domingo, 9 de abril de 2023

Uma canseira, as mudanças

 

E a vergonha já pouco existe. Na manutenção nos aguentamos. O tempo da “Pedra Filosofal”, que nos fez chegar, afinal, ao que descreve Paulo Tunhas, já passou à História… Fraternidade é a pedra de hoje, mais filosofal ainda… ou puramente angular.

O que é que estão ali a fazer?

Em que é que o PS se tornou? A resposta é fácil: um magma deletério que segrega mediocridade. Vem a descer, o magma, a toda a velocidade por aí abaixo, dando cabo de tudo por onde passa.

PAULO TUNHAS, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 4 de Abril de 2023

O que é que aquelas senhoras e senhores ainda estão ali a fazer? “Aquelas senhoras e senhores” são, obviamente, os membros do Governo, que é o “ali” em questão. Todos os dias a pergunta pode surgir, por uma razão ou outra. E as razões podem pouco ter a ver umas com as outras, já que não há nenhum fio condutor que guie a acção do Governo, se exceptuarmos o interesse do PS e, particularmente, o de António Costa. A irresponsabilidade não obedece aos requisitos de fio condutor, pois, sendo certamente um hábito bem estabelecido entre aquela gente, uma segunda natureza que unifica a sua acção, não é, no entanto, uma ideia. António Costa não tem, de resto, nenhuma: sobre Portugal, sobre o mundo, sobre o que quer que seja. É, para lá da sombra de uma dúvida, uma simples máquina de palavras sem ideias.

Toda esta história da TAP, desde a inversão da sua privatização sob Passos Coelho, exibe esplendorosamente as consequências danosas desta falta de ideias. E a audição, esta terça-feira, na comissão de inquérito da AR, de Christine Ourmières-Widener tornou-as particularmente palpáveis. António Costa, magnífico como de costume, declarou, antes de se ouvir a CEO da TAP, que queria “toda a verdade, doa a quem doer”, até porque “o país nunca fica pior sabendo-se a verdade”, rematando com: “A verdade nunca nos deve preocupar”. (Só um irresponsável, permito-me notar, pode dizer esta última frase. A verdade deve preocupar-nos, até porque é aquilo que tem o mau hábito de nos pôr em causa. A não ser, é claro, que nos estejamos nas tintas para ela.) Ora bem, deve estar muito satisfeito, porque ficamos a saber várias coisas que não sabíamos, embora essas coisas revelem outras que perfeitamente, já conhecíamos. Todas elas têm, directa ou indirectamente, a ver com a absoluta falta de ideias para o país de António Costa e o seu interesse exclusivo na manutenção do seu poder e do poder do PS.

Ficámos a saber, por exemplo, que gente do Governo e parlamentares do PS se reuniram com Christine Ourmières-Widener no dia anterior à sua audição na comissão de Economia da AR, isto é, a 17 de Janeiro. A reunião, ao que parece, foi feita sob o patrocínio conjunto do ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, e da ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes. O facto de a coisa representar um óbvio desrespeito pela comissão parlamentar não incomodou em nada um deputado que esteve presente nessa reunião, Carlos Pereira, um muito expedito defensor da serenidade do pessoal governamental. Gente obediente é outra coisa. Acha tudo particularmente normal e nem lhe passa pela cabeça que essa reunião secreta possa ser interpretada como um sinal de obter informações que permitissem desculpabilizar um ministro ou outro. Ficámos, portanto, a conhecer um caso concreto. Mas não sabíamos nós já muito bem que são esses velhos hábitos do PS e do Governo?

Ficámos a saber também que Fernando Medina, na noite anterior, uma noite de domingo, ao seu anúncio televisivo, em conjunto com João Galamba, da demissão de Christine Ourmières-Widener, havia pedido a esta que se demitisse. Não por razões de incompetência ou afins, mas porque – admire-se a franqueza – era a única maneira de o Governo sair mais ou menos airosamente da trapalhada causada pela indemnização de Alexandra Reis, que, havíamos sabido disso uns dias antes, fora negociada em detalhe com o pleno conhecimento do anterior ministro das Infra-Estruturas, o extraordinário Pedro Nuno Santos, o Cid campeador da “ala esquerda” do PS. E, tal como Pedro Nuno Santos de nada se lembrava antes da sua epifania e da posterior revelação pela CNN de uma troca de mensagens do seu secretário de Estado Hugo Mendes com Christine Ourmières-Widener, também Fernando Medina protesta o mais absoluto desconhecimento de tudo em que pudesse estar envolvido. Mas ficámos terça-feira a saber que o seu ministério tinha (como devia) reuniões regulares com a TAP.

Que pensar? Antes de acusarmos Medina e Pedro Nuno Santos de terem a mentira fácil, ensaiemos um modelo da teoria dos sistemas. Há uma caixa preta por onde entram certos inputs e de onde saem, como resultado, certos outputs. O que se passa dentro da caixa, ninguém sabe. Talvez que o cérebro destes dois ministros funcione assim. Talvez seja uma caixa preta no interior da qual se passam coisas que eles próprios ignoram. É algo que não os qualifica excessivamente para o cargo, mas, pelo menos, evita que os julguemos retintos mentirosos. Vamos ficando a pensar isso. Mas também não é nada de novo. A quantos ministros de Costa, passados e presentes, não poderíamos nós aplicar o modelo da caixa preta? Isso, de resto, explicaria a qualidade dos seus outputs. O próprio Governo como um todo é ele mesmo uma caixa preta, cujos processos interiores são absolutamente opacos aos seus membros.

Só mais um exemplo, porque a ânsia pela descoberta da verdade de António Costa, que nunca conseguiu entrar dentro da sua própria caixa preta, foi terça-feira tão generosamente satisfeita que eu nunca mais saía daqui. O exemplo é o do muito activo ex-secretário de Estado Hugo Mendes, já célebre por ter resolvido, com o seu ministro Pedro Nuno Santos, o problema do aeroporto de Lisboa, de um modo infelizmente frustrado de cima. Então não escreveu ele à CEO da TAP, aconselhando-lhe a antecipação de um voo de Maputo para Lisboa para que o PR chegasse mais breve a Portugal? “Bom dia, sei que isto é um incómodo para ti, mas não podemos mesmo perder o apoio do Presidente da República. Ele tem-nos apoiado no que diz respeito à TAP, mas se o humor dele mudar, tudo se perde. Uma frase dele contra a TAP ou o Governo, e ele empurra o resto do país contra nós. Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior pesadelo”. A ideia do pedido já é boa. Que se lixasse a vida de todos os outros passageiros. Mas a justificação ainda é melhor: vamos tratar bem o volátil Presidente, que ele nos dá um jeito dos diabos para nos aguentarmos no poder. E, como a TAP é nossa, podemos e devemos fazê-lo. Que lindo que é! Mas que não se diga que o princípio geral nos era desconhecido. O Governo e o PS estão-se marimbando para os cidadãos e o seu único e exclusivo propósito – que não exige, repito, qualquer ideia para o país – é a manutenção do poder, custe o que custar. Para evitar pesadelos.

Esqueçamos, por momentos, a hipótese da caixa preta. E se se tratasse mesmo de uma tendência generalizada para a mentira fácil no Governo? Há que reconhecer que há indícios verosímeis dessa possibilidade. Como é que distinguimos a verdade da mentira? Não é preciso qualquer intuição especial para a distinção. Captura-se uma atmosfera e vão-se detectando, tentativamente, acordos e desacordos entre o que é dito e os factos, até se chegar a uma ideia mais ou menos clara e distinta, por mais provisória que seja. Ora, é bem verdade que o sentimento da mentira permeia o que ministros e secretários de Estado vão dizendo. É, somando tudo, uma hipótese verosímil, tão mais verosímil quanto a mentira é uma consequência natural de um ambiente em que nenhuma ideia, excepto a preocupação pelo poder, guia a acção. Mas trata-se, é claro, de uma mera hipótese. Pessoas dadas à benevolência tenderão certamente para o modelo da caixa preta, que dispensa a possibilidade da consciência.

Resta uma pergunta. O que é este PS? Em que é que o PS se tornou? A resposta é fácil: um magma deletério que segrega mediocridade, irresponsabilidade, falta de respeito e delinquência pura e simples. Vem a descer, o magma, a toda a velocidade por aí abaixo, dando cabo de tudo por onde passa. Se na Presidência da República estivesse alguém normal, o primeiro-ministro era demitido e convocavam-se eleições. Pessoalmente, deixei há muito de pensar (e, portanto, de escrever) o que quer que seja sobre o PR. Para ser útil pensar e escrever, tinha de possuir, dadas certas características muito conspícuas da personagem, uma sólida formação profissional numa área que me é alheia. De uma coisa, no entanto, tenho a certeza: sendo ele quem é, a lava vai continuar a descer da montanha, o PS vai continuar a rolar sobre nós e as senhoras e os senhores vão continuar, supimpas, ali.

PS    POLÍTICA    PRESIDENTE MARCELO    GOVERNO    TAP    EMPRESAS    ECONOMIA

COMENTÁRIOS  (DE 47)

JOHN MARTINS: Este excelente artigo, acaba por ser inspirador e leva-nos ao ponto de começar a sentir e ver a inevitável falência institucional do Estado. De A a Z podemos arranjar adjetivação para qualificar todo e qualquer sector institucional, todo e qualquer membro do governo. UM DESASTRE COMPLETO. Onde tudo se resolve por SMS. E chegamos a este grande Pesadelo com Asas, que o grande responsável do imbróglio, depois de o renacionalizar com pompa e circunstância, quer agora, despachar a toda a velocidade. E o irresponsável António Costa quer toda a verdade!..só não vê a dele. Doa a quem doer...e tentam meter PR...que fez um voo de e para Moçambique num avião comercial...quando se sabe que Mário Soares chegou a requisitar...avião para ir ver...TARTARUGAS... Institucionalmente, Senhor Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, com o justificado dever de Estado de salvar o regime democrático, demita esta corja que está a levar o regime democrático à FALÊNCIA!                    Antonio Sennfelt: Uma fotografia da podridão a que chegámos! Texto excelente, como é apanágio do seu autor! Mas discordo da terminologia escolhida para caracterizar a clique partidária que nos desgoverna! "Magma deletério"? Massa viscosa que consome tudo o que engole? Sim, seguramente; mas porque não antes "enxurro pestilento de cloaca", vazadouro de dejectos que infecta tudo no que toca?!!                  João Ramos: Este governo é um governo de indigentes e, pasme-se, o presidente da República saltita de um lado para o outro, feliz e contente apoiando este bando de indigentes… Portugal como país respeitável, deixou de existir!!!                    João Floriano: Excelente crónica, sobretudo pela utilização do termo «supimpa» que cai que nem uma luva neste executivo PS. Pergunto-me várias vezes o que os portugueses fizeram de tão mau no seu passado para merecerem uma conjugação/conjunção tão nefasta de Governo e Presidente da república. Sendo eu de direita até se poderia apontar a minha má vontade e animosidade contra o PS de António Costa, cada vez mais em plano inclinado para a esquerda. Mas não é nada disso, porque as mentiras são constantes, as inverdades o pão nosso de cada dia e tanto António Costa como o presidente Marcelo coincidem na manipulação dos factos, na apresentação da sua verdade. Desde aquele inicial «Palavra dada é palavra honrada», António Costa tem sido mestre na excelsa arte de encher chouriços, como revelam agora os lugares comuns: “toda a verdade, doa a quem doer”, “o país nunca fica pior sabendo-se a verdade”, “A verdade nunca nos deve preocupar”. Isto já não são chouriços mas sim paios daqueles bem grandes com que António Costa teima em nos presentear e deixo o resto à imaginação de quem está a ler isto. Para além do cenário geral temos os pormenores que fazem a diferença: Carlos Pereira apanhado de «calças na mão», num encontro onde a ética (sempre a ética) não lhe devia ter dado acesso, mas isso do conflito de interesses está mais que provado não ser coisa que interesse aos nossos supimpas socialistas e as considerações mais que indiscretas de Hugo Mendes , mas que devem ter deixado Marcelo em êxtase. Relembrando outro socialista igualmente supimpa: «Porreiro, pá!»                       Joaquim Rodrigues: É bom! Muito bom! Quem nos governa é um "grupo de amigos, muito mais amigos e íntimos" do que era o "grupo de amigos" do governo anterior. É "bom" porque, para além de terem muito mais amizade e intimidade uns com os outros, vão estar todos juntos, ali, no ex-Edifício da CGD onde, ainda por cima, teremos o aliciante adicional de ali funcionar um “Big Brother”, sendo que, o último a sair, será o futuro “Grande Líder” do PS. Ah…, e são todos muito "resilientes", a começar pelo Costa e Silva, esse grande Keynesiano, graças a Deus que, uma vez mais, nos vai provar as virtudes "" do uso do Estado para "controlo e orientação" do Mercado"" à conta de Fundos Comunitários e do dinheiro dos "contribuintes". Sim porque o "Mercado" é demasiado importante para ser deixado ao sabor da "livre escolha e livre iniciativa" de burgessos. É bom, muito bom! E …, mais importante, muito mais importante que tudo! São todos verdadeiros representantes do País real, com raízes profundas nesse Portugal que vai desde Bragança a Vila Real de S.to António. Conhecem bem a "alma, o ser e a identidade" profunda e concreta do tecido económico e social desse Portugal profundo, de Norte a Sul, de Este a Oeste! Não se trata, portanto, de gente desenraizada, desligada da realidade social, cultural e económica do País real, do mundo empresarial, do mundo rural, do mundo comercial ou do mundo industrial que existe por esse Portugal fora e que fizeram carreira por estarem ali à beira dos meandros do poder do centralismo. Não! Nada disso! Podíamos pensar que são produtos ou subprodutos da “bolha da Capital do Império" ou o resultado dos despojos sobrantes do colonialismo português, desligados da realidade nacional. Mas não! Podíamos pensar que representam o País dos impostos, dos Fundos Comunitários (que “eram” para o Desenvolvimento Regional, lembram-se(?)), das taxas, taxinhas, auto vouchers, QMECs, ex-SCUTs, (agora “CCUTMMCOs”- Com Custos para os Utilizadores e Muitos Mais para os Contribuintes) e coisas do tipo e similares!               José Manuel Pereira: Mais um artigo genial do Professor Paulo Tunhas, pela forma como o escreveu e pelo conteúdo. Tudo tão apropriado que dói. O Costa é um "Boçal Deletério"... Pois é... e o PS um "Magma Deletério"... "e os senhores e senhoras vão continuar, supimpas, ali"... Diz tudo, e com o "martelo" deste Magma Socialista que derrete Portugueses diariamente, como vai ficar Portugal, "foice"? ("piada" à foice e martelo que copiei com gosto do Doutor Carlos Guimarães Pinto que se aplica muito bem ao Magma Deletério costista).                  Ark Nabul: Estão a mostrar o que é o mundo do século XXI, onde uma casta de bem pensantes vai ganhando cada vez mais poder ao mesmo tempo que mostra o seu desprezo pelos deploráveis que, cada vez mais dependentes, suplicam pelas migalhas. Não é meramente o nosso PS, são todos os governos mundiais.               bento guerra: O PS é um partido bem português. Desenrascado, não olha a meios para atingir  os fins, onde predominam, colocar a sua gente e fazer as negociatas                     AndradeQB: Muito bem, como habitual. De facto, o nível de mediocridade de quem Costa se rodeia só é ultrapassado pela certeza dessa gente na sua imunidade eleitoral, impunidade criminal e pelo seu nível de desprezo pelo mínimo decoro que a vida em sociedade exige. Sendo esta gente a que mais progride, naturalmente espalhará a doença. Não é fácil o mérito não emigrar ou não desistir, quando tão visivelmente a recompensa cabe a ralé rastejante.               Peter Leash: Como sempre é um prazer ler os textos de Paulo Tunhas. 

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