Não
creio sem ver. O volte face, é claro. O país dança para a esquerda, bem compostinho,
o chiquismo maneirista continua na sua
nova postura, que tão cedo não despega da sua “democracia” ficcional, feita de
arremetidas para inglês ver, na realidade de ilusória prestação séria e
efectiva por parte dos mansos opositores, futuros digladiadores entre si. Mas o
“Chicão” parece-me imprescindível no conluio, pela nobreza do seu carácter, a lembrar um antigo CDS…
O PSD: um aviso à navegação
(outro)
Fazer oposição é também lembrar a
marca do PSD no país e o seu insubstituível património. Cem vezes, mil vezes,
todas as vezes. Como exemplo, como proposta, como garantia.
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista,
colunista do Observador
OBSERVADOR, 05
abr. 2023, 00:2258
1Então
agora é muito simples: ou o PSD faz caso da advertência recebida através da última
sondagem e mete uma quinta, ou não faz. Não existem terceiras vias. (E se
existirem, não interessam). Já se sabe que não há pior mensageiro que uma
sondagem: a esperança derramada sobre os primeiros lugares nunca é uma garantia
definitiva, a fiabilidade dos números nunca é cem por cento segura, a sua
manipulação nunca é de excluir, a influência de cada ar do tempo nunca é igual,
de circunstância para circunstância. Já são demasiados “nuncas” mas as
sondagens são como as estações do ano: tratam todas do clima, variam segundo as
épocas mas é preciso fazer (algum) caso delas.
O PS perdeu sete pontos, o PSD não beneficiou com isso. A perda socialista era mais que previsível, os magros
ganhos do PSD foram uma surpresa. Apesar de tudo, foram.
De
modo que agora ou “se” muda de cabo, ou se desce para a segunda divisão.
E
se assim fosse teríamos o país circunscrito a um mapa partidário que o deixaria
pessimamente entregue e impossivelmente governável. Nefastas consequências.
É
certo que há uma atenuante que não é de somenos, aliás, duas: a falta de palco
parlamentar do PSD – e doutros palcos – e a ausência de uma atenção mediática
digna do maior partido da oposição. Por partes: ninguém ignora
que o PSD como um todo nacional é melhor do que a bancada escolhida por Rui Rio
em tempos de má memória partidária; segundo:
ninguém substitui a ausência do líder de um partido na primeira fila da sua
bancada, o líder é o líder (sim já sei, La Palisse não diria melhor mas por
vezes é preciso agarrar no óbvio e atirá-lo para o campo). Não há tropas
convincentes, convencidas e unidas por interposto general. No caso, escolhidas
por um general que serviu a guerra errada. Pior, portanto.
Se
à falta de palcos se somar o desinteresse entediado da media face ao PSD — quem
se interessou, por exemplo, pelo bem fundamentado “pacote de Habitação”
apresentado pelo partido há pouco tempo? — estas atenuantes não são uma ficção.
Mesmo que ninguém entre no céu político levado por anjos de asas “atenuantes”.
2O que é mudar de cabo? É ser mais pró-activo que reactivo; é propor mais do que meramente criticar; é dizer mais
do que falar. Transmitir alguma coisa a alguém ou a uma plateia convencendo uma
e outra não é de todo o mesmo que falar de umas coisas e criticar outras, reagindo
e não pro-agindo. (La Palisse,
outra vez).
Mudar
de cabo é saber mostrar que além do tonitruante, truculento, turbulento Ventura
não há ninguém – nem ideia nenhuma – no Chega. A menos que se confundam
borbulhantes retóricas de protesto com programas políticos nacionais ou que nos
comovamos excessivamente com quem quer abrigo para o seu ressentimento (sem
perceber que nunca será consolado em tão infértil solo político.) Aliás – vem nos livros – no dia em que o Chega
entrasse para um governo de centro-direita a sua recalcitrante retórica
sumir-se-ia dos radares e o Chega surgiria escanhoado e de gravata após ter
trocado o militante ressentimento por uma cadeira no governo. É da natureza
humana. O perigo – sempre ampliado – que “se” diz que o Chega representa pelos
temas que persegue, sempre me pareceu menor do que o facto de ele ser apenas
uma mera cabine de protesto. Tem 13% dos votos? Talvez: atrapalha os outros e
nunca “salvará” o país. Onde está a estratégia fora da terra queimada?
As prioridades fora do discurso alarmista? Os quadros, fora algumas figuras
pescadas à pressa para se sentarem no parlamento? A capacidade política para
além da omnipresença obsessiva de André Ventura ou da rua comicieira? Não deve
haver voto mais inútil.
Um
equívoco – entre
outros – que caberia a Luís Montenegro e aos seus pares separar como o trigo do
joio embora – convém recordar – o equívoco, tal como o grupo parlamentar,
também tenha sido herdado: Rui Rio, deixando a direita entregue a si mesma e “à
solta”, adubou e regou esse espaço. O Chega agradeceu e desabrochou. E em vez
de ter sido pressentido e depois “incorporado”, estupidamente cresceu. Erro
político sem perdão.
Também convinha, já agora,
perguntar à Iniciativa Liberal o que é a Iniciativa Liberal: o que é este novel
partido – mas que no último Congresso já parecia ter cem anos – mais o seu
molhe de mal misturados “liberalismos-libertários”?
Que pretendem fazer deles próprios?
Com quem? Para quê?
O que quero significar? Isto: que só há um lugar para o PSD. Um
único. O de se autocolocar convincentemente, credivelmente, indiscutivelmente,
na carruagem da frente do comboio da oposição, liderando e conduzindo as
oposições até aos portos de cada eleição.
Lembrando ao CDS o que não será preciso lembrar: que desde 1979 do
século passado sempre souberam – ambos, PSD e CDS – quando deviam estar juntos
e para quê; convencendo a IL que é melhor estar politicamente bem acompanhado
do que partidariamente só; explicando a Ventura que a escolha é entre apoiar o
PSD sem contrapartidas ou ser responsabilizado pela já tumular eternização do
PS no poder, que no caso é o mesmo que dizer no país. Não parece, nem é pouco.
É racional. E politicamente indispensável.
3Um dos maiores mistérios da política
portuguesa é a vergonha embaraçada do PSD face à sua história, à sua
marca no país, ao seu património. Ao contrário das esquerdas que por saberem
esse património uma realidade inapagável gastam tempo e palavras a desmenti-lo,
o PSD não. Disfarça-o em vez de o fazer brilhar, omite-o em vez de o pôr a
render. O mistério – misteriosíssimo – é o maior desperdício político de que me
lembro nestas últimas décadas.
O PSD foi o primeiro partido a saber congregar outros da sua área
política numa aliança contra o poder militar e as esquerdas radicais, em nome
de uma democracia civilista. Fê-lo Sá Carneiro em 1979 numa altura em que era
quase impossível fazê-lo, demonstrando ser possível vencer as esquerdas e o
cerco do ar do tempo; Cavaco Silva – o único político português detentor de
quatro maiorias absolutas – foi, à frente do PSD, o autor das maiores e mais
decisivas reformas estruturais levadas a cabo em meio século, desenvolvendo,
modernizando e europeizando Portugal; Passos Coelho salvou o país de uma
bancarrota certa, lidou com uma humilhante troika, dispensou resgates, pôs o
país a crescer no final de 2013 e ganhou as eleições a seguir, deixando como
brinde uma espessa almofada financeira que muito acudiu aos geringonços.
Fazer
oposição é também lembrar tudo isto cem vezes, mil vezes, todas as vezes. Como
exemplo, como proposta, como garantia.
4Isto dito não penso de modo nenhum que a “culpa” – prefiro dizer
responsabilidade – pertença apenas a Luís Montenegro. Acompanhei de muito perto
os anos da troika, apercebi-me do que foram os “trabalhos de Hércules” de
Montenegro ao assegurar – sem nunca perder autoridade, convicção ou capacidade
de liderança – o rumo parlamentar das bancadas do PSD e do CDS que liderou por
mais de quatro sobressaltados anos no hemiciclo de S. Bento: foram por exemplo
sempre maiores do que se sabia publicamente as dúvidas e as angústias do CDS na
sua articulação com o PSD; foram sempre indecentes as mentiras ditas pelo PS
sobre a situação financeira do país em 2011, foi ainda mais indecente a sua
total desresponsabilização na iminência da banca rota que culminou com a vinda
da troika e as suas duríssimas exigências; foi manter o país convicto da
bondade dos sacrifícios exigidos dos quais as bancadas parlamentares do PSD e do
CDS também eram o veículo e simultaneamente o espelho. Ou seja Luís Montenegro
terá certamente também ele uma quota parte de endurance política na vitória
eleitoral da coligação em 2015.
Sucede que são águas passadas, logo
méritos passados. É preciso mais. Sair, ter iniciativa, atrair a qualidade, ser
capaz de escolher os melhores em vez da costumada rendição à partidarite e as
suas aflitivas chantagens. Ouvir (e aprender) com quem deu provas ou mostrou
excelência nas áreas hoje em ferida aberta no país e são quase todas.
Escancarar uma janela na bolha interna do PSD e deixar entrar ar. O melhor ar.
A empreitada parece impossível?
Veremos. Talvez não seja.
PS: A
amizade cria responsabilidades. O respeito por ela cria ainda mais. São uma e
outro que me trazem hoje junto do Padre
Mário Rui Pedras, a quem uma
denúncia anónima relacionou com o trágico caso dos abusos na Igreja. Trabalhei
muitas vezes com o Padre Mário Rui, conheço-o muito bem e há muito tempo,
integrei equipas lideradas por ele. A minha família e eu própria escolhemos o
Padre Mário Rui para celebrar a última missa na nossa casa do Campo Grande,
antes de nos despedirmos dela. Tudo isto para deixar aqui, na Semana Maior do
Cristianismo, o testemunho de confiança e gratidão que lhe devo.
COMENTÁRIOS (de 60):
Francisco Almeida: É sempre um prazer ler MJA e hoje não foi excepção embora o assunto do
artigo não me desperte grande interesse. Para mim o PSD foi sempre o que foram
os seus líderes e, sem eles, é um saco de barões ambiciosos e caciques
regionais. De resto Sá Carneiro foi excepcional mas não tivemos oportunidade de o
conhecer a governas e a aplicar um programa. Cavaco teve o mérito da
oportunidade e fez um excelente 1º governo mas borrou a pintura no segundo.
Como PR esteve bem no primeiro mandato mas, borrou a pintura no final do
segundo. Tudo somado, o que posso dizer dele é que todos os outros foram piores
ou muito piores. Passos
Coelho foi um caso extraordinário que nada faria prever. Infelizmente o TC e a teia
montada sobretudo pela CS não permitiram passar a mensagem. Depois, obrigado
pelo TC é certo, tudo fez aumentando a receita mas não cortou a despesa.
Assim só no segundo mandato, gorado pele geringonça, poderíamos saber como
governaria pela positiva e não apenas para evitar a bancarrota. Montenegro foi um bom líder
parlamentar mas, até aqui, mostrou-se aquém, MJA parece acreditar que ainda
será capaz de um golpe de asa, eu duvido. Mas o que para mim foi
excepcional no artigo, foi a nota final. Aí MJA demonstrou, sem necessidade de
o afirmar, a diferença de coragem e de postura ética entre si e Ventura.
Nota: Não conheço o Pe. Mário Rui,
apenas constatei diferentes atitudes de quem lhe é/foi próximo. Joaquim
Rodrigues: O que, verdadeiramente,
derrotou o PSD, nas últimas eleições, foram as “estratégias de oposição” à moda
das Ferreiras Leites, dos Justinos, dos Joaquins Sarmentos, dos Pachecos
Pereiras, dos Moedas e dos Rui Rios, seguidores e similares. Daqueles que cultivam a “teoria”, segundo a qual, para conquistar o poder,
o que é preciso é “fazerem-se de mortos”, "nunca dizerem ao que vêm"
e esperar que os que estão a “Governar” caiam de podres. Dos que consideram que quanto menos se revele e anuncie das “Reformas e
Medidas Políticas” que tencionam levar a cabo, melhor. Na verdade, não passam de
formas de oportunismo político, com medo da Comunicação Social do Sistema, que
tratam o povo com desprezo, como se de uma massa de ignorantes se tratasse,
considerando que as medidas que é necessário tomar, depois de chegarem ao
poder, são tão impopulares, que devem ser escondidas dos cidadãos. É a política do “faz-te de morto” e “não digas nunca ao que vens” que na
verdade é a política dos que pretendem apenas mudar de “moscas” para que tudo
continue na mesma. Essas “estratégias”
consubstanciaram-se, por exemplo, na aprovação e aceitação do fim dos
"debates quinzenais" e naqueles “inenarráveis” cartazes eleitorais do
PSD, sem qualquer mensagem política, com o dizer “Novos Horizontes”. Luís Montenegro, não sendo oportunista, se for
honesto, e querendo o melhor para o País, pode e deve nortear-se, apenas e tão
só, pelo verdadeiro diagnóstico da situação do País, pela denúncia do
verdadeiro alcance das políticas do Costa e pela verdade da dureza das
políticas e reformas que é necessário executar. O que se espera é que o Luís
Montenegro não tenha "medo e falta de coragem" quanto à afirmação do
“verdadeiro” diagnóstico da situação do País, das Políticas e Reformas que é
necessário pôr em prática, e da afirmação e defesa de um Programa Político
objectivo, concreto e claro. É esse "Programa Político" que deixará o
"Chega" a pregar no deserto. Foi o medo e a falta de coragem
na afirmação de um “Programa Político” que, no passado, derrotaram Rui Rio.
Luís
Montenegro tem de ter como primeira prioridade a elaboração do Programa
Político do PSD para o País. Deve ser esse Programa Político o "fio
condutor" que dará coerência e racionalidade a todas as intervenções
públicas de Luís Montenegro e todos os responsáveis do PSD. Mesmo que o Costa caísse de
podre e o poder viesse parar às mãos de Luís Montenegro, sem a afirmação prévia
da "verdadeira" situação do País, das verdadeiras
"Reformas" que o País exige e de um "Programa Político"
objectivo, concreto e claro, Luís Montenegro não conseguirá nunca fazer as
Reformas que o País exige! É o “Programa Político” de Sá Carneiro que o PSD de
Luís Montenegro pode apresentar, mas os outros partidos não podem, que vai
derrotar o Costa e vai deixar o “Chega” a esbracejar no vazio. Antonio Sennfelt: Não sou particular "fan"
da autora, mas o presente artigo acerta em cheio na actual problemática do PSD,
herança do famigerado Sr. Rui Rio! Manuel Fernandes: A MJA está agarrada aos seus
afectos e companheiros de caminho de sempre e dói-lhe ver o CHEGA a cativar
eleitores. Então utiliza a técnica que noutros artigos já disse desprezar: a
menorização e achincalhamento do adversário político. Como lhe dói que o CHEGA
suba, em vez de pensar porque é que o PSD estagna, insulta o CHEGA. E
entretanto o CHEGA duplica o número de votantes potenciais. Ou seja: a MJA está
certa e uns 700/800 000 votantes estão errados. A MJA com tanta experiência (de
que se gaba) devia saber que os partidos também morrem... Quando os eleitores
percebem que esses partidos já não prestam. O CDS (outra afeição da MJA) também
julgava que era eterno e podia dormir descansado ao colo, umas vezes do PSD,
outras do PS... Viu-se……………………………………………………………………………
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