Este de João
Távora, defensor das monarquias, como garante de uma
permanência pátria mais respeitável e digna de consenso. Mas já são poucas as
monarquias, adeptos que são os Homens dos conceitos de igualdade e liberdade
que põem em causa, em grande alarido, valores e respeitos, que os povos
nórdicos mantêm, talvez, por educação e orgulho próprios ... ou frieza superior,
em paralelo com o seu clima.
A pátria com figura humana
As monarquias existem porque a esmagadora maioria das pessoas não
comungam dos ressentimentos sociais e das ideias políticas dos danieis
oliveiras e das carmos afonsos da vida.
JOÃO TÁVORA Presidente da Direcção da
Real Associação de Lisboa
OBSERVADOR, 15 set
2022, 00:1633
«Ver o rei na
sua força calma é ver a pátria com figura humana»
António Sardinha
A
esquerda radical, numa reacção pavloviana, reagiu poucos dias depois da morte
da rainha Isabel II incomodada com o espectável dilúvio mediático resultante do
acompanhamento das cerimónias fúnebres e de transição na monarquia – pena é que
não tenhamos mais oportunidades de abordar o tema subjacente. Nesse sentido,
são exemplos os artigos de Daniel
Oliveira no Expresso e Carmo Afonso no Público que, vexados, verberam contra a forma de governo
monárquica, desprezando o facto de os países onde o sistema vigora serem dos
melhores exemplos de avanço democrático.
Carmo
Afonso usa até
uma abordagem original, congratulando-se com os azares dos monárquicos em
Portugal, como com a expropriação dos bens da Casa de Bragança por Salazar, do
“perfil humilde” e “discreto” do Duque de Bragança, não referindo a abolição da
monarquia constitucional portuguesa e a instauração de uma república,
ditatorial, violenta e sempre minoritária no apoio popular, pela força das
armas, ou o cobarde assassinato do Rei Dom Carlos e do seu jovem filho o
Príncipe Real dois anos antes, práticas políticas que a colunista por certo
aprova.
Como os antigos jacobinos ou os
soviéticos mais tarde, os dois colunistas acreditam profundamente que a
natureza humana, onde ancora a atracção das pessoas pela instituição monárquica
e os seus rituais, é moldável. A construção de um “homem novo” que “considere a
existência de famílias reais uma afronta” é um idealismo perigoso que,
estranhamente, no século XXI ainda seduz demasiados activistas da nossa praça.
Como no final da monarquia em Portugal, são poucos, mas ruidosos.
Percebe-se
como a morte de Isabel II tenha colocado na ordem do dia e inundado o espaço
público com relatos, imagens e testemunhos insuspeitos sobre as qualidades do
regime monárquico. Afinal a “rainha de Inglaterra” fez a diferença. Não sei se será surpresa para os progressistas
constatarem que sempre que se mudaram os regimes à força, apesar do sangue
derramado, não conseguiram mudar as mentalidades como tinham idealizado.
Ao menos o sonho de
John Lennon no seu
castelo de marfim, ficou-se por uma bonita e inconsequente canção: continuarão
a existir países, religiões, propriedade, paraíso e inferno… enquanto existirem
pessoas.
Ora, as monarquias existem porque a
esmagadora maioria das pessoas não comunga dos ressentimentos sociais e das
ideias políticas dos danieis oliveiras e das carmos afonsos da vida. Do Daniel Oliveira, que se faz distraído
confundindo votos com legitimidade, sabe-se que se viu obrigado a arrumar o seu
passado político no PCP numa gaveta funda quando não era mais possível esconderem-se
os milhões de vítimas do comunismo que professava. Nesse sentido convém responder à pergunta: qual a
razão dos noticiários darem tanta atenção às exéquias da rainha de Inglaterra e
à transição em curso na coroa britânica? Porque
o público é sensível e adere ao drama humano e à beleza estética que emana
desta poderosa instituição e dos seus rituais. Porque a instituição real é
profundamente humana, até nas suas contradições. E o povo britânico (para não
ir mais longe) identifica-se esmagadoramente com a Família Real como se fosse a
sua.
Mas que isso não aflija os
revolucionários de serviço: ao
contrário das ditaduras progressistas, as monarquias são reféns da vontade
popular, e assim persistiram ao longo dos séculos com uma extraordinária
capacidade de adaptação. E perseverarão enquanto as nações permanecerem
humanizadas, alicerçadas em famílias e em comunidades livres, a resistir ao
individualismo radical, que tudo fractura e atomiza numa epidemia de
microcausas, guerreando-se, enfim, numa barbárie que sempre espreita a
oportunidade para vingar.
Em
homenagem à era isabelina tudo e mais alguma coisa já foi dito nos jornais,
rádios e televisões, e o assunto continuará a ser escalpelizado durante os
próximos dias, pelo que duvido que consiga dizer aqui alguma coisa de
verdadeiramente original. Além da grande admiração que nutro pela rainha e
pela coroa britânica, que no mundo se mantém estandarte dos valores ocidentais
da liberdade e da democracia com que me identifico incondicionalmente, como
monárquico, tem sido para mim particularmente reconfortante assistir, no debate
que acompanha as impressionantes cerimónias, ao enorme consenso sobre a
qualidade e pertinência das monarquias da velha Europa civilizada. Já é para
mim um mistério por que domesticamente são tão poucos os que retiram daí as
devidas ilações.
Impressionou-me
particularmente a chegada do Rei Carlos III a Buckingham, no seu primeiro
contacto com a população perplexa, após a morte da sua querida mãe. Sentia-se ali
um misto de dor e de esperança na continuidade, personificada pelo novo rei.
Uma projecção da transcendência
aspiracional que é cimento das comunidades robustas. Impressionou-me adivinhar nessa multidão a grande
diversidade de etnias e culturas que compõem por estes dias o Reino Unido e o
enriquecem e que nem por isso deixaram de partilhar o mesmo sentimento de perda
e a mesma confiança na continuidade.
Curioso
é como o Reino Unido, que enfrentou tantos desafios trágicos e tormentas nos
últimos 70 anos, se, por um lado, perdeu um império, afirmou-se como uma potência cultural no mundo
inteiro, muito desproporcional ao seu peso geopolítico. E a mensagem
subjacente, nas artes, na literatura, no desporto, na música popular, no
audiovisual, vem sendo genuinamente boa: é de civilização.
O
reinado de Isabel II, a Rainha global, deixa ao planeta inteiro esse legado. Já
o Rei Carlos III tem todas condições para contribuir para que o Reino Unido
enfrente, tal como o seu nome o indicia, as tempestades que se perfilam adiante
daquela complexa realidade multinacional e multicultural: sejam os
separatismos ou a crise económica que se espera que seja muito dura. Mas de
quem tenho mais pena é das republiquetas revolucionárias do sul da Europa, que
não souberam resistir ao canto das sereias dos revolucionários, convencidas que
estão que é possível moldar a natureza humana e as suas afeições. Nem que seja
à força.
Coitados de nós, que temos aquilo que
merecemos.
MONARQUIA SOCIEDADE ISABEL II
(1926-2022) LIFESTYLE ISABEL
II CASAS
REAIS CELEBRIDADES VAIDADES RAINHA ISABEL
II REINO
UNIDO EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
José Paulo C Castro: Portugal é um
reino. Acabou em 1910. Agora, temos a República Portuguesa, que é coisa
diferente, dissolvente e insolvente, destinada a desaparecer suavemente na
importação de ideias estrangeiras de país. A única vitória real (e
errada) da RP foi pôr o povo Português a jurar e respeitar a bandeira com cores
erradas. As cores de uma associação maçónica e seu partido. De resto, o caminho
é tornar-se a província europeia chamada Portugal, depois a região lusófona da
Europa (ou da província Hispânica europeia) e ficar uma memória. Não vai sequer
ser a região do mundo onde mais se fala a língua portuguesa. Todo esse caminho
dissolvente é diferente de ter uma identidade, ser uma pessoa inteira entre as
Pátrias, enfim, ser um reino. Acho que os britânicos percebem isso muito bem,
por isso não vão deixar cair a sua identidade. Lily Lx: Não é comparável o carinho que a monarquia britânica
recebe, nesta hora, com o carinho que qualquer político português desta
República recebeu nas suas cerimónias fúnebres. Tentaram vender o Dr. Soares
como o pai da democracia portuguesa. Não foi bem vendido, porque a despedida do
Dr. Soares não interessou a quase ninguém, exceptuando às suas famílias (de
sangue e política). José
Paulo C Castro > Caetano Brandao: As casas reais têm património público suficiente para
se sustentarem. Excepto a portuguesa que foi expropriada numa fundação
pública... senão também tinha. Está mais que provado que as casas civis
republicanas gastam mais ao erário público do que as reais. E com menos
proveito. José
Paulo C Castro > mario jorge correia guimaraes: A
monarquia não é uma nomeação sem créditos. É uma regra de sucessão que define o
cargo, quer a aleatoriedade do cargo, quer a permanência do mesmo, evitando o
vazio de poder. Os créditos vêm dessa regra e da estabilidade que traz. Não têm
nada a ver com o titular do cargo. Isabel II não imaginava que seria rainha
quando era criança. Também não escolheu, apenas aceitou. Já a escolha, traz uma
rotatividade e oscilação ao cargo, dependências e divisões. Que consiga
resultar em pessoas com mérito, essa é a ilusão... A verdade é que você não
sabe quem vai ser o chefe de Estado português em 2027, enquanto Espanha tem uma
razoável ideia de quem o será em 2045 e até em 2060, se calhar. E não perde
democracia nenhuma nisso. Ark
NabuL > Caetano Brandao Se
calhar o resultado de um referendo no UK para substituir a monarquia pela
república teria um resultado "ridículo". Relativamente ao dinheiro,
tanto quanto sei, e é pouco, a monarquia, pelo menos a inglesa, gera muita
receita. Pelos menos, os dados de 2017 assim o indicam.
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