Lembro-me de Trump, que também as cometeu
e recolho-me modestamente ao meu esquecimento - ou desconhecimento - dos casos.
Que desconfianças tem Bruxelas da
Hungria para congelar fundos europeus
Concursos públicos com um candidato,
apoios europeus para pessoas próximas de Viktor Orbán e ministros a dirigir
entidades privadas. Não basta mudar leis, Bruxelas exige mais para descongelar
fundos.
OBSERVADOR, 18 set 2022, 23:212
Irregularidades sistemáticas nos
contratos públicos, conflitos de interesse por pessoas em altos cargos do
Estado estarem também à frente de instituições privadas que recebem fundos,
investigações judiciais sem músculo. Numa palavra: corrupção.
A Hungria é o
primeiro país a estrear uma nova ferramenta europeia criada em 2021 para evitar
riscos orçamentais, sobretudo quando estão em causa o destino de milhões e
milhões em fundos comunitários. Mas não é uma estreia boa para o
governo de Viktor Orban que tem dois meses para mostrar que está a pôr em marcha
reformas que permitam ultrapassar os problemas detectados pela Comissão
Europeia. E não basta
mudar a arquitectura jurídica e as leis, é “preciso
apresentar resultados concretos”, avisou este domingo o comissário europeu do
Orçamento.
Numa
comunicação divulgada depois de a Comissão ter anunciado que vai propor o
congelamento de 7.500 milhões de euros de fundos atribuídos a Budapeste, Johannes
Hahn explicou as quatro grandes preocupações europeias sobre a forma como a
Hungria distribui os fundos e controla os seus gastos e que representam um
risco orçamental para a UE.
Irregularidades
sistemáticas, deficiências e fragilidades na contratação pública. Cerca de 50% de todos os contratos públicos só tiveram
um concorrente.
Insuficiente abordagem para evitar ou
gerir conflitos de interesse e receios relativos aos fundos de interesse
público.
Fraquezas no progresso das
investigações judiciais e acusações de casos que envolvem fundos da UE.
Falhas no dispositivo legal
anticorrupção.
A
proposta unânime da Comissão Europeia [não se sabe se o comissário húngaro
Oliviér Várhelyi — que tem o pelouro do alargamento — votou) será apresentada
ao conselho europeu que terá de a aprovar por maioria qualificada e surge
depois de vários avisos feitos por Bruxelas. O último dos quais em julho quando
a Comissão comunicou ao país que medidas de proteção orçamental seriam
necessárias para ultrapassar os riscos identificados.
O
Governo do ultraconservador Viktor Orbán e do partido Fidesz respondeu com um
pacote de 17 medidas de correcção que estabelecem a criação de novos
organismos: uma nova autoridade independente de integridade, uma task-force
anticorrupção com um envolvimento forte de organizações não governamentais
especializadas, mexidas no código penal, divulgação e transparência sobre como
são gastos os fundos e os seus destinatários e mudanças no regime de
contratação pública com especial foco em clarificar as regras a aplicar aos
fundos de interesse público.
Para considerar que estes remédios
são “adequados”, a Comissão precisa de conseguir averiguar que vão pôr um fim
aos riscos sinalizados para o
Orçamento Europeu e para os interesses financeiros da Europa.
Fuga ao controlo, suspeitas de fundos
para amigos e família de Orbán e ministros na direção de fundos privados
Para perceber o que está em causa no
concreto, é útil recuar até novembro do ano passado, quando foram noticiadas
cartas remetidas pela Comissão Europeia aos governos da Hungria e da Polónia,
país que para já escapa à ameaça de suspensão de fundos.
Na
carta enviada a Budapeste, e citada pelo jornal online Politico, Bruxelas
detalhou problemas sistemáticos de corrupção e descontrolo, colocando 16
perguntas às autoridades.
A
carta fazia referência a um relatório do OLAF,o organismo anti-fraude europeu,
segundo o qual o número de recomendações financeiras feitas nas áreas do
desenvolvimento regional e da agricultura eram oito vezes superiores à media da
União Europeia. Este relatório cobriu o quadro financeiro entre 2014 e 2020
quando o país recebeu 27.200 milhões de euros, o que representa 2.750 euros por
habitante.
A Comissão assinalava as várias
ocasiões nos últimos anos em que a Hungria retirou muitos projectos e despesas
dos fundos europeus, após irregularidades detectadas em auditorias realizadas
pelos serviços da Comissão Europeia e investigações do OLAF, para os continuar
a financiar através de fundos nacionais. Esta transferência “teve um impacto
negativo no efeito dissuasor dos controlos e auditorias” dada a frequência com
que foi feita, refere a carta lida pelo site Politico.
▲ Fundos
e concursos públicos no Lago Balaton beneficiaram pessoas próximas de Viktor
Orbán
Numa
alusão à suspeita de que os amigos e parentes do primeiro-ministro, Viktor
Orbán, receberam uma fatia relevante do financiamento europeu atribuído à
Hungria, Bruxelas questionava as autoridades do país sobre o montante de fundos
europeus canalizado para financiar projectos na área do Lago Balaton, o maior
lago natural da Europa e um dos principais destinos turísticos húngaros.
Em 2018, uma investigação da agência
Reuters revelava as ligações de
parentesco e amizade entre o primeiro-ministro e os
beneficiários de negócios financiados por fundos públicos. Segundo esta investigação, companhias detidas ou
controladas por 10 empresários — incluindo um amigo de infância de Viktor Orban
e o seu genro e respetivos sócios — conseguiram conquistar quase dois biliões
de forints (quase cinco mil milhões de euros ao câmbio atual) em concursos
públicos financiados com dinheiros do Estado — que por sua vez incluíam fundos
europeus — desde 2010. Isto equivale a mais de 10% do valor de todos os
contratos feitos no período analisado. Os nomes destes empresários surgiram no
quadro de uma outra investigação sobre os investimentos públicos anunciados
pelo Governo de Orban para o lago Balaton onde vários compraram propriedades.
Um dos novos investidores foi o genro do primeiro-ministro húngaro.
Na
carta enviada às autoridades húngaras em 2021, Bruxelas pedia a lista dos dez
grupos, dez pessoas e dez empreendimentos que receberam os fundos europeus mais
avultados e os pagamentos mais elevados no quadro da política agrícola comum. Uma das exigências de Bruxelas é a de que a Hungria
seja mais transparente e divulgue quem são os beneficiários dos fundos
europeus, como aliás determinam os regulamentos destes mesmos fundos.
Foram também reveladas as preocupações
com o conflito de interesses envolvendo membros do governo húngaro, uma vez que
ministros e secretários de Estado a exercer funções que são ao mesmo tempo
membros dos conselhos de administração e direcções de fundos descritos como
fundos de interesse público que controlam entidades privadas, como
universidades, que podem receber apoios da UE. Ainda neste tema, o Governo foi
questionado sobre conflitos de interesse na venda do aeroporto de Budapeste.
Apesar
de reconhecer que as reformas legais e remédios propostos vão no sentido certo
e podem, “em princípio ser capazes de responder às questões suscitadas na
notificação”, o comissário Hahn afirma que ainda falta avaliar detalhes
importantes sobre as propostas e avaliar, em particular se os elementos chave
“vão ficar reflectidos no texto legal”.
É por isso que Bruxelas considera que nesta
fase ainda há risco para o orçamento europeu, daí ter proposto a suspensão de
65% dos compromissos financeiros em três programas operacionais da política de
coesão, o que apanha 7,5 mil milhões de euros, o que é mais de um terço do
envelope total previsto para a Hungria e proibir a assunção de novos
compromissos financeiros e contratuais com os chamados fundos de interesse
público.
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COMENTÁRIOS:
Adriana Cardoso: Bruxelas não sejas cega, o PS faz o mesmo cá.
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