E o céu toldou-se em agonia –para nós - quando,
após muitas falsas tergiversações de puro gozo teatral de suspense, arrastado durante
vários dias, António Costa, lábio guloso e triunfante, declarou que decidira
aceitar a governação do país como 1º ministro, cumprindo a missão para que
tantos o convocavam, apesar de ter perdido as eleições, e que cobarde e
inescrupulosamente, Cavaco Silva apoiou, em desfavor de Passos Coelho, eleitoralmente vitorioso mas
impotente, num país passivo mas entendido em cinismo. Não, jamais esqueceremos
– enquanto a razão no-lo permitir - um tal dia de expectativa do que seria de
justiça, em volte face de cinismo arrastado, por decisão há muito estabelecida
- combinada, aparentemente, com sinistra equipa igualmente ignóbil – mas, efectivamente,
de pura avidez pessoal, finalmente exposta - falcão triunfante, ficticiamente
modesto, cumprindo um dever pátrio a que não poderia, heroicamente, furtar-se… Paulo Tunhas
trouxe
à baila o memorial deste outro “convento desmascarado”, livro impressionante
que li na minha adolescência, reproduzido na minha velhice em novos dados simiescos,
não menos repugnantes, e de que se tem vindo sucessivamente a colher os frutos
envenenados pela verborreia não oca, porque simplesmente mortífera.
A facilidade de mentir
É no mínimo duvidoso que António Costa acredite nas
mentiras que emite ou autoriza. Vulgarmente, é um cínico. E o cínico usa os
outros em função dos seus próprios interesses.
PAULO TUNHAS
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 13 abr. 2023, 00:1933
Estaline terá dito uma vez a Nadeja
Krupskaia, a viúva de Lenine: “Se
você apoiar a oposição, nós nomeamos uma outra viúva de Lenine”. Michel
Heller, na introdução a um livro de entrevistas de Boris Souvarine, conta que,
pela altura, toda a gente se interrogava quem seria a possível candidata a
viúva substituta e chegou à conclusão que se trataria de uma tal, parece que
conhecida, Helena Stassova. Boris
Souvarine, que percebia bem Estaline (foi
o autor de uma das primeiras biografias críticas do tirano), disse que
isso era um disparate, que era a camarada Artiokhina.
Heller nunca tinha ouvido falar dela, mas Souvarine explicou-lhe: era a mulher
mais feia do Comité Central. Só essa escolha era compatível com a perversidade
de Estaline.
Convém notar que Estaline tinha todo o
poder para nomear uma nova viúva de Lenine.
De resto, passou os seus longos anos de poder absoluto no Kremlin a refazer o
passado das mais diversas e variadas formas, de modo que só ele, o “pai dos
povos”, pudesse brilhar no firmamento comunista. O poder absoluto sobre
a sociedade, para repetir uma banalidade, traz consigo um não menos absoluto
poder sobre o passado dessa mesma sociedade. Tudo pode ser refeito a nosso
bel-prazer. Ninguém, ou quase ninguém, ousará contradizer a versão dos
acontecimentos do tirano. A facilidade de mentir traz consigo, por instinto
de sobrevivência, uma facilidade de acreditar desmesurada. Que se alarga a todos aqueles que vêem
nessa sociedade o modelo a imitar pelo mundo inteiro. Leia-se tudo aquilo que
os comunistas europeus, e uma boa fatia da esquerda em geral (e até alguma
direita), escreveram sobre os processos de Moscovo de 1936-1938. As mais
inverosímeis acusações e confissões foram aceites sem pestanejar.
Nada se compara, é claro, com um regime totalitário nestas matérias.
Nem as mais banais ditaduras, como, entre nós, a de Salazar, lhe chegam sequer
aos calcanhares. Nos regimes autoritários, a mentira é um elemento auxiliar do
poder. Nos regimes totalitários ela faz parte da sua própria essência. Se se
quiser uma analogia, é a diferença entre alguém com uma certa propensão a
mentir e um mitómano, que se encontra na necessidade constante de reinventar o
seu passado dia-a-dia para o tornar conforme aos últimos desenvolvimentos da
sua mitomania.
Mas, tal como cada um de nós
ocasionalmente mente – pense-se nas mentiras que generosamente praticamos
com nós mesmos para ganhar coragem para pôr o primeiro pé fora da cama de manhã
–, também nas democracias a mentira tem o seu lugar. Sobretudo quando, por ausência de
vigilância crítica dos cidadãos e pelo sentimento de impunidade que o poder
tradicionalmente confere, ela aparece como um recurso legítimo para os governos
se esquivarem àquilo que os pode pôr em causa.
O
extraordinário florilégio de mentiras governamentais reveladas nas primeiras
sessões da comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP exibiu na perfeição
esse tal sentimento de impunidade, alicerçado na confiança da inexistência de
uma vigilância crítica por parte da sociedade. Além de, é preciso reconhecer,
uma certa tendência, por parte de algumas personagens, para aquilo que se tem
bem de chamar desonestidade e até para algo de próximo da mitomania. Este
último caso é o de Pedro Nuno
Santos e de João Galamba.
Mas o principal fautor – o
“facilitador”, como agora se diz – desse florilégio de mentiras, António
Costa, não parece ter nada de
mitómano. Um
mitómano acredita, apesar de tudo, nas mentiras que quotidianamente inventa.
Ora, é no mínimo duvidoso que António Costa acredite nas mentiras que emite ou
autoriza. Vulgarmente, é um cínico. E o cínico usa os outros em função dos seus
próprios interesses. É o autor último das mentiras, mas deixa a sua execução
aos outros, que competem pelo seu favor.
Por isso, esclarecer a propensão à
mentira de Medina, Pedro Nuno Santos ou Galamba – para não falar do pobre Hugo
Mendes –, só faz sentido se não perdermos nunca de vista que a facilidade de
mentir que eles exibem tem a sua origem última no ambiente deletério que Costa,
consciente e deliberadamente, criou desde o momento em que introduziu, aquando
da sua derrota eleitoral face a Passos Coelho, a sua “solução governativa” em
Portugal. Se esquecermos isso, o pequeno catálogo de
horrores será apenas isso: um pequeno catálogo de horrores. Se nos lembrarmos
disso, tudo ganha um sentido que nos permite a compreensão da triste sociedade
em que vivemos.
Há poucos dias, Costa proclamou que “não dos devemos preocupar com a verdade”. Numa
interpretação da frase que não é, obviamente, aquela que ele pretendia, revelou-nos
o essencial do seu pensamento. Afinal de contas, mesmo em
democracia a viúva de Lenine pode ser uma qualquer.
ANTÓNIO COSTA POLÍTICA DEMOCRACIA SOCIEDADE TAP EMPRESAS ECONOMIA
COMENTÁRIOS
Ediberto Abreu: Mas há um personagem que também se pode considerar
central e mitómano, o PR Carlos
Chaves: Caríssimo Paulo Tunhas,
simplesmente genial, talvez por desta vez o ter lido num final de dia
especialmente exigente em termos profissionais, esta sua crónica é simplesmente
genial! Desculpe, mas o receptor tbm conta. Obrigado! “Nem as mais banais
ditaduras, como, entre nós, a de Salazar, lhe chegam sequer aos calcanhares.”
Ah...ah...ah...“Mas, tal como cada um de nós ocasionalmente mente – pense-se
nas mentiras que generosamente praticamos com nós mesmos para ganhar coragem
para pôr o primeiro pé fora da cama de manhã...” Ah...ah... ah...ah... genial!
Obrigado! Vivemos de mentira em mentira... mas estes tipos realmente
exageraram-nas! Fernando
CE: O país bateu no fundo. Onde
estão aa pessoas deslumbradas com o António Costa? Já o viam como um
quase-deus! Ahahahahs. antonyo
antonyo: Como sempre excelente . José Barros: Eis um texto informado e
informativo, escrito com rigor e que desmonta corajosamente a razão pela qual o
PS toma o País como o seu quintal e o governo trata os portugueses como
atrasados mentais: quando Galamba afirma que foi a CEO ou ex-CEO da TAP que pediu para participar na reunião
secreta dos deputados e governo é a plena menorização dos cidadãos. E
quando diz que industriar depoimentos é
comum na AR é ignorar e insultar a democracia e o Estado de Direito. Este
Governo tem dito e feito coisas miseráveis. Lamento dizê-lo, mas é a verdade. E
fá-lo com a arrogância e o despudor que Medina demonstra diariamente. João
Ramos: Artigo que espelha bem a razão
do embuste em que este país vive, a mente viciada do PM e a falta de vergonha
de todos os seus seguidores… volto à pergunta que já me fiz várias vezes, será
que na verdade não haverá ninguém sério e com vergonha dentro do PS??? Juventino
Fontes > João Ramos: Havia o Seguro!... João Ramos
> Juventino
Fontes: Pois talvez, mas já é tempo de voltar a mostrar que o é! Juventino
Fontes > João Ramos: Sozinho, não consegue! miguel Baptista > Juventino
Fontes: Pois, não. Está tudo minado pela extrema esquerda. Antonio
Sennfelt: Cada vez tenho
maiores dúvidas de que o regime cá vigente seja uma verdadeira democracia!
Aliás, tendo em mente que os principais instrumentos da nossa actual governação
são a mentira, a hipocrisia e o cinismo, interrogo-me se de facto não vivemos
num regime mendiciocrático? PS: do latim mendicium. Jose Augusto Mira
Pires Borges: Muito bom. Costa é um político, nunca confundir com um
Estadista. Algo de que ele sequer se aproxima. Político é assim, mente todos os
dias, engana até poder, atraiçoa todos os que lhe façam sombra. E nada se
importa com o povo, importa-lhe, acima de tudo, manter o tacho, seja a que
custo for. Exactamente o contrário de um Estadista, que antes de si, preocupa-se
com o povo que serve. Costa serve-se do povo para si e para o PS se governar à
nossa custa. antónio
carvalho: E a
"verdade" continua mais forte anda. Estejamos atentos. joão Melo: A frase que aqui se atribui a
António Costa tem uma gralha. Diz assim - "não dos devemos preocupar com a
verdade", quando imagino que quereria escrever - "não nos devemos
preocupar com a verdade". E se for
assim gostaria de saber quando foi que ele disse isto, e em que contexto,
porque isto raia já a loucura. Se alguém
souber mais sobre este assunto por favor escreva aqui. Obrigado Carlos
Dias > joão Melo: É uma frase atribuída a
Sócrates O filósofo grego Não o político português abjecto Sócrates dizia que
não nos devia preocupar a verdade mas sim olhar para o profundo de nós próprios
É uma forma de o autor reconhecer que o António Costa está apenas interessado
em si próprio e que a verdade é secundária para e joão Melo > Carlos Dias: <<Há poucos dias, Costa
proclamou que “não nos devemos preocupar com a verdade”. Numa interpretação da
frase que não é, obviamente, aquela que ele pretendia, revelou-nos o essencial
do seu pensamento>> Isto é o que está escrito no artigo. Diz claramente
que Costa proclamou, por isso não entendi a sua referência ao filósofo
Sócrates. Acredito que a frase seja de Sócrates, mas gostaria de entender o
contexto em que o PM a reproduziu, e com que intuito. Será que António Costa
estava a falar de Sócrates, e aproveitou para nos brindar com a sua erudição de
pacotilha? Não entendi.... Obrigado pela explicação. Carlos Dias > joão Melo: É um daqueles casos em que o primeiro ministro meteu
os pés pelas mãos e neste caso deu um tiro no pé O homem nem falar sabe e
depois às vezes sem querer diz o que pensa sem o querer efectivamente dizer joão Melo > Carlos Dias:
Hahaha, mas o
homem tem piada, lá isso tem. :-) joaquim zacarias: O que distingue Stalin de
Costa, é que aquele era russo de origem ucraniania, e este é português de
origem indiana. bento
guerra: Depois do
"simplex" socrático, o Costa é mais do tipo "mentira na
hora", nem as deixa arrefecer
Hipo Tanso: Excelente, PT! (não confundir com a associação de
criminosos que actualmente governa o Brasil)
Sérgio:
Excelente. Um
escroque parasita promovido a pm de república das bananas pobretanas e
atrasadita e na cauda da Europa e OCDE! Só mesmo neste atraso de sitiozeco
repleto de inaptos e iletrados........
Manuel Martins: Para mim, a política vive muito da mentira, ou, vá lá,
das meias verdades. Nenhum político sobrevive muito tempo se for completamente
honesto e verdadeiro. A mentira é algo inato às relações em sociedade e
família, para preservar o mínimo de relações de convivência, sob pena do
ostracismo completo. A diferença está assim no objectivo da mentira: Se o
político mente porque isso irá proteger ou beneficiar a comunidade, ou se
o faz para se proteger, beneficiar a si ou o s seus, e prejudicar a
comunidade . Infelizmente a maioria das vezes os governantes mentem, fazem
teatro, omitem, mas tudo em seu benefício ou dos seus, sem consideração pelo
bem público... Ana Torres: Principalmente os media que
sempre andaram com António Costa ao colo, chamado de o
"habilidoso", visto como uma virtude que só demonstra o nível
rasca de um país, que da mesma forma valoriza a
"chico-espertice" dos portugueses, portanto não nos podemos surpreender
por ser governados por um bando de gente incompetente e mentirosa que nos
colocou no mesmo nível da Roménia. Joaquim Lopes: A linha entre um poder
autoritário e uma democracia, é muito ténue, de forma que se torna abusivo,
chamar democracia a este regime, pior mil vezes que o Estado Novo, basta ver a
AR, um antro de gente sem formação, começando pelo Presidente, outro cínico, vindo
da LCI, que manda na AR como a Assembleia da pateada, como as óperas do S.
Carlos quando não agradavam, com a excepção do Chega e com PSD a caminho da
extinção comandado ainda por Rio, o dos "telhados de vidro". Este
regime desde 1974, levou à degradação de tudo o que o Estado deve aos
cidadãos, na Justiça, na Saúde, nas infraestruturas e na economia e empresas do
aparelho produtivo destruídas em 1974/1975 por Soares e PCP há 48 anos, até ao
bater no fundo pelas mentiras de Costa, um cínico com um sorriso que se percebe
quando mente, um cínico sem escrúpulos que destruiu o que restava de um país em
ruínas, não deixando pedra sobre pedra, apenas que quando sair não sairá como
Salazar saiu, sem nada nas algibeiras e sem património que valesse, depois
da desgraça da I República destruída pelas maçonarias e pelos
"democráticos" de outro Costa, este, com serviços de terror e
assassinatos, até de alguns chamados "heróis "da Rotunda,
arrebanhados ao "lumpen" de Lisboa, a carbonária e a formiga branca,
hoje comparável às FP 25 e ao PRP (BR), com direito a comenda. Vergonha! João
Floriano: “não nos devemos preocupar com a verdade” e acrescentou: «Deixem essa preocupação
para nós, PS, porque todos os dias sabemos inventar boas verdades . Afinal o
que é a Verdade? O PS cria a sua própria Realidade e consequentemente a sua
Verdade. Não desgastem os vossos neurónios a preocuparem-se com uma coisa que
não existe. E muito menos ainda vale a pena preocuparem-se com a Mentira.» Lápis Afiado: Muito bem, análise fantástica. Américo Silva: Dizia um amigo para outro: -
Olha ali um pombo morto. O outro olhava para o céu: - Mas onde, que não o vejo. Deixemos a TAP, o excelente reverendíssimo
professor desde há décadas se tem dedicado a estudar a Pachamana, o papa também
é sensível ao tema, e não perde oportunidade de introduzir a sua ferramenta
crítica no assunto. Glória à Academia.
João Floriano > Américo Silva: Excelente Américo Silva. Caracteriza exemplarmente o
momento que vivemos: o pombo já morreu mas continuamos todos feitos parvos a
olhar para o céu como se ele ainda lá estivesse. O governo de António Costa já
era, não se discute ali nada que traga progresso para o país, a Assembleia está
ocupadíssima com as comissões de inquérito, com a visita de Lula, com as
chamadas de ministros ao Parlamento e pouco mais. O Presidente da República só
fala com o espelho: «Espelho meu, espelho meu, há algum PR mais entertainer do
que eu?» AL
MA: Como sempre brilhante, nas suas análises.
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