sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Um extraordinário texto


De MARGARIDA BENTES PENEDO. De desassombro inteligente e certeiro sobre a realidade, feita de exaltações de diferentes vibrações e empatias, a darem nas vistas, com a sofreguidão indiscreta e unilateral dos generosos da actualidade, segundo as habituais demonstrações informáticas.

Sem-abrigo, imigração, e dogmas woke

O problema dos sem-abrigo, agora ligado à imigração, tornou-se mais difícil de contrariar. Entrou no campo da guerra santa pela porta do puritanismo woke. E a esquerda não aceita perder esse poder.

MARGARIDA BENTES PENEDO Arquitecta e deputada municipal

OBSERVADOR, 17 out. 2024, 00:1877

Carlos Moedas discursou no 5 de Outubro. Naturalmente, a esquerda exaltou-se umas horas depois, tanto na Câmara de Lisboa como na Assembleia Municipal, a pretexto de imigração e sem abrigo. Naturalmente, o jornalismo respeitável tratou de averiguar se os sem-abrigo estão ou não a ser instrumentalizados como arma de arremesso político. A resposta é sim, estão a ser instrumentalizados e vamos ver de que maneira.

Ouvindo o discurso do 5 de Outubro, percebe-se que, para efeitos desta agitação, Moedas disse duas coisas. A primeira, é que tinha conseguido retirar da rua as pessoas que viviam em tendas em cima do passeio no Jardim António Feijó, à volta da Igreja dos Anjos, em Arroios. Essas pessoas terão sido alojadas em hostels. Só isto já dói nos joelhos da esquerda. Transcrevo a segunda: “Hoje assistimos a manifestações de um drama humanitário que nos envergonha a todos como país. Nós precisamos de imigração, mas não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, dá espaço a redes criminosas, e multiplica casos de escravatura moderna.” Moedas faz aqui um apelo ao governo central e tem toda a razão.

A Câmara de Lisboa está perante um problema adicional que resulta de políticas acima das suas. O governo da República é quem tem tutela e competências para definir políticas de imigração; mas as consequências dessas políticas e respectivos erros afectam especialmente Lisboa, por ser a capital do país, por morarem nela os ministérios, o Parlamento, os serviços e as instalações do Estado central, pela presença das redacções dos jornais e canais de televisão, pela visibilidade que as agitações alcançam quando agitam Lisboa. A Câmara vê-se obrigada a dar uma resposta porque tem responsabilidades no bem estar dos munícipes e no equilíbrio da própria cidade. Mas a Câmara não tem instrumentos para resolver a origem do problema, já que ele não depende de políticas municipais. Não está nas suas competências. Por isso é uma situação desesperante, irresistivelmente exposta à instrumentalização.

Toda a vida os problemas persistentes, ou difíceis de resolver, se transformaram em armas políticas; desde que o mundo é mundo foram instrumentalizados e alvo de demagogia. Este é um caso entre uma longa lista de casos exemplares. A questão dos sem-abrigo já tinha há muitos anos despertado o interesse da extrema-esquerda e respectivos activistas, infiltrados nas “associações” até à medula, para contrariar as ajudas das Câmaras e das Juntas de Freguesia. Só assim, morando e dormindo em cima do passeio, aquelas pessoas podem ser usadas na litigância permanente de que os activistas se alimentam a propósito de habitação. Querem levar-nos a acreditar que elas são o produto imoral da falta de habitação. É falso. Não é um problema de habitação.

A questão dos sem-abrigo é um problema muitíssimo complexo de saúde mental, de álcool, de drogas, de modo de vida, e agora também de imigração. A imigração acrescentou-lhe um elemento de puritanismo woke: reduzir os números de sem-abrigo é reduzir os números da imigração e, portanto, um exercício de racismo, xenofobia, e todos os pecados abjurados pela seita.

A extrema-esquerda vive no Inferno, culpa-nos do calor, e quer à força arrastar-nos para junto dela. Usa esse elemento precioso do puritanismo woke, um puritanismo quase religioso, sujeito a cruzadas e perseguições; e os activistas – das associações, do jornalismo, ou da universidade – definem os dogmas. Só se pode falar da maneira certa, sob pena de heresia. E a maneira certa muda a cada minuto, de acordo com os novos dogmas e as novas taras da extrema-esquerda na sua raiva ao capitalismo. Todos os dogmas e preceitos da incultura woke são maneiras inventadas pela extrema-esquerda para se opor ao capitalismo. Têm este laço inescapável entre elas, uma espécie de assinatura doutrinária sem lógica interna e com dois ou três milímetros de profundidade intelectual.

O problema dos sem-abrigo, por estar agora ligado à imigração, tornou-se mais difícil de contrariar. Entrou no campo da guerra santa pela porta do puritanismo woke. Não se pode encontrar uma solução porque a esquerda não aceita a perda do poder que este puritanismo lhe dá.

COMENTÁRIOS (de 77)

Maria Paula Silva: Muito bom, como sempre, sintético e certeiro. Exemplar é a sua coragem. p.s. - adorei a "com dois ou três milímetros de profundidade intelectual."  Eheheh                 Carlos Chaves: Neste país que julgávamos de brandos costumes, a extrema-esquerda trauliteira, está a conseguir os seus objectivos! Depois dos criminosos políticos, António Costa e Pedro Nuno Santos, terem trazido a extrema-esquerda para participarem na “governação “deste país, e após quase 9 anos, os resultados estão à vista de todos! A imigração descontrolada (mas estratégica) e só um deles! A esquerda já não faz revoluções para tomar o poder, rebenta o Estado e a sociedade por dentro para lá chegar, é o que estamos a assistir nesta velha Nação! Obrigado Margarida Bentes Penedo por mais este bem-vindo “grito” de alerta!               Alcides Longras: Um traço transversal ao Marxismo e suas metástases: instrumentalização política dos problemas sociais, disfarçada de virtude e humanismo. Excelente denúncia com a realidade actual.                Ana Luís da Silva: Assim de repente parece que o adulto no PSD é Carlos Moedas. O único (será?!)) que lida de frente com o problema que o premiado da Paz pela Unesco arranjou para os portugueses, o povo que supostamente o elegeu para governar Portugal (não o “ministério mundial das migrações ”) e que traiu em prole de uma agenda woke multiculturalista, povo que, pelo contrário, devia ter representado e defendido de uma imigração avassaladora a qual descaracteriza cada vez mais as nossas cidades, vilas e aldeias… com a  estúpida e suicida  “manifestação de interesse”, que imagine-se, até nos deu problemas dentro da UE! Excelente artigo! Parabéns a Margarida Bentes Penedo, mais uma vez.               Rui Lima: Portugal é caso único no mundo, abre totalmente aos PALOPs e Costa e Cia, não satisfeitos,  destroem o SEF para abrir, ao resto do mundo, quem chega, gente sem profissão, de cultura e religião oposta à nossa, ou seja, nunca se irão integrar, já tínhamos uma minoria que nunca se integrou, iremos ter várias em todos os países onde isso se passa existe violência e miséria. As consequências serão o maior desastre da nação portuguesa,  os dados aí estão, a pobreza dispara de uma forma brutal, sem abrigos por todo o lado, e os que têm “abrigo” são  às dezenas, em apartamentos com consequências dramáticas para a sua saúde, por isso não há SNS que resista. Gostava de saber a reacção do Sr. Costa europeu, a carta enviada pela presidente da comissão europeia a todos os primeiros-ministros sobre o combate à invasão da Europa de povos do resto do mundo, ela finalmente quer combater mas já é tarde. Eu vi com os meus olhos a miséria do mundo, o meu coração sofre mas a minha cabeça diz-me que não pode ser nossa vocação resolver toda a miséria do mundo até porque ficaremos como eles, já que eles chegam e impõem o seu modo de vida  (se aceitassem a nossa tudo seria mais fácil) é essa forma de estar e ser que os tornou miseráveis.             Cristina Torres: Completamente de acordo! Aconselho vivamente a ver a reportagem ontem  à noite deu na CMTV sobre imigração e a "Mesquita" num prédio, precisamente Arroios, nem a Presidente da Junta consegue mudar alguma coisa, AC foi a par do Sócrates o pior PM que tenho memória e ainda ontem ganhou um prémio, é de bradar aos céus, enterrou o país nesta imigração desregulada e se é verdade que precisamos de imigrantes para trabalhar pergunto o porquê de lhes dar a nacionalidade, o Dubai tem 90% da população é imigração e turismo e apenas os nativos é que têm direito á nacionalidade e deveria ser assim em toda a Europa.                Ana C: Muito bem !!!          João Floriano: Como sempre, um artigo excelente. A batalha contra os wokes e as falsas causas que nos querem impor também se combatem na acção política. Moedas está  a fazê-lo, daí o ataque a que é sujeito, e cada dia mais duro visto que há no ar cheiro a autárquicas e legislativas. Entretanto por parte do poder central não se vê qualquer interesse em combater o wokismo, antes pelo contrário, associam-se a ele. Carlos Moedas aparece sozinho na batalha. É bom que isso seja lembrado se, como espero, a extrema- esquerda perder novamente a CML. Para já, Montenegro anda  a promover um candidato a Belém cuja  fraca estatura, não é apenas a altura no cartão do cidadão.           Maria João Vasconcelos: Excelente comentário! É mesmo isso. A população em geral partilha dessa ideia e está contra a troca dos nossos jovens que não são valorizados cá e saem do país. Este problema não se resolve com mais faculdades que irão servir para colmatar as necessidades dos outros países da Europa, mas antes em proporcionar condições que lhes permitam cá ficar. É evidente que também precisamos de mão-de-obra que está a ser assegurada pelos emigrantes, pois a mesma mão-de-obra portuguesa quase desapareceu também. Se são jovens e competentes também eles deixam o país. Os emigrantes que vierem trabalhar para cá e aceitarem a nossa cultura, evidentemente que deverão ter os direitos que qualquer português tem, sem mais nem menos. Já o deixar entrar tudo de portas escancaradas, é um assalto ao país e aos nossos impostos pagos tostão por tostão com muito trabalho e sacrifício. É um roubo descarado por parte de quem decide fingindo ser bom a custa do sacrifício dos outros.               bento guerra: Tenho a impressão que a primeira pessoa a falar do "escândalo dos Anjos" foi o candidato do Chega, Tânger Correia, que disse que da experiência internacional dele, nem em campos de refugiados tinha visto tão mau. A indignação hipócrita "woke"insurgiu-se... Depois até fizeram reportagens e finalmente "limparam". O problema da imigração não é só português e a Europa caiu na real              Lápis Afiado: Grande análise a manipulação da imigração pela esquerda                Tim do A: É o que o Chega anda a dizer há que tempos. Parece que o Chega tem sido o único adulto na sala. Os outros só vão lá com o problema plasmado na frente e outros, como a esquerda ou a IL, nem chegam lá. Este país só arranja problemas com os péssimos governos em que votamos. Artigo importante.             Fernando ce: Muito bem. Concordo com as suas posições em geral. Pena é que muito do centro-direita ainda tem medo de ser mal visto pela esquerda e esquerdistoides.              Coxinho: Será que o embrutecimento woke conseguiu infectar o próprio governo ??              Hugo Silva: Ontem no parlamento, o deputado André Ventura, no decorrer da sessão parlamentar sobre o referendo à imigração descontrolada, fez referência ao apelo de Carlos Moedas... O PSD como é seu apanágio juntou-se à esquerda e fez-se morto. O CDS deu sinal de vida para demonstrar que é cada vez mais um partido oco e subserviente ao PSD.                antonyo antonyo: Totalmente de acordo . A política da esquerda é sempre rasteira e neste caso desonesta porque se estão realmente a fazer coisas.              Pedromi: Infelizmente, é exatamente assim...pena é que não haja mais profissionais da comunicação social a ter a mesma verticalidade e honestidade factual, para expor o caso neste termos, leia-se, com verdade!                  João Ramos > Armando Semedo: Ainda há muito miserável mental por estas bandas…             Pedro Campos: Parabéns! Excelente artigo!             Paulo Valente: Há artigos de opinião que deviam, obrigatoriamente, ser enviados por mensagem a todos os portugueses, seguindo o exemplo e os canais dos avisos de catástrofe enviados pelo PROCIV Talvez as malhas do tricot canhoto se rompam mais facilmente e a lucidez se instale!

 

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