quinta-feira, 6 de abril de 2023

Um bonito texto


De Salazar, que o Luís descobriu nas suas pesquisas patrióticas e admirativas, ele que há anos foi sozinho a Santa Comba Dão para lhe conhecer a casa - na altura arruinada, as personalidades portuguesas de então, considerando que um ditador do seu arcaboiço – digo, do de Salazar – só podia merecer uma casa arruinada como essa em que nasceu, e que ele, de resto, com a sua mania das poupanças, deixou assim ficar, para não atrapalhar o erário público, alterando, para mais, se o fizesse, a panorâmica aldeã, de povo habituado a ruínas, segundo expunham os escritores neo-realistas daqueles tempos de muito aperto material mas não no espiritual  - do ódio, canalizado especificamente para cima desse que por cá foi eleito em tempos o maior português de sempre.

O Luís, no seu culto, condenou o desprezo português assim revelado na ruína habitacional desse que tanto admira, e de vez em quando apresenta-me textos de um pensamento bem lúcido, como o que me mandou hoje:

«A charrua penetra o solo mais que o ferro da espada; o suor fertiliza a terra mais que o sangue das veias; o espírito afeiçoa e transforma os homens e a natureza mais profundamente que a força material dos dominadores. As fundas pegadas e traços que ficaram de nós na terra e nas almas, por muita parte onde não é hoje nosso o domínio político, e têm maravilhado os observadores desde as costas de Marrocos à Etiópia e do Mar Vermelho aos Estreitos e ao Mar da China, vêm exactamente de que a nossa obra não é a do caminheiro que olha e passa, do explorador que busca à pressa as riquezas fáceis e levantou a tenda e seguiu, mas a do que, levando em seu coração a imagem da Pátria, se ocupa amorosamente em gravá-la fundo onde adrega de levar a vida, ao mesmo tempo que lhe desabrocha da alma o sentido da missão civilizadora. Não é a terra que se explora: é Portugal que revive».

Oliveira Salazar («A Europa em Guerra. Repercussão nos Problemas Nacionais», in Discursos e Notas Políticas, III, 1938-1943).

Mas são palavras perdidas, de um discurso provavelmente pouco entendido, a arte retórica e pátria tornada inacessível hoje, num país em greve.

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