terça-feira, 20 de setembro de 2022

Facebook e PÚBLICO


Pronunciando-se sobre a questão Putin/Xi.

Do facebook de Luis Soares de Oliveira retiro o comentário deste, não sei se com algum cariz irónico, sobre o texto de Teresa de Sousa, do Público de 18/9, que a mim pareceu justo e equilibrado, naturalmente preocupado, mas, talvez “ingenuamente”, seja  justo - e acolho-me igualmente sob a designação adverbial, em função do apaziguamento próprio, talvez como da maioria da gente “crédula”… Mas esperemos para ver… pela carta de amanhã, às 6, não às 10: “Esperaremos por ti”… Talvez numa última noite de bom sono… Também Milhazes está assustado, disse-o hoje na SIC.

I - O texto de LSO (Facebook):

Ontem às 12:38  · 

«Kissinger afinal errou na avaliação do conflito. Algo difícil de acontecer mas parece estar a acontecer. Minhas desculpas a Teresa de Sousa. Ao que parece, Biden tem meios de meter Putin na ordem. Só não engulo a tese de Teresa de que Xi também perdeu. Cuidado. Xi defronta dificuldades mas mede bem o passo. Não é um perdedor. Para já, adicionou a Rússia ao seu império.»

COMENTÁRIOS:

Antonio Paulo Godinho: Xi apoia Putin enquanto este tiver sucesso; tal como na nossa "vida habitual" só sabemos os amigos que temos (ou as "alianças" ... ) quando deixamos de ter sucesso.

Henrique Borges: Teresinha dS anda perdida desde há muito e não consegue acertar uma...

 

II - Opinião: A dupla derrota de Vladimir Putin

Uma guerra prolongada na Ucrânia que o seu amigo Putin corre o risco de perder, não estava certamente nos cálculos de Xi.         TERESA DE SOUSA  (PÚBLCO):

1. Podemos encontrar todas as explicações e fazer todos os prognósticos sobre a derrota do exército russo na região de Kharkiv, no Leste, posto em fuga pela contra-ofensiva ucraniana. Podemos desvalorizar o que vimos acontecer em directo na cimeira da Organização de Cooperação de Xangai em Samarcanda, no Uzbequistão. Podemos ficar à espera de que os peritos da ONU confirmem que é obra dos russos o horror absoluto, que contemplamos em directo, da exumação dos corpos de uma vala comum e de um cemitério a céu aberto, nos arredores de Izium, uma das cidades libertadas pela contra-ofensiva ucraniana no Leste.

A contagem aproxima-se dos 500 cadáveres. Os que já foram identificados eram de soldados e de muitos civis, incluindo crianças. Um crime macabro que só nos surpreende se já nos tivermos esquecido de Bucha, Irpin ou Mariupol.

Nada disto nos impede de perceber que a guerra de Putin contra a Ucrânia, que vai no seu sétimo mês, é já um fracasso. A heróica e bem planeada resistência dos ucranianos mais as armas ocidentais explicam este fracasso. O mito da superpotência militar que o Presidente russo reclamava está a desfazer-se diante de um exército de um país europeu relativamente atrasado, que partia para o combate sem que ninguém – nem no Ocidente – acreditasse que resistiria ao “segundo exército do mundo”.

Mas também diante da comunidade internacional, sobretudo daquela parte do mundo que escolheu o lado da Rússia ou que preferiu manter-se prudentemente sobre o muro até ver para que lado cairia a vitória, ou que olhou para esta guerra, não como a agressão a um país soberano, mas como uma “ajuda” para enfraquecer os Estados Unidos e os seus aliados.

2. Para o Ocidente, o êxito da contra-ofensiva ucraniana devia ser enorme estímulo. Para os governos, que vêem o seu apoio recompensado. Para as opiniões públicas, que se preparam para um Inverno muito difícil, como um suplemento moral que tornará mais difícil a tarefa das forças extremistas que tentam virá-las contra as sanções à Rússia e contra o apoio à Ucrânia.

A Economist escrevia no dia 15 que “a guerra de Vladimir Putin está a fracassar”. Para concluir que o Ocidente devia ajudar a que fracasse “mais depressa”. “Os aliados da Ucrânia devem reforçar o seu sucesso no campo de batalha enviando mais e melhores armas.” Sabemos que a estratégia americana tem sido fornecer à Ucrânia armamento que evite uma escalada descontrolada na guerra, que possa envolver a NATO directamente. Mas sabemos também que o apoio militar americano tem sido enorme em todos os domínios, incluindo o do contra-ataque no Leste e no Sul, e que vai continuar.

Dizem os analistas que a Ucrânia precisa de mais sistemas de defesa antiaérea e antimíssil, para proteger as cidades e as infra-estruturas dos ataques russos. A Alemanha dispõe destes sistemas, que pode entregar em maior quantidade. Veremos o que acontece nos próximos dias.

3. O maior risco à determinação europeia e ocidental são as vozes que voltam a deixar-se levar pelo medo. Já não há nenhum governo europeu que diga que não se deve “humilhar” Putin. Essa argumentação desfez-se perante a barbárie da guerra, o heroísmo e a eficácia da resistência militar ucraniana, a coragem do seu povo. Agora, o argumento é outro: se Putin se sentir encurralado –​ leia-se, derrotado –, pode recorrer às armas nucleares tácticas ou outras armas de destruição maciça – químicas ou biológicas.

Acrescentam outro argumento: os que, em Moscovo, começam a erguer a voz contra Putin e os seus falhanços são ultranacionalistas ainda piores que ele. É verdade que existem e que têm um discurso demencial. Os observadores da realidade russa dizem que a sua expressão é, sobretudo, visível nas redes sociais e que o Kremlin os tem controlados “pela trela”. Argumentar que são piores que Putin faz sentido? Onde está Putin na tabela com que se medem os nacionalistas russos? Até agora, houve apenas uma diferença: qualquer russo que se atreva a dizer uma palavra contra a guerra é preso e os que defendem um ataque nuclear não são. Quem gere a repressão é o Kremlin.

A guerra de Putin destinava-se a destruir a ordem de segurança europeia e a expandir o domínio imperial da Rússia até aos limites do antigo império soviético. Alguém acreditou que, se vencesse na Ucrânia, se daria por satisfeito e telefonaria a Emmanuel Macron e a Olaf Scholz para lhes comunicar que passaria a portar-se bem e não invadiria ou ameaçaria mais nenhum país soberano? Desde 2008 que Putin testa a vontade da Europa e da NATO. Na Geórgia, primeiro, e na Ucrânia, em 2014. Leu os sinais errados. Ou não entendeu onde os EUA tinham traçado a linha vermelha.

A vitória ucraniana na região de Kharkiv destruiu o mito da invencibilidade de Putin. Numa grande parte do mundo, os governos podem começar a fazer contas diferentes sobre o seu alinhamento

A sua derrota é vital para a segurança europeia e um enorme contributo para a segurança internacional. Quanto aos riscos, evidentemente que existem. São inerentes à situação de guerra que estamos a viver, desencadeada por uma potência nuclear só comparável aos Estados Unidos. Em Washington e na sede da NATO, em Bruxelas, estão certamente todos os cenários em cima da mesa. Recuar ou hesitar quando o agressor está em posição de fraqueza não é uma boa estratégia militar. Preparar-se para todos os cenários, incluindo os piores, é.

Outra das consequências visíveis desta guerra é, precisamente, a enorme superioridade militar do Ocidente.

4. A segunda humilhação de Putin aconteceu em Samarcanda, quando leu diligentemente uma intervenção escrita durante um encontro com Xi Jinping, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai. O Presidente russo reconheceu as “preocupações” e as “questões” de Pequim sobre a guerra na Ucrânia. Agradeceu a posição “equilibrada” da China. Na véspera de desencadear a invasão, tinha ido a Pequim encontrar-se com o seu homólogo chinês para ambos proclamarem uma “amizade sem limites”.

Em Samarcanda, foi obrigado a reconhecer que há limites, definidos pela interpretação que a China faz dos seus interesses imediatos. Uma guerra prolongada na Ucrânia que o seu amigo Putin corre o risco de perder não estava certamente nos cálculos de Xi. “O objectivo da China na Ucrânia é a desunião e o fracasso do Ocidente, mais do que o triunfo da Rússia”, escreve também a Economist. Não é isso que está a acontecer.

O que não quer dizer que o interesse estratégico dos dois lados não coincida. Ambos partilham o desejo de enfraquecer o Ocidente democrático e a hegemonia americana, oferecendo ao mundo uma alternativa de poder, que pode ser igualmente poderosa. A China aposta no inevitável declínio dos EUA e na sua ascensão ao primeiro lugar. Mas também sabe em que momento é que está. A conjuntura não lhe é favorável.

Enfrenta grandes dificuldades económicas internas, que são o resultado, não apenas da política de covid-zero, mas do descalabro do sector da construção, que representa 20% do PIB chinês, que esta a infectar a economia e que alimenta a desconfiança da população. Um exemplo: só 60% das habitações compradas pelos chineses foram construídas e entregues. As outras estão pagas, mas não saíram do chão.

Xi enfrenta, em Outubro, o XX Congresso do PCC, destinado a entronizá-lo como o segundo Mao. A China não quer sofrer sanções do Ocidente. Até à data, ainda não forneceu à Rússia nem armamento nem chips e as empresas chinesas não sentem qualquer atracção pelo mercado russo. Aumentou a compra de gás e petróleo russos para compensar a perda do mercado europeu, embora o preço seja de “amigo”. A única coisa de que podemos ter a certeza é que a Rússia estará cada vez mais na dependência da China e que a China não quer que a Rússia se venha a transformar num fardo para a sua estratégia hegemónica.

5. Quer isto dizer que o resultado desta guerra está garantido? Longe disso. Depende de inúmeros factores e de decisões que serão tomadas em Washington, nas capitais europeias e em Moscovo. Foi essa a mensagem que o Pentágono deixou sobre o significado da contra-ofensiva em Kharkiv. De prudência.

Mas há uma realidade indiscutível que acabará por determinar o desfecho desta guerra de agressão. Do lado ucraniano, os combatentes mantêm o moral elevado de quem está a defender a sua pátria, as suas famílias, o seu futuro. Esta vitória militar serviu para renovar a sua determinação. Do lado russo, os soldados não sabem o que estão a fazer na Ucrânia. Debandaram sem organização nem dignidade. Apenas para salvar a vida.

Mas talvez a maior contribuição desta vitória ucraniana na região de Kharkiv seja a sua repercussão na cena internacional. Destruiu o mito da invencibilidade de Putin. Numa grande parte do mundo, os governos podem começar a fazer contas diferentes sobre o seu alinhamento.

COMENTÁRIOS:

Experiente: Como já foi mencionado, a maior derrota de Putin foi a o desmascarar da Rússia como poder militar convencional, que afinal está longe de ser tão forte na realidade como era no papel. A prova disto? Todos os conflitos que estavam em suspenso por medo de uma intervenção militar da Rússia estão agora novamente ativos. Os intervenientes nestes conflitos têm agora uma perceção de fraqueza da Rússia e aproveitam a oportunidade.            OldVic > Moderador: Um aspecto paralelo da questão é a queda abrupta da venda de material militar russo no estrangeiro, pelo efeito combinado das sanções, do gasto enorme de armamento que a própria Rússia está a ter na guerra e da imagem de ineficácia que as armas russas estão a dar ao mundo. Moderador: ……Sensato e equilibrado artigo de Teresa de Sousa. Já todos percebemos que quer a Rússia quer a China são regimes animalescos e não partilham o pensamento racional estabelecido durante o Império Romano e depois refinado durante o Renascimento na Europa civilizada. Não vejo alternativa para a guerra criada por Putin senão a utilização de empresas especializadas por parte do Ocidente e das técnicas Israelitas.

 

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