Somos dos que vibramos com as páginas de génios literários como Camões, Eça, Pessoa, e tantos outros escritores, e mais outras realizações artísticas que os séculos idos e os actuais nos
trouxeram e trazem, especialmente no campo musical, com as suas vozes magníficas,
até de ópera, e outras de canções e danças populares que escutamos e admiramos
sempre com carinho e encanto, de par com tantas mais realizações artísticas,
quer na escultura ou na arquitectura e mesmo na pintura, e hoje no desporto … tudo isso que nos acende o coração de encanto,
naturalmente não absoluto, mas com o amor pelo canteirinho que gostaríamos,
naturalmente, de ver mais respeitado, nas suas gentes, pois que são belos os
seus espaços e humanas as suas gentes, apesar da humilhação que sentimos com o
nosso atraso de séculos, como descreve o Dr.
Salles… e como apontam tantos desses escritores, mesmo – e sobretudo
- os geniais citados, não por desdém mas por tristeza, suponho eu, que todos
foram amigos e saudosos dessa pátria maltratada, por cabecilhas geralmente com
falta dos princípios culturais ou morais que definem o “honnête homme” doutros espaços do nosso mundo próximo, que, por
razões várias de tacanhez ávida, nunca quisemos seguir.
Mas o Dr. Salles lança furibundos
dardos a essa falta de cultura que nos deixou sempre na cauda, sintetizando com
graça mordaz aquilo em que nos tornámos, definitivamente, com o nosso “regresso às Berlengas”. E o Coronel Adriano Miranda Lima, de o apoiar,
elucidando, criteriosamente, ambos lutadores, ambos amantes da sua Pátria e da
sua História, ambos pertencentes ao grupo dos “esforçados varões” inconformados
com o estado de pelintrice de alma a que descambámos – para não falar na outra
(pelintrice, obviamente), de devedores reais ad aeternum. Bravo, Dr. Salles,
pela sua ousadia sagaz.
«...E VÓS TÁGIDES MINHAS...» - 2
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM
DA NAÇÃO 18.09.22
ou
O
MUNDO VISTO A PARTIR DE LISBOA
Consta que, na primeira versão do
«Regulamento de Disciplina Militar»,
o Conde
de Lippe terá mandado escrever algo como «o Sargento deve saber ler,
escrever e contar, pois, o Oficial, sendo nobre, pode não saber» - séc. XVIII, reinado de D. José;
Dizia Eça de Queiroz na segunda
metade do séc. XIX que «Portugal é
Lisboa e o resto é paisagem».
* * *
Depois de D. João
Peculiar ter estado seguramente por trás de D, Afonso Henriques na definição dos
interesses estratégicos que conduziram à afirmação da Soberania Portuguesa,
depois de João das Regras ter claramente estado por trás de D. João I na
definição da defesa contra Castela como elemento essencial da nossa estratégia e
depois de D. João II não ter precisado
de ninguém para definir a edificação do Império como a melhor forma de nos
defendermos da cobiçosa vizinhança ibérica, chegou ao fim a nossa
«gloriosa era joanina» e qualquer João
sequente foi apenas um mero executante.
Até
que tudo ruiu e regressámos às Berlengas.
Foi então que deixámos de ter que manter o povo insatisfeito por cá para
que se decidisse por melhores horizontes e fosse tomar posse do Império.
Esta, uma opção estratégica que, sendo vergonhosa, nunca foi reconhecida mas
que, afinal, foi o «segredo da abelha» em relação à duração do Império: a baixa condição cultural do
colono branco facilitou a misceginação e a criação de ambientes de paz.
Perdidos os anéis. Foi a hora de
tratar dos dedos, o capital humano.
A
iliteracia, vergonhosa, não consta dos anais da História Pátria: reinava ou era
reinante?
Não vou perder tempo com jogos de
palavras, apenas constato que em 1910 o analfabetismo adulto era um flagelo que
afectava a quase totalidade da população e que em 2022 ainda estamos longe dos
níveis de instrução há muito alcançados pelos países norte-europeus. Não estranhemos, pois, a inércia
que temos de vencer arrastando hordas sem instrução nem formação moderna.
Demorámos tempo demais a vencer a
doutrina que dizia que «o
povo é muito mais feliz quanto mais ignorante for». Ainda não derrubámos políticas estaticistas (o chamado «trabalhar para as estatísticas») para nos enganarmos a nós próprios e talvez (?) as estatísticas
internacionais. Refiro-me a mentiras como as “socráticas ”«Novas Oportunidades» e ao actual
«RVCC – Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências», programas essencialmente facilitadores de «obtenção de falsos canudos», sem a exigência curricular típica do
ensino regular.
Compreende-se
que deva haver um estímulo, mas nada que afecte a exigência curricular. Por exemplo, aos alunos «fora de prazo»
(25 anos<) que queiram completar o nível obrigatório, permita-se-lhes
apresentarem-se a uma disciplina em cada época de Exames de Estado na mesma
base curricular exigida aos «alunos atempados».
Outra
«mentira» é o «Instituto do Emprego e Formação Profissional» que há muito tempo deveria ter sido partido
com a competência do Emprego valendo como Agência Estatal de Emprego e a
valência da Formação absorvida pelo ensino regular.
A
opção estratégica por que optámos de valorização do nosso capital humano não é
compatível com «mentiras» nem sequer com «poeira para os olhos».
Lisboa, 17 de Setembro de 2022
Henrique Salles da Fonseca
REALCES
DAS «TÁGIDES» PERTENÇA À NATO; VALORIZAÇÃO DO CAPITAL HUMANO.
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COMENTÁRIOS (1)
Adriano
Miranda Lima 18.09.2022 22:39: Este texto é mais um dos que oferecem pano para muita
manga, e só faltarão alfaiates à altura. Invocando
o conde de Lippe, embora derive para outro significado o que ele sentenciou no
seu célebre regulamento, também estabeleceu o seguinte: para a especialidade de
corneteiro militar devem ser destinados algarvios, ciganos e outras gentes de
má raça.Mas isto é mais uma
evidência da muito baixa escolaridade naquele tempo, para não dizer ausência
quase generalizada. Completamente de acordo com o Dr. Salles quando afirma que a promoção dos
níveis da nossa escolaridade, educação e formação não pode confundir-se com
estatísticas ou ludíbrios. Ir por aí é
enganar-nos a nós próprios. Também nunca percebi a razão por que o Instituto de
Emprego e Formação profissional se fundiu numa única valência. Gostaria que
alguém o explicasse, mas seria também útil saber como era antes.
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