Envolvente. Justificativa do nosso modus vivendi, inerte e submisso. Para seguir,
apesar dos esforços contrários de quem disso troça, que atrai adesões mas
também pasmo. De passividade astuta. Não, Camões não teria razão hoje, que o rei é forte e a gente astuta.
O dr. Costa estará sempre vivo na nossa miséria
Daqui a trinta anos haverá de certeza
quem olhe para o buraco a que descemos e se pergunte porque o cavaram tão
fundo. A posteridade do dr. Costa durará as décadas que levaremos a tapar o
buraco.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 08
abr. 2023, 00:2013
Nos idos de 2014, o
especialista em aeronáutica António-Pedro Vasconcelos lançou um manifesto
contra a venda da TAP. O manifesto, brilhantemente chamado “Não TAP os Olhos”,
colheu as assinaturas de vultos do gabarito de Tony Carreira, Pedro Abrunhosa,
Camané, Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, Carlos Tê, José
Jorge Letria, Manuel Alegre, além de outros cançonetistas como um Francisco Louçã,
um Boaventura Sousa Santos e uma ou duas manas Mortágua. Com
lucidez, estas personalidades convenceram-se de que sabiam o que era melhor
para a companhia aérea e para o bom povo. Em 2015, para pesar das
personalidades, um governo de “neoliberais” sem escrúpulos consumou a venda da
TAP. Em 2016, para júbilo das personalidades, um governo de patriotas anulou a
venda.
Sete
anos depois, a TAP regressou ao mercado. Nesse período, os contribuintes foram
aliviados em três ou quatro mil milhões de euros, trocos que se poupariam caso,
além dos olhos, tivéssemos TAPado o bolso. Não foi um grande negócio. Pensando
bem, foi um negócio fracote. Pensando melhor, o negócio roçou o criminoso, e em
nações aborrecidas os responsáveis directos pela proeza acabariam na barra do
tribunal. Quanto aos responsáveis indirectos, no mínimo seria de esperar consciência
pesada e arrependimento. Sendo uma casta digníssima, a dignidade aconselharia a
que, constatado o desastre, os subscritores do manifesto andassem a juntar
dinheiro para nos compensar, mesmo que parcialmente, pelo prejuízo que ajudaram
a causar. Podiam pôr algum dos próprios bolsos e conseguir mais algum através
de rifas, quermesses e, dada a actividade dominante na lista de signatários,
revistas de variedades. Dos males, o menor.
Infelizmente estamos em Portugal,
logo dos males costuma emergir o maior. Não há notícia de remorsos, nem de
rifas ou feiras beneficentes. António-Pedro
Vasconcelos e restantes Parodiantes da Portela estão, sumariamente, calados. E, a
acreditar nos ventos que sopram daquela região ideológica, querem que nos
calemos também. Agora, a estratégia oficial e oficiosa
sugere que as polémicas em volta da TAP desvalorizam o valor da empresa. A
estratégia assenta em dois pressupostos. O primeiro é o de que a
empresa vale coisa que se veja. O segundo é o de que os hipotéticos compradores
detêm um QI de 65, não estudam previamente o produto a adquirir e carecem de um
“apontamento” no telejornal da SIC para se informar. O segundo pressuposto é
improvável. O primeiro é absurdo.
Por
incrível que pareça, o governo não nos extorquiu uma desmesurada quantia apenas
para satisfazer os prestigiados amigos de António-Pedro Vasconcelos. O dr.
Costa limitou-se a aplicar à TAP o método que aplica a tudo o que se mexe e a
tudo o que está parado: reduzir a sociedade ao Estado e reduzir o Estado ao PS. O modo como a TAP serviu para distribuir
empregos, inventar cargos, pagar indemnizações, fazer e cobrar favores, premiar
aliados e castigar adversários não possui qualquer carácter excepcional
face ao que acontece nas demais empresas públicas, institutos, comissões,
observatórios e salões de baile. A única excepção é o escrutínio que a
TAP começou a sofrer, desencadeado pelo despedimento de uma criatura secundária e pela circunstância de haver uma chefe
estrangeira que não precisa de engolir os vexames impostos pela nomenklatura
socialista.
O escrutínio da TAP, e o selvático espectáculo subsequente, mostrou
um estilo generalizável a um sistema, ou um regime, em putrefacção. Para
onde quer que olhemos com idêntica atenção, a selvajaria e o espectáculo serão
idênticos. Isto para dizer que o PS e seus cúmplices se encarregaram de
garantir que o valor da TAP esteja próximo do zero, e o valor do país nem isso. Não falar dos factos talvez iluda
eleitores com problemas cognitivos, que junto com os borlistas são o
público-alvo do dr. Costa. Mas não elimina os factos. E os factos acumulam-se
hora a hora, numa vertigem espantosa para os que ainda se espantam com o
potencial destrutivo dessa gente. Nunca é excessivo repetir e pelos vistos é
sempre inútil repetir que essa gente, um caldo apurado de incompetência,
fanatismo e desonestidade, é capaz do pior, incluindo a corrosão dos
derradeiros fios que nos prendiam à civilização. Sobram muito poucos. E sobra
muito pouco tempo.
De cada vez que, com variável
firmeza, a “oposição” exige a reforma de um minúsculo ministro está a legitimar
um governo que não é reformável, não é legítimo e não é um governo. Do “regular funcionamento
das instituições democráticas” à realidade vai um mundo e inúmeras gargalhadas,
quase todas do dr. Costa. A propósito, em desabafo recente, o homem confessou
esperar que daqui a trinta anos ninguém se lembre da existência dele. Não terá
essa sorte: daqui a trinta anos haverá de certeza quem olhe para o buraco a
que descemos e se pergunte porque o cavaram tão fundo. A posteridade do dr.
Costa e dos que tornaram possível o dr. Costa durará as décadas que levaremos a
tapar o buraco. Se algum dia o taparmos.
TAP EMPRESAS ECONOMIA GOVERNO POLÍTICA ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS:
Alexandre Barreira: Pois. Caro AG, É verdade que o buraco
cavaco. Perdão, cavado. Já existe há décadas. E não se preocupe com o buraco. Ele
ainda tem muito "monte". Para escavar os próximos 30 anos....! Miguel Sanches: Ou seja, o esplendor da
democracia. Sim, o que importa é que haja "democracia", mesmo que o
rei vá nu... Há quem goste disto. Filipe
Freitas: Tudo verdade, tudo assustador. Infelizmente nada
mudará até o PS e a esquerda perderem votos a sério. Para isso a comunicação
social tem um papel indispensável! Para quando um Observador TV?? Há muita e
muita gente que não lê jornais e tudo o que sabe vem da televisão. Querem ter
mais impacto? Transmitam estas mensagens (e do contra-corrente, e do
bom-mau-e-vilão,...) num canal de televisão só vosso!! Façam esse favor ao
país... Antonio
Berberan: "...iluda eleitores com
problemas cognitivos, que junto com os borlistas são o público-alvo do dr.
Costa". Nesta frase se resume o grande problema da democracia portuguesa.
É que pessoas com problemas cognitivos somados com borlistas dá uma maioria no
parlamento. José
Paulo C Castro: Há quem prefira ser o chefe em cima de miséria do que
ninguém especial no meio da prosperidade. Há quem prefira salvar um partido do
que salvar um país. O desejo de que se esqueçam é comum em indiciados por má
gestão. A certa altura, já só desejam isso. Eduardo Cunha: excelente artigo. a nossa
triste sina dá vontade de rir. JOHN
MARTINS: Se este artigo tem saìdo ontem,
data comemorativa dos 12 anos, da entrada da TROIKA, obra de Sócrates, era
monumental; saindo hoje, não deixa de ser magnífico. Ora, o sr Costa, deixando
o país estilhaçado, como já está, tem já um lugar cativo, ao lado da obra de
arte, em exposição permanente, no jardim do Palácio de Belém, de baixo dos
olhares do PR, que autorizou essa permanente exposição artística. E imaginem,
trata-se de um ...BORDALO em grande escala , nem mais nem menos. Ora, toma lá,
dr. Costa, pela obra que fizeste... Maria Paula Silva: Demais!!!! Deliciosa crónica,
cheia de analogias excelentes. Neste país desfeito, em que os Parodiantes da
Portela já nem piam mas as gargalhadas do dr. Costa são cada vez mais sonoras e
intermitentes, ao ponto de me causarem pesadelos, quem vier a seguir - se é que
há alguém para vir a seguir -, vai ser trucidado. Por isso, é bom que os
trambiqueiros não dissolvam coisa nenhuma e se aguentem até ao fim. O Dr. Costa
merece, cada vez mais, pagar a factura até ao fim. Lixados já nós estamos,
tramados cada vez mais, por isso... tanto faz. p.s. - ele, o sr. Costa, já
tinha mostrado por diversas vezes um nível psicológico a raiar o infantil. Por que carga d'água se terá lembrado ele de
dizer em público, com ar de criança modesta, que
"não quer ser lembrado daqui a 30 anos" ?? como se essa
palermice o investisse de uma humildade suprema? observador
censurado: No próximo ano, comemorar-se-á
500 anos do nascimento de Luís de Camões que descreveu com 9 palavras o que se passa em Portugal: "Que um fraco
Rei faz fraca a forte gente". Fracos "Reis": MRS. Vento a favor:
comenta tudo o que mexe. Vento contra: ausenta-se, isto é, foge. Costa. Vento a
favor: trocista, vendedor de ilusões. Vento contra: ausenta-se, isto é, foge. Forte
gente: Caminhando, de forma inexorável, para serem os mais fracos (pobres) da
Europa. observador
censurado observador censurado:
O autor descreveu
em 11 palavras os últimos 28 anos dos governos do PS: "reduzir
a sociedade ao Estado e reduzir o Estado ao PS". Relativamente ao
buraco cavado pelo "dr. Costa e dos que tornaram possível o dr.
Costa", há o lado bom. Pode ser que, sendo o buraco estratosférico,
ninguém se esqueça dele tal como nos países do leste da Europa não se esquecem
do socialismo. Joao
Parracho Filipe: Para além da aplicação dos métodos da camorra
napolitana como queimarem-lhe o carro em jeito de aviso para que fique
caladinha. Ninguém me convence do contrário de que isto foi tudo um esquema
para financiar o saco azul do PS. Alexandra: Quinhentos Mil Reis e o
pavilhão fictício de Caminha dilapidaram o erário publico em quase um milhão de
euros e depois foram compensados com secretarias de estado pelos bons e leais
serviços prestados ao estado, perdão PS.
Maria Liz: Ó pá, fartei-me de rir. "Sendo uma casta digníssima, ..." "os
subscritores do manifesto andassem a juntar dinheiro para nos
compensar,..." "Podiam pôr algum dos próprios bolsos..." Mas
depois, voltei a mim e ao artigo e chorei. Muito bom! F. Mendes: Muito bom artigo! Estou
totalmente de acordo com o AG, quando ele afirma, ou sugere, que as
malfeitorias praticadas por Costa, com o beneplácito do Marcelo, vão muito além
da simples irresponsabilidade e incompetência. Costa põe a sua agenda pessoal à frente do partido; o
partido à frente do governo; o governo à frente do estado; o estado à frente da
sociedade e das pessoas, exceptuando aquelas que vão sorvendo as prebendas de
um regime podre. Esta é uma hierarquização perversa, e absolutamente invertida,
por comparação com o que seria praticado por um governo decente, de um país
civilizado. Esta realidade tornou-se
demasiado evidente. Numa sociedade minimamente sã, nunca teríamos chegado
sequer perto disto. Dizer que, daqui a 30 anos, haverá alguém a olhar para o
buraco em que Costa e Marcelo nos meteram, é provavelmente optimista: porque
pressupõe que alguém tenha saído do buraco a tempo, e que se atreva a olhar
para baixo, com receio de lá cair.
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