«LE DIABLE ET LE
BON DIEU»: Um livro bem ao sabor existencialista, sobre um
mundo de guerra - entre o clero e o povo, tendo por cenário tempos na Alemanha
medieval, entre os camponeses e a Igreja - um livro pesado, de um discurso
insistente nos ódios, nas incompreensões, na crueldade humana, nas certezas do
vazio universal, que inspira os cinismos das falas, resultantes do sentimento
da impotência humana no desvendar da verdade sobre o ser e o nada. Um livro
sufocante, a lembrar tempos presentes, provavelmente inspirado nos tempos
sufocantes vividos na guerra que Sartre atravessou e o ajudou a ponderar
nas incongruências do mundo e dos homens de todo o sempre. E, com tudo isso, uma
dialogação carregada de reflexão e sentenças quantas vezes sardónicas, à
maneira bem sartriana, que destaca sentimentos e caracteres, o Mal e o Bem
considerados numa perspectiva bem ateia de modelo doutrinário existencialista.
Dele citarei apenas a frase
final, da personagem principal – Goetz – como expressiva do falso dilema entre
o Bem e o Mal, característica dessa filosofia, explorada ao longo da peça, numa
paranoia severa de discursos de crueldade e sátira entre as várias personagens,
os afectos no mesmo plano da indiferença cruel:
“Goetz: «Não
tenhas medo, eu não fraquejarei. Far-lhes-ei horror porque não tenho outro modo
de os amar, dar-lhes-ei ordens porque não tenho outra forma de obedecer,
ficarei só com este céu vazio por cima da cabeça, visto que não tenho outra
maneira de estar com todos. Há esta guerra a fazer e fá-la-ei.»”
«A FLOR E O
PEIXE»: Não assim este livro de Afonso Cruz,
livro poético, livro retórico, um livro patético, que reduz o ser humano à mesma
condição de qualquer outro ser terreno, pretensioso no rebuscamento das imagens e
cenários, usando o amor humano como símbolo de todo o amor difuso na Terra, em
todos os seres, criem eles teias ou raízes.
Um livro, quanto a mim, maçudo no exagero dos simbolismos, sem um fio
condutor de racionalidade credível, sempre joguete de rebuscados paralelismos
de uma filosofice imagística nem sequer credível – apenas um copo vazio, embora
de discursos ofuscantes, de pensamento inesperado, quando muito um pretensioso
caleidoscópio para entreter especulações, que nada nos diz de realmente válido em
termos de racionalidade, puro surrealismo apenas. Mas um livro naturalmente bem cotado,
na nossa actualidade avaliativa quantas vezes soez.
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