Que escolho para Luís Dias, a quem eu emendara os erros do seu comentário,
que hesitei em colocar, mas que ficou como exemplo da muita pascacice, para mais
arrogante, de quem o produziu, pois que só merecia desprezo. De facto, nem
sequer entendeu o texto de PT, de excessiva areia em voos de uma filosofia que esbarra
na presunção do pária iletrado e grosso, que reage “a murro” por lhe faltar
conhecimento. Mas assim se prova o dito da “ignorância atrevida”, embora dentre
os do saber também haja os adeptos das razões de Caim, para apoiar Putin, na
paz das suas … “consciências”?
O bem e o mal
Dadas as analogias que se podem
estabelecer entre o comportamento de Putin e o de Hitler, qual seria a posição
que os negadores da causalidade patente na invasão da Ucrânia adoptariam em
1939?
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 01
set 2022, 00:19
Ainda
não cheguei às maiúsculas, nem creio até que lá chegue, mas tenho-me apanhado a
pensar no bem e no mal. Não são, confesso, termos que utilize
frequentemente, nem sequer em pensamento. A coisa passa-se diferentemente com
“bondade” e “maldade”. Com esses termos sinto-me razoavelmente à-vontade, até
porque se colocam no mero plano da psicologia descritiva e não têm ambições
metafísicas. São termos necessários ao nosso entendimento das coisas do
dia-a-dia (todos nós encontramos na vida exemplos de bondade e de maldade) e
podemos usá-los em sentido razoavelmente lato, sem necessidade de definições
rigorosas ou de voos especulativos. Podemos até reduzir em parte a
bondade e a maldade a outras características mentais. Por exemplo, creio
que a maior parte das vezes que fiz algo de “mau”, o fiz por falta de
discernimento, ou, se se preferir, por estupidez. E julgo que isso acontece com
a maior parte das pessoas.
Em
contrapartida, falar, mesmo sem maiúsculas, de bem e de mal requer uma muito
maior abstracção. É como se passássemos a lidar com entidades autónomas em
relação à nossa experiência que encarnam nos actos – ou, de forma mais
profunda, no carácter – dos indivíduos (as maiúsculas enfatizam essa
dimensão). Não são, ao contrário de “bondade” ou “maldade”, conceitos puramente
descritivos. Designam, em princípio, algo acima destes, algo que
produz o carácter dos humanos e o determina de forma unívoca, sem vestígio de
equivocidade. Deixo de
lado o modo como as religiões pensam estas coisas, e não pretendo falar da
maneira como as várias filosofias se referiram aos conceitos de bem e do mal,
embora esteja mais à-vontade no que diz respeito a este segundo tipo de maneira
de pensar (julgo saber o que são o bem e o mal para Leibniz ou Kant, por
exemplo). Fico-me, portanto, por esse traço distintivo muito genérico dos
conceitos de bem e de mal: são conceitos muito mais abstractos do que os de
bondade e maldade.
Acontece,
no entanto, que eles também têm lugar no discurso comum, sem que sejam usados
com preocupações religiosas ou filosóficas. As pessoas falam de “bem” e de
“mal” correntemente. Não tanto como de “bondade” ou “maldade” – mas falam. Isso deve fazer-nos reflectir. Porque é, de certo modo,
o sinal de alguma naturalidade dos conceitos – e, secundariamente, de uma
continuidade entre o entendimento comum e o entendimento filosófico. É
claro que há diferenças. O bem e o mal, no discurso comum, não aparecem como
determinações inequívocas, como em certas tradições filosóficas, mas sim como
algo do qual temos uma intuição mais ou menos vaga. Sendo vaga, essa intuição não é, no entanto, menos
real, não designa uma mera fantasia do espírito, por mais que ela esteja
marcada pelas convenções de cada cultura (nas teorias do contrato social, pela
própria passagem do estado de natureza ao estado civil). É nesse sentido,
simultaneamente vago e real, de “bem” e de “mal” que me tenho apanhado a
pensar. Um sentido “desinflacionado”, como se diz em filosofia.
E
tenho-me apanhado a pensar nisto por causa de várias reacções à invasão
russa da Ucrânia e de certas analogias históricas que ela evoca. Com efeito, o
que menos faltou por estes meses foi gente a defender que nesta guerra não
havia bem nem mal, que a única questão em jogo se resumia ao conflito de
interesses geoestratégicos e que qualquer outro tipo de considerações era não
só irrelevante como voluntariamente encobridora da realidade. Esta doutrina tem sido igualmente partilhada por
gente de esquerda e de direita e comunicada em diversos tons, que vão
de alguma sofisticação teórica à brutalidade mais declarada, sem que, no
essencial, varie grandemente.
Dou-me,
de facto, mal com este entendimento das coisas. Não, obviamente, por julgar que
as questões geoestratégicas não se coloquem. Mas porque me parece que
tal redução exibe uma cegueira face a várias dimensões essenciais do conflito
que, confesso, não parou de me espantar. E
em primeiro lugar, obviamente, uma cegueira face à distinção crucial entre
agressor e agredido, cegueira essa obtida muitas vezes a custo da inversão de
relações causais patentes. Por exemplo: a
Rússia limitou-se a reagir a uma provocação ucraniana (ou, genericamente, do
Ocidente), o que lhe garante à partida uma dose substancial de inocência. Ou, se quiserem, foi
Abel que matou Caim. Essa cegueira
é também, e fundamentalmente, uma cegueira
face às intuições comuns do bem e do mal.
Ela radica talvez naquilo que Kierkegaard
chamava a “angústia face ao Bem”,
uma angústia que é, em última análise, uma angústia face à liberdade. Mas,
seja como for, esta cegueira, que visa uma “explicação” das causas da guerra,
elimina qualquer possibilidade da compreensão da guerra.
Porquê?
Porque compreender esta guerra
implica forçosamente colocar como ponto de base a distinção entre agressor e
agredido. A partir do momento em que a distinção é recusada, ou invertida, ou
relativizada, a “explicação”, por mais realista que se pretenda, gira no vazio. A cegueira face à distinção entre bem e mal, fundada
na distinção entre agredido e agressor – entre Abel e Caim, se se quiser –, é
tão mais extraordinária quanto os testemunhos empíricos de tal distinção são inúmeros
e as imagens que os revelam, que revelam simultaneamente a derrelicção de uma
população atacada e a extraordinária coragem da sua resistência, possuem toda a
força de uma indisputável evidência. A
estratégia que consiste em negar tal força, colocando-a sob suspeita de
“propaganda”, releva da má-fé (da recusa da evidência) ou do cinismo puro e
duro, também ele, talvez, uma manifestação da “angústia face ao Bem”, do medo
da liberdade. E o medo da liberdade, aqui, é, por via da recusa da distinção
entre o bem e o mal, o medo de compreender. Há “explicações” especialmente
fabricadas para impedir a compreensão. Uma compreensão que, de facto, só é
possível se aceitarmos a distinção entre o bem e o mal.
Mas
convém ir mais longe. Dadas as
analogias que se podem estabelecer entre o comportamento de Putin e o de Hitler
– uma analogia não funciona como uma prova de identidade, mas uma analogia
histórica é boa se o passado e o presente colocados em relação se iluminam
reciprocamente, o que me parece ser o caso –, era bom perguntarmo-nos qual
seria a posição que os negadores da causalidade patente na invasão da Ucrânia
adoptariam em 1939? É claro que,
sendo as coisas o que são, seria arriscado, além de injusto, declarar
taxativamente que seria uma posição a favor de Hitler. Resta que a
recusa da distinção entre o bem e o mal – e lembro mais uma vez que uso os
termos no sentido das intuições vagas, mas reais, que as pessoas comuns deles
têm – nos permite pensar que poderia muito bem ser, de facto, a favor de Hitler.
A possibilidade está em aberto. A agressão teria vindo das
democracias: não faltou, de resto, gente simpatizante dos nazis para o dizer à
época.
Tudo
isto para dizer uma coisa. Não são apenas conceitos como os de “bondade” e
“maldade”, com a sua função descritiva, que são de legítimo uso em matérias
ético-políticas. Os
conceitos de “bem” e de “mal”, num seu entendimento desinflacionado, isto é,
sem se alçarem a um patamar metafísico, têm uma legitimidade que lhes vem da
sua função compreensiva. Não podemos compreender o mundo ético-político, por
mais que procuremos evitar o uso de abstracções, sem, em certos casos, a eles
recorrermos. Ou, de preferência, a conceitos que a eles indirectamente reenviem
– como, por exemplo, o conceito de “monstruoso” – e que mantenham alguma
dimensão descritiva. Sublinho:
em certos casos. Porque,
para além da vasta legião de casos indiferentes, onde só um micrólogo, ocupado
com a mínima entidade moral microscópica, buscaria o bem e o mal, o grosso do
domínio ético-político passa muito bem sem o uso de tais conceitos.
Há, no entanto, situações que, pela
sua própria natureza, os requerem. O caso da invasão da Ucrânia é, sob este
aspecto, exemplar. Como seria exemplar, por exemplo, a longa história de
monstruosidade que foi, desde Lenine, a da defunta União Soviética e das suas
vítimas. Aqueles que inventam explicações que põem tais conceitos entre
parêntesis nestas situações cegam-se voluntariamente. Decidiram não
compreender. A má-fé – ou, nos casos mais extremos, o cinismo – coloca uma
barreira à compreensão. É que foi mesmo Caim que matou Abel. Isso, as pessoas
comuns que falam de bem e de mal sabem-no.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO FILOSOFIA CULTURA COMPORTAMENTO SOCIEDADE
Antonio Sennfelt: Facto incontestável é que, em 1939, Stalin coligou-se com Hitler e, até finais de 1941, toda a internacional comunista, incluindo o nosso hediondo PCP, apoiou entusiasticamente o nacional-socialismo hitleriano! Liberales Semper ErexitqueAntonio Sennfelt: Entusiasticamente não será o caso, mas conviviam "harmoniosamente". Aliados eram a Itália e o Japão, esses eram mesmo "entusiastas"! Heil, heil, heil, ave, ave, ave, banzai, banzai, banzai! Todos uns tristes, e uns trastes. Não houve nenhuma coligação entre soviéticos e nazis, houve sim um pacto de não-agressão. Myname: É o mesmo tipo de "argumento" dos que, perante o assassinato de uma mulher pelo marido, dizem que ela "andava a pedi-las" porque lhe "moia o juízo" e saía com uns amigos; e ainda a culpam pela desgraça em que caiu "o pobre do homem" por ("ter que") se ver envolvido num crime que (oh que chatice..) lhe dará uns bons anos de prisão. Quando a argumentação atinge níveis de indigência, nem vale a pena perder tempo com ela. O que fazer perante indivíduos que insistam em dizer que a Lua é um satélite de Marte? Vale a pena gastar uma palavra de "'latim" que seja? Não vale! mas elogio o esforço magistral de P. Tunhas em demonstrar o é deveria ser óbvio mesmo para pessoas intelectualmente sub dotadas... luis dias: Mais uma crónica do Paulo Tunhas mais um chorrilho de disparates. Nem se percebe o que está a tentar dizer. Este homem não falha, não tem uma única crónica de jeito, nada. Só não tem erros de caligrafia graças ao corrector ortográfico. Um calhau com dois olhos. Pedro Santos > luis dias: Tem muita palha, é certo, mas o que o autor quis dizer, independentemente de se concordar com ele ou não, é que claramente, na situação da guerra da Ucrânia, há um lado do bem, que é o lado do agredido, e um lado do mal, que é o lado do agressor, contra a ideia muito espalhada, quer à direita quer à esquerda, e até na Igreja Católica (a julgar pelas declarações do Papa), que nesta guerra não há bons nem maus. E pronto, acho que basicamente é isto. Myname > luis dias: "Nem se percebe o que esta a tentar dizer". Claro, as dissertações de Tunhas não estão acessíveis ao intelecto de qualquer zé da tasca... Anónimo de Anónimo > luis dias: Comentário ofensivo. Um calhau com dois olhos? "nao tem erros de caligrafia gracas ao corretor ortografico". Ofensivo igualmente. Para além de ofensivo é de uma pobreza atroz, reparem nesta frase: "nao tem erros de caligrafia gracas ao corretor ortografico" nao sem til; gracas, sem cedilha e ortografico em vez de ortográfico. Além de malcriado é ... arranjem lá um adjetivo para o qualificarem. Liberales Semper Erexitque: Não existe qualquer paralelo entre o III Reich e a actual Federação Russa, comandada há 22 anos pelo mesmo czar. Quanto à Ucrânia, acho que muitos de nós já percebemos que se tratou de um erro histórico de 1991, de que os EUA se estavam a tentar aproveitar numa lógica entre a colonial e a da Guerra Fria. Está a ser corrigido, o erro, devemos lamentar que pela força militar. Há quem não queira negociar, como também sabemos. Amanhem-se. Carlos Chaves: Caríssimo Paulo Tunhas, ao ler a sua crónica ficou para mim ainda mais claro a manipulação da informação a que estamos todos sujeitos hoje em dia, no mínimo afectando o verdadeiro entendimento do que é importante, como no exemplo que deu em relação à guerra que decorre neste momento onde a Rússia invadiu o país soberano da Ucrânia. Tantos generais nas televisões e rádios (substituíram os especialistas Covid), declarações políticas dúbias, comentadores claramente avençados, negócios que continuam com o país infractor…. A verdadeira questão é a quem interessa esta manipulação da informação (e mesmo desinformação)? Não tenho dúvidas que as vítimas inocentes desta guerra facínora, que perdem os seus entes queridos sabem muito bem o que é o mal e o que é o bem. bento guerra: Esta guerra não é filosófica, como nenhuma é. Tem as suas "circunstâncias" e isso é que determina a evolução. Como escreve abaixo o Eduardo L. há antecedentes e opiniões para se ter chegado aqui, mas isto tornou-se quase um tema religioso. Tudo se desenrola em cima de uma Ucrânia destroçada e falida. Como acaba? Quando um deles "arrear".Zelensky nunca. Siga a dança! Eduardo L: Requer-se mais pragmatismo e menos hipocrisia. O prof americano Mersheimer propôs em 2014 (universidade de Chicago) 3 coisas: autonomia para o Donbass, reconhecimento da Crimeia como russa e Ucrânia neutral. Alguns pontos comuns com os Acordos de Minsk. Fast forward 8 anos (!) e independentemente das opiniões sobre quem é o mau ou o bom - isso já não interessa - temos que realizar que a Rússia não vai desistir, pensar que vai é infantil. Por conseguinte, ou o ocidente continua e perpetua esta proxi guerra com a Rússia à custa das vidas - muitos milhares - de ucranianos, e acentua uma crise económica sem precedentes ou se procura rapidamente a paz. Essa paz tem que ser conseguida com base na proposta acima mais os acordos de Minsk e obviamente com concessões por parte da Rússia (os territórios ocupados já extravasam as regiões separatistas). O meu ponto é: a paz tem que ser conseguida a muito breve trecho se quisermos evitar mais mortes e mais catástrofe económica no ocidente! Liberales Semper Erexitque > Eduardo L: Apoio, mas os russos não vão largar o sudeste da Ucrânia, até à Crimeia. É melhor algumas pessoas começarem a habituar-se! Rui Lima > Eduardo L: O Hitler tinha a mesma visão queria o seu espaço vital tal como Putin na Europa, havia muitos que também pensavam que ele devia ficar com os territórios da Polónia sem ser contrariado. Lutar contra tiranos pode ser doloroso mas é um dever. Nelson Soares > Eduardo L: A solução que evita mais sofrimento e destruição é um cessar fogo incondicional. E conversações depois. MAS duvido que alguma das partes tenha interesse nisso. Na falta disso deve-se manter o apoio militar à Ucrânia pelo menos para se defender da Rússia e evitar mais avanços. Não manter este apoio defensivo é claramente desejar/aceitar a capitulação da Ucrânia e premiar o agressor. Pobre Portugal: Dostoiévski ajuda-nos também a compreender melhor essas pessoas, quando diz que "O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo". Carlos Quartel: Uma crónica para quem sabe ler. De facto, não pode nunca ser abandonada a verdade e a verdade é que a Rússia invadiu a Ucrânia, está a destruir as suas cidades e aldeias, a matar e a humilhar os seus cidadãos, tal como fez Hitler na Polónia ou na Rússia. Qualquer apelo à paz, tem que passar pela retirada dessas tropas e compensações pelos estragos causados e condenação pelos assassinatos cometidos. Não há lugar a outras interpretações, nem a pedidos de rendição, nem de aceitação da conquista, como parece insinuar-se nalgumas opiniões. Vi um general, na televisão, contemporizar com a barbárie, com o argumento que a Ucrânia tinha pertencido à Rússia por 300 anos.
O que diria esse general se marroquinos invadissem o
Algarve? Que lhe déssemos a chave do castelo, com o argumento de
que estiveram lá 500 anos?? Outro fala em negociações, como se fosse possível
negociar com quem lhe assalta a casa e mata a família. Ali não há angústia
perante o Bem, há muita doutrinação e muita incapacidade de raciocínio. Américo Silva: Na URSS vivia-se uma carência
permanente de botas, então apareceu Gorbachev, o bom e libertador. Após muitas
peripécias e elogios, o povo russo acabou por ter que vender os chinelos para
sobreviver, daqui nasceu Putin.
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