Lembrei-me do velho problema das pombas,
mas também recordei saudosamente aquelas outras pombinhas da “Catrina” que
andaram de mão em mão. Tudo, na minha idade, são recordações e associações de
ideias, para distrair das obsessões causadas por tantas combinações que
redundam nas densas frustrações… Fora um gavião que perguntara a umas pombas
quantas elas eram e uma pombinha respondeu com muita argúcia: “Nós, e outras
tantas como nós, e a quarta parte de nós e contigo, gavião, cem pombas farão”,
o que perfazia 44 pombinhas apenas, se bem me lembro, o gavião permanecendo
sempre o intruso no universo das pombinhas, embora simpático e sem segundas
intenções ainda, porque não havia tacho, como hoje há, para se disputar com
outros cálculos mais aparatosos. Hoje, de resto, todos pretendem ser gaviões, donos
do tacho de importação, já nem há pombinhas que se prestem a cálculos
algébricos de pouca monta, tudo no vaivém da sua ambição tachista. Este comentário
sem eira nem beira foi apenas diversão de cansaço, em torno de um incisivo
escrito de HELENA MATOS sobre esquemas políticos de amparo numerário e a
centena de comentários sérios e de grande calibre que aquele justamente mereceu, sem grande
esperança mas também sem álgebra, mesmo para principiantes que “sesse”.
E quando se demarca o PS do Chega?
Neste momento, em que tudo aquilo que depende do
Governo parece desmoronar-se, a aposta na insuflação do Chega e a sua colocação
no centro da discussão política tornou-se a táctica infalível do PS.
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR; 16 abr. 2023, 01:08138
“Não
vamos ter no Governo políticos racistas, nem oportunistas, nem populistas” – declarou Luís Montenegro a Maria João Avillez que o
entrevistava para a CNN. Daqui concluiu a Pátria escrita e falada que Luís
Montenegro estava a dizer não a uma geringonça com o Chega. Convenhamos que ou
a Pátria é ingénua ou Luís Montenegro é parvo. Que as duas coisas aconteçam em
simultâneo também não é de excluir, porque em Portugal os azares costumam andar
aos pares.
Comecemos pela ingenuidade da Pátria:
“Não vamos ter no Governo políticos racistas, nem oportunistas, nem populistas”
– diz Montenegro. Mas isto quer
dizer exactamente o quê? Que Luís Montenegro está a excluir pessoas que tanto
podem ser do Chega como doutros partidos? Como todos sabemos existem políticos
racistas, oportunistas, e populistas no Chega e em todos os outros partidos,
logo afirmar que “Não vamos ter no Governo políticos racistas, nem
oportunistas, nem populistas” é uma espécie de redondo vocábulo e nada mais.
Já
se Luís Montenegro quis com isto dizer que não fará acordos pós-eleitorais com
o Chega está a ser parvo porque não é aritmeticamente possível à direita
governar sem os votos do Chega; porque, ao contrário do que gostaríamos que
fosse verdade, o eleitorado de Ventura não o penaliza caso ele não viabilize um
governo minoritário PSD; porque um acordo pós-eleitoral é a melhor forma de
tirar o Chega do local
onde ele cresce: a oposição pela oposição e, por fim mas não por último, se
Luís Montenegro procura libertar-se da ratoeira da questão Chega com estas
declarações bem pode preparar-se para o embate porque o PS não vai deitar fora
a sua táctica de maior sucesso.
Neste momento, em que tudo aquilo que
depende do Governo parece desmoronar-se, a aposta na insuflação do Chega e a
colocação do Chega no centro da discussão política tornou-se a táctica
infalível do PS. Mesmo que para tal se entre no terreno do absurdo, como
aconteceu esta semana, quando na Assembleia da República, numa sessão igual a
centenas de outras, Edite Estrela, que
presidia aos trabalhos, interrompeu o deputado Pedro Frazão, do Chega, que
perorava sobre a agricultura, ou mais precisamente sobre o que aquele deputado
diz ser o desinteresse da esquerda pelos agricultores. A intervenção
seguia sem nada de relevante até que Pedro Frazão proferiu o nome de Lula da
Silva. Nesse momento, Edite Estrela interrompe-o. O
deputado protesta. Num ápice Edite Estrela passou da citação enfatuada
d’O Mostrengo de Pessoa “Aqui (…) sou mais do que eu” com que tentava calar
Pedro Frazão para o pé de chinelo do “Esteja
caladinha” dirigido à deputada Rita Matias.
Basta ver duas horas do canal parlamento
para perceber que nada justificava a interrupção por parte de Edite Estrela da
intervenção do deputado Pedro Frazão (muito menos a forma como se dirigiu à
deputada Rita Matias). Intervenções similares são produzidas com as devidas
adaptações ideológicas todas as sessões por todas as bancada. Mas este momento aparentemente absurdo
torna-se num facto lógico se o virmos como parte de uma táctica particularmente
bem-sucedida do PS: fazer crescer o Chega. A repetição de incidentes
desta natureza é mais que certa. (Para já a 25 de Abril e com o alto
patrocínio do Presidente da República, a vinda de Lula da Silva ao parlamento
será o pretexto para mais um destes momentos.)
Não é o PSD que tem de se demarcar do
Chega. É o PS que tem de deixar de fazer do Chega o eixo da vida política
portuguesa. Mas não o fará. Nos filmes os cobardes
escondem-se atrás de quem podem para se proteger. Na política há quem se esconda
atrás dos radicais para conseguir passar por corajoso e, mais perversamente
ainda, por imprescindível ponto de equilíbrio.
Infelizmente para nós é isto que
estão a fazer aqueles a quem o voto dos portugueses colocou em Belém e em São
Bento.
Ps. Não sei se Boaventura Sousa Santos é
culpado de assédio. Espero sinceramente que a justiça burguesa que tanto
criticou lhe valha para dar a sua versão dos factos. Sobre o Centro de Estudos
Sociais é que não tenho dúvidas: trata-se de um caso de assédio à inteligência
e ao dinheiro dos contribuintes. Uma espécie de máquina falante do patois do
politicamente correcto em que não se consegue identificar nada de
cientificamente relevante.
COMENTÁRIOS:
Cisca Impllit: Bordoada bem dada neste texto. Discutir política, e outras cousas, com
inteligência Maria
Paula Silva: Montenegro não é parvo, quer dizer não sei se é parvo, é capaz de ser, mas
sei que é fraco e que, tal como RRio, obedece aos mesmos poderes a quem obedece
o PS. Por isso é que não há oposição. Boa crónica, obrigada HM! C. Soares: A hesitação do Montenegro é de
certa forma legítima, até porque com o andamento desta telenovela mexicana, que
é a política portuguesa, fica difícil antever cenários, pelo menos todos os
cenários hipotéticos nesta e noutras realidades que venham a surgir. Custa
aceitar, mas neste momento é a única hipótese que lhe resta, ficar por repudiar
o racismo e outros "ismos" costumeiros do auto flagelado André! É
sempre perigoso acordos com radicais, assim como foi com a geringonça, e talvez
as recentes experiências nos sirvam para aprender algo. Manuel Fernandes: Quando é que Montenegro se
demarca do PS? Ou o objectivo é afinal uma união de facto PSD/PS? Era bom
sabermos (nós, eleitores) para não fazermos de novo o papel do marido
enganado...
João Floriano > Manuel Fernandes:
«Em caso de dúvida
vota CHEGA!» Bem que pode ser uma boa frase para outdoor eleitoral. C. Soares > João Floriano: Também lá está um chicote, no
tal cartaz? O castigo dos pecadores? Andamos de fundamentalismo para
fundamentalistas! Não estará na hora de deixarmos de ser as criancinhas
intelectuais á espera dum papá para nos dizer como devemos fazer as nossas
escolhas e dirigir as nossas vidas? Retrocessos civilizacionais, uns atrás de
outros! João
Floriano > C. Soares:
Essa do chicote
pode ser um pormenor com interesse. Tem potencialidades. Concordo completamente
com a referência a retrocessos civilizacionais: há exemplos por todo o planeta.
Entre nós a qualidade da democracia está pior (afirmado por observadores
externos) e há sinais de censura. Eu sou do tempo do lápis azul. Quanto aos
«papás» que nos dizem como escolher, a tendência vai ser não para diminuir mas
para aumentar, tendo em conta a quantidade de influencers que nos manipulam na
propaganda política e não só.
Manuel Fernandes > C. Soares:
Para nos obrigar
( não é dizer, é mesmo obrigar) a fazer as nossas escolhas e para dirigir as
nossas vidas já temos o senhor Costa. Pela via fiscal e pelo controle da CS.
Não percebi o chicote: ele já está, de facto, na propaganda do PS, e levamos
com ele todos os dias. C. SoaresManuel Fernandes:
Aí levamos,
levamos. E o André vai pôr os impostos em que nível? O que é que ele disse
sobre isso? É nisto a que eu me refiro a programa político, acções concretas
previstas para melhorar a vida económica, quais são as áreas estruturais que
ele acha devem ser prioritárias e como as vai desenvolver? Ele e os outros?
Aeroportos, ferrovia, tecnologia de ponta, hubbs, ciência, quais são os planos
dos partidos e a demonstração financeira para desenvolver as áreas de
actividade de um país? Como vamos reter os jovens portugueses em Portugal? Ou
vamos continuar a preferir trocar os nossos jovens por nómadas? Qual o
planeamento para a habitação? André onde estão os teus planos para resolver
estes problemas? Isto é que conta, não é os "ismos", e as palhaçadas
do Trump e do Bolsonaro! Poupem-nos! Maria Rita Menezes: Muito bom, e cheia de razão!
PARABÉNS! Rui
Cotrim: Carissima Helena,
Desta vez não
estou consigo. O vocabulário utilizado por si contra Montenegro é desequilibrado e
intelectualmente desonesto. Não é seu costume. Ainda que as sondagens o
indiquem não é liquido que numa perspectiva de alternativa e mudança a direita
vote no Chega. Com este discurso de Montenegro está aberto o campo do centro
descontente do PS e que pode ao fim de 8/10 anos cair para o lado da direita.
Quanto ao PS nada a dizer.
Concordo plenamente. Quanto ao professor Má-ventura temos mais um Comuna
Burguês de carne e osso como os normais mortais seres humanos de direita.
Quanto ao CES,
dinheiro dos contribuintes a voar. Uma questão. O que se passa com as acusações de
assédio sexual na Academia de Lisboa...?
Rafael Valverde: Nunca percebi porque é legítimo que o PS se alie com comunistas
estalinistas e trotskistas, por definição antidemocráticos, e o PSD não se pode
aliar à direita com quem quiser e necessitar para tentar sacar esta corja
xuxalista da teta dos contribuintes! João Floriano > Rafael Valverde:
O PS e a esquerda
não deixam, não autorizam. O PSD obedece, e aqui é que eu não percebo a razão
de toda esta reverência. Já viram aonde foram parar com Rui Rio e persistem no
mesmo erro. Da maneira que isto anda, as sondagens deveriam dar uma intenção no
PSD de voto muito mais substancial. Algum significado deve ter o motor custar a
arrancar.
Maria Paula Silva > João Floriano: Caro João, se vir as listas dos
Bilderberg em PT percebe porque todos obedecem ao poder. João Floriano > Maria Paula Silva:
De acordo.
Compreendo o seu ponto de vista. Mas há muitos outros países igualmente com
representação no grupo e não se enquadram na degradação em que tudo isto caiu. Sérgio Rodrigues: O CHEGA nasceu porque o PSD
nunca se assumiu como um partido de direita e quer ficar eternamente em cima do
muro. Como é que se pode dizer que o crescimento do CHEGA é estratégia do PS?
Desde quando ao PS lhe interessa o crescimento de um partido verdadeiramente de
direita? Não é difícil prever que o espaço político do PSD se esgota de uma forma
notória. Para quem até agora vota num PSD tendencialmente socialista provavelmente
balançará o voto entre o PS, IL e PSD e para quem tem votado num PSD mais à
direita tendencialmente votará no CHEGA. Há uns anos uma descida de 15% do PS nas sondagens
corresponderia a ter o PSD/CDS a liderarem claramente as intenções de voto.
Se o PSD quer contar com o
apoio do PS para viabilizar um governo minoritário mais rapidamente ficará de
fora de qualquer solução governativa futura, porque aí terá mesmo de ser um
PS2.
Já todos percebemos que PS, PSD, IL, BE, PCP, CDS,
etc, passaram os últimos anos a demarcar-se do CHEGA, perguntar “E quando se
demarca o PS do Chega?” a resposta é simples: todos os dias, mas ao menos não
enrolam tanto o discurso como o PSD, ou seja, ou se é de direita ou de
esquerda. Resumindo cada partido faz o seu jogo político e o CHEGA já
demonstrou que corre em pista própria - o único exclusivamente à direita -
basta ver o que passou na eleição do Vice-Presidente da Assembleia da
República. C.
SoaresSérgio Rodrigues:
O Chega nasceu
porque o povo português ainda espera um D. Sebastião! Custa muito a este povo
pôr o Tico e o Teco a comunicar, depois queixam-se e vão sempre queixar-se
porque andam de escolhas radicais para escolhas radicais. É a iliteracia total
da escolha política, usam o voto para se vingarem de outros políticos e não como
escolha consciente, fazer o quê? Continuaremos a pagar, a ver futebol e a
queixar-se da nossa própria burrice!
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