- E porque o algodão não engana – outras
hipóteses se geram, incluindo a da limpeza geral – embora, semanticamente
traduzindo, tal “limpeza” possa atribuir-se à da própria “limpeza”, pelo que não restará para
nós, de facto, mais do que a sujidade específica da nossa actual vivência, espessamente
eivada de retórica, para mais com séria exigência da contrição, grossamente passadista e sem metáfora.
Henrique Salles da Fonseca
16.04.23
A profusão de notícias alarmistas cria a
ansiedade; a pessoa ansiosa fica vulnerável; a pessoa vulnerável aceita
facilmente qualquer ajuda; quem aceita qualquer ajuda pode ser objecto de
manipulação, a manipulação pode ser feita sob a forma de publicidade; a
publicidade vale milhões.
O náufrago sobrevive até à praia onde
morre.
O aviso meteorológico laranja, a grande
ondulação marítima, a negligência médica e o caos na TAP ou no SNS, o
detergente que lava mais branco até as roupas de cor, os protestos dos
professores, a melhor agência de viagens o supermercado mais barato, o Partido
político que defende os desgraçados e aquele que arrebanha corruptos, a greve
do pessoal menor numa refinaria de petróleo na Nigéria a provocar subida de
preços..., eis a fértil sementeira da ansiedade que ainda pode ser adubada com
uma ou outra «fake».
TUDO MAU!
Jornalismo
policial para denunciar falta de policiamento? Não, para
produzir hordas de náufragos ávidos de detergentes.
Abril de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Tags: política
COMENTÁRIOS:
Adriano
Miranda Lima 16.04.2023 21:41: Esplêndido texto e reflexão profunda sobre os tempos que estamos a
atravessar. A comunicação social está a alimentar uma estratégia contra o
actual governo de maioria absoluta (mais porque o é do que por razões
ponderosas) mas que pode estar a concorrer para pôr em perigo a nossa
democracia. O Pacheco Pereira aborda esta tese no seu artigo publicado ontem no
jornal Público, pelo que posso considerar que os dois autores - o Dr. Salles da
Fonseca e o Dr. Pacheco Pereira - estão em sintonia quanto à necessidade de
sanear e dignificar o debate público e, assim, proteger a nossa democracia.
António Fonseca 17.04.2023: Palavras lapidares que merecem ser expostas em letras
garrafais nos frontispícios de todas as agências noticiosas do País. Admirável,
Sr. Doutor.
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