Incompatíveis com as pretensões
económicas de cada um. E as diferentes reacções dos diferentes comentadores,
com os seus saberes próprios, a indelicadeza chinesa - ponto assente, aliás,
quanto a mim, no olhar argutamente escorregadio e falso do seu presidente – com
quem se tem de lidar quando se deseja produzir… E Macron é energicamente e
patrioticamente dos que deseja.
Em defesa da Aliança Democrática Euro-Atlântica
Como disse Timothy Garton Ash, podemos
e devemos unir a opinião pública europeia — mas apenas em torno de uma posição
Euro-Atlantista, não Euro-Gaullista.
JOÃO CARLOS ESPADA Director e fundador
do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
OBSERVADOR, 17
abr. 2023, 00:199
1Não
sei exactamente quais terão sido os objectivos da (inteiramente legítima)
recente visita à China do Presidente francês Emmanuel Macron. Um
dos possíveis objectivos poderá ter sido a obtenção de central protagonismo
mediático internacional. E este (também
legítimo) objectivo terá sido seguramente alcançado, mas talvez não no
sentido desejado por Macron: as críticas dominaram os media
europeus e ocidentais.
Tenho
a fraqueza de acreditar que a generalidade destas críticas é inteiramente justificada.
2Em
primeiro lugar, e sobretudo, Macron literalmente exibiu uma quebra
de maneiras que julgávamos incompatível com o cavalheirismo gaulês. Fez-se
acompanhar por uma distinta, e por sinal muito elegante, senhora – a alemã
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia. Mas, depois, aceitou que
a mal-educada ditadura comunista
chinesa excluísse a senhora da maior parte dos eventos diplomáticos.
Isto seria, só por si, uma
chocante falta de maneiras, em flagrante contraste com as civilizadas tradições
gaulesas e europeias. Acresce que os bárbaros comunistas chineses se apressaram
a sublinhar a rudeza com que excluíram a senhora da maior parte das cerimónias
diplomáticas. Disseram eles que Ursula von der Leyen era uma “porta-voz do
imperialismo americano” – ainda que, indiscutivelmente, ela seja a Presidente
da Comissão Europeia.
3Pior
ainda, em segundo lugar, o Presidente Macron não só não se distanciou da falta
de maneiras dos ditadores comunistas chineses, como ainda conseguiu
implicitamente (ainda que possa ser admitido não intencionalmente) legitimá-la.
Numa
entrevista no voo de regresso a Paris, Macron terá dito que “o grande risco
para a Europa é que ela seja apanhada em crises que não são
nossas [numa chocante referência à ameaça
comunista sobre a democrática Taiwan e num chocante silêncio sobre a infame
invasão da Ucrânia pela Rússia], o que nos impediria de construir a nossa
autonomia estratégica”. A seguir,
disse que“a Europa não deve ser vassala nem dos EUA nem da China” (cito a partir do FTWeekend de 15/16 de Abril, p. 5).
4Há
aqui um equívoco clamoroso que não pode passar incólume – e que a generalidade
da imprensa europeia e ocidental certeiramente detectou.
Uma coisa, inteiramente legítima e altamente estimável, é a ambição
europeia de garantir a sua autonomia estratégica. Outra coisa, totalmente
diferente e chocantemente errónea, é identificar a autonomia estratégica da
Europa com uma espécie de equivalência moral e política entre a democracia
americana e a ditadura comunista chinesa.
5Como
escreveu o britânico Timothy
Garton Ash – um
europeísta convicto e contundente crítico do Brexit – as
declarações e o comportamento de Macron enfraqueceram seriamente a unidade
europeia e a muito desejável autonomia estratégica da Europa, que Macron diz
defender:
“Podemos realmente unir a opinião
pública europeia — mas apenas em torno de uma posição Euro-Atlantista, não em
torno de uma posição Euro-Gaullista. Macron, por isso, demonstrou
brilhantemente a verdade da tese diametralmente oposta à sua.”
Tim Garton Ash, a propósito, será o anfitrião do 14º Dahrendorf
Colloquim que terá lugar em Oxford nos próximos dias 28 e 29 do corrente mês de
Abril, sob o tema geral “Europe and Freedom”. No dia 28, Tim proferirá a
“Dahrendorf Lecture” sob o título “Europe, Whole and Free”. Participarão no
evento, entre outros, Anne Applebaum, Timothy Snyder, Ivan Krastev e Francis
Fukuyama. [Espero conseguir reportar brevemente o evento na minha próxima
crónica, a 1 de Maio].
6Vale a pena reafirmar que no centro
de todas estas controvérsias está a questão crucial da escolha moral e política
entre a democracia liberal e os seus inimigos – parafraseando o título do muito
marcante e inspirador livro de Karl Popper, A Sociedade Aberta e os Seus
Inimigos (1945).
Creio
que Tim Garton Ash colocou muito acertadamente a questão no final do seu livro Homelands:
A Personal History of Europa[cuja edição portuguesa ele apresentará na 14ª
Dahrendorf Memorial Lecture, no âmbito da 31ª edição do Estoril Political
Forum, no Hotel Palácio do Estoril, em 26-28 de Junho próximo, sob o tema
global “Rebuilding Democratic Consensus — At Home and Abroad & Celebrating
the 650th Anniversary of the Anglo-Portuguese Alliance”].
Escreveu
Tim, a concluir o seu livro:
“A Europa de hoje, com todas as sua falhas, limitações e
hipocrisias, com todas as suas dificuldades dos anos recentes, é ainda muito
melhor do que aquela que eu comecei a explorar no início da década de 1970, sem
falar do inferno que o meu pai encontrou quando jovem [o pai de Tim participou
como militar britânico na primeira vaga do desembarque na Normandia, a 6 de
Junho de 1944]. É também melhor do que a Europa dos séculos anteriores,
incluindo a Europa pré-1914, idealizada por Stefan Zweig.
“De facto, adaptando a famosa
frase de Churchill sobre a democracia, podemos dizer que esta é a pior Europa
possível, com excepção de todas as outras Europas que foram tentadas ao longo
dos tempos. Defender, melhorar e ampliar uma Europa livre faz sentido. É uma
causa merecedora de esperança”.
EUROPA MUNDO EMMANUEL MACRON FRANÇA DIPLOMACIA OCIDENTE
COMENTÁRIOS (9)
Gabriela Gop: As posições inflexiveis em relação à política externa da UE, não trazem nem
a paz nem os interesses dos europeus. A França, embora não mande nada, faz
bem em marcar uma posição autónoma em relação à von der Leyen que é ' o braço armado' do wokismo americano. Quanto à elegância da von der Leyen, só posso
dizer que é propaganda pura e dura. A mulher usa uma espécie de farda...e faz
negócios com a China todos os dias. Sem os negócios com a China a Ursula e o
Biden estariam onde? Francisco
Almeida: Macron criou o seu próprio partido que se esgotará no
seu apoio. Pelo caminho esvaziou a esquerda e a direita moderadas. Quando
terminar o seu mandato a França tem dois cenários possíveis e um garantido. A
dúvida será entre Mélenchon e Le Pen. E a certeza é a violência nas ruas com os
cenários consequentes de ingovernabilidade e/ou intervenção militar. A CEE foi um negócio, então paritário, entre
a agricultura francesa e a indústria alemã. Essa foi a base do eixo
Berlim-Paris. Entretanto a indústria alemã agigantou-se e a França
endividou-se. Como o próprio Macron concedeu numa entrevista, a economia alemã
era mais forte mas a França era mais forte militarmente. Kim Jong-un poderia
ter dito o mesmo das duas Coreias. A
França condensou o seu orgulho nacional, a sua superioridade moral, no
porta-aviões nuclear (com sistemas elevatórios americanos) Charles de Gaulle e
nos caças-bombardeiros Dassault-Rafale. Mas a guerra na
Ucrânia, com o rearmamento europeu, veio baralhar os equilíbrios: só Alemanha, nórdicos e
Holanda têm capacidade económica para isso. Alemanha, Suécia e Finlândia já
mostraram o seu empenho e não será certamente a França a liderar, possivelmente
nem a co-liderar um hipotético exército europeu. Só lhe resta demarcar-se
replicando De Gaulle. Só que a Macron falta tudo para isso. Nem farda nem
tradição anti-nazi, nem carisma nem a lealdade dos para-quedistas da Legião
Estrangeira que repuseram a ordem nas ruas em 1968.
Macron está batido em todas as frentes e a sua ida à China é a última
tentativa de um perdedor patético a tentar pôr-se em bicos dos pés e adiar o
óbvio. (Publicado
no "Delito de Opinião". Editado) Ediberto
Abreu: O sr. Macron já nos habituou a dislates destes, basta lembrar o seu
atarantado comportamento a quando se iniciou o acto terrorista do putin contra
a Ucrânia. Só não se ajoelhou perante esse personagem grotesco (leia-se putin)
porque ele não deixou que se aproximasse. Ao fim e ao cabo na maioria das vezes
não anda longe do comportamento errático e irresponsável de Orbán. Fernando
Correia: É sempre bom
que alguém, como João Carlos Espada, com a sua distinta personalidade, fora da
agenda da espuma dos dias, traga este tipo de temas à discussão pública. Eu também considero, acho que toda a gente viu,
que a "Senhora" Ursula von der Leyen foi muito mal tratada... com
muita deselegância pelo Estado chinês, e com muita falta de cavalheirismo do sr
Macron para com a Senhora, também distinta, que, por acso, é a Presidente da
União Europeia, de quem a França faz parte. O sr Macron parece que ultimamente
ganhou alguns tiques "napoleónicos"... "Make
France grate again". Será? Falta-lhe alguma
"categoria" para tal desiderato. Alberto
Rei: O Prof. Espada,
deveria, a meu ver, apresentar a sua opinião e explicá-la, e não recorrer à opinião
de outra pessoa, porque essa além de ir contra o entendimento de Macron, vai
contra a autonomia europeia. Porque é que estará certa, e a de Macron errada?
porque a de Gash é euro-Atlântica, isto é, EU-EUA? onde ficaria a autonomia
estratégica ? Vejamos o caso recente da Alemanha. Tentou não fornecer
tanques à Ucrânia, e até foi ao Brasil, onde levou sopa. Por outros caminhos lá
arranjou um fornecimento imperfeito. Por outras palavras, respeitou a Rússia (e
os negócios importantíssimos que tem com ela e não os quer perder) e não foi na
conversa dos Estados Unidos. Resultado : corria o risco de ficar isolada pela
movimentação anglo-saxónica, perdeu autonomia ali, na cara do mundo. Hoje em
dia, donde vem o gás ? Mas nada isto lhe causa qualquer transtorno, ou, for
that matter, ao sr. Gash. Macron, está
certíssimo. Não só foi tratar de arranjar negócios para manter os cidadãos
franceses a trabalhar, como avisar os Estados Unidos, de que na Europa, também
há gente que pensa pela sua própria cabeça, facto que deveria ser elogiado por
si, mas isso era esperar muito de si. Também,
os franceses não esquecem a facada anglo-saxónica que levaram por causa do
negócio que deu origem ao Aukus... klaus muller >
Alberto Rei: Deixa-me rir! Um tipo, que publica um
comentário destes, considerar que pensa pela sua própria cabeça, só mesmo de
quem abdicou da respectiva capacidade de raciocinar. Este seu comentário é a
cartilha do que nos é apresentado pela Sputnik e RT. Tenha dó. Alberto Rei > klaus muller: é cartilha? e então porquê diz
lá minha alimária? porque não vou na tua música zeca afonso? Olha, põe um
lacinho e vai falar com o tal do Ash, ele é que sabe, guincha como tu: deve ser
uma aliança euro-atlântica! claro, ligada aos mandões disto tudo. ligada à
arrogância anglo-saxónica. Não obrigado. ligada aos gajos que controlam a
política externa europeia, aos vassalos. tenha dó, vassalo. Rui Lima: Quando temos um PS que alinha
com os amigos de regimes totalitários que na prática são inimigos do nosso espaço
de liberdade e democracia. A cobardia de alguns regimes ocidentais é ilimitada,
por muito menos, foram canceladas visitas . bento guerra:
7-Vote contra
Macron nas próximas eleições. Ele foi lá vender Airbus e equipamento para
centrais nucleares, coisas de que os diplomatas do croquete não tratam Américo Silva:
É curioso quando
os comentadores parecem mais bem informados que os cronistas. A China convidou
Macron, Macron convidou Úrsula, é natural que a China tenha dado tratamento
distinto ao seu convidado, relativamente ao convidado do convidado.
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