segunda-feira, 3 de abril de 2023

Decididamente


Foi a propósito do “Caso Mondego”.

Com fotografia expressiva.

Uma longa tirada no facebook de LUIS SOARES DE OLIVEIRA, recebida por email. De passagem, um texto de Vasco Pulido Valente, outro de Eça, transcrito de Henrique Borges, de actualidade perene, hélas!

4 D

BATALHA NAVAL

Navio Mondego avaria-se e deita fumo negro. Almirante ao fundo.

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9 comentários

Mais relevantes

António Pereira de Carvalho

"5 de Junho

...

«Quanto à "crise do regime", começa a ser visível a sua verdadeira essência: a miséria do país. Um mal que não se resolve com leis eleitorais, com a reforma moral dos partidos ou o milagroso desaparecimento da corrupção. Disparates que entretêm os opinantes do costume. O PS não diminuiu a pobreza e a desigualdade, disfarçou-as durante uns tempos. No fim continuámos com os mesmos problemas: a dificuldade de pagarmos o Estado que temos e, sobretudo, o Estado que desejamos; a impossibilidade de vivermos como se vive na Europa, ou sequer perto disso; a baixa produtividade; uma pequeníssima poupança; um investimento fraco; um crescimento que não acompanha as expectativas da maioria dos portugueses.»

PÚBLICO. Sábado, 8.6.2019 . Página 5

VASCO PULIDO VALENTE

(Lisboa, 21.11.1941- Lisboa, 21.2.2020)

78 anos

Nuno Miguel Pereira: Já tem idade pra ter juízo

 

Luis Soares de Oliveira

3 d

Comunicação do amigo

Henrique Borges:

Como sempre, Eça já disse tudo o que havia a dizer sobre o assunto. Só não antecipou o almirante-palerma.

«Mas, meus senhores, antes de tudo, nós não temos Marinha!

Singular coisa! Nós só temos Marinha pelo motivo de termos colónias – e justamente as nossas colónias não prosperam porque não temos Marinha!

Todavia, a nossa Marinha, ausente dos mares, sulca profundamente o orçamento.

Gasta 1 159 000$000.

Que realidade corresponde a esta fantasmagoria das cifras?

Uns poucos de navios defeituosos, velhos, decrépitos, quase inúteis, sem artilharia, sem condições de navegabilidade, com cordame podre e mastreação carunchosa, a história obscura.

É uma Marinha inválida.

A D. João tem 50 anos, o breu cobre-lhe as cãs: o seu maior desejo seria aposentar-se como barca de banhos.

A Pedro Nunes está em tal estado, que, vendida, dá uma soma que o pudor nos impede de escrever.

O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes – mas não pode pedir troco.

A Mindelo tem um jeito: deita-se. No mar alto, todas as suas tendências, todos os seus esforços são para se deitar.

Os oficiais de Marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais.

A Mindelo é um esquife – a hélice.

A Napier saiu um dia para uma possessão. Conseguiu lá chegar. Mas, exausta, não quis, não pôde voltar. Pediu-se-lhe, lembrou-se-lhe a honra nacional, citou-se-lhe Camões, o Sr. Melício, todas as nossas glórias. A Napier, insensível, como morta, não se mexeu.

Das 8 corvetas que possuímos são inúteis para combate ou para transporte – todas as 8.

Nem construção para entrar em fogo, nem capacidade para conduzir tropa.

Não têm aplicação.

Há ideia de as alugar como hotéis. A nossa esquadra é uma colecção de jangadas disfarçadas! E este grande povo de navegadores acha-se reduzido a admirar o vapor de Cacilhas!

.Têm um único mérito estes navios perante uma agressão estrangeira: impor-se pelo respeito da idade. Quem ousaria atacar as cãs destes velhos?

Já se quis muitas vezes introduzir nas fileiras destes vasos caducos alguns navios novos, ágeis, robustos. Tentou-se primeiro comprá-los.

Sucedeu o caso da corveta Hawks.

Era esta corveta uma carcaça britânica, que o Almirantado mandava vender pela madeira – como se vende um livro a peso.

Por esse tempo, o Governo português – morgado de província ingénuo e generoso – travou conhecimento com a Hawks, e comprou a Hawks. E quando mais tarde, para glória da monarquia, quis usar dela, a Hawks, com um impudor abjecto, desfez-se-lhe nas mãos!

Estava podre! Nem fingir soube! Tinha custado muitas mil libras.

Tentou-se então construir em Portugal.

Sabia-se que o Arsenal é uma instituição verdadeiramente informe: nem oficinas, nem instrumentos, nem engenheiros, nem organização, nem direcção. Tentou-se todavia – e fez-se nos estaleiros a Duque da Terceira. Foi meter máquina a Inglaterra. E aí se descobre que a tenra Duque da Terceira, da idade de meses, tinha o fundo podre!

Foi necessário gastar com ela mais cento e tantos contos.

Nova tentativa. Entra nos estaleiros a Infante D. João. 87 contos de despesa. Vai meter máquina a Inglaterra. Fundo podre! O Arsenal perdia a cabeça! Aquela podridão começava a apresentar-se com um carácter de insistência verdadeiramente antipatriótica!

Os engenheiros em Inglaterra já se não aproximavam dos navios portugueses senão em bicos de pés – e com o lenço no nariz. As construções saídas do Arsenal sucumbiam de podridão fulminante.

A Infante D. João custou em Inglaterra mais cento e tantos contos!

O Arsenal, humilhado no género navio, começou a tentar a especialidade lancha. Fez uma a vapor. Lança-se ao Tejo, alegria nacional, colchas, foguetes, bandeirolas… E a lancha não anda! Dá-se-lhe toda a força, geme a máquina, range o costado – e a lancha imóvel! Mas de repente faz um movimento

Alegria inesperada, desilusão imediata! A lancha recuava. Era uma brisa que a repelia.

Em todas as experiências a lancha recuava com extrema condescendência: brisa ou corrente tudo a levava, mas para trás. Para diante, não ia.

O Arsenal tinha feito uma lancha a vapor que só podia avançar puxada a bois.

O País riu durante um mês.

A nossa glória, inquestionavelmente, é a Estefânia. Parece que poucas nações possuem um vaso de guerra tão bem tapetado! O orgulho daquele navio é rivalizar com os quartos do Hotel Central. É um salão de Verão surto no Tejo.

E no Tejo, realmente, dá-se bem. No mar alto, não! Aí tem tonturas. Não nasceu para aquilo: um navio é um organismo, e como tal pode ter vocações: a vocação da Estefânia era ser gabinete de toilette. É pacata como um conselheiro. É uma fragata do Tribunal de Contas!

Por isso, quando a quiseram levar a Suez, quantos desgostos deu à sua Pátria! Quantas brancas fez à honra nacional!

É verdade que os cabos novos, da Cordoaria Nacional, quebraram como linhas, e ninguém lhes pode contestar que tivessem esse direito.

A marinhagem também não quis subir às vergas (opinião respeitável, porque a noite estava fria).

Alguns aspirantes choraram de entusiasmo pela Pátria.

O capelão quis confessar os navegadores.

O caso foi muito falado nesse tempo. Mais celebrado que a descoberta da Índia. (…)

O facto é que desde então brilha no Tejo, tranquila, reluzente, vaidosa – a Estefânia, corveta mobilada pelos Srs. Gardé e Raul de Carvalho.”

Luis Soares de Oliveira

Posso transcrever?

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