Num mundo em fuga… ou em aproximação? Mas
que viesse de lá água, já seria óptimo resultado. Chegando a tempo, é claro, de impedir o nosso caos ...
Agência Espacial Europeia envia na
quinta-feira satélite para Júpiter com ciência e tecnologia portuguesas
Composto por instrumentos fabricados
por cinco empresas portuguesas, o satélite JUICE vai ser enviado para Júpiter
numa missão para averiguar se há condições de suporte à vida no planeta.
OBSERVADOR, 11
abr. 2023, 09:24
▲Actualmente, o único satélite artificial em órbita de
Júpiter é o Juno, da NASA
A Agência Espacial Europeia (ESA)
vai lançar na quinta-feira um satélite que irá estudar Júpiter e
três das suas maiores luas, usando ciência e tecnologia “made in Portugal” e
tendo um português como director de operações de voo.
O
lançamento, a partir da base espacial da ESA em Kourou, na Guiana Francesa, onde Portugal estará representado pelo presidente
da agência espacial Portugal Space, Ricardo Conde, será feito às 13h15
(hora de Lisboa) a bordo de um foguetão europeu Ariane 5.
A
missão, que esteve para ser lançada em 2022, tem Bruno Sousa como director de operações
de voo e o satélite inclui componentes fabricados pelas empresas LusoSpace,
Active Space Technologies, Deimos Engenharia e FHP – Frezite High Performance e
um instrumento concebido em parte pelo LIP – Laboratório de Instrumentação e
Física Experimental de Partículas.
JUICE (JUpiter ICy moons
Explorer, Explorador das Luas Geladas de Júpiter) irá estudar o maior planeta
do Sistema Solar e as luas Europa, Ganimedes e Calisto, onde os cientistas
pensam que possa existir água líquida (elemento fundamental para a vida tal
como se conhece) sob as crostas de gelo à superfície.
O
satélite deverá chegar ao gigante gasoso passados oito anos, em julho
de 2031, fazer 35 voos de aproximação às luas geladas e alcançar Ganimedes em
dezembro de 2034.
Será a primeira vez que um satélite artificial orbitará uma lua de
outro planeta.
Espera-se
que a missão da ESA, que custou cerca de 1,6 mil milhões de euros e teve a
colaboração das agências espaciais norte-americana (NASA), japonesa (JAXA) e
israelita (ISA) em termos de instrumentação e hardware, termine em setembro de
2035.
Os
primeiros dados científicos são expectáveis em 2032.
Júpiter
é 11 vezes maior do que a Terra e é composto maioritariamente por gás, como o
Sol. Ganimedes é a maior das luas do Sistema Solar e tem um grande oceano sob a
sua superfície.
A
missão da ESA foi concebida para averiguar se haverá sítios em redor de Júpiter
e no interior das luas geladas com as condições necessárias (água,
energia, estabilidade e elementos biológicos) para suportar vida.
À
Deimos Engenharia coube a tarefa de garantir que o satélite não atingirá “em
circunstância alguma” nem o planeta Marte nem a lua Europa, que estão, segundo
explicou a empresa à Lusa, na “categoria de proteção planetária máxima para
corpos extraterrestres”, que podem “potencialmente albergar vida”.
Por
outro lado, o trabalho da companhia “consistiu em melhorar a estratégia de
navegação autónoma de base da missão durante o voo de passagem por Europa
e durante a fase orbital de Ganimedes”.
Um
dos vários instrumentos que o satélite transporta é um monitor de radiação
desenvolvido pelo LIP e Efacec, em cooperação com a empresa norueguesa Ideas e
o instituto de investigação suíço Paul Scherrer.
A
investigadora Patrícia Gonçalves, que coordenou no LIP o projeto, esclareceu à
Lusa que o instrumento “serve para medir o ambiente de radiação ionizante”
a que o satélite vai estar sujeito durante a sua trajetória, “podendo enviar
sinais de aviso para que se possam proteger os outros detetores e sistemas” do
satélite.
O
monitor de radiação, sendo um detetor de partículas energéticas, “permite
também efetuar medidas científicas e complementar as medidas de outros
instrumentos” a bordo do satélite.
O
LIP esteve, ainda, na liderança de um projeto da ESA de testes de irradiação de
componentes eletrónicos que integram o satélite, por forma a assegurar que
estavam preparados para “sobreviver às elevadas doses de radiação esperadas na
magnetosfera de Júpiter”.
Outro
dos instrumentos do JUICE é um magnetómetro, um aparelho que, no caso, vai
caracterizar o intenso campo magnético de Júpiter e a sua interação com o da
lua Ganimedes.
A
LusoSpace desenvolveu uma bobina que, conforme sintetizou à Lusa o
presidente-executivo da empresa, Ivo Yves Vieira, gera um campo magnético “que
será uma referência para o instrumento de medida do campo magnético de
Jupiter”.
Além
de escudos que protegem os componentes eletrónicos sensíveis da elevada
radiação, de painéis solares de alimentação de energia e de uma camada isolante
contra as temperaturas extremas, o satélite dispõe de uma antena para enviar
dados para a Terra e de um computador para resolver alguns problemas de modo
independente.
A antena tem um revestimento
produzido pela empresa portuense FHP e o seu mecanismo de funcionamento
foi desenvolvido pela Active Space Technologies, com sede em Coimbra.
O
satélite JUICE será a última missão enviada pela ESA desde a Guiana Francesa a
bordo de um foguetão Ariane 5, que será substituído pelo modelo Ariane 6.
Actualmente,
o único satélite artificial em órbita de Júpiter é o Juno,
da NASA.
Portugal
é Estado-membro da ESA desde 2000.
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