Leiamos, antes,
Sagan
Uma tarde de leitura divertida – mas simultaneamente sombria, tratava-se da releitura de peça de Françoise Sagan, “Château en Suède” – já há muitos anos por mim sublinhada, em partilha - ou constatação apenas - de um pensamento crítico e rebelde e sempre hilariante – peça em que voltei a pegar, concluído o apaixonante livro “Aimez-vous Sagan..” de Sophie Delassein, sobre uma Mulher extremamente inteligente, que foi Sagan, na força subtil de um raciocínio provocante e livre, indiferente aos convencionalismos sociais, embora educadamente generoso, (sem a ponderação, é certo, que sentimos na narrativa de Simone de Beauvoir, também Sagan sua admiradora, como de Sartre, autores que fizeram o meu encanto igualmente, ao longo da vida). Françoise Sagan, admirei -a, desde Coimbra, e o seu “Bonjour Tristesse”, tinha ela 18 anos, como eu, logo elevada aos píncaros da fama e do poder económico que não soube preservar, contudo, talvez por generosidade, talvez por desvios motivados pela sua rebeldia a sujeições. Também esta peça de teatro, Château en Suède - de um esquematismo sóbrio, traduz, em cenas hilariantes, com certo suspense, um pensamento desinibido, nos dois irmãos – Éléonore e Sébastien (bem representativos da própria autora com o seu profundo afecto pelo irmão), inseridos, em vestes principescas, num enredo simultaneamente hilariante nos seus cinismos e chulice de Sébastien, e tenebroso no suspense contínuo, em que candura e sentimentos de dedicação, juntamente com as pretensões fidalgas da dona do castelo sueco formam, de par com a rudeza pacóvia e o sentimento de posse, do irmão desta, marido – Hugo - da esperta Éléonore, docemente cínica no seu modus vivendi livre e atencioso, personagens de riso contínuo, incluindo a mãe dos tais donos do castelo (Hugo, e Agathe, sua irmã pretensiosa) descrita como “impotente” e reduzida a um “gorro” respeitavelmente instalado num sofá. Outras personagens serão a falsa defunta, a primeira mulher de Hugo, “Ophélie” e Frédéric, um primo afastado dos donos do castelo, apaixonado pela plácida Éléonore, único condenado a ser morto pelo ciumento Hugo, e que em breve será substituído por outro apaixonado por Éléonore, igualmente condenado, no meio de uma sacrossanta família feliz, de um castelo sueco.
Entretanto, consultado o meu Gmail, encontrei a referência ao Facebook de Luís Soares de Oliveira. O seguinte:
«Luis Soares
de Oliveira actualizou o seu estado.»
17 h ·
«O sol
voltou.»
Julguei que se tratasse de um estado de saúde menos feliz, e com o meu
texto, sobre “Château en Suède” pensei dar algum conforto ao Sr. Embaixador,
que poderia divertir-se um pouco com uma leitura aprazível, nestes tempos de
bestialidade sórdida. Mas o comentário de um seu amigo revelou que essa coisa
do sol tinha a ver antes com a dúvida sobre o caminho para uma “paz” possível e
fiquei contente por não ser uma questão de saúde do Sr. Embaixador. Mantenho, todavia, o meu texto, que me fez passar
umas horas esquecida do pesadelo da guerra – embora fosse estado de espírito
efémero, depois de lido o comentário de Francisco Henriques da Silva:
COMENTÁRIO
Francisco Henriques da Silva está
com Luis Soares de Oliveira:
ENERGIA
A QUANTO NOS OBRIGAS – E PARTE DA CULPA ESTÁ NA OPÇÃO NAS RENOVÁVEIS
A guerra no Leste continua e, aparentemente, vai continuar. Os comentadores
(! Que todo lo saben!) falam, alguns com optimismo, numa, por ora, ainda vaga
contra ofensiva ucraniana, que, no fundo, afasta qualquer perspectiva de paz a
curto ou médio prazos e presumivelmente vai conduzir a mais um impasse, sem
qualquer fim à vista. Para além desta “never ending war”, assiste-se à subida
incontrolada a correspondente subida da taxa de inflação. Em suma, o panorama continua
muito pouco auspicioso e afigura-se, mesmo, catastrófico com a chegada do tempo
frio.
Com efeito, as ondas de calor acabaram, mas vêm aí
invernos gélidos e sem gás. Vai morrer muita gente, muitos milhões. Segundo o ambientalista dinamarquês Bjorn Lomborg, para cima de mil e 200
milhões de pessoas, considerando as duas grandes vertentes do problema bélico
vigente: por um lado, o boicote ao gás russo e, por outro, a escassez de
cereais e fertilizantes. Os impactos são diferentes consoante as regiões do
planeta: na Europa, os mortos de frio,
nos PVD (Terceiro Mundo para os leigos) os mortos de fome.
O
velho continente, designadamente a Alemanha enveredou pela solução do “barato
que sai caro,” ou seja depender do gás russo, sem qualquer alternativa
viável.Com efeito, a Rússia fornece à UE 40% das suas importações de gás
natural, de que a Alemanha (55% antes da guerra) e a Itália (40%, pré-guerra)
são os principais consumidores [os dados relativos a 2021 figuram no quadro
anexo - https://www.statista.com/.../russian-gas-dependence-in.../
] . Ah, mas existem outras fontes de abastecimento e, além disso, temos as
renováveis, dirão alguns. A sério?
No caso da Alemanha, as fontes de abastecimento
alternativas são a Noruega 30% e a Holanda 13%. Será que podem aumentar muito mais a exportação de
gás? E os demais países europeus? Não vou elaborar sobre o assunto. Nesta fase
do processo, é meridianamente claro.
Então, se a
política ambiental que vem a ser seguida pela Europa consiste no recurso às
renováveis, em detrimento dos combustíveis fósseis, onde é que isso nos leva?
Julgo que o comum das pessoas se apercebe, que as renováveis são intermitentes,
aleatórias e, por isso mesmo, pouco fiáveis. Não há energia hidro-eléctrica se
a água escasseia; as eólicas são inúteis sem vento e os painéis solares à noite
ou de dia com o céu toldado não produzem.
Mais. Subsiste aqui uma gigantesca falácia: as renováveis não se
podem substituir integralmente, longe disso, aos combustíveis fósseis. São um
mero complemento e não uma alternativa. Como é que conseguimos que a indústria
automóvel que necessita de fundir o aço, o faça sem gás? E a indústria
vidreira? E a cerâmica? E os laticínios?
A
prazo, a solução efectiva recairia no nuclear, que além disso é uma energia
limpa. Todavia, os tabus em torno desta opção são mais do que muitos e os
fantasmas de Three Mile Island, de Tchernobyl e de Fukushima atormentam-nos e
assombram-nos todos os dias. Vade retro!
Em matéria de energia, pela mão da Alemanha, que por
razões que me escapam (não sou psicólogo) vive em permanente estado de
auto-flagelação - e não só, a culpa é colectiva - embarcámos numa solução a
prazo suicidária e as provas estão à vista. Fecham-se as centrais nucleares e
aposta-se, erradamente e em força, nas renováveis. Moral da história: temos de
recorrer de novo ao carvão, esse, sim, altamente poluente para pôr a economia
nos carris.
A Espanha de Sanchez, por exemplo, fechou todas as
centrais nucleares, com excepção de Almaraz e importa energia eléctrica de
Marrocos, produzida por combustão do carvão. Ecologia
ibérica!
Além de tudo que já se
referiu, a Rússia está ciente dos seus trunfos. Pode brincar à vontade com o gás
e apontar uma pistola à cabeça dos europeus, independentemente dos prejuízos
que possa vir a ter. Para a actual nomenklatura russa, a sorte do Povão, será
que importa muito? Os europeus querem aquecer-se? Ah, é? Pois, então, o
passarinho tem que vir comer à mão.
Depois dos
verdadeiros tiros no pé que foram as sanções a Moscovo (quod erat
demonstrandum), a UE vem agora ditatorialmente impor 140 mil milhões de euros
de tributação aos lucros das empresas de electricidade. Pior. Bruxelas propõe
um corte obrigatório de 4 horas diário de consumo de electricidade. Vamos
sujeitar-nos, sem tugir nem mugir, a este diktat absurdo e sem sentido, mas
talvez já apadrinhado por Berlim e Paris?
Reforça-se a minha tese, que,
aliás, é por demais óbvia, a agenda dos políticos não coincide com a agenda da
maioria dos cidadãos. Depois queixem-se.
Só me resta, biblicamente,
reiterar:
“Perdoai-lhes, Senhor, porque
não sabem o que fazem!”
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