Que não tenha sido convidado para Ministro da Agricultura. Ou pelo
menos para conselheiro do ministro. E dos mais ministros da Economia. Uma
panorâmica económica que afasta encómios, é claro. Mas não afasta espantos, apesar
dos muitos avisos. E assim vamos resvalando no desfiladeiro, onde jazerão
estilhaçados os herdeiros malogrados das Tágides secas de agora.
«...E VÓS, TÁGIDES
MINHAS...» - 5
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 29.09.22
O MUNDO VISTO A PARTIR DE LISBOA
Hoje,
começo com um axioma: «O dinheiro só foge de onde se sente em perigo».
Digo, perigo de falta de
liberdade ou de nacionalização por confisco ou por carga fiscal excessiva. Limitações à livre circulação dos
capitais, situações de instabilidade política ou custos de contexto asfixiantes
são motivos para a drenagem financeira com destino a paragens consideradas mais
benignas.
Em
Portugal, já passámos por todos estes cenários em singelo e conjugados.
Actualmente, bem gostaríamos de ver uma descida
significativa na carga fiscal. Aliás, esta redução pode mesmo
constituir um bom instrumento de combate à economia paralela (v. «QUANDO IRÁ O
FISCO AO LUPANAR?» https://abemdanacao.blogs.sapo.pt/128218.html
).
«Paraísos fiscais» aparte e partindo do pressuposto de que o Plano Oficial de Contas Europeu já é uma
realidade consolidada, interessa considerar a concorrência fiscal dentro da
União Europeia onde já só parece faltar a harmonização dos métodos de cálculo
das matérias tributáveis para que - então e só então - as taxas sejam o grande
parâmetro da tão desejada competitividade fiscal. (Usar a disparidade dos
métodos de cálculo das matérias tributáveis como parte integrante da
concorrência fiscal, pode ser politicamente muito interessante, mas à U, E. não
caberá o epíteto «União»).
O tratamento discriminatório dado pela negativa ao investimento
nacional relativamente ao estrangeiro fez com que a política de
internacionalização da nossa economia se traduzisse na venda de
empresas portuguesas a investidores estrangeiros. Uma vez na posse dessas empresas, os
novos proprietários fechavam-nas e passavam a abastecer o nosso mercado a partir
das respectivas sedes localizadas «lá fora». Também
os processos de reprivatização de empresas pareceu hostil aos capitais
nacionais optando pelas alienações em grandes blocos a interessados
estrangeiros. Como se em Portugal não houvesse Bolsa(s) de Valores. Tudo, num
processo que, afinal, teve como consequência o desbragamento da nossa economia
e a destruição de importantes unidades fabris. Se a isto somarmos o encerramento
de empresas para «partir os dentes aos Sindicatos» … dá para imaginar
o caminho que nos resta percorrer para voltarmos a ser uma economia competitiva
na produção de bens transacionáveis.
E hoje não refiro a questão da
clarificação do método de
formação dos preços agrícolas pois isso quase pareceria um Programa
de Governo e eu não sou candidato a Ministro da Agricultura. Nem sequer fui
convidado.
Lisboa, 29 de Setembro de 2022
Henrique Salles da Fonseca
Tags:: "economia
portuguesa
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Adriano
Miranda Lima 01.10.2022 00:07: O Dr. Salles da Fonseca
deixa-nos aqui uma reflexão sobre uma matéria de magna importância e de
gritante actualidade. Não é
assunto da minha especialidade e por isso sinto-me grato pelo carácter
didáctico da sua abordagem. Parece ficar evidente que a uniformização completa
das políticas fiscais dentro da UE não será meta alcançável num horizonte
temporal mais próxima dadas as disparidades entre as economias. E será
alguma vez possível? Depois, fica
claro que o problema que coloca relativamente à discriminação entre os
investimentos nacionais e estrangeiros deixa as economias mais frágeis ainda
mais vulneráveis, donde se conclui que uma internacionalização geradora de
equilíbrio e justiça é uma miragem. Quanto
aos paraísos fiscais, que ninguém parece interessado em extinguir, não serão
eles o paradigma do que há para corrigir no sistema global?
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