Não manipuladas pelas sinuosidades passageiras das convulsões fanáticas ideológicas que é de bom tom seguir, explicam estes textos de MJA, feitos de desassombro e provando integridade.
Na oitava da Páscoa
Manuel Braga da Cruz desmultiplicou
generosamente o seu saber em prol de alunos, instituições que dirigiu, obras
que escreveu, estudos, opiniões e intervenções que a Igreja sempre lhe pediu.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista, colunista do Observador
OBSERVADOR, 12
abr. 2023, 00:206
1Pequeno
prólogo: lembrei-me hoje de ser optimista, valendo-me de um testemunho
suficientemente forte – o seu autor também é – para merecer notícia. Não se
sabe se despertará alguém da sonolência nacional onde o país se acolhe, o que
sei é que merece notícia. Fica aqui.
2Corria
Março e estávamos na Gulbenkian onde se tratava de homenagear Manuel
Braga da Cruz que ali mesmo
recebia o prémio “Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes” com que fora distinguido pelo Secretariado Nacional
da Pastoral da Cultura. Foi um grande momento. Pelo prestígio do prémio, pela
invulgaríssima categoria do premiado. Parecia até que a ausência e carência de
momentos assim em Portugal lhe ampliaram ainda mais a significativa grandeza.
Na
plateia sentava-se – não por acaso – uma boa parte do que resta de uma
sociedade civil independente e incólume destes feios dias; no palco, ao lado do
Bispo D. João Lavrador e do júri, José Miguel Sardica ocupou-se em “trazer-nos”
Manuel Braga da Cruz: em carácter, alma e mente; em actos, ofícios e obras.
Ciclópica tarefa: o currículo de Braga da Cruz conta 82 páginas… mas oh que
invejável brilho na oração.
E
no entanto… não pode ter sido fácil abarcar de forma tão sedutoramente audível
a riquíssima vida de alguém que a tanto chegou por considerar simplesmente que era
a sua obrigação fazê-lo. Cumprindo com exigência, servindo com honra.
Cidadão amável e afável, imediatamente acolhedor; homem de cultura de
inesgotável curiosidade, intelectual imune aos sucessivos ares do tempo a
não ser aos da sua consciência;
sociólogo, académico, reitor, autor, estudioso da historia, praticante da
cidadania e um grande homem de Igreja. De tudo isto nos falou com inspirada
eloquência o professor Sardica. Manuel Braga da Cruz desmultiplicou
generosamente o seu saber em prol de alunos, instituições que dirigiu, obras
que escreveu, estudos, opiniões e intervenções que a Igreja sempre lhe pediu.
Foi – é – ouvido, seguido, respeitado. (À hora a que escrevo, está a ser
condecorado pelo Presidente da República numa cerimónia que quis privada e sem
aparato).
Escrevendo
estas breves linhas, apercebo-me que vou reter as duas “coisas” que nele mais
aprecio, quem sabe aquelas que melhor o explicam e mais o definem. O orgulho
da pertença familiar: à família de onde vem – minhota e beirã – e vaso onde
fermentou a massa de que é feito. O pai, Guilherme Braga da Cruz, um
grande mestre, foi um notabilíssimo reitor da Universidade de Coimbra de quem o
filho escreveu a biografia); à família que o próprio Manuel formou, porto de
abrigo de uma vida; ao seu berço português, que fez dele um patriota. E sobre
tudo isto, dentro de tudo isto que é imenso – a man for all seasons? – o
homem de fé: fidelidade e compromisso sem mácula nem vacilação ao catolicismo e
à Igreja. A boa
estrela que lhe inspira o verbo e conduz o gesto, não é senão a convicta
certeza dessa fé que ele sempre soube não apenas compatível mas complemento
indispensável dos seus passos pela vida. No que pensou, disse, escreveu e fez.
Naquela tarde de quase primavera, ouvir estes testemunhos – o elogio de José
Miguel Sardica e as palavras do próprio Manuel, Braga da Cruz – foi
também uma pequena luz no desamparo aflitivo da vida hoje da nossa Igreja. E no
momento aterradoramente confuso sobre o que ela se escreve ou se garante: misturando
justiça e sanção com intriga e ciladas; transparência com manipulação, trigo
com joio. Na oitava da Páscoa da Ressurreição, fiquemos com o testemunho. Um
dia virá outra maré (tem sido assim há dois mil anos).
PESSOAS SOCIEDADE UNIVERSIDADES EDUCAÇÃO
COMENTÁRIOS:
Luís Pombo: É com orgulho
que leio esta crónica sobre o meu cunhado Manel escrito por uma pessoa que
tanto aprecio e com a qual concordo plenamente. Obrigado Maria João Avillez. Madalena Sá: Obrigada Maria
João! Que raio de Sol nesta tristeza. Por onde andamos! Carlos Chaves: Bonita e sentida homenagem, tão raras nos
tempos que correm! Obrigado Maria João. Sem dúvida que um dia virá outra maré,
não fosse esta uma das mensagens da Páscoa e das sucessivas primaveras.
S Belo: Fui aluna de Braga da Cruz; obrigada Maria João
Avillez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário