humildade de sábio, certamente que bem orgulhosa do seu feito diabolicamente e cinicamente aterrador, que tanta destruição promoveu, com o sucesso adequado…

SE BEM ME LEMBRO...

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO,  21.09.22

A propósito dos ilustres comentadores televisivos que de todos os círculos e de todos os quadrados tudo sabem, lembrei-me hoje de uma historieta que o meu pai contou à mesa do jantar já lá vão cerca de sessenta anos ou mesmo mais.

Eis do que me lembro:

«Antes de emigrar para os EUA, Einstein reunia-se regularmente em Zurique com uma tertúlia de eruditos composta sobretudo por filósofos e historiadores. Todos falavam sobre as respectivas confabulações histórico-filosóficas e Einstein deixava-se ficar discretamente num canto, calado e encantado com o que ouvia.

Até que, instado a que dissesse algo, respondeu que não tinha nada de interessante nem sequer importante a dizer mas que, sendo assim tão simpáticos para o convidarem a falar, ele avisaria quando tivesse alguma coisa que merecesse ser ouvida por tão distinta assistência.

Chegado o dia que Einstein considerou apropriado, avisou o grupo e este reuniu de imediato para escutar o que há tanto tempo estava calado.

E Einstein, recorrendo a sua encantadora simplicidade, escolheu a linguagem mais comum para que a silenciosa, atenta e reverente audiência não se enfadasse, explicou as funções matemáticas que deram origem à teoria da relatividade.

Consta que os “sábios” ouvintes não perceberam patavina da exposição mas que se convenceram de que o mundo acabava de dar uma grande reviravolta».

* * *

E hoje, com o mundo à beira de um ataque de nervos por causa do perigo do lançamento de uma bomba atómica, reconheçamos a inocência de Einstein no mau uso que outros fizeram dos seus prolegómenos nucleares.

Cheguei ao fim do presente texto sem que nenhum azougado carregasse num fatídico botão vermelho.

Deo gratias!

No extremo ferroviário oposto a Vladivostok, 22 de Setembro de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags: avulsos

COMENTÁRIOS:

 Rui Bravo Martins  22.09.2022  11:20: Boa historia a de seu pai Fico feliz que tivesse assinado, o seu interessantíssimo texto adaptado aos nossos tempos, no extremo oposto a Vladivostok, pois aqui não corre o risco de ser mobilizado!!!

 Anónimo  22.09.2022  17:20: Um dos melhores professores que tive (o de Matemáticas teóricas do Instituto Comercial de Lisboa) costumava ler trechos de livros nas aulas a propósito de alguns eventos. Em contrapartida, o de Matemáticas práticas, conforme se adivinhava pelo recorte sob a bata branca, levava um coldre de pistola (e certamente esta também), aquando da crise académica de 1962. Aquele, para nos desejar um Natal Feliz, leu umas linhas do livro “Homens e Bichos”, de Axel Munthe. A propósito já não sei do quê, noutra ocasião, leu-nos um trecho em que uma “socialite” qualquer pediu a Albert Einstein para que “em duas palavras simples explicasse o que era isso da teoria da relatividade”. Já não me recordo o que o sábio respondeu, se é que respondeu, talvez que fosse demasiada areia para a carroça (ou camião) dela, mas o que retive foi a ligeireza da pergunta. Pois eu, Henrique, desde o primeiro momento, que me apercebi da superficialidade, da ligeireza, para não dizer ignorância, e da parcialidade de alguns comentários que se produziam sobre a guerra que a Rússia tem imposto, a qual, embora injusta, cruel e desnecessária, tem de ser analisada com um mínimo de objectividade. Alguns dos comentários fariam corar de vergonha “As Seleções Reader´s Digest” (nem sei se ainda existem), tidas, como sabemos, pela sua parcialidade e superficialidade. Mas aí já sabíamos ao que íamos, e estávamos preparados para o embate. Como acontece quase sempre, os piores comentários proveem dos “cristãos-novos”. Como se o fenómeno a que assistimos, e com o qual também sofremos, pudesse ser interpretado apenas às luzes branca e negra, como se a paleta não tivesse inúmeras outras cores, designadamente uma gama ampla de cinzentos. Já me acolheste um número significativo de comentários sobre o conflito (desde 1 de fevereiro, quando ainda não havia guerra) e mais não produzirei, pelo menos nos próximos tempos, enquanto pressentir que os protagonistas relevantes não querem a paz, salvo, certamente, muitos dos que estão a combater, bem como as respetivas Famílias, e os infelizes civis ucranianos vítimas da guerra. Sublinho, todavia, que a solução do conflito também não estará no cerceamento dos meios de defesa militar ao País agredido. Deixei de ver os telejornais longos e confinei-me a um diário de 30 minutos. Pelo menos, se houver tentativa de manipulação, ela durará pouco tempo. Sabemos desde outubro de 1962, desde a crise dos mísseis de Cuba, que as potências nucleares, perante a ameaça à sua existência, consideram a utilização, in extremis, de arma nuclear. Todas as Chancelarias o sabem, mesmo que algumas aparentem ter ficado admiradas com o imprudente, escusado e inútil anúncio do leader russo. Que não é bluff, sabemos. Se ele sentiu necessidade de o proferir publicamente, certamente os destinatários não serão as Chancelarias, pois isso elas sabem, como disse, e bastavam os canais diplomáticos adequados para lhes recordar. Então os destinatários são outros. A população do Ocidente? Talvez venha procurar aqui um apoio para que esta, sofrendo já as consequências negativas da energia, pressione os seus dirigentes, perante esse eventual cenário dantesco, para que seja encontrada uma solução para o conflito. Outra hipótese é que os destinatários estejam no próprio interior da Federação Russa. E neste caso, só me restará concluir que “algo está podre no Reino da Dinamarca”. Grande abraço. Carlos Traguelho

 

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