Como um disco rachado é já a referência
à questão da visita de Lula na tal “data histórica nossa” e os seus conceitos ignaros
de presunçosa harmonia anti belicista, e desonesta “desarmonia” na reprodução
dos feitos genocidas da autoria russa. Mas é sempre um prazer ler as páginas
morais e filosóficas de Paulo Tunhas.
Lula em Portugal
Lula tem todo o direito a desejar uma
nova ordem mundial. Um direito que ele não tem é o de destruir as distinções
básicas sobre as quais assentam as nossas capacidades de emitir juízos
políticas.
PAULO TUNHAS, Colunista
do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 20 abr. 2023, 00:192
Até às declarações em Pequim sobre a
invasão russa da Ucrânia, não prestei atenção nenhuma à notícia da ida de Lula
à AR no dia das comemorações do 25 de Abril. Sem dúvida que o homem não se
recomenda excessivamente e que a sua presença ali é divisiva, além de acentuar
o papel da esquerda nas comemorações. Mas não foi mais ou menos sempre assim? E
as pessoas não se habituaram a considerar isso normal, mesmo que não seja? Há
mais coisas em que pensar.
O problema foram as declarações de
Pequim. Lula referiu-se à Ucrânia
e à Rússia como se não houvesse distinção entre agredido e agressor. E mais: acusou os Estados Unidos e a Europa de
estarem por detrás da guerra. É verdade que, uns
dias depois, com o presidente da Roménia, lá se permitiu criticar a invasão
russa. Mas fê-lo sem o entusiasmo e a convicção das declarações de Pequim.
Estas eram, de resto, coerentes com as preferências políticas de
Lula, grande admirador da Venezuela, da Nicarágua e de Cuba, todos regimes
apoiantes de Putin. Mas que
Lula seja adepto de uma “nova ordem mundial” oposta à das democracias liberais
– e não apenas Lula como uma boa parte do PT, a começar pela sua presidente,
Gleisi Hoffmann– é uma coisa. Apesar de tudo, ele está longe de ser o
único “perfeito idiota latino-americano”, para citar o título de um livro
célebre. Outra coisa diferente – e muito mais grave – é o grau de cegueira que
lhe permite recusar o óbvio do óbvio: a distinção clara entre o
agressor e o agredido, bebendo o cálice da propaganda russa até à última gota.
Foi esse aspecto que Paulo
Rangel, pelo PSD, denunciou com as palavras certas e que a deputada socialista
Djamila Madeira procurou branquear com o estapafúrdio argumento de que Lula
visava apenas, como todos nós, a busca da paz. Como se a preocupação com a paz
passasse pela obliteração da distinção entre agressor e agredido. Não passa,
não pode passar.
Mais. Se se elimina a distinção, tudo
daí se pode deduzir, sem controle algum. A desonestidade e a mentira pura e
simples tornam-se a única moeda corrente. Todas as falsificações da história se
tornam possíveis e tendencialmente inevitáveis. Nada pode servir como
pedra-de-toque para a verdade.
Lula tem todo o direito a desejar uma
nova ordem mundial, por mais terrivelmente nociva que ela seja para os
habitantes deste bom velho planeta. Um direito que ele certamente não tem é
o de destruir as distinções básicas sobre as quais assentam as nossas
capacidades de emitir juízos políticos.
Tenciono ouvir o seu discurso na AR. E,
desejando que ele não recaia nas barbaridades de Pequim, espero que, caso o
faça, receba uma resposta com a devida firmeza por parte de alguns deputados, que lhe façam notar que a apologia do
crime não é bem-vinda naquele lugar.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO BRASIL
COMENTÁRIOS:
João Floriano: Como filósofo, Paulo Tunhas conhece os inúmeros casos em que a Política se
sobrepõe à Ética. Sendo a Política a arte do possível, está no oposto à Ética
cujos valores são bem mais sólidos e permanentes. Gostei sobretudo da expressão
«alguns deputados» dos quais Paulo Tunhas espera uma resposta assertiva à
altura. Isso significa que há outros deputados que vão aplaudir Lula, até
porque bebem água na mesma fonte e outros que se manterão em silêncio em nome
do sentido de estado e que darão razão ao ditado popular de que quem cala
consente. Calculo que o discurso de Lula se ficará pelas banalidades do
costume: os países irmãos, a língua e tudo no geral inspirado no Fado Tropical
do Chico Buarque. Não creio que cometa a grosseria de nos vir ofender com a
propaganda pró Putin. Uma coisa é indesmentível: a qualidade do convidado
está de acordo com a qualidade de quem fez o convite e com o momento estranho
que estamos a viver. Não ouvi o discurso de António Costa no jantar de
aniversário, mas pelo que fui lendo por aqui, o PS está num frenesim de
luxúria de esquerda como antes nunca visto. Logo, qual a admiração do convite a
Lula? É apenas mais um sintoma da enorme doença que atinge o país e que se
chama costite aguda. E a doença ameaça tornar-se crónica. Carlos
Quartel: Essa ideia de discurso na sessão do 25A parece ter
sido de Marcelo que agora se mantém caladinho. Quanto a Lula, é um
sindicalista, apoiado , por décadas, pelo Kremlin e foi, toda a vida, um
adorador do paraíso na Terra, da pátria dos trabalhadores, como o são todos os
velhos comunistas. É um fenómeno mais religioso do que racional, e não
conseguem deixar de digerir todas as narrativas que venham da Rússia, a adorada
pátria. Temos cá o PC, com a mesma postura e vamos encontrá-la
em todos os comunistas de 70 ou 80 anos. A isto junta sérios problemas
com a corrupção, como o mensalão. os filhos com grandes propriedades, etc
O erro não é dele, foi de quem o convidou e , em última análise, dos
brasileiros que não conseguiram arranjar melhor do que Lula e Bolsonaro. Também
diz muito de um povo, que insistimos em engraxar e que não perde uma
oportunidade de nos enxovalhar.. Ver as centenas de anedotas sobre
portugueses, em que somos sempre os atrasados e eles os civilizados e
cultos .... .... Pedro
Almeida: O Lula é o
retrato do Brasil Alexandre Barreira: Pois. É pá. Já chega de Lulas. Já enjoa. Uns
"jakinzinhos"". Pra variar....! Fernando CE:
Nem mais. E tudo
partindo de um, pelo menos , analfabeto político como Lula. Face à minha idade
(de sexagenário), lembro-me de ouvir as bacoradas e os discursos ignorantes da
maioria dos homens do MFA, sem esquecer o discurso tresloucado de Vasco
Gonçalves num célebre discurso em Almada. Estávamos num “ manicómio em
autogestão”. E até existiram figurões do poder que, para além de tentarem adiar
as primeiras eleições livres em 25 de abril de 1976, depois do PS as ter ganho,
terem vindo dizer que o povo não quis votar no PS mas no “socialismo”… Rui Lima:
Os donos do 25 de
abril teriam convidado o Estaline se ele ainda fosse vivo . Cisca Impllit:
Muitíssimo bom
texto e simples de compreender.
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