Haverá sempre meios de decifração –
ideográficos, etimológicos, comparativos, analógicos… - a ter em conta para a
descida aos primórdios linguísticos. O certo é que estas bisbilhotices
graciosas do Dr Salles, despertando a curiosidade, nos levam a pesquisar de
imediato na sacrossanta Internet, para nossa gratidão a um e a outra.
Henrique Salles da Fonseca
13.04.23
ÁCHETSUP – nome quase indizível para praticantes de leitura rápida numa
primeira aproximação a esta «faraona» que o foi mais «de facto» que «de jure».
Ou terá sido precisamente ao contrário, mais «de jure» que «de facto»? Esta é
uma questão a abordar noutro texto em que contarei uma história para ler ao som
de violinos e com passarinhos esvoaçantes e cantantes…
Mas rapidamente resolvi o problema quando, rodeado de franceses,
traduzi o nome para «achète soupe».
E foi com esta brincalhotice que coloquei ao nosso eruditíssimo guia
(cristão copta) a questão fonética: como
podemos saber se esta fonética corresponde minimamente aos sons pronunciados
pelos antigos egípcios? E a resposta foi imediata: - Tirando algumas particularidades que se pudessem
identificar na pronúncia, a antiga língua egípcia é a actual língua copta, a
utilizada nas celebrações cristãs ortodoxas tal como os católicos usavam o
latim nas suas celebrações antes de Concílio Vaticano II.
Confesso que se encheu o espírito de dúvidas pois que, assim sendo, a tradução da Pedra de Roseta feita por Champollion teria
sido uma impostura- e tudo aponta para que foi trabalho sério.
Colocada a mesma questão a outro guia turístico (neste caso,
muçulmano), a resposta também foi imediata no sentido de que Champollion descobriu o significado dos
hieróglifos, mas não a sua fonética; pode-se ler em qualquer língua e, de
facto, o sapientíssimo (?) guia cristão lera muitos hieróglifos utilizando a
língua francesa. Instalada a dúvida, espero que a interpretação tenha sido
minimamente correcta.
Três dúvidas restam por esclarecer:
Qual a inequívoca origem da
língua copta?
Porquê Achetsup e não quaisquer
outros sons tais como «Laurindinha» ou …?
Quando perguntei durante um espectáculo
de som e luz em Karnac,
como se tinha conseguido «traduzir os sons musicais, a resposta foi imediata: -
Inspiração hollywoodesca.
Tudo meditado, creio que, depois de uma solução milenar na continuidade
oral, é impossível retomar a fonética dos egípcios faraónicos.
(continua)
Abril de 2023
Henrique Salles da
Fonseca
Tags: viagens
COMENTÁRIO
Anónimo: 13.04.2023 14:34:
A fonética é que é o busilis
!!!
Jean-François Champollion
Jean-François Champollion (Figeac,
23 de
dezembro de 1790
— Paris,4 de março
de 1832),
também conhecido como Champollion le jeune, foi um filólogo, orientalista,
egiptólogo, considerado o pai da egiptologia,
que se tornou famoso pelos seus trabalhos sobre a cultura e a língua do Egipto Antigo,
e, em especial, por ter sido o principal responsável pela decifração dos hieróglifos
egípcios.
Biografia
Conhecido principalmente como o
decifrador de hieróglifos egípcios e uma figura fundadora no campo da
egiptologia. Parcialmente criado
por seu irmão, o estudioso Jacques Joseph
Champollion-Figeac, Champollion
foi uma criança prodígio em filologia, dando seu primeiro artigo público sobre
a decifração de Demotic em sua adolescência.
Quando jovem, ele era famoso nos círculos científicos e falava Copta, grego antigo, latim,
hebraico e árabe.
Durante o início do século XIX,
a cultura francesa experimentou um período de 'Egiptomania', provocada
pelas descobertas de Napoleão no Egipto
durante a sua campanha lá (1798-1801),
que também trouxe à luz a Pedra de
Roseta trilíngue. Estudiosos debateram a idade da civilização egípcia e a função e
natureza da escrita hieroglífica, qual língua ela gravou, e o grau em que os
sinais eram fonéticos (representando sons da fala) ou ideográficos (gravando
conceitos semânticos directamente). Muitos
pensavam que a escrita era usada apenas para funções sagradas e rituais e que,
como tal, dificilmente seria decifrável, pois estava ligada a ideias esotéricas
e filosóficas, e
não registrava informações históricas. O significado da decifração
de Champollion foi que ele mostrou que essas suposições estavam erradas e
tornou possível começar a recuperar muitos tipos de informações registradas
pelos antigos egípcios.
Champollion viveu em um período
de turbulência política na França que continuamente ameaçava interromper sua
pesquisa de várias maneiras. Durante as Guerras Napoleónicas, ele
conseguiu evitar o recrutamento, mas a sua lealdade napoleónica fizeram com que
ele fosse considerado suspeito pelo regime monarquista subsequente. Suas
próprias acções, às vezes impetuosas e imprudentes, não ajudaram em seu caso.
As suas relações com importantes figuras políticas e científicas da época, como
Joseph Fourier e Silvestre de Sacy, ajudaram-no, embora em
alguns períodos tenha vivido exilado da comunidade científica.
Em 1820, Champollion embarcou a
sério no projecto de decifração da escrita hieroglífica, logo ofuscando as
realizações do polímata
britânico Thomas Young,
que havia feito os primeiros avanços na decifração antes de 1819. Em
1822, Champollion publicou o seu primeiro avanço na decifração da hieróglifos
da pedra de Roseta,
mostrando que o sistema de escrita egípcio era uma combinação de sinais
fonéticos e ideográficos – a primeira escrita desse tipo descoberta. Em 1824,
publicou um Précis no
qual detalhou uma decifração da escrita hieroglífica demonstrando os valores
de seus signos fonéticos e ideográficos. Em 1829, ele viajou para o Egipto,
onde pôde ler muitos textos
hieroglíficos que nunca haviam sido estudados, e trouxe para casa um grande
conjunto de novos desenhos de inscrições hieroglíficas. De volta para casa, ele
recebeu uma cátedra de egiptologia, mas só lecionou algumas vezes antes de sua
saúde, arruinada pelas dificuldades da jornada egípcia, o obrigar a desistir de
ensinar. Ele morreu em Paris em 1832, aos 41 anos. A sua
gramática do egípcio antigo foi publicada postumamente.
Durante a sua vida e muito
depois da sua morte, intensas discussões sobre os méritos de sua decifração
foram realizadas entre os egiptólogos. Alguns o culparam por não ter dado
crédito suficiente às primeiras descobertas de Young, acusando-o de plágio, e
outros por muito tempo contestaram a precisão de suas decifrações. Mas
descobertas subsequentes e confirmações de suas leituras por estudiosos com
base em seus resultados gradualmente levaram à aceitação geral de seu trabalho.
Embora alguns ainda argumentem que ele deveria ter reconhecido as contribuições
de Young, a sua decifração agora é universalmente aceita e tem sido a base para
todos os desenvolvimentos posteriores no campo. Consequentemente, ele é
considerado o "Fundador e
Pai da Egiptologia".
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