Surgiu, com a “distracção” da NATO, que
não acudiu a tempo à Ucrânia, um herói que hoje a NATO “venera” (só podia!),
mas não se apressa, mesmo assim, em
receber nas suas fileiras, temerosas da reacção putinista. E nós por cá
discutimos, de papo cheio, protegidos – por enquanto – com o sacrifício
ucraniano, e nem sequer o referindo… Talvez por vergonha…
A invasão russa da Finlândia é certa?
Ao
contrário do que nos têm tentado convencer muitos pseudopacifistas, a Rússia
não invade países porque eles estão bem armados. Pelo contrário, invade e anexa
países vizinhos mais fracos e isolados!
BRUNO CARDOSO REIS Historiador
e especialista em segurança internacional
OBSERVADOR, 31 mar. 2023, 00:1927
Poderá haver quem me acuse de
alarmismo. Na hipótese remota de algum finlandês ler esta coluna peço desde já
desculpa pela ironia que lhe dá título. Mas a Finlândia parece estar –
felizmente – à beira de ver terminado o seu processo de adesão à Aliança
Atlântica. O parlamento húngaro deu a sua indispensável aprovação esta semana.
O parlamento turco acabou de o fazer ontem. O que irá acontecer a seguir e que
conclusões tirar? A acreditar nas teses de alguns a invasão russa deveria ser
certa e iminente. Se não acontecer, como espero, veremos se se tiram as devidas
conclusões.
A NATO é uma aliança voluntária
Uma
primeira conclusão fundamental é que, ao contrário do defunto Pacto
de Varsóvia, comandado pela
igualmente defunta União Soviética, a NATO é uma organização de adesão
realmente voluntária, e em que cada Estado tem realmente um voto e um veto.
Isto significa que só com o acordo de todos é possível a adesão de novos
membros à Aliança Atlântica. Os EUA têm muito peso por serem de longe quem mais contribui para
a defesa colectiva, mas estão longe de poder simplesmente impor a sua
vontade. Isso ficou
evidente, aliás, em 2008, quando vários Estados europeus vetaram
a proposta americana de adesão da Ucrânia.
Esta foi uma de múltiplas tentativas de acomodar as sensibilidades russas e
chegar a um compromisso negociado, pacífico com Moscovo. Outra
foi o facto de, até à anexação russa da Crimeia, em 2014, não haver tropas de
outros aliados nos novos membros da NATO. A
adesão dos antigos membros do Pacto Varsóvia foi apenas uma forma de lhes dar
uma robusta garantia de segurança colectiva e de os ajudar a reforçar os seus
meios de defesa próprios para dissuadir agressões. E ainda há quem venha falar
de dilema de segurança russo!
O dilema de segurança e o tango
Haveria
muito que dizer a respeito de fachadas académicas para teses duvidosas, mas
para já basta insistir em dois pontos fundamentais sobre o conceito de dilema de segurança.
O primeiro é que, como o nome indica, é um dilema. Um Estado
arma-se para se defender, uma vez melhor armado pode decidir atacar, e outros
Estados não podem estar seguros sem também cuidarem de se armar melhor. Ou
seja, este dilema, como qualquer outro, não têm uma solução simples. Não é uma solução séria para um
eventual dilema de segurança russo ceder sempre à Rússia ou desarmar
unilateralmente o Ocidente. O
segundo é que, tal como no tango, tem de haver pelo menos dois num dilema de
segurança. Ou seja, ele não é exclusivo do Kremlin. Na verdade,
os países vizinhos da Rússia têm muito mais razões objectivas – pelo volume de armamento russo e pelo seu
repetido uso agressivo – para se sentir inseguros. A resposta
racional a isso é procurar reforçar as suas defesas e as suas alianças. Ou
seja, o tão falado dilema de segurança não impede ou desaconselha o alargamento
da NATO, é até fundamental para explicá-lo.
Lamento
insistir no óbvio, mas a desinformação russa é persistente: nunca
houve o indispensável acordo de todos os membros da NATO para a adesão da
Ucrânia. Isto não é uma questão em aberto. É
um facto histórico. A
Ucrânia nunca sequer viu iniciado o processo de adesão que está agora quase concluído
para a Finlândia. Mais, em 2014, quando a Rússia ocupou e anexou a Crimeia, a
Ucrânia até tinha na sua constituição – desde 2010 – o compromisso com a
neutralidade e com não aderir a alianças como a NATO. Esta cláusula só foi
revogada em dezembro de 2014. Portanto a propaganda russa de procurar
justificar a invasão da Ucrânia com a ameaça temível que a sua adesão à NATO
representaria não passa disso mesmo, propaganda.
Infelizmente alguns dos nossos colunistas– de Boaventura Sousa Santos a
Miguel Sousa Tavares – parece que acreditam e difundem essa versão. Até
alguns líderes mundiais parecem atribuir algum mérito a esta tese russa, temos
agora um verdadeiro teste da mesma.
Uma invasão iminente?
Em suma, se a propaganda russa relativamente às razões da invasão da
Ucrânia for para levar a sério, a invasão russa da Finlândia é inevitável e
iminente. Veremos o que acontece. Nunca estou
absolutamente certo de nada relativamente ao futuro, ninguém de bom senso está.
De Putin pode-se esperar quase tudo. Apesar disso, e tendo em conta o
histórico de acumulação de poder e riqueza de Putin, dos seus familiares e
amigos, bem como o trabalho que teve para garantir que poderá manter-se no
poder até 2036, não vejo razões, para já, para acreditar que vá dispersar
forças militares ou deliberadamente provocar uma Terceira Guerra Mundial
potencialmente suicida. Mas claro
que se a adesão à NATO é que é o cerne do problema russo, e não uma Ucrânia
pluralista e pró-ocidental, então Putin deveria concentrar as suas forças,
mesmo enfraquecidas, não a combater ucranianos, mas sim os finlandeses, antes
que seja tarde demais.
É
claro que, até ver, a Rússia não tem invadido países porque eles podem aderir à
NATO, ou porque efectivamente aderiram à Aliança Atlântica. Não
invadiu a Polónia. Não invadiu os Bálticos. Porquê? Porque, ao contrário do que
nos têm tentado convencer muitos pseudopacifistas, a Rússia não invade países
porque eles estão bem armados com o equipamento militar ocidental avançado,
porque fazem parte da NATO, porque beneficiam da sua garantia de segurança e
defesa colectiva. Pelo contrário, a Rússia de Putin invade, conquista e anexa
países vizinhos mais fracos e isolados! É por perceberem isto mesmo que suecos e finlandeses
decidiram abandonar uma longa história de neutralidade. Os suecos e
finlandeses, entre os povos mais educados do mundo, sabiamente procuram a
segurança da Aliança Atlântica porque, na sua grande maioria, perceberam a
verdadeira natureza da ameaça duma Rússia putinista, mais agressiva e
imprevisível do que a Rússia soviética. Parece-me,
por tudo isto, felizmente pouco provável que a Finlândia seja invadida. Outra
coisa são ataques híbridos russos, de que aliás o país já foi alvo frequente no
passado. Não é por acaso que fica em Helsínquia o centro de excelência da União
Europeia para conflitos híbridos.
Veremos
o que acontece. E veremos o que dirão então estes líderes eminentes e estes
eminentes comentadores. Se a Rússia não invadir a Finlândia na iminência de
aderir à Aliança Atlântica, espero ver estes líderes e comentadores a retirar
publicamente a conclusão lógica. Afinal
o problema não era a NATO! Isto, claro,
se não estiveram – como insistem – simplesmente a reproduzir acriticamente
propaganda russa e a criar falsas equivalências em nome de um suposto rigor.
Vou ficar a aguardar, mas confortavelmente sentado, e não por muito tempo.
RÚSSIA MUNDO NATO FINLÂNDIA
EUROPA
COMENTÁRIOS:
Filipe Costa: Os Russos, são 145 milhões, estão a matar os jovens numa guerra que não
interessa a ninguém, a sua pergunta é nada. Estamos bem entregues a malucos, os
governantes governam-se e eu pago. Venha a eutanásia. José Miranda: Excelente artigo: curto e
certeiro. Paula
Barbosa: Não gosto nada de ver os comentadores dizerem que a
Ucrânia vai DERROTAR a Rússia. Isto quase pressupõe que entraram em guerra.
Será mais certo usar expressões
como Expulsar a Rússia, Recuperar o seu território, voltar à sua Soberania. É
uma expressão humilhante, e quando se lida com broncos ou animais ferozes, não
se deve humilhá-los, pois reagem à tarrascada como os touros malinos, como se
diz aqui no Alentejo, minha terra de reforma. Carlos Dias > Paula Barbosa: A Ucrânia não vai derrotar a
Rússia certamente mas vai libertar os Russos e o mundo de um tirano execrável e
com alguma sorte de um conjunto alargado de discípulos que o acompanham
Ricardo Lacerda Dias: Assim mesmo. É preciso identificar todos os que são
equívocos em matérias de liberdade e independência. E nenhum é ingénuo. Andrade QB: A solidez da lógica e clareza
de exposição deveriam ser suficientes para que todos os que aproveitam a
liberdade para apoiarem a versão de ditadores ganhassem alguma vergonha.
Infelizmente, mais logo lá voltarão apoiantes dos invasores fazer a sua defesa
nas televisões.
Pedro M.: A tese é tão flagrantemente
estúpida que os autores só podem estar a agir voluntariamente (ou a soldo?) em
prol da propaganda Russa. Não sendo isso, ficam em dúvida as qualidades
intelectuais de quem a defende. Fernando Fernandes:
Excelente análise
como as a que sempre nos tem habituado. Sobre a Rússia espero verdadeiramente que se
transforme numa outra Coreia do Norte onde em vez de comida à mesa a população
admire aquelas ridículas paradas militares e o seu querido líder anão de corpo
e mente.
Carlos Chaves: Caríssimo Bruno Cardoso Reis, fez uma boa escolha ao
ter decidido “sentar-se confortavelmente”, pois os comentadores de que fala,
arranjarão uma outra falsa versão que justifique a anterior que andaram a
propagar… esta gente não se recomenda! Obrigado pela a sua análise baseada em
factos e não em teorias ao serviço sabe-se lá de quem, feita por quem se
aproveita do espaço público e do mediatismo que lhe dão! Francisco Almeida:
Bem observado.
Não há que esperar qualquer invasão da Finlândia mas apenas um novo tema para a
propaganda russa. A desnazificação, a protecção das populações de língua ou de
origem russa outra qualquer. E os Boaventuras logo mudarão de discurso. O futuro, especialmente na
Ucrânia, é como diz imprevisível mas Putín já conseguiu o seu objectivo.
Passar-se-ão ainda muitos anos antes da Ucrânia volte a ser uma sociedade que
cause inveja aos russos e lhes inspire ideias de revolta. E, se o fôr, será
claramente por uma ajuda ocidental massiva, que os russos nem esperam nem
desejam. Por isso não ficaria surpreendido se se chegar a um acordo que
replique Minsk 2.
bento guerra: Mas, segundo uns generais que falam nos telejornais, a
Rússia não vai ser derrotada pela Ucrânia na "contra-ofensiva" de
Verão? E a seguir, ia meter-se com a Finlândia, um país proto-Nato? Ricardo Lacerda Diasbento guerra: Generais vermelhos NLB >bento guerra: Homem, não desvie a conversa.
Sabe muito bem o que andam os seus amigos majores-generais Carlos Branco e
Agostinho Silva a dizer desde o início da invasão. E também sabe muito bem o
que você próprio passa a vida a papaguear aqui. Já está preparado para defender
os seus amigos russos quando começar a operação especial na Finlândia? Não
precisa, porque não vai acontecer. O seu amigo Putin só se mete com os fracos e
isolados. bento guerra > NLB: És tão ignorante ,que até lhe
chamas Agostinho da Silva,.E sabes em que clube joga? NLB >bento guerra: Agostinho Costa. Estás a ver
como reconheceste o teu amigo putinista mesmo com o apelido trocado? Essa
figurinha rastejante, verdadeiro réptil que vai aos noticiários despejar o seu
veneno comunóide. Percebe-se logo a vossa afinidade. Eduardo L: Assumindo que concorde que a
guerra não pode durar para sempre, que o ocidente não vai pôr tropas no terreno
e que a Rússia não vai voltar às fronteiras de fevereiro de 2022, pergunto o
que sugere para se acabar com o conflito? Penso que neste momento em que parte
da Ucrânia está completamente destruída e milhares de jovens de um lado e outro
morrem todos os dias, a paz deveria ser o objectivo mais importante. Mas
comentar no conforto da paz no ocidente, sentado ao computador e a beber um
cafezinho é mesmo muito fácil. Não sou nem deixo de ser 'pseudo pacifista' (??)
mas penso que incitar a guerra à custa de vidas alheias, neste caso dos
ucranianos, não me parece muito honesto. PS: sugiro que tenha uma
conversa com o Prof Mearsheimer da Universidade de Chicago - mas sem lhe chamar
nomes!
João Alves > Eduardo L: Tendo em conte as premissas de
que parte e o objectivo prioritário que defende, a paz, o que está a defender é
rendição incondicional da Ucrânia às exigências do imperialismo mafioso de
Putin
José Tomás > Eduardo L: Essa tese encalha num detalhe. Os ucranianos querem
combater e estão a combater. E, enquanto for assim, o Ocidente tem a obrigação
de os ajudar. Joaquim
Lopes: A questão da Crimeia foi o facto mais relevante que levou a Rússia apoiada
pela RPC a se tornar atrevida, a História não justifica nada, como querem fazer
crer os ressabiados como Sousa Tavares, velho e a destilar ódio quando
contrariado. A Alemanha, foi um dos países
que apenas olhou para si, Merkel afinal ainda era parte da elite da Alemanha de
leste e foi um engano de casting de Helmut Kohl, o bom Chanceler cristão e
conservador, mas Merkel traiu o pai político com as alianças com a Rússia
que se comporta com um novo estalinismo, Stalin é o pai de Putin, como
torcionário de profissão e de baixa patente, tornou-se num indivíduo das elites
do poder na Rússia como no tempo do PCUS, riqueza e luxo para os do topo e
miséria para um povo que gosta de ser tiranizado e admira a tirania de
assassinos, na esmagadora maioria e na crença da mãe Rússia, Dostoievski
conhecia bem a natureza humana e no caso, bem a natureza chorosa do povo russo. Sobre o caso, a NATO falhou à
Ucrânia e é bom que se perceba que a Rússia nunca invadiria a Ucrânia se não
fosse autorizada pela RPC, sendo a Rússia hoje um seu satélite com tudo o que
necessita. Maria Clotilde
Osório: Não entendo muito de geoestratégia mas, tudo indica, a Rússia vai tentar
continuar a expandir a sua influência para sul em direcção às antigas
repúblicas socialistas Moldávia, Azerbaijão, Cazaquistão e, quiçá, Arménia. Com
a neutralidade chinesa e a garantia de apoio à anexação de Taiwan. Tristão: Mas o maior país do mundo com o
maior arsenal nuclear do universo e arredores tem medo que algum país o
invada?! Claro que o problema nunca foi esse, a questão sempre foi territorial,
trata-se simplesmente de anexação de parte da Ucrânia, objectivo esse que a que
se somava a implantação de um regime fantoche pro-Kremlin - esse parece que
teve o resultado inverso.
vitor gonçalvesTristão: Mas se os Russos nem conseguem
derrotar os Ucranianos que á partida nem tinham Exército, como podem pretender
originar novos conflitos; estão exaustos no momento. E ao contrário do que
dizem alguns comentadores acerca das potências nucleares não poderem ser
derrotadas o facto é que foram: URSS no Afeganistão e U.S.A no Vietname.é um
gigante com pés de barro com um PIB idêntico ao da Coreia do Sul ou da Itália.
Têm recursos mas não tecnologia para os poder transformar!
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