sábado, 5 de outubro de 2024

JUSTO TEXTO


Indeed.

O homem deles na ONU

O problema não é o ínfimo eng. Guterres, a quem Israel fechou as fronteiras como qualquer pessoa civilizada fecharia a sua casa. Nem a ONU. O problema é o mundo, ou a parte ocidental dele.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 05 out. 2024, 00:20

Após o Irão bombardear Israel, socialistas de toda a Ibéria apressaram-se a demonstrar sincera solidariedade. Com Israel? Nada disso: com o eng. Guterres, coitado, que acabara de declarado persona non grata pelo governo israelita e proibido de entrar no país. Além de uns espanhóis com prestígio no Rato, e do recomendável sr. Lula, o carismático Pedro Nuno Santos, por exemplo, afirmou o seguinte: “Quero manifestar toda a minha solidariedade e apoio ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, pela forma corajosa como tem defendido a paz e condenado todas as formas de violência no Médio Oriente. Lamentamos e repudiamos as declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado de Israel que atingem toda a ONU – e não apenas o seu SG. A escalada de violência tem de terminar e deve ser estabelecido um plano para a paz e para o reconhecimento internacional de um estado palestiniano, no quadro da solução dos dois Estados. Neste contexto, o governo não pode permanecer indiferente às declarações do MNE de Israel, em coerência com o discurso recente do Primeiro-Ministro nas Nações Unidas. Esperamos, portanto, uma reacção oficial do governo português.”

Foi notável esta incursão do dr. Pedro Nuno pela política internacional, já que não se lhe conhece uma única opinião sobre os mísseis (“basílicos”, disse uma especialista na Sic Notícias) iranianos. Ou os rockets do Hezbollah. Ou os psicopatas do Hamas. Ou os ataques do Iémen. Quando o ainda chefe do PS espreme bem espremido o Médio Oriente, o que mais o aflige é o desrespeito da única democracia da região pelo eng. Guterres. No que toca à reacção do governo português, o dr. Pedro Nuno não precisou de esperar: sete minutos antes do seu penetrante texto no X, ou Twitter, os Negócios Estrangeiros já haviam “lamentado profundamente a decisão do Governo de Israel”. E acrescentado que a “missão” do eng. Guterres “é indispensável para assegurar o diálogo, a paz e o multilateralismo. Insta-se o governo de Israel a rever a sua decisão”. E insta muito bem.

Não se percebe o que motiva tamanho consenso entre a oposição e o governo, ou o dr. Pedro Nuno e o dr. Rangel. Patriotismo, a bela arte de exaltar um compatriota por ridículo que seja? Partilha de convicções geo-estratégicas? Pior que tudo é a hipótese de ambos acreditarem de facto na “forma corajosa” como o eng. Guterres “tem defendido a paz e condenado todas as formas de violência no Médio Oriente”, e concordarem que a criatura “é indispensável para assegurar o diálogo, a paz e o multilateralismo”.

Em primeiro lugar, o eng. Guterres não tem “condenado todas as formas de violência no Médio Oriente”. O que ele faz – recorrente e explicitamente – é condenar a título de “escalada” cada acto de retaliação israelita aos ataques de que é alvo. Quanto aos ataques propriamente ditos, o eng. Guterres, a fim de simular isenção, limita-se a lançar uns suspiros raros e difusos, por norma sem identificar os agressores. A “paz” que ele “defende” prevê por omissão a extinção de Israel e estende-se, nos guinchos dos anti-semitas, “do rio até ao mar”.

Em segundo lugar, o eng. Guterres está longe de ser “indispensável para assegurar o diálogo”, palavra que aliás ele proferia abundantemente ao tempo em que era primeiro-ministro (com resultados espantosos). Imagine-se a mesa onde se discutiriam os eventuais acordos. De um lado, Israel. Do outro, terroristas, violadores e assassinos que não admitem a existência de Israel. Ao centro, um espécime que, assaz legitimamente, Israel considera “apoiar terroristas, violadores e assassinos”. O sucesso das negociações seria inevitável.

Não tenciono especular acerca do que leva o eng. Guterres a dizer o que diz, e a calar o que cala. É irrelevante apurar se se trata de dinheiro, carácter, ideologia, distúrbio ou chantagem. A verdade é que interesses subterrâneos (ao estilo dos túneis de Gaza), mas “descobríveis” (ao estilo dos túneis de Gaza), despejaram a figurinha certa no lugar certo. Ninguém serviria tão fielmente os propósitos da ONU quanto aquela gelatina desconsolada, sem sabor nem decência, sem pigmento nem vergonha. O problema não é o ínfimo eng. Guterres, a quem Israel fechou as fronteiras como qualquer pessoa civilizada fecharia a sua casa. O problema também não chega a ser a ONU, agremiação que há demasiados anos ergueu o “sionismo” a inimigo número um e único, e que agora já dispõe de funcionários alistados nas fileiras do terror.

O problema é o mundo, ou o rumo que a parte dita ocidental do mundo decidiu tomar. Nas mãos de líderes (?) débeis ou puros vendidos, “sensíveis” e “tolerantes”, o Ocidente teima em ceder a senhores e a culturas a que não falta vontade, que infelizmente acumulam com a escassez de escrúpulos e a intolerância radical. De um lado, “abertura”; do lado oposto, conquista. Neste cenário, a excepção é Israel, que por necessidade trava as guerras que abdicamos de sequer prevenir. Se Israel não vencer, a célebre “escalada” será igual a esta estranha época: de pernas para o ar. E vai conduzir-nos a um fundo de que não se vê retorno.

ANTÓNIO GUTERRES     POLÍTICA     MÉDIO ORIENTE     MUNDO

COMENTÁRIOS:

Meio Vazio: E pensar que, em 2016, por ocasião da sua candidatura ao tacho de Nova Iorque, o homem iria salvar o Mundo, apenas porque tinha a superior vantagem sobre a rival eslava de ser português...               Ruço Cascais: Mais um fantástico texto e uma excelente escolha do tema. Não obstante, para variar, hoje vou defender o compatriota Guterres com unhas e dentes, já que considero que as acusações do artigo a Guterres acertam ao lado. O texto acusa Guterres de defender uma paz que prevê por omissão a extinção de Israel apoiando a berraria dos anti-semitas; “do rio até ao mar”. Na minha opinião, Guterres não quer a extinção de Israel, o que se passa é que ele é simplesmente incompetente enquanto Secretário Geral da ONU. Já o tinha sido enquanto primeiro-ministro, e,  no papel de comissário da ONU para as imigrações ao escolher o papel de Gandhi foi mais um imigrante do que um comissário para resolver os problemas, ou seja, incompetente no cargo. Repare caro Alberto Gonçalves que Guterres anda a reboque dos israelitas no que respeita ao desempenho do seu papel como principal representante da ONU. Israel começou a implicar com ele - com toda a razão - quando Guterres num dos seus sonhos húmidos de paz se esqueceu de invocar o 7 de Novembro e os reféns israelitas. Estava no papel de Gandhi, só que enfeitiçado com tal espiritualidade tinha-se esquecido do ataque do Hamas a Israel e dos reféns. Depois dos israelitas lhe terem apontado o dedo ao nariz, Guterres acordou e começou a falar do 7 de Outubro e dos reféns nos suas divagações pela paz. Ora, se Guterres fosse competente nunca teria dado azo a ser chamado à atenção pelos israelitas.  Com o ataque dos Aiatolas do Irão a Israel foi precisamente a mesma coisa. Novamente a possessão de Gandhi em Guterres, e este volta a pedir a paz esquecendo de mencionar os mísseis Fatah do Agostinho Costa com que o Irão atacou Israel. Mais uma vez vieram os israelitas zangados fazer o exorcismo a Guterres e este rapidamente se apresentou a criticar o ataque do Irão. Novamente os israelitas a ensinarem diplomacia a Guterres, se bem que Guterres pareça ser um daqueles alunos muito teimosos em aprender que precisam de muitas horas extra de explicação. Só mais uma nota que diz respeito à defesa da honra de Guterres pelo nosso corajoso Presidente da República. O presidente disse que é tudo uma questão de bom senso e que os israelitas certamente iriam reconsiderar a posição. Ou seja, Marcelo, pelo sim pelo não, achou que o melhor era não dizer nada. Marcelo sempre foi muito medroso.  Um bom fim-de semana para todos os caríssimos comentadores que apesar de já não apreciarem o sexo oposto, não deixam de ser boas pessoas.             Alexandre Barreira: Pois. Caro AG, Olhe que o "bailinho". Ainda não acabou. Depois gostava de o ver. A "dançar sózinho"....!!!                 Alcides Longras: À boa maneira da "ciência", alguém devia estudar este fenómeno cada vez mais notório na transversal como na longitudinal: como é que a ideologia provoca cegueira? Defenderem e aplaudirem uma personagem destas que nem se dá ao trabalho de disfarçar o seu viés posicional para o lado da fanfarronice, do exibicionismo, da falta de realismo e, pior que tudo, do terrorismo e da intolerância, é de uma falta de consciência que me deixa estupefacto.  Mas somos cada vez menos, aparentemente.                   Ricardo Ribeiro: Caro Alberto,  o mais engraçado sem graça alguma é que já estão a perfilar esta personagem para a candidatura a prémio nobel da paz! Quem tinha razão era o Major Valentim de Gondomar...Guterres! Guterres! 

A guerra promotora da justiça social


Mas quando se pretende justiça social em função do tal “outro”, o do menosprezo anterior, nem sempre verdadeiro, “o outro” passa o tempo em vinganças e sevícias tantas vezes injustas, de que a Revolução Francesa é exemplo também, tendo por patronos esses filósofos mentores da justiça no mundo, tais o Rousseau, o Montesquieu, o Voltaire… atacantes do menosprezo anterior, nem sempre verdadeiro, e defensores da tal teoria do “bom selvagem”, nem sempre verdadeira, também, na relatividade dos condicionalismos por esse mundo... Por cá, a primeira República, organizada em função do ódio à monarquia prepotente, foi o primeiro grande exemplo da instabilidade contínua na governação. Mas à paz da tal República seguinte, de 40 e tal anos chamou-se-lhe podre. Esta terceira tem as greves e as leis da bondade a desintegrar, no ensino, na ordem, na nação…

E todavia … sim, a teoria do respeito social, na igualdade e na fraternidade, é justa. O mal é que descamba, nas raivas, nos ódios, nas contínuas ambições de cada um, ou mesmo só de alguns, para todos os efeitos, decididamente mais espertos, fautores das leis, sempre com a faca e o queijo na própria mão…

O Dr. Luís Soares de Oliveira, queda-se, esclarecedoramente, pela PRIMEIRA REPÚBLICA, com a Primeira Grande Guerra a sublinhar tanta ambição… 

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

1 d  · 

Caos e ordem

episódio 16

OS EFEITOS DA GRANDE GUERRA

Foi a luta pela igualdade que permitiu o extraordinário progresso do século xx Piketty

A vez da plebe

A I Guerra Mundial e os posteriores tratados de paz provocaram forte impacto nas sociedades europeias. Para já, foi um desmentido aos propósitos de quem a propôs pois não perpetuou os regimes monárquicos e clericais. Antes pelo contrário, destronou os seus proponentes na Áustria, Alemanha, e Rússia, que a tinham julgado meio de perpetuar a obediência dos súbditos. Antes pelo contrário, apeou a hierarquia anterior. Só na GB, onde monarca e clérigos já tinham sido arredados das cadeiras do poder séculos antes, o sistema político existente acomodou os novos condutores proletários sem recurso á violência.

Em Itália, tanto como em Portugal, o processo foi diferente:- a mudança já tinha ocorrido antes da Guerra internacional. No primeiro, o promotor da mudança - Garibaldi - veio da plebe, enquanto no segundo o orientador - Afonso Costa - veio da universidade, mas ambos vinham dominados pelo ódio.

A Igreja, o maior latifundiário do tempo não poderia ficar indiferente a esta mudança no comando social.

Séculos mais tarde, pensadores americanos reconheceram que no mando as ameaças sempre superaram as recompensas e isto porque a resposta à ameaça é forte, imediata e difícil de ignorar. Mesmo assim recomendavam aos executivos das empresas que reduzissem as ameaças no interior das suas empresas e na sua maneira de gerir porque tinham constatado que os seres humanos não conseguem pensar criativamente, trabalhar bem com outros ou tomar decisões correctas quando sua resposta à ameaça está em alerta. O maior desafio do líder, seria pois criar o tipo de ambiente adequado que promova o todos por igual.

Ração burguesa

Com a fuga de Afonso Costa, Chagas e Norton e a morte de Sidónio em Dezembro de 1918, a escória organizada ficou dona da praça, senhora da República. A ordem ficou nas mãos dos que só podiam viver na desordem António José de Almeida, presidente de um dos partidos republicanos, perseguido por terroristas no Rocio de Lisboa que o diga.

Traduzido em cifras, as desordens violentas em Portugal totalizaram, entre 1911 e 1927, 208 ou seja perto de duas por ano.

Poderíamos admitir que as revoluções se distinguem pelos manejadores dos instrumentos de violência que utilizam. São eles que impõem o seu estilo. Na revolução inglesa de Cromwell foram os "cabeças redondas" puritanos que seriam enforcados ou fugiram para - e fizeram- os EUA ; na francesa, foram os jacobinos que impuseram o terror vingativo, a sanha, e, por fim, a guerra europeia. Só na Rússia (1907/17) um político - Lenine - conseguiu pôr fim ao mando dos terroristas. Adiante veremos como. Afonso Costa admirava-o mas não tinha a perspicácia do russo. Esse teria sido esse também o fim, aqui como na Rússia . Só que Lenine teve a sorte de os ingleses terem invadido a Rússia o que LHE permitiu conduzir o processo sob a lei militar e empregando os velhos oficiais do czar.

Os militares poderiam assegurar a ordem mas precisavam de gente com outro preparo para lidar com os restantes aspectos da gestão da cousa pública.

Acresciam outras dificuldades. A intelectualidade do tempo detestava uma ordem preestabelecida e universalmente respeitada, aquilo que os antigos atribuíam ao magisterium cristão, ou seja, a formulação de um modo único de ser membro de uma comunidade. E isto não se passava só em Portugal. Por toda a Europa o sentimento era idêntico. Ali, também, cada extracto social aspirava ao direito de formar cidadãos a seu modo. E este seria o problema social de sempre, a oposição entre o social e o económico. O primeiro requer a retenção da comunidade, o segundo, pede a pulverização da mesma. Como compatibilizá-las?

A Igreja trouxe a alternativa da promoção a criaturas, Deus, e criou a paróquia: todos dignos de igual atenção e todos merecedores de perdão. A propriedade e a consequente desigualdade económica porém restaurariam o embaraço e continuariam a fornecer motivos para desobediência. A guerra mundial de 14-18 deixara tudo por resolver. A paz de Versailles resultou de um atabalhoamento do Presidente americano. Woodro wilsuson criou mais dilemas do que os que dispersou. Perante a nova realidade das massas organizadas, o conflito tornou-se violento. Na confusão criada alguns países recorreram à força e à violência para restabelecer a ordem - que submeteram à lei do mais forte. Foi o caso, entre outros, da Itália, da Alemanha, da Espanha e da recém-criada URSS. Só Portugal, pareceu de início capaz de resolver o assunto sem verter sangue.

(Continua)

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

E aqui estamos nós


Lendo, olhando, suspirando, atamancando pensamentos, vivendo, em-suma, mas com as greves da nossa participação cautelosa, o umbigo próprio a ser contemplado, com a velha ternura dos quarenta…

Conflito Israelo-palestiniano

Activar alertas

Em directo"O Irão deve olhar para Beirute e Gaza antes de começar um guerra connosco", ameaça embaixador israelita na ONU

Danny Danon avisa Irão e diz que resposta aos ataques será " muito forte e dolorosa”. Maior ataque israelita desta quarta contra Beirute teria como objetivo apanhar o possível sucessor de Nasrallah.

EDGAR CAETANO: Texto

OBSERVADOR, 4/10/24

Actualizado Há 1h

ATEF SAFADI/EPA

Momentos-chave

Há 1hAtaques israelitas mataram 99 pessoas em Gaza e 37 no Líbano em 24 horas

Há 2hMaior ataque israelita contra Beirute tem como alvo possível sucessor de Nasrallah

Há 3hIsrael ataca sul de Beirute pela quarta noite consecutiva

Há 3h"O Irão deve olhar para Beirute e Gaza antes de começar um guerra connosco", ameaça embaixador israelita na ONU

Há 4hIsrael matou mais um comandante do Hezbollah, responsável pela produção de mísseis

Há 5h14 mortos em ataque aéreo israelita na Cisjordânia

Há 5hIsrael afirma ter atacado 15 alvos do Hezbollah em Beirute

Há 5hHezbollah diz que matou 17 soldados israelitas em confrontos no Líbano

Há 6hNetanyahu e Biden coordenam "resposta dura" ao Irão, mas ainda não falaram

Há 7h"Não vamos deixar que o Hezbollah se instale novamente no futuro", afirmam IDF

Há 8hIrão insiste que só vai responder a Israel, mas deixa aviso aos Estados Unidos

Há 9hExército libanês respondeu pela primeira vez a ataques israelitas

Há 9hIsrael diz ter matado comandante do Hezbollah responsável pelos Montes Golã em julho

Há 9h"Nada vai acontecer hoje", confirma Biden sobre ataques israelitas no Irão

Há 10hIsrael terá bombardeado armazém de armas russo na Síria

Há 11hDois jornalistas belgas feridos em Beirute. Terão sido atacados por multidão após bombardeamento israelita

Há 11hIsrael faz novos "raides" aéreos em Beirute e diz ter atingido quartel-general dos serviços secretos do Hezbollah

Há 11hIsrael confirma que quis matar Aziz Salha, o homem que matou dois soldados israelitas em 2000

Há 12hHezbollah fez explodir bomba que terá matado "vários" militares israelitas, no sul do Líbano

Há 12hIsrael anuncia morte de três altos quadros do Hamas em ataque aéreo que decorreu há três meses

Há 13hIDF acusam Hezbollah de utilizar posto fronteiriço civil entre o Líbano e a Síria para contrabando de armas iranianas

Há 13hRelatora da ONU critica Portugal por defender solução de dois Estados sem reconhecer Palestina

Há 13hO que está a acontecer

Há 13hQuatro paramédicos da Cruz Vermelha foram mortos em ataque quando socorriam feridos no sul do Líbano

Há 14hMarcelo falou com Guterres e diz que é uma questão de "bom senso" que Israel "reconsidere" a posição que tomou

Há 14hGuterres é um dos favoritos ao Prémio Nobel da Paz, que será anunciado dia 11 de outubro

Há 15hSete mortos em ataque israelita contra clínica em Beirute

Há 15hEspaço aéreo iraniano reaberto

Há 16hUnião Europeia avança com ajuda humanitária de 30 milhões de euros ao Líbano

Há 16hHamas perde apoio, mas continua a ser facção preferida dos palestinianos

Há 17hLíder do Hezbollah terá aceitado cessar-fogo temporário. Depois, Israel matou-o

Há 18hRebeldes houthis, do Iémen, reivindicam ataque com drones desta madrugada

Há 18hHomem que matou dois israelitas em 2000, tornando-se um símbolo da luta palestiniana, terá sido morto em Gaza

Actualizações em direto

Há 1h00:15 Madalena Moreira 

Ataques israelitas mataram 99 pessoas em Gaza e 37 no Líbano em 24 horas

O último dia foi um dos mais mortíferos em quase um ano da ofensiva israelita contra Gaza: nas últimas 24 horas, 99 pessoas foram mortas em ataques israelitas no enclave palestiniano, segundo números das autoridades de saúde. Para além de uma grande operação terrestre em Khan Younis, que matou 51 pessoas, outras 25 pessoas foram mortas em bombardeamentos em várias residências e escolas na cidade de Gaza e outras cinco num ataque no campo de Nuseirat, também no centro de Gaza, relata o New York Times.

Na mesma janela temporal, os bombardeamentos israelitas contra o Líbano mataram 37 pessoas. Isto incluiu um dos ataques mais violentos contra Beirute, com 11 ataques consecutivos contra a capital libanesa, adianta a AFP.

A Gaza e ao Líbano, somam-se os 18 mortos esta noite na Cisjordânia ocupada, naquele que foi o ataque mais mortífero das tropas israelitas no território palestiniano nos últimos 20 anos. O último ataque com esta dimensão tinha sido ainda durante a Segunda Intifada, descreve a correspondente da Al Jazeera.

Há 2h23:12 Madalena Moreira 

Maior ataque israelita contra Beirute tem como alvo possível sucessor de Nasrallah

Fontes libanesas avançam que o ataque israelita desta noite contra Beirute tem como alvo Hashem Safi al-Din, apontado como o possível sucessor de Hassan Nasrallah na liderança do Hezbollah. A informação é citada pelo Haaretz.

Esta ronda de ataques, contra o sul da capital libanesa, causou as maiores e mais violentas explosões de todos os ataques aéreos das IDF ao longo das últimas semanas. São ainda maiores que as verificadas na passada sexta-feira, durante os ataques que mataram Nasrallah, descreve o correspondente da Al Jazeera em Beirute. Este adianta ainda que vários prédios residenciais ficaram completamente destruídos.

Há 2h23:03 Madalena Moreira

Ataque israelita na Cisjordânia matou líder local do Hamas, dizem IDF

As IDF emitiram um comunicado em que afirmam ter matado Zahi Yasser Abdel Razak Ofi, um militante do Hamas, que identificam como responsável pela estrutura do grupo palestiniano em Tulkarm, no ataque aéreo desta noite. Este foi levado a cabo contra um café no norte da Cisjordânia e matou pelo menos 18 pessoas, segundo os números da Autoridade Palestiniana.

Há 3h22:39 Madalena Moreira

Israel ataca sul de Beirute pela quarta noite consecutiva

As Forças de Defesa de Israel (IDF) estão a realizar novamente ataques aéreos no subúrbio de Daiyeh, no sul de Beirute, relata a agência noticiosa libanesa NNA, citada pela Al Jazeera.

Testemunhas no local relataram ainda à agência Reuters uma série de explosões violentas perto do aeroporto de Beirute.

O ataque começou minutos depois de um aviso de evacuação do bairro de Burj al-Barajneh, emitido pelo porta-voz árabe das IDF, Avichay Adraee. Este procedimento — de alerta de evacuação em Beirute e ataques aéreos imediatamente a seguir — tem-se repetido todas as noites desde segunda-feira.

Há 3h22:23 Madalena Moreira 

"O Irão deve olhar para Beirute e Gaza antes de começar um guerra connosco", ameaça embaixador israelita na ONU

Danny Danon, o embaixador israelita junto das Nações Unidas, garantiu que Israel vai ter “uma resposta muito forte e dolorosa” ao ataque com mísseis iranianos de terça-feira e que esta vai acontecer “em breve”. Repetindo os avisos que têm sido deixados por vários responsáveis políticos israelitas, Danon afirmou que Israel pode atacar qualquer lugar no Médio Oriente e que estão dispostos a fazê-lo.

Mas teria de ser uma resposta calculada porque não queremos ver uma guerra total com o Irão. E eles também não querem ver isso. Mostrámos as nossas capacidades quando lutámos contra o Hamas em Gaza e enquanto estamos a lutar o Hezbollah no Líbano. É melhor que eles olhem para o que aconteceu em Beirute e em Gaza antes de começarem uma guerra connosco”, ameaçou, numa entrevista ontem à noite com a CNN.

Questionado sobre o papel dos Estados Unidos nesta resposta, o embaixador respondeu que “devia ser responsabilidade dos EUA e das outras democracias ocidentais bloquear o Irão de alcançar capacidades nucleares, caso contrário será tarde demais”.

 

Há 3h22:09 Madalena Moreira 

Número de mortos em ataque na Cisjordânia sobe para 18

O Ministério da Saúde palestiniano, sob a alçada da Autoridade Palestiniana, actualizou o número de pessoas mortas pelo ataque israelita no norte da Cisjordânia para 18.

O ataque terá atingido um café no campo de refugiados de Tulkarem, relatam os jornalistas da Al Jazeera no local.

Há 4h21:08 Madalena Moreira

Israel matou mais um comandante do Hezbollah, responsável pela produção de mísseis

As Forças de Defesa israelitas (IDF) dizem ter matado Muhammad Yosef Anisi, um comandante do Hezbollah num ataque em Beirute no início da semana. “Anisi era um dos líderes do projecto de produção de mísseis de precisão da organização terrorista Hezbollah e era ainda um dos centros de conhecimento de capacidades tecnológicas na área da produção de munições”, descrevem as IDF num comunicado publicado hoje à noite.

Há 5h20 Madalena Moreira 

14 mortos em ataque aéreo israelita na Cisjordânia

O exército israelita, em conjunto com os serviços de segurança, a Shin Bet, lançaram um ataque aéreo contra um campo de refugiados em Tulkarem, no norte da Cisjordânia ocupada, declararam as IDF.

A agência noticiosa palestiniana Safa avança que pelo menos 14 pessoas foram mortas neste ataque. As IDF raramente utilizam jactos de combate em ataques na Cisjordânia, como fizeram neste ataque, nota o Times of Israel.

Há 5h20:26 Madalena Moreira 

Israel afirma ter atacado 15 alvos do Hezbollah em Beirute

Ao longo do último dia, as Forças de Defesa de Israel realizaram uma série de ataques na capital do Líbano, que visavam 15 alvos, entre “unidades operativas, sedes e infraestruturas” do Hezbollah.

“Antes dos ataques, foram tomadas medidas para reduzir os danos causados às pessoas não envolvidas. A organização terrorista Hezbollah coloca os locais de produção e os seus meios de guerra debaixo de edifícios residenciais no coração da cidade de Beirute, pondo em perigo a população da zona”, justificam as IDF em comunicado. Um destes ataques, no centro de Beirute, matou nove pessoas.

Há 5h20:18 Agência Lusa 

Hezbollah anuncia lançamento de 100 foguetes e mísseis contra norte de Israel

O movimento xiita libanês Hezbollah anunciou esta quinta-feira ter lançado uma centena de foguetes ‘Katyusha’ e seis mísseis ‘Falaq’, de fabrico iraniano, contra a cidade israelita de Metula (norte).

“Bombardeámos o local, a povoação e os pomares de Metula com 100 foguetes ‘Katyusha’ e seis mísseis ‘Falaq’”, declarou o grupo, num breve comunicado divulgado pela rede de notícias Al Manar, ligada aos libaneses.

A declaração surge pouco depois de as Forças de Defesa de Israel (IDF) terem informado que cerca de 200 mísseis, bem como vários drones, foram disparados do Líbano através da fronteira para o norte de Israel.

 

Há 5h20:12 Madalena Moreira

Hezbollah diz que matou 17 soldados israelitas em confrontos no Líbano

O Hezbollah reivindicou hoje a responsabilidade pela morte de 17 soldados israelitas, num comunicado citado pela Al Jazeera. “As operações da Resistência Islâmica confirma através das suas fontes confiáveis o número de mortos entre comandantes e soldados do inimigo sionista”, afirmaram.

Do lado israelita, as IDF confirmaram a morte de nove soldados em combates no sul do Líbano.

Há 6h19:25 Madalena Moreira 

Mulher iraquiana raptada pelo Estado Islâmico foi libertada de Gaza ao fim de dez anos em operação conjunta de Israel e Estados Unidos

As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram hoje que libertaram um mulher iraquiana, da minoria Yazidi, foi libertada esta semana de Gaza, ao fim de 10 anos de cativeiro. Fawzia Amin-Sido foi raptada pelo autoproclamado Estado Islâmico quando tinha apenas 11 anos e levada para Gaza, depois de uma troca com membros do grupo terrorista que também têm ligações ao Hamas.

Durante a ofensiva das IDF em Gaza, o membro do Hamas e do Estado Islâmico foi morto e a jovem terá fugido. Foi resgatada por uma operação coordenada entre Israel e os Estados Unidos, relatou o exército, acrescentando que foi retirada de Gaza através da passagem de Kerem Shalom e já está novamente no Iraque.

Há 6h19:04 Madalena Moreira 

Netanyahu e Biden coordenam "resposta dura" ao Irão, mas ainda não falaram

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, realiza esta noite a última de várias reuniões com os seus conselheiros, para decidir os detalhes da resposta de Israel ao ataque do Irão na terça-feira, relataram fontes do seu executivo ao Channel 12 israelita, que acrescentam que será “uma resposta dura que terá um preço elevado para o regime dos aiatolás”.

As mesmas fontes adiantam que há “muitas opções” em cima da mesa, e confirmam que a decisão será tomada em coordenação com os Estados Unidos, que não prometeram ajudar Israel, tanto na sua defesa, como num ataque contra o Irão. Ainda assim, a chamada telefónica, que o Presidente norte-americano tem antecipado que vai realizar com Netanyahu, ainda não aconteceu.

Em paralelo à resposta militar, o executivo israelita está a preparar uma campanha diplomática que visa os Estados Unidos e o resto do Ocidente, pressionando-os a aprovar sanções contra Teerão. Telavive vê uma oportunidade para “endurecer a posição global” contra o Irão. Ainda assim, os objectivos oficiais de Israel continuam a incluir a prevenção de uma guerra regional, mas o Channel 12 adianta que “isto será certamente reconsiderado no futuro”, sem citar fontes específicas para esta afirmação.

Há 7h18:44 Madalena Moreira 

"Não vamos deixar que o Hezbollah se instale novamente no futuro", afirmam IDF

O chefe das Forças de Defesa israelitas, Herzi Halevi, fez hoje um balanço dos primeiros dias da invasão israelita no Líbano, depois de se ter reunido com os comandantes e alguns soldados das duas divisões envolvidas nos combates na região.

“As nossas forças no Líbano eliminam cada vez mais terroristas, em cada encontro acabamos a ganhar. As nossas forças estão prontas e com mais treino que nunca, devido à experiência dos combates em Gaza, e a sua vantagem no campo de batalha é clara”, afirmou Halevi num comunicado em vídeo, em que reafirmou ainda os objectivos que Telavive diz querer alcançar com esta invasão: o regresso dos habitantes do norte de Israel às suas casas.

“Estamos muito determinados em destruir estas infraestruturas [do Hezbollah] e a matar quem quer que lá esteja. Não vamos deixar que o Hezbollah se instale nestes locais no futuro. Os danos severos ao Hezbollah em Beirute, no vale do Líbano e no sul do Líbano vão continuar”, declarou ainda Halevi.

Há 7h18:32 Madalena Moreira 

Exército israelita anuncia morte de mais um soldado no Líbano

As Forças de Defesa de Israel anunciaram esta tarde a morte de mais um soldado em combates no sul do Líbano. Ben Zion Falach, da Brigada de Paraquedistas, morreu ontem, no mesmo dia que outros oito soldados das IDF, mas o exército não adiantou se foi num incidente separado.

A morte de Falach sobe para nove o número de baixas das IDF na invasão do Líbano, as primeiras baixas israelitas no país nos últimos 20 anos.

Há 7h18:08 Madalena Moreira 

Grupo iraquiano reivindica ataque com drone no sul de Israel

A Resistência Islâmica do Iraque, um grupo alinhado com o Irão, afirmou ter lançado um drone que sobrevoou o sul de Israel esta tarde. Antes, as IDF tinham afirmado ter interceptado um drone, que tinha caído sem causar vítimas, mas não adiantaram outros detalhes.

O grupo iraquiano não especificou qual era o alvo deste ataque. O drone acabou por cair perto da fronteira com o Egipto, avança o Times of Israel.

Há 7h18:02 Madalena Moreira 

Ataques israelitas a três escolas da ONU mataram 21 pessoas em dois dias

O líder da UNWRA, Philippe Lazzarini, denunciou hoje, os ataques israelitas a escolas em Gaza: no último ano mais 140 escolas das Nações Unidas foram alvo de ataques das IDF. A maior parte destas escolas funciona como abrigo para 20 mil palestinianos que foram deslocados pela ofensiva israelita no enclave. Apenas nos últimos dois dias, três escolas foram atingidas, matando 21 pessoas.

“Escolas eram um porto seguro para a aprendizagem e tornaram-se num inferno para muitos. Escolas não podem ser utilizadas para nenhum propósito militar por ninguém. Escolas não são alvos. Estas são algumas das regras básicas da guerra, ignoradas de forma flagrante”, escreveu Lazzarini no X.

Há 8h17:42 Madalena Moreira 

Irão insiste que só vai responder a Israel, mas deixa aviso aos Estados Unidos

A missão iraniana junto das Nações Unidas emitiu hoje um novo comunicado, na sequência do Conselho de Segurança que se reuniu ontem para debater o ataque do Irão contra Israel na terça-feira. “A nossa resposta vai ser exclusivamente direccionada ao agressor. Caso algum país assista o agressor, será igualmente considerado um cúmplice e um alvo legítimo. Aconselhamos que os países evitem envolver-se no conflito entre o regime israelita e o Irão e que se distanciem”, pode ler-se no comunicado, citado pela Al Jazeera.

O Irão insiste ainda que informou os Estados Unidos do ataque antecipadamente, contacto que foi negado pelo Departamento de Estado norte-americano. Foram trocadas várias mensagens através de um intermediário na embaixada da Suíça em Teerão, relata a missão, citada pelo New York Times.

Há 8h17:06 Madalena Moreira 

Qatar acusa comunidade internacional de "dar luz verde" a expansão do conflito no Médio Oriente

O Emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani, responsabilizou a comunidade internacional pela expansão da ofensiva israelita em Gaza até ao Líbano. “O falhanço da comunidade internacional em travar a guerra em Gaza foi uma luz verde para expandir o conflito sem qualquer nível de responsabilidade aos agressores”, escreveu o Emir no X.

Na mesma mensagem, reafirmou o apoio do Qatar ao Líbano e anunciou que já ordenou o envio de ajuda humanitária o mais rapidamente possível para os milhares de libaneses deslocados pela guerra.

Há 8h17:00 Agência Lusa 

Brasil condena decisão de Israel de declarar Guterres ‘persona non grata’

O Brasil condenou a decisão do Governo de Israel, anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, de declarar o secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, como “persona non grata”, segundo comunicado divulgado esta quinta-feira. O país sul-americano lusófono considerou que “tal acto prejudica fortemente os esforços da Organização das Nações Unidas em favor de um cessar-fogo imediato no Oriente Médio, da libertação imediata e incondicional de todos os reféns e de um processo que permita a concretização da solução de dois Estados”.

 

O livro da nossa evocação

 

“O RETORNO”, de DULCE MARIA CARDOSO, um livro de “encher as medidas”, na reconstituição do que foi tudo aquilo - connosco, igualmente - não de Angola, onde fiou mais fino, em ódios e violências, mas de Moçambique, também do retorno em avalanche, os maridos e os pais empurrando a família, ficando eles lá atrás, a tratar, em alguns casos,  dos trastes possíveis a enviar, em função de um recomeço possível, no espaço imposto, no terror desse, agora devolvido.

Trata-se de um narrador jovem, de escrita mais ou menos corrida, à medida das suas lembranças, sobre a estada inicial por cá – num dos hotéis da linha de Cascais – as evocações do lá de mistura com as descrições do cá, a lembrança do pai, empurrado pela sua própria arma, nas mãos de um dos pretos senhores dos novos destinos, espécie de leitmotiv na narrativa evocativa, onde a cadelita de que eram donos e que corre atrás do carro que os leva ao aeroporto, até desistir, é igualmente motivo repetido das agonias que se adivinham no rapazinho narrador, embora sem reflexões de angústia, que essa fica apenas em nós marcada, como imagem de um desastre que foi pura catástrofe jamais apagada das lembranças dos que a viveram, amantes do seu país desfeito - pese embora a ausência de crítica, nem sequer subentendida na voz do narrador, apesar da referência, em evocação de adolescente, às vozes coléricas dos comensais do hotel, contra os responsáveis principais desse acontecimento do retorno.

Um livro em que as evocações do rapazinho narrador se sucedem, em espaços onde nos fixámos também – a zona do Estoril/Cascais – e de que lembro essas tais avalanches de gente ultramarina inicialmente recolhida nos hotéis da zona – como foi o seu caso, juntamente com a irmã e a mãe, forçados ao seu quarto do hotel, como casa provisória, naturalmente repudiada, como espaço inusitado.

Uma história bem real, o narrador interveniente, contando o seu aqui e agora entrecruzado com as evocações do seu passado angolano, e simultaneamente a tal lembrança do retorno, o pai sempre presente, em retomas de amor e angústia que se lhe sente, os espaços no hotel a abarrotar dos tais retornados, tempos infinitos de um viver de ruído e mágoas, as raivas contra os responsáveis da tragédia, entrecruzando-se nas falas surgidas aqui e ali, numa narrativa de simplicidades próprias de um narrador jovem, que se apoia nas lições dos pais, (como sucedia dantes, em que a educação constava das leis), e nas expectativas do pai, no seu retorno inesperado e decisivo para um recomeço em novas esperanças de felicidade.

Uma breve passagem, que nos dá conta, afinal, do significado da tal escrita corrida, posta num jovem narrador, de sofrimento íntimo, mau grado a pretensa simplicidade narrativa, e que explode como um grito de alegria, no resumo que faz da breve história vivida no seu final feliz, com o retorno do pai, que julgara morto:

“Ninguém volta da morte, mas o pai está à porta do nosso quarto. Um saco de viagem preto na mão, uma boina cinzenta e um casaco aos quadrados. Não consigo acreditar que é o pai, o pai que os pretos levaram com as mãos amarradas atrás das costas, o pai que não chegou até ao dia da independência, o pai que eu tive de julgar morto. Ninguém volta da morte e bate à porta da família de madrugada, ninguém volta da morte com uma boina, uma camisa aos quadrados e um saco preto na mão, o pai está morto e vai desaparecer quando eu acordar. Por mais que abra os olhos e os esfregue o pai continua à minha frente, quase igual ao pai de lá…..»