E a sua especificidade de “chamada de
atenção” para o que se supõe de interesse, em termos de afectividade ou de
ordem justiceira… Será que funciona mesmo, ou não passa de fogo-de-vista de
momentâneo efeito? Ou de efeito mínimo, já que os 364 dias restantes ou 365 aparentemente
não contam no cômputo amável ou justiceiro…
Dia Mundial da Propriedade Intelectual: a censura e os
direitos de autor
Defender a alteração de obras
literárias em prol das minorias não é mais do que aceitar uma atitude
paternalista perante um vasto universo de leitores.
GONÇALO
CEREJEIRA NAMORA
Advogado, Associado Cerejeira Namora, Marinho Falcão
OBSERVADOR, 26 abr. 2023, 06:066
Temos
assistido a um movimento crescente de alteração de obras literárias com o objectivo
de eliminar qualquer “linguagem potencialmente ofensiva”. Em terras
anglo-saxónicas, esta tarefa tem sido desempenhada pelos sensitivity
readers, pessoas cuja missão é analisar obras literárias e aplicar este
conceito subjectivo de “eliminar linguagem potencialmente ofensiva”. Os ventos
não têm soprado com especial fulgor do lado de lá do Atlântico e o fenómeno
(ainda) não assume especial relevo em Portugal. Mas, e se tal acontecer?
Em
Portugal, a legislação é clara quanto à possibilidade de alterar e modificar
obras literárias que ainda não caíram em domínio público: exige-se que o autor,
os seus herdeiros ou os titulares dos respectivos direitos de autor autorizem
previamente as alterações ou modificações das obras. Nessa medida, quando
uma obra literária protegida por direitos de autor é modificada sem autorização
do respectivo autor, estamos perante uma violação de direitos de autor com
consequências jurídicas.
No
que respeita às obras literárias que integram o domínio público, a questão é
relativamente simples, uma vez que a sua utilização é livre, e, portanto,
qualquer pessoa poderá adaptá-la e modificá-la. Estamos, neste caso, perante
uma nova criação intelectual, as denominadas obras derivadas.
A
questão adensa-se quando trazemos ao debate o conceito de “fair use” e
utilização livre de obras protegidas por direitos de autor. Será possível
alegar que estas alterações se enquadram no conceito de “fair use”? O
conceito de “fair use” permite a utilização de uma obra protegida por direitos
de autor sem a autorização do seu titular para fins educacionais, científicos,
informativos ou críticos. No entanto, o “fair use” não é uma justificação (nem
um pretexto) para modificar uma obra literária sem autorização do autor
original, principalmente se a alteração afetar a integridade da obra original.
Feito
este breve enquadramento legal, impõe-se, sobretudo, uma reflexão crítica
sobre este novo movimento. As
modificações de obras literárias com o objectivo de remover referências como as
que temos assistido podem alterar a representação de personagens, a história ou
o enredo, e no limite, a própria mensagem que o autor pretende transmitir com a
sua obra. Não há como negar que este tipo de modificações pode censurar as
ideias e o pensamento que o próprio Autor quis transmitir com a sua obra. E,
também parece evidente que, em última análise, esta nova tendência poderá
beliscar a liberdade individual do próprio leitor.
Com
efeito, não estarão os sensitivity readers a impor padrões para (alegadamente)
promover a diversidade e inclusão? Padrões esses que, em última análise, não
são mais do que mecanismos de censura? Defender a alteração de obras literárias
em prol das minorias não é mais do que aceitar uma atitude paternalista perante
um vasto universo de leitores. De facto, apenas pode defender-se esta nova
tendência partindo-se da premissa de que toda a população é inculta ou
impreparada para interpretar e contextualizar determinada obra literária, para
ter sentido crítico ou mesmo discernimento para destrinçar a fantasia e o
fantástico da realidade.
Afinal,
a literatura é uma forma de arte que reflecte a sociedade em que vivemos. E
não restam dúvidas de que a sociedade se adapta à realidade e evolui. Como tal,
é importante que esta arte possa ser apreciada e estudada tal como foi
originalmente escrita, sem qualquer interferência ou modificação, mas sempre
com um sentido crítico. Qualquer tentativa de alterar uma obra literária,
removendo ou modificando descrições físicas, referências étnicas ou quaisquer
outras expressões potencialmente ofensivas terá seguramente consequências
nefastas no futuro. A bem da liberdade de expressão e da liberdade de
pensamento, a arte não pode ser censurada.
POLITICAMENTE CORRECTO SOCIEDADE CENSURA DIREITOS DE AUTOR TRABALHO ECONOMIA
COMENTÁRIOS:
TIM DO Á: Excelente artigo. Mas contra isso parece-me que o único partido em Portugal
que combate esse flagelo é o Chega. Por essa razão, a esquerda liberal censória
o combate tanto, apelidando os conservadores tradicionais de radicais, quando
os radicais são eles. Mas será que vão enganar o povo durante muito mais tempo? Maria LizTIM DO Á: Vão. O povo não sabe, não quer
saber e tem raiva a quem sabe. E mesmo que refile será sempre no café com os amigos e
tal. TIM DO Á: A revolução comunista em marcha
no Ocidente a todo o vapor, sem quase oposição, a não ser da direita
conservadora que, para tentarem eliminá-la, tentam convencer o povo de que é
radical. Carminda
Damiao: Alterar as obras
literárias é um absurdo. Ark Nabul: A alteração das obras visa
normalizar os "novos" valores e torná-los dogmáticos e levar as
pessoas a acreditar na existência de estruturas de poder. Deste modo, as Elites bem
pensantes podem apresentar-se como a solução salvadora para um
"problema" que eles próprios inventaram. As estruturas de poder são,
neste mundo secular, o novo Diabo a ser combatido pelas Elites, o novo Clero. Nesta luta contra o
"mal", caberá ao plebeu calar-se e obedecer. Pobre Portugal:
Estranhos e
perigosos estes tempos. Onde se tem que argumentar, para além do razoável, que
2+2 são 4.
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