segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Continuando


Vamos ver. Quem sofre mais, naturalmente, são os Ucranianos, mas estes textos do Dr. Salles e muitos outros provam que grande parte do mundo está com eles, que sofremos com eles e, naturalmente, os admiramos, como heróis enfiados numa teia monstruosa que não há quem desfaça, nem mesmo os Russos que ousam contrariar, quais heróis que arriscam e se condenam.

DO MEU «LOROSAE» - 9

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA              A BEM DA NAÇÃO,  04.09.22

«Nunca se mente tanto como antes de umas eleições, durante uma guerra ou depois de uma caçada».

Há quem atribua este aforismo ao Barão Otto Von Bismarck mas eu não creio que ele soubesse o que eram eleições. Contudo, mais importante que a autoria da frase é o seu conteúdo, o objectivo da mentira. Deixemos as eleições e as caladas e passemos para o que por agora mais nos preocupa, a guerra.

Pergunta - Para quê mentir na guerra travada na época dos satélites espiões?

Resposta – Para o mentiroso se enganar a si próprio.

E agora venho a outro aforismo: «É fácil enganar algumas pessoas durante algum tempo mas é impossível enganar muita gente durante muito tempo

É que, mesmo que o telejornal minta, o caixão à porta de casa com os restos do filho morto na guerra não engana a família destroçada. Foi assim que a URSS foi corrida do Afeganistão. O desespero das «matrioscas: não há regime policial que aguente uma Nação desesperada. E mesmo que o KGB seja uma «fábrica de monstros», também os há que cedem às suas próprias «matrioskas» e estas, sim, são o pilar de todas as sociedades.

Não creio nas capacidades adivinhatórias de cartomantes nem de astrólogos mas não prevejo nada de bom para o momento em que a «marmita da Papin» russa atinja o limite da pressão a que está a ser submetida desde que morreu o primeiro soldado russo. A sociedade russa está contida num sistema fechado, sem válvulas de despressurização enquanto a ucraniana pode contar com a diáspora, com a solidariedade internacional e com informação tão realista ou tão fantasiosa quanto a que circula no mundo livre. Ou seja, a sociedade ucraniana tem modos solidários de fazer os seus lutos; os dramas russos são vividos em contenção potencialmente explosiva.

Mais: parte (que não sei quantificar) dos efectivos humanos das Forças Armadas ucranianas é constituída por voluntaristas enquanto do lado russo não tenho informação de teor semelhante. Dizem os fleumáticos «inteligentes» britânicos que do lado russo campeia a indisciplina militar. Será? Se sim, é mau para Putin.

Preparando uma conclusão, registo três factos: Kiev foi bombardeada pelos russos quando Guterres lá esteve: o porto de Odessa foi bombardeado logo após a assinatura do acordo mediado pela ONU para escoamento dos cereais até então retidos nos portos ucranianos; a missão da Agência Internacional da Energia Nuclear está sob pressão militar russa na visita à central de Zaporíjia.

Conclusão nº 1: a Rússia de Putin ataca a ONU assim se auto isolando do concerto internacional.

Conclusão nº 2: a Rússia, sem ser expulsa da ONU, devia perder ali o direito de voto e, por maioria de razão, o de veto.

4 de Setembro de 2022            Henrique Salles da Fonseca

 Nota de pé de página: de regresso a Lisboa, fica em Tavira o meu «Lorosae» mas levo esperança na bagagem.

Tags: "política

COMENTÁRIOS:

alice gouveia  04.09.2022  17:16: Concordo com vários pontos e com o aforisma. No dia em que a marmita não aguentar, Zaporíjia pode rebentar pelas costuras e com certeza que nos alcança. Espero que a vilegiatura tenha sido retemperante. O resto da conversa continuaremos na "vizinhança". Boa viagem de regresso.         

Botas De Mulher  04.09.2022  21:51: São grandes verdades! Mas tudo isto é uma incerteza com muita especulação por trás.

 Anónimo  05.09.2022  13:41: Coitado, Salles.

 Adriano Miranda Lima  05.09.2022  15:18: Caro Dr. Salles da Fonseca, antes de comentar o conteúdo deste seu texto, impõe-se enaltecer a sua notável qualidade literária. E dizer também que os seus leitores têm razão para, desde já, se sentirem saudosos do Lorosae, ao ficarem a saber que deixou a terra da sua vilegiatura, onde todos os dias o sol nascente, ou seja, o Lorosae, lhe entrava pelas frinchas das suas janelas com rara luminosidade. O conteúdo deste seu texto está à altura do seu brilho literário. Não se sabe se a existência humana obedece a qualquer lógica universal definidora do sentido do bem e do mal. Ou se este mais não é que o produto de padrões convencionais criados pelas sociedades humanas em ordem à sua sobrevivência ou superação dos desafios que a natureza lhes coloca. Caso seja o último caso, se Putin accionar uma bomba nuclear e o mundo livre lhe responder à altura, para que ele não fique a rir -se, nada ficará no planeta como vestígio arqueológico identificador do sentido do bem e do mal. Assim sendo, será inevitável concluir que tanto faz ser-se um Putin e um Lavrov ou um Biden ou um Blinken. Ou um papa Francisco, um aiatola ou um patriarca Cirilo. Fico perplexo quando este afirma que "a guerra de Putin é metafísica e nela se joga a salvação humana". Com mais ou menos metafísica ou com mais ou menos racionalismo, desejo é que a marmita de Papin rebente unicamente para os lados do Kremlin e leve os seus actuais inquilinos lá para os confins do inferno, seja este o de Dante ou o centro de uma explosão estrelar. Mas que deixe incólume o povo russo. Um abraço amigo Adriano Lima


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