E a vergonha já pouco existe. Na manutenção
nos aguentamos. O tempo da “Pedra Filosofal”, que nos fez chegar, afinal, ao
que descreve Paulo Tunhas, já passou à História… Fraternidade é a pedra de
hoje, mais filosofal ainda… ou puramente angular.
O que é que estão ali a fazer?
Em que é que o PS se tornou? A
resposta é fácil: um magma deletério que segrega mediocridade. Vem a descer, o
magma, a toda a velocidade por aí abaixo, dando cabo de tudo por onde passa.
PAULO TUNHAS,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 4 de
Abril de 2023
O
que é que aquelas senhoras e senhores ainda estão ali a fazer? “Aquelas
senhoras e senhores” são, obviamente, os membros do Governo, que é o “ali” em
questão. Todos os dias a pergunta pode surgir, por uma razão ou outra. E as
razões podem pouco ter a ver umas com as outras, já que não há nenhum fio
condutor que guie a acção do Governo, se exceptuarmos o interesse do PS e,
particularmente, o de António Costa. A irresponsabilidade não obedece aos
requisitos de fio condutor, pois, sendo certamente um hábito bem estabelecido
entre aquela gente, uma segunda natureza que unifica a sua acção, não é, no
entanto, uma ideia. António Costa não tem, de resto, nenhuma: sobre
Portugal, sobre o mundo, sobre o que quer que seja. É, para lá da sombra de uma
dúvida, uma simples máquina de palavras sem ideias.
Toda esta história da TAP, desde a
inversão da sua privatização sob Passos Coelho, exibe esplendorosamente as
consequências danosas desta falta de ideias. E a audição, esta terça-feira, na
comissão de inquérito da AR, de Christine Ourmières-Widener tornou-as
particularmente palpáveis. António Costa, magnífico como de costume, declarou,
antes de se ouvir a CEO da TAP, que queria “toda a verdade, doa a quem doer”,
até porque “o país nunca fica pior sabendo-se a verdade”, rematando com: “A
verdade nunca nos deve preocupar”.
(Só um irresponsável, permito-me notar, pode dizer esta última frase.
A verdade deve preocupar-nos, até porque é aquilo que tem o mau hábito de nos
pôr em causa. A não ser, é claro, que nos estejamos nas tintas para ela.) Ora bem, deve estar muito satisfeito, porque ficamos
a saber várias coisas que não sabíamos, embora essas coisas revelem outras que
perfeitamente, já conhecíamos. Todas elas têm, directa ou
indirectamente, a ver com a absoluta falta de ideias para o país de António
Costa e o seu interesse exclusivo na manutenção do seu poder e do poder do PS.
Ficámos
a saber, por exemplo, que gente do Governo e parlamentares do PS se reuniram
com Christine Ourmières-Widener no dia anterior à sua audição na comissão de
Economia da AR, isto é, a 17 de Janeiro. A reunião, ao que parece, foi feita
sob o patrocínio conjunto do ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, e da
ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes. O facto de a coisa
representar um óbvio desrespeito pela comissão parlamentar não incomodou em
nada um deputado que esteve presente nessa reunião, Carlos Pereira, um muito
expedito defensor da serenidade do pessoal governamental. Gente obediente é
outra coisa. Acha tudo particularmente normal e nem lhe passa pela cabeça que
essa reunião secreta possa ser interpretada como um sinal de obter informações
que permitissem desculpabilizar um ministro ou outro. Ficámos, portanto, a
conhecer um caso concreto. Mas não sabíamos nós já muito bem que são esses
velhos hábitos do PS e do Governo?
Ficámos
a saber também que Fernando Medina, na noite anterior, uma noite de domingo, ao
seu anúncio televisivo, em conjunto com João Galamba, da demissão de Christine
Ourmières-Widener, havia pedido a esta que se demitisse. Não por razões de
incompetência ou afins, mas porque – admire-se a franqueza – era a única
maneira de o Governo sair mais ou menos airosamente da trapalhada causada pela
indemnização de Alexandra Reis, que, havíamos sabido disso uns dias antes, fora negociada em detalhe com o pleno conhecimento
do anterior ministro das Infra-Estruturas, o extraordinário Pedro Nuno Santos,
o Cid campeador da “ala esquerda” do PS. E, tal como Pedro Nuno Santos de nada
se lembrava antes da sua epifania e da posterior revelação pela CNN de uma
troca de mensagens do seu secretário de Estado Hugo Mendes com Christine
Ourmières-Widener, também Fernando Medina protesta o mais absoluto
desconhecimento de tudo em que pudesse estar envolvido. Mas
ficámos terça-feira a saber que o seu ministério tinha (como devia) reuniões
regulares com a TAP.
Que pensar? Antes de acusarmos Medina
e Pedro Nuno Santos de terem a mentira fácil, ensaiemos um modelo da teoria dos
sistemas. Há uma caixa preta por onde entram certos inputs e de onde
saem, como resultado, certos outputs. O que se passa dentro da caixa, ninguém
sabe. Talvez que o cérebro destes dois ministros funcione assim. Talvez seja uma caixa preta no interior da qual se
passam coisas que eles próprios ignoram. É algo que não os qualifica
excessivamente para o cargo, mas, pelo menos, evita que os julguemos retintos
mentirosos. Vamos ficando a pensar isso. Mas também não é nada de novo. A
quantos ministros de Costa, passados e presentes, não poderíamos nós aplicar o
modelo da caixa preta? Isso, de resto, explicaria a qualidade dos seus outputs.
O próprio Governo como um todo é ele mesmo uma caixa preta, cujos processos
interiores são absolutamente opacos aos seus membros.
Só
mais um exemplo, porque a ânsia pela descoberta da verdade de António Costa,
que nunca conseguiu entrar dentro da sua própria caixa preta, foi terça-feira
tão generosamente satisfeita que eu nunca mais saía daqui. O exemplo é o do
muito activo ex-secretário de Estado Hugo Mendes, já célebre por ter resolvido,
com o seu ministro Pedro Nuno Santos, o problema do aeroporto de Lisboa, de um
modo infelizmente frustrado de cima. Então
não escreveu ele à CEO da TAP, aconselhando-lhe a antecipação de um voo de
Maputo para Lisboa para que o PR chegasse mais breve a Portugal? “Bom dia, sei
que isto é um incómodo para ti, mas não podemos mesmo perder o apoio do
Presidente da República. Ele tem-nos apoiado no que diz respeito à TAP, mas se o
humor dele mudar, tudo se perde. Uma
frase dele contra a TAP ou o Governo, e ele empurra o resto do país contra nós.
Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior
pesadelo”. A ideia do
pedido já é boa. Que se lixasse a vida de todos os outros
passageiros. Mas a justificação ainda é melhor: vamos tratar bem o volátil
Presidente, que ele nos dá um jeito dos diabos para nos aguentarmos no poder. E, como a TAP é nossa, podemos e devemos fazê-lo. Que
lindo que é! Mas que não se diga que o princípio geral nos era desconhecido. O Governo e o PS estão-se marimbando para os cidadãos
e o seu único e exclusivo propósito – que não exige, repito, qualquer ideia
para o país – é a manutenção do poder, custe o que custar. Para evitar
pesadelos.
Esqueçamos,
por momentos, a hipótese da caixa preta. E se se tratasse mesmo de
uma tendência generalizada para a mentira fácil no Governo? Há que reconhecer
que há indícios verosímeis dessa possibilidade.
Como é que distinguimos a verdade da mentira? Não é preciso qualquer intuição
especial para a distinção. Captura-se uma atmosfera e vão-se detectando,
tentativamente, acordos e desacordos entre o que é dito e os factos, até se
chegar a uma ideia mais ou menos clara e distinta, por mais provisória que
seja. Ora, é bem verdade que o sentimento da mentira permeia o que ministros e
secretários de Estado vão dizendo. É, somando tudo, uma hipótese verosímil, tão
mais verosímil quanto a mentira é
uma consequência natural de um ambiente em que nenhuma ideia, excepto a
preocupação pelo poder, guia a acção.
Mas trata-se, é claro, de uma mera hipótese. Pessoas dadas à benevolência
tenderão certamente para o modelo da caixa preta, que dispensa a possibilidade
da consciência.
Resta
uma pergunta. O que é
este PS? Em que é que o PS se tornou? A resposta é fácil: um magma deletério
que segrega mediocridade, irresponsabilidade, falta de respeito e delinquência
pura e simples. Vem a descer, o magma, a toda a velocidade por aí abaixo, dando
cabo de tudo por onde passa. Se na Presidência da República estivesse alguém
normal, o primeiro-ministro era demitido e convocavam-se eleições. Pessoalmente, deixei há muito de pensar (e,
portanto, de escrever) o que quer que seja sobre o PR. Para ser útil pensar e
escrever, tinha de possuir, dadas certas características muito conspícuas da personagem,
uma sólida formação profissional numa área que me é alheia. De
uma coisa, no entanto, tenho a certeza: sendo ele quem é, a lava vai continuar
a descer da montanha, o PS vai continuar a rolar sobre nós e as senhoras e os
senhores vão continuar, supimpas, ali.
PS POLÍTICA PRESIDENTE
MARCELO GOVERNO TAP EMPRESAS ECONOMIA
COMENTÁRIOS (DE
47)
JOHN MARTINS: Este excelente
artigo, acaba por ser inspirador e leva-nos ao ponto de começar a sentir e ver
a inevitável falência institucional do Estado. De A a Z podemos arranjar
adjetivação para qualificar todo e qualquer sector institucional, todo e
qualquer membro do governo. UM DESASTRE COMPLETO. Onde tudo se resolve por SMS.
E chegamos a este grande Pesadelo com Asas, que o grande responsável do
imbróglio, depois de o renacionalizar com pompa e circunstância, quer agora,
despachar a toda a velocidade. E o irresponsável António Costa quer toda a
verdade!..só não vê a dele. Doa a quem doer...e tentam meter PR...que fez um voo
de e para Moçambique num avião comercial...quando
se sabe que Mário Soares chegou a requisitar...avião para ir ver...TARTARUGAS...
Institucionalmente, Senhor Presidente da República
Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, com o justificado dever de Estado de
salvar o regime democrático, demita esta corja que está a levar o regime
democrático à FALÊNCIA! Antonio Sennfelt: Uma fotografia da podridão a que chegámos! Texto excelente, como é apanágio do seu autor! Mas
discordo da terminologia escolhida para caracterizar a clique partidária que
nos desgoverna! "Magma deletério"? Massa viscosa que consome tudo o que
engole? Sim, seguramente; mas porque não antes "enxurro pestilento de
cloaca", vazadouro de dejectos que infecta tudo no que toca?!! João Ramos: Este governo é um governo de indigentes e, pasme-se, o
presidente da República saltita de um lado para o outro, feliz e contente
apoiando este bando de indigentes… Portugal como país respeitável, deixou de
existir!!! João
Floriano: Excelente crónica, sobretudo pela utilização do termo
«supimpa» que cai que nem uma luva neste executivo PS. Pergunto-me várias vezes
o que os portugueses fizeram de tão mau no seu passado para merecerem uma
conjugação/conjunção tão nefasta de Governo e Presidente da república. Sendo eu
de direita até se poderia apontar a minha má vontade e animosidade contra o PS
de António Costa, cada vez mais em plano inclinado para a esquerda. Mas não é
nada disso, porque as mentiras são constantes, as inverdades o pão nosso de
cada dia e tanto António Costa como o presidente Marcelo coincidem na
manipulação dos factos, na apresentação da sua verdade. Desde aquele inicial
«Palavra dada é palavra honrada», António Costa tem sido mestre na excelsa arte
de encher chouriços, como revelam agora os lugares comuns: “toda a verdade, doa
a quem doer”, “o país nunca fica pior sabendo-se a verdade”, “A verdade nunca
nos deve preocupar”. Isto já não são chouriços mas sim paios daqueles bem
grandes com que António Costa teima em nos presentear e deixo o resto à
imaginação de quem está a ler isto. Para além do cenário geral temos os
pormenores que fazem a diferença: Carlos Pereira apanhado de «calças na mão»,
num encontro onde a ética (sempre a ética) não lhe devia ter dado acesso, mas
isso do conflito de interesses está mais que provado não ser coisa que
interesse aos nossos supimpas socialistas e as considerações mais que
indiscretas de Hugo Mendes , mas que devem ter deixado Marcelo em êxtase. Relembrando
outro socialista igualmente
supimpa: «Porreiro, pá!» Joaquim Rodrigues:
É bom! Muito
bom! Quem nos governa é um "grupo de
amigos, muito mais amigos e íntimos" do que era o "grupo de
amigos" do governo anterior. É
"bom" porque, para além de terem muito mais amizade e intimidade uns
com os outros, vão estar todos juntos, ali, no ex-Edifício da CGD onde, ainda
por cima, teremos o aliciante adicional de ali funcionar um “Big Brother”,
sendo que, o último a sair, será o futuro “Grande Líder” do PS. Ah…, e são todos muito "resilientes", a
começar pelo Costa e Silva, esse grande Keynesiano, graças a Deus que, uma vez
mais, nos vai provar as virtudes "" do uso do Estado para
"controlo e orientação" do Mercado"" à conta de Fundos
Comunitários e do dinheiro dos "contribuintes". Sim porque o "Mercado" é demasiado importante
para ser deixado ao sabor da "livre escolha e livre iniciativa" de
burgessos. É bom, muito
bom! E …, mais importante, muito mais
importante que tudo! São todos
verdadeiros representantes do País real, com raízes profundas nesse Portugal
que vai desde Bragança a Vila Real de S.to António. Conhecem bem a "alma, o ser e a identidade"
profunda e concreta do tecido económico e social desse Portugal profundo, de
Norte a Sul, de Este a Oeste! Não
se trata, portanto, de gente desenraizada, desligada da realidade social,
cultural e económica do País real, do mundo empresarial, do mundo rural, do
mundo comercial ou do mundo industrial que existe por esse Portugal fora e que
fizeram carreira por estarem ali à beira dos meandros do poder do centralismo.
Não! Nada disso! Podíamos
pensar que são produtos ou subprodutos da “bolha da Capital do Império" ou
o resultado dos despojos sobrantes do colonialismo português, desligados da
realidade nacional. Mas não!
Podíamos pensar que representam o País dos impostos,
dos Fundos Comunitários (que “eram” para o Desenvolvimento Regional,
lembram-se(?)), das taxas, taxinhas, auto vouchers, QMECs, ex-SCUTs, (agora
“CCUTMMCOs”- Com Custos para os Utilizadores e Muitos Mais para os
Contribuintes) e coisas do tipo e similares! José Manuel Pereira: Mais um artigo genial do Professor Paulo Tunhas, pela
forma como o escreveu e pelo conteúdo. Tudo tão apropriado que dói. O Costa é
um "Boçal Deletério"... Pois é... e o PS um "Magma
Deletério"... "e os senhores e senhoras vão continuar, supimpas,
ali"... Diz tudo, e com o "martelo" deste Magma Socialista que
derrete Portugueses diariamente, como vai ficar Portugal, "foice"?
("piada" à foice e martelo que copiei com gosto do Doutor Carlos
Guimarães Pinto que se aplica muito bem ao Magma Deletério costista). Ark Nabul: Estão a mostrar o que é o mundo do século XXI, onde uma
casta de bem pensantes vai ganhando cada vez mais poder ao mesmo tempo que
mostra o seu desprezo pelos deploráveis que, cada vez mais dependentes,
suplicam pelas migalhas. Não é
meramente o nosso PS, são todos os governos mundiais. bento guerra: O PS é um partido bem português. Desenrascado, não olha
a meios para atingir os fins, onde predominam, colocar a sua gente e
fazer as negociatas AndradeQB: Muito bem, como habitual. De facto, o nível de mediocridade de quem Costa se
rodeia só é ultrapassado pela certeza dessa gente na sua imunidade eleitoral,
impunidade criminal e pelo seu nível de desprezo pelo mínimo decoro que a vida
em sociedade exige. Sendo esta gente a que mais progride, naturalmente
espalhará a doença. Não é fácil o mérito não emigrar ou não desistir, quando
tão visivelmente a recompensa cabe a ralé rastejante. Peter Leash: Como sempre é um prazer ler os textos de Paulo
Tunhas.
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