quinta-feira, 13 de abril de 2023

Viagens pelo politeísmo egípcio


Com monoteísmo de passagem - e tudo com o encanto narrativo de sempre, em alegre revisão da História dos primórdios.

ESCARAVELHO - 1

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 12.04.23

NOTA PRÉVIAHoje trato da Teologia dos egípcios antigos e de outras crenças associáveis. Se quem me lê gosta de temas escaldantes, fique desde já sabendo que tudo foi concebido e alcandorado à categoria de religião sob temperaturas que facilmente rondavam os 40º Centígrados; se prefere temas políticos, de traições, corrupção e «levantamentos de rancho», então leia o que segue imaginando tudo isso porque, afinal, hoje temos a mesma essência que já definia esses antigos. Sim, evoluímos tecnologicamente, mas não essencialmente porque, nomeadamente, temos as mesmas aspirações básicas: o conforto na Terra e a eternidade nos Céus.

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Hórus, Isis, Osíris, Rá (a que também há quem chame Ré), Amon e mais não sei quantos deuses a quem já perdi a conta e os nomesMuito importante, a definição do Bem simbolizado por Hórus e do Mal correspondendo ao crocodilo, ou seja, os primórdios de uma Moral da qual deverá ter resultado uma Ética (sobre que nada me foi contado) e, daí, o exercício da Justiça no âmbito de uma sociedade organizada, isto é, um Estado.

O eixo do mundo definido pelo Nilo, com o Sol (Rá ou Ré) a nascer todos os dias do lado da vida (a margem leste) e a desaparecer nas profundezas do mundo dos mortos (a margem esquerda); cidades e templos do lado da vida, a margem direita e as necrópoles (nomeadamente, o Vale dos Reis) na margem esquerda. Todas as noites o Sol a visitar o mundo subterrâneo dos mortos na vida eterna para voltar a nascer para aquecer o Nilo e fazer a humidade que é a fonte da vida.

Se o busto que lhe conhecemos corresponde à realidade que a esculpida teve, Nefertiti ainda hoje tem lugar cativo no podium da estética feminina.

Primeira mulher do faraó Amenófis IV, mais conhecido por Akenator, protagonizaram uma revolução religiosa substituindo o politeísmo até ali reinante pela imposição de um Deus único, Ator. Obviamente, lançaram no desemprego toda a classe sacerdotal politeísta e isso criou grande instabilidade num regime cuja legitimidade assenta na inspiração divina e cuja legitimação depende da classe sacerdotal. Por alguma razão, o faraó seguinte subiu ao trono com 10 anos de idade – bem antes da «idade da razão» - sendo induzido a revogar o monoteísmo de Ator e regressando ao politeísmo onde Amon recuperou o culto que perdera para Ator, Essa criança passou à história com o nome de Tutank Amon. Morreu aos 19 anos (antes de fazer alguma reviravolta como fizera o seu paizinho).

Tudo, claro está, sob a égide do amuleto da sorte e da felicidade, o escaravelho.

(continua)

Abril de 2023

Henrique Salles da Fonseca

Tags: viagens

 

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