No nosso caldeirão de virtudes, cabem
todos os espécimes de Joões Ratões, Carochinhas que somos, a preparar
jantaradas – mais as nossas que as deles, mau grado a aparência, que não
passamos sem essas, e daí a embriaguez dos abraços a todos os Joões – na nossa
ficção (ou fixação) em respeitos vários, de burlões confessos. Como quem
estende a mão indiferentemente, submissamente, pois o que conta é a espórtula
resultante. Eugénia de
Vasconcellos analisa exemplarmente o fenómeno – do João Ratão
falseador da realidade que, carochinha leviana acolhemos na nossa festa – direi
mesmo que no nosso leito - apesar do compromisso com o nobre João do
compromisso anterior. Hábitos velhos de desonestidade que jamais murcha, essa,
como se tem visto, exemplarmente.
Já murcharam tua festa, pá
Lula da Silva, Grande-Colar da Ordem
da Liberdade por Jorge Sampaio, discursa a 25 de Abril de 2023 a convite de
Marcelo Rebelo de Sousa, que condecorou Zelensky com a mesma Ordem.
EUGÉNIA DE VASCONCELLOS Poeta,
ensaísta, escritora
OBSERVADOR, 22
abr. 2023, 00:136
A
questão Lula da Silva nas celebrações do 25 de Abril não é uma questão menor. É
uma questão exemplar. Não se pode defender uma coisa e o seu contrário. Ou pode quando se trata de liberdade e de
democracia?
Lula da Silva tem sido claro e
consistente. Para Lula, a Ucrânia é tão responsável pela guerra como a Rússia
de Putin. Pior. Os Estados Unidos, a União Europeia e a NATO partilham da
responsabilidade pela invasão russa da Ucrânia. E pela estimulação da guerra
através do fornecimento de armas e de formação militar. Ou seja, este é um homem que faz
equivaler agressor e agredido. E tem-lo demonstrado em sucessivas declarações. Logo
após a invasão russa da Ucrânia; em entrevista à Time; voltou a fazê-lo em
Pequim; e agora nos Emiratos Árabes Unidos. Este é o homem a quem Lavrov,
ministro dos negócios estrangeiros da Rússia de Putin, agradeceu «a clara
compreensão da génese da situação», e sobre quem disse «temos visões
similares». A convicção de Lula da Silva da responsabilidade da
Ucrânia, dos Estados Unidos, da União Europeia e da Nato na invasão russa,
repito, russa, tem sido reiterada em cada oportunidade.
Isto é o mesmo que dizer que as valas comuns de Bucha, Izium, de
Mariupol são também de responsabilidade ucraniana, norte-americana, europeia e
da NATO. O mesmo para os civis ucranianos mortos. Para as crianças mortas e
para as raptadas. Para as mulheres violadas. Para as vítimas de tortura. Isto é
o branqueamento dos crimes de guerra russos.
Como tive oportunidade de escrever, aqui, no Observador, a este propósito, há mais de
um ano, Lula da Silva faz parte do grupo daqueles para quem se uma
mulher de mini-saia é violada, é porque estava a pedi-las – na verdade, igual
posição tem qualquer fundamentalista que no Irão nos repugna quando exige que a
mulher se cubra totalmente e nem o cabelo mostre para garantir o controlo do
comportamento sexual dele.
Lula da Silva considera que a integridade territorial de um país,
logo o direito internacional, não tem significado efectivo. No entanto, é este
o homem que, a despeito do horário, discursará no Parlamento, no dia das
comemorações do 25 de Abril.
Celebramos a democracia com o discurso
de quem tão profundamente a desrespeita, com a conivência de Marcelo Rebelo de
Sousa, António Costa e Augusto Santos Silva.
Ouvir Marcelo Rebelo de Sousa
justificar o convite com as boas relações institucionais entre Portugal e
Brasil e a relação privilegiada entre os dois países não apaga as declarações
anti-democráticas e em absoluto desrespeito pela Carta das Nações Unidas e pela
União Europeia que reiteradamente Lula da Silva proferiu.
E se a presença de Lula no Parlamento a
25 de Abril tem convulsionado os media é só porque repugna a muitos
portugueses, qualquer que seja a sua filiação política. O PSD,
através de Paulo Rangel, veio exigir ao governo «a demarcação diplomática e
pública» das posições de Lula, e uma «posição pública e formal». Os
exemplos de repúdio são tantos, mesmo dentro do próprio Partido Socialista, que
este veio, através de Jaimila Madeira, justificar tal presença. As declarações
feitas em nome do PS manifestam a desonestidade intelectual e moral deste
socialismo. Onde diz «paz», está implicada a submissão ucraniana, pois foi
condenada a entrega de armas pelos aliados europeus. Onde diz países da CPLP,
implica economias dependentes da Rússia.
Não deixa de ser uma coisa e o seu
contrário, enquanto é também uma ironia: Lula da Silva, Grande-Colar da Ordem
da Liberdade por Jorge Sampaio, discursa a 25 de Abril de 2023 a convite de
Marcelo Rebelo de Sousa, que condecorou Zelensky com a mesma Ordem.
A
autora escreve segundo a antiga ortografia
LULA DA SILVA BRASIL MUNDO GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA 25
DE ABRIL PAÍS
COMENTÁRIOS:
Maria Alva: Bem fundamentado e muito desconfortável para o status quo nacional. João
Floriano: Há uma grande diferença entre ler o artigo de Eugénia
de Vasconcelos antes ou depois de ter ouvido Lula e sobretudo Marcelo
discursarem e responderem aos jornalistas na conferência de imprensa de hoje.
Para começo de conversa já não percebo se Lula discursa ou não no parlamento a
25 de Abril, mesmo que antes da sessão solene, ou se nessa manhã estará de
partida para Madrid. O Lula descrito e bem no segundo parágrafo não é o mesmo
que hoje esteve na conferência de imprensa com o Presidente Rebelo ( Que
estranho! sabemos que é o mesmo, mas parece-nos diferente!). Diria que Lula tem
um lado vira casacas em que existe um discurso para Rússia e amigos e outro
discurso para ser aplicado no Ocidente. O
PSD, através de Paulo Rangel, veio exigir ao governo «a demarcação diplomática
e pública» das posições de Lula, e uma «posição pública e formal». Só
que Marcelo passou a perna ao PSD citando o elogio de Cavaco Silva a Lula
em 2011 e fê-lo por duas vezes não fosse o PSD ter falhado a audição da primeira.
E não só Cavaco, também Sampaio se encantou com Lula. Que argumentos se
seguem? Não sei se a festa murchou, é bem possível porque o mote está
apresentado, as perguntas colocadas e as respostas serão sempre as mesmas com
leves variações. Agora o que murchou foi o interesse em confrontar Lula, em
fazer-lhe sentir que não concordamos com ele. Eduardo
Manuel Marques de Meneses: Muito bem argumentado! País e suas
instituições à deriva. Marcelo deveria dissolver o parlamento e abdicar em
seguida. Vanessa
Serra: Plenamente de
acordo! Maria Cordes:
Estamos
esclarecidos, se dúvidas existissem, o seu artigo responde. Muito obrigada. Os
senhores que convidaram Lula, se vivessem ao tempo da segunda guerra mundial,
teriam convidado Hitler, e ralhado com os aliados, por não terem acedido às
exigências. bento guerra:
Ou seja, com
colar ou sem colar,uma oportunidade para escrever um "linguado" e
receber o habitual
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