Vamos ver. Quem sofre mais,
naturalmente, são os Ucranianos, mas estes textos do Dr. Salles e muitos outros
provam que grande parte do mundo está com eles, que sofremos com eles e,
naturalmente, os admiramos, como heróis enfiados numa teia monstruosa que não
há quem desfaça, nem mesmo os Russos que ousam contrariar, quais heróis que
arriscam e se condenam.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 04.09.22
«Nunca se mente tanto como antes de umas
eleições, durante uma guerra ou depois de uma caçada».
Há
quem atribua este aforismo ao Barão
Otto Von Bismarck mas eu não
creio que ele soubesse o que eram eleições. Contudo, mais importante que a
autoria da frase é o seu conteúdo, o objectivo da mentira. Deixemos as
eleições e as caladas e passemos para o que por agora mais nos preocupa, a guerra.
Pergunta - Para quê
mentir na guerra travada na época dos satélites espiões?
Resposta – Para o mentiroso se enganar a si próprio.
E
agora venho a outro aforismo: «É fácil enganar algumas pessoas
durante algum tempo mas é impossível enganar muita gente durante muito tempo.»
É
que, mesmo que o telejornal minta, o caixão à porta de casa com os restos do
filho morto na guerra não engana a família destroçada. Foi assim que a URSS foi corrida do
Afeganistão. O desespero das «matrioscas: não há
regime policial que aguente uma Nação desesperada. E mesmo que o KGB seja uma
«fábrica de monstros», também os há que cedem às suas próprias «matrioskas» e
estas, sim, são o pilar de todas as sociedades.
Não
creio nas capacidades adivinhatórias de cartomantes nem de astrólogos mas não
prevejo nada de bom para o momento em que a «marmita da Papin» russa atinja o
limite da pressão a que está a ser submetida desde que morreu o primeiro
soldado russo. A
sociedade russa está contida num sistema fechado, sem válvulas de
despressurização enquanto a ucraniana pode contar com a diáspora, com a
solidariedade internacional e com informação tão realista ou tão fantasiosa
quanto a que circula no mundo livre. Ou seja, a sociedade ucraniana tem modos
solidários de fazer os seus lutos; os dramas russos são vividos em contenção
potencialmente explosiva.
Mais:
parte (que não sei quantificar) dos efectivos humanos das Forças Armadas
ucranianas é constituída por voluntaristas enquanto do lado russo não tenho
informação de teor semelhante. Dizem os fleumáticos «inteligentes» britânicos
que do lado russo campeia a indisciplina militar. Será? Se
sim, é mau para Putin.
Preparando uma conclusão, registo
três factos: Kiev foi bombardeada
pelos russos quando Guterres lá esteve: o porto de Odessa foi bombardeado logo
após a assinatura do acordo mediado pela ONU para escoamento dos cereais até
então retidos nos portos ucranianos; a missão da Agência Internacional da
Energia Nuclear está sob pressão militar russa na visita à central de
Zaporíjia.
Conclusão nº 1: a Rússia
de Putin ataca a ONU assim se auto isolando do concerto internacional.
Conclusão nº 2: a Rússia,
sem ser expulsa da ONU, devia perder ali o direito de voto e, por maioria de
razão, o de veto.
4 de Setembro de 2022 Henrique Salles da Fonseca
Nota de pé de página: de
regresso a Lisboa, fica em Tavira o meu «Lorosae» mas levo esperança na bagagem.
Tags: "política
COMENTÁRIOS:
alice gouveia 04.09.2022 17:16: Concordo com vários pontos e com o aforisma. No dia em
que a marmita não aguentar, Zaporíjia pode rebentar pelas costuras e com
certeza que nos alcança. Espero que a vilegiatura tenha sido retemperante. O
resto da conversa continuaremos na "vizinhança". Boa viagem de
regresso.
Botas De Mulher 04.09.2022 21:51:
São grandes verdades! Mas tudo isto é uma
incerteza com muita especulação por trás.
Anónimo 05.09.2022 13:41:
Coitado, Salles.
Adriano Miranda Lima 05.09.2022 15:18:
Caro Dr. Salles da Fonseca, antes de comentar o
conteúdo deste seu texto, impõe-se enaltecer a sua notável qualidade literária.
E dizer também que os seus leitores têm razão para, desde já, se sentirem
saudosos do Lorosae, ao ficarem a saber que deixou a terra da sua vilegiatura,
onde todos os dias o sol nascente, ou seja, o Lorosae, lhe entrava pelas
frinchas das suas janelas com rara luminosidade. O conteúdo deste seu
texto está à altura do seu brilho literário. Não se sabe se a existência humana
obedece a qualquer lógica universal definidora do sentido do bem e do mal. Ou
se este mais não é que o produto de padrões convencionais criados pelas
sociedades humanas em ordem à sua sobrevivência ou superação dos desafios que a
natureza lhes coloca. Caso seja o último caso, se Putin accionar uma bomba
nuclear e o mundo livre lhe responder à altura, para que ele não fique a rir
-se, nada ficará no planeta como vestígio arqueológico identificador do sentido
do bem e do mal. Assim sendo, será inevitável concluir que tanto faz ser-se um
Putin e um Lavrov ou um Biden ou um Blinken. Ou um papa Francisco, um aiatola
ou um patriarca
Cirilo. Fico perplexo quando este afirma que "a guerra de Putin é
metafísica e nela se joga a salvação humana". Com mais ou menos metafísica ou com
mais ou menos racionalismo, desejo é que a marmita de Papin rebente unicamente
para os lados do Kremlin e leve os seus actuais inquilinos lá para os confins
do inferno, seja este o de Dante ou o centro de uma explosão estrelar. Mas que
deixe incólume o povo russo. Um abraço
amigo Adriano Lima
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