segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Bravo!


Somos dos que vibramos com as páginas de génios literários como Camões, Eça, Pessoa, e tantos  outros escritores, e mais outras realizações  artísticas que os séculos idos e os actuais nos trouxeram e trazem, especialmente no campo musical, com as suas vozes magníficas, até de ópera, e outras de canções e danças populares que escutamos e admiramos sempre com carinho e encanto, de par com tantas mais realizações artísticas, quer na escultura ou na arquitectura e mesmo na pintura, e hoje no desporto …  tudo isso que nos acende o coração de encanto, naturalmente não absoluto, mas com o amor pelo canteirinho que gostaríamos, naturalmente, de ver mais respeitado, nas suas gentes, pois que são belos os seus espaços e humanas as suas gentes, apesar da humilhação que sentimos com o nosso atraso de séculos, como descreve o Dr. Salles… e como apontam tantos desses escritores, mesmo – e sobretudo - os geniais citados, não por desdém mas por tristeza, suponho eu, que todos foram amigos e saudosos dessa pátria maltratada, por cabecilhas geralmente com falta dos princípios culturais ou morais que definem o “honnête homme” doutros espaços do nosso mundo próximo, que, por razões várias de tacanhez ávida, nunca quisemos seguir.

Mas o Dr. Salles lança furibundos dardos a essa falta de cultura que nos deixou sempre na cauda, sintetizando com graça mordaz aquilo em que nos tornámos, definitivamente, com o nosso “regresso às Berlengas”. E o Coronel Adriano Miranda Lima, de o apoiar, elucidando, criteriosamente, ambos lutadores, ambos amantes da sua Pátria e da sua História, ambos pertencentes ao grupo dos “esforçados varões” inconformados com o estado de pelintrice de alma a que descambámos – para não falar na outra (pelintrice, obviamente), de devedores reais ad aeternum. Bravo, Dr. Salles, pela sua ousadia sagaz.

«...E VÓS TÁGIDES MINHAS...» - 2

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO 18.09.22

ou

O MUNDO VISTO A PARTIR DE LISBOA

 

Consta que, na primeira versão do «Regulamento de Disciplina Militar», o Conde de Lippe terá mandado escrever algo como «o Sargento deve saber ler, escrever e contar, pois, o Oficial, sendo nobre, pode não saber» - séc. XVIII, reinado de D. José;

Dizia Eça de Queiroz na segunda metade do séc. XIX que «Portugal é Lisboa e o resto é paisagem».

* * *     

Depois de D. João Peculiar ter estado seguramente por trás de D, Afonso Henriques na definição dos interesses estratégicos que conduziram à afirmação da Soberania Portuguesa, depois de João das Regras ter claramente estado por trás de D. João I na definição da defesa contra Castela como elemento essencial da nossa estratégia e depois de D. João II não ter precisado de ninguém para definir a edificação do Império como a melhor forma de nos defendermos da cobiçosa vizinhança ibérica, chegou ao fim a nossa «gloriosa era joanina» e qualquer João sequente foi apenas um mero executante.

Até que tudo ruiu e regressámos às Berlengas.

Foi então que deixámos de ter que manter o povo insatisfeito por cá para que se decidisse por melhores horizontes e fosse tomar posse do Império. Esta, uma opção estratégica que, sendo vergonhosa, nunca foi reconhecida mas que, afinal, foi o «segredo da abelha» em relação à duração do Império: a baixa condição cultural do colono branco facilitou a misceginação e a criação de ambientes de paz.

Perdidos os anéis. Foi a hora de tratar dos dedos, o capital humano.

A iliteracia, vergonhosa, não consta dos anais da História Pátria: reinava ou era reinante?

Não vou perder tempo com jogos de palavras, apenas constato que em 1910 o analfabetismo adulto era um flagelo que afectava a quase totalidade da população e que em 2022 ainda estamos longe dos níveis de instrução há muito alcançados pelos países norte-europeus. Não estranhemos, pois, a inércia que temos de vencer arrastando hordas sem instrução nem formação moderna.

Demorámos tempo demais a vencer a doutrina que dizia que «o povo é muito mais feliz quanto mais ignorante for». Ainda não derrubámos políticas estaticistas (o chamado «trabalhar para as estatísticas») para nos enganarmos a nós próprios e talvez (?) as estatísticas internacionais. Refiro-me a mentiras como as “socráticas ”«Novas Oportunidades» e ao actual «RVCC – Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências», programas essencialmente facilitadores de «obtenção de falsos canudos», sem a exigência curricular típica do ensino regular.

Compreende-se que deva haver um estímulo, mas nada que afecte a exigência curricular. Por exemplo, aos alunos «fora de prazo» (25 anos<) que queiram completar o nível obrigatório, permita-se-lhes apresentarem-se a uma disciplina em cada época de Exames de Estado na mesma base curricular exigida aos «alunos atempados».

Outra «mentira» é o «Instituto do Emprego e Formação Profissional» que há muito tempo deveria ter sido partido com a competência do Emprego valendo como Agência Estatal de Emprego e a valência da Formação absorvida pelo ensino regular.

A opção estratégica por que optámos de valorização do nosso capital humano não é compatível com «mentiras» nem sequer com «poeira para os olhos».

Lisboa, 17 de Setembro de 2022

Henrique Salles da Fonseca

REALCES DAS «TÁGIDES»  PERTENÇA À NATO;  VALORIZAÇÃO DO CAPITAL HUMANO.

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 COMENTÁRIOS (1)

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Adriano Miranda Lima  18.09.2022  22:39: Este texto é mais um dos que oferecem pano para muita manga, e só faltarão alfaiates à altura. Invocando o conde de Lippe, embora derive para outro significado o que ele sentenciou no seu célebre regulamento, também estabeleceu o seguinte: para a especialidade de corneteiro militar devem ser destinados algarvios, ciganos e outras gentes de má raça.Mas isto é mais uma evidência da muito baixa escolaridade naquele tempo, para não dizer ausência quase generalizada. Completamente de acordo com o Dr. Salles quando afirma que a promoção dos níveis da nossa escolaridade, educação e formação não pode confundir-se com estatísticas ou ludíbrios. Ir por aí é enganar-nos a nós próprios. Também nunca percebi a razão por que o Instituto de Emprego e Formação profissional se fundiu numa única valência. Gostaria que alguém o explicasse, mas seria também útil saber como era antes.

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