Talvez naturais. Mas será tão necessário
conhecê-las? Tudo não passa de fofoca, de conversa de comadres. Tosca. Desconcertante.
Pouco séria. À nossa medida?
O novo ciclo, a direcção escondida e o
irritante madeirense. O guião para seguir um Congresso "esvaziado"
A "galvanização", a
exaltação do Governo e a preparação das autárquicas são a tónica do Congresso
do PSD. PS será criticado e Chega ignorado. Albuquerque será o rebelde e Mendes
o rosto presidencial.
MIGUEL SANTOS CARRAPATOSO: Texto
OBSERVADOR, 18 out. 2024, 20:498
Resolvido o impasse orçamental, o PSD
vai agora centrar o Congresso na “galvanização do partido”, na promoção do
Governo e na preparação do próximo ciclo eleitoral: as autárquicas. Apesar de o PS ter anunciado a
viabilização do Orçamento, os dirigentes do PSD não vão deixar de dirigir críticas
aos socialistas, em particular aos oito anos de “estagnação” na governação de
António Costa. Já o Chega vai continuar a ser totalmente ignorado, pelo menos
pela linha oficial. Montenegro prepara também mudanças nos órgãos nacionais,
com uma direcção mais voltada para o aparelho, à semelhança do que
fez Passos no poder.
A Madeira promete ser
um irritante, o que pode culminar na substituição do mestre-de-cerimónias
(o presidente do Congresso, Miguel Albuquerque). Vão soprar também os
primeiros ventos de presidenciais, com a aprovação do perfil de candidato
a ser aprovado. Luís
Marques Mendes — que segundo o
líder do PSD é dos que “melhor encaixa” nesse perfil —, vai marcar presença na
reunião magna, mas, como escreveu o
Observador, não vai discursar.
O antigo líder do PSD, Luís Filipe Menezes, disse que
Pedro Nuno Santos — ao revelar o sentido de voto e ao prometer viabilizar o
Orçamento do Estado — “esvaziou o Congresso de interesse”. Mas há muitos pontos de interesse a considerar, desde logo perceber que
recados vai deixar Luís Montenegro para o debate orçamental na especialidade
que agora se inicia — e que pode ser uma verdadeira dor
de cabeça para o Governo. O Observador deixa-lhe, no entanto, um guião para o ajudar a seguir a reunião magna que decorre
este fim-de-semana em Braga.
Resolvida
(para já) a estabilidade parlamentar, o primeiro-ministro quer reforçar a
legitimidade do PSD para governar. E vai reafirmar objectivos ambiciosos,
que espelhou na moção de estratégia global: "Vencer as autárquicas para
recuperar a liderança da ANMP [Associação Nacional de Municípios Portugueses]"
A mensagem: o partido mais bem
sucedido e o foco em ganhar as autárquicas
Depois de semanas de desgaste público com o Orçamento
do Estado, fonte da direcção do PSD explica ao Observador que o Congresso
vai ser de “galvanização do partido” e para demonstrar que “nos últimos
seis meses o Governo resolveu muitas coisas que o PS não resolveu em oito anos”.
A mesma fonte diz que “não é por o PS ter viabilizado o orçamento” e o líder
ter elogiado o “sentido de responsabilidade” que o PSD vai deixar de criticar
os socialistas. “Até porque agora temos mesmo de firmar as diferenças para o PS”, destaca um outro dirigente.
O
processo orçamental deixou de ser uma prioridade das mensagens da direcção, que
está confiante para a especialidade.
No discurso de sábado, mais virado para dentro, Luís Montenegro fará questão de
destacar que o partido ganhou quatro das últimas cinco eleições— ganhou
o Governo (por ser
“o partido mais votado”), os dois governos regionais que tem,
a presidência da Assembleia da República e lidera a maior câmara do país.
Resolvida
(para já) a estabilidade parlamentar, o primeiro-ministro quer reforçar a
legitimidade do PSD para governar. E
vai reafirmar objetivos ambiciosos, que espelhou na moção de estratégia global:
“Vencer as autárquicas para recuperar a liderança da ANMP [Associação
Nacional de Municípios Portugueses]”.
Um
olhar para o aparelho e a aproximação de ano de autárquicas poderia levar
Montenegro a escolher Carlos Moedas como vice-presidente. Porém, o próprio
autarca — na afirmação de um caminho que tem trilhado para uma futura liderança
do PSD — antecipou-se a mostrar aparente indisponibilidade para uma opção desse
género. Ainda não se sabe que papel pode desempenhar no novo ciclo
Uma direcção à Passos: convites em
cima da hora e a renovação sem privilegiar o Governo
À semelhança do que fazia Pedro
Passos Coelho, Luís Montenegro manteve a sua direcção em segredo até horas
antes no último Congresso. E é isso
que fará novamente. Os próprios membros da direcção, incluindo ministros, não
foram informados se continuam ou não até à publicação deste artigo. É provável
que os convites sejam feitos apenas sábado durante o Congresso, tal como Passos
fazia, naquelas que eram conhecidas como “conversas atrás da cortina”.
Pedro Passos Coelho, na primeira direcção que fez após chegar ao Governo,
optou por ter apenas dois governantes (Jorge Moreira da Silva e Marco António
Costa) na direcção do PSD. E na segunda direcção que escolheu, estando no
Governo, manteve apenas um governante na comissão permanente (Moreira da
Silva), já que Marco António, embora tenha continuado na direcção, deixou de
ser secretário de Estado. É provável que Luís Montenegro — que conta com quatro ministros em seis
vice-presidentes —, opte também por reduzir o peso do Governo no partido.
O
Observador sabe que a conversa sobre a renovação ou não direcção do partido já
foi tida pelo núcleo de coordenação política de Montenegro. Na altura, ainda
não se sabia o que iria acontecer ao Orçamento do Estado e havia duas teses: se
Pedro Nuno Santos provocasse uma crise política e eleições antecipadas, a direcção
não deveria sofrer grandes alterações; uma vez afastado esse cenário, então
poderia fazer sentido voltar a direcção do partido mais para
a máquina social-democrata, no sentido de preparar as próximas
autárquicas junto das estruturas.
A
decisão de Pedro Nuno terá feito vingar, ao que tudo indica, esta última tese.
Ministros mais sectoriais (como Miguel Pinto Luz) ou com obrigações que se
estendem além fronteiras (como Paulo Rangel) podem estar de saída da direcção
do partido. Não sendo
ministro, Paulo Cunha, actualmente eurodeputado, segue uma nova vida em
Bruxelas e também é apontado como uma saída provável.
Um
olhar para o aparelho e a aproximação de ano de autárquicas poderia levar
Montenegro a escolher Carlos Moedas como vice-presidente. Porém, o
próprio autarca — na afirmação de um caminho que tem trilhado para uma futura
liderança do PSD — antecipou-se a mostrar indisponibilidade para
uma opção desse género.
Em
entrevista ao Público e à Renascença, Moedas foi claro ao dizer que preferia
repetir o modelo de 2022, em que liderou a chamada “lista oficial” ao Conselho
Nacional: “Posso sempre estar disponível para ajudar no partido, como ser o
número um do Conselho Nacional, mas estou muito focalizado no que é a acção
executiva de ser presidente da câmara. Não tenho muito
tempo disponível para estar na política activa, exactamente por isso.”
Além disso, outra das mudanças que
tem estado iminente desde que o Governo tomou posse é a saída da
vice-presidente Inês Palma Ramalho, uma vez que a mãe é ministra do
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. A ideia é prevenir uma situação
futura de incompatibilidade. Para já, Montenegro opta por não abrir o jogo, o
que torna a composição da futura direcção num dos pontos de maior atenção do
Congresso.
Questionado se a direcção do
partido vai fazer do Chega e de André Ventura uma piñata política, um destacado
dirigente limita-se a responder ao Observador com uma pergunta:
"Quem?" Ou seja: a postura de Luís Montenegro vai ser de continuar a
ignorar todas as acusações do líder do Chega
Um
cheirinho a Presidenciais
No
Congresso ninguém pode dizer que é extemporâneo falar de presidenciais, já que
o perfil do candidato a Belém vai ser discutido e aprovado por proposta do
líder. Também ninguém pode ser que é extemporâneo falar em nomes, porque o
próprio Luís Montenegro já disse que Marques Mendes é dos que “melhor
encaixa no perfil”. É neste contexto que Marques Mendes vai ao Congresso do
PSD, mas não vai usar da palavra — direito vitalício que tem à sua disposição
por ser ex-líder.
Com esta
presença em Braga, o antigo líder e comentador político fura a sua tradição
pessoal de só ir ao primeiro Congresso de cada novo líder. Marques
Mendes foi ao primeiro Congresso de Rui Rio, no início 2018, e ao primeiro de
Luís Montenegro, em julho de 2022, numa última presença que justificou na
altura com a prática que tem seguido nos últimos anos. Agora decidiu ir — o
que é todo um programa político.
Ao contrário de Marcelo — que em 2014 roubou todas as
atenções em cima do palco como resposta a Pedro Passos Coelho que se referira a
ele como “catavento de opiniões erráticas” —, Mendes não necessita de expor-se
com um discurso. Tem o apoio mais do que anunciado da liderança de Luís
Montenegro e não se espera que haja já alguma margem para outras surpresas
vindas do espaço do PSD e do CDS.
O antigo líder
do PSD e antigo adversário de Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, disse esta
quinta-feira ao Observador que “face ao que tem sido o desenvolvimento das
putativas candidaturas nos últimos meses, eu penso que a candidatura de
Marques Mendes ganhou muita força. Muita
força na área política a que o PSD pertence, mas também no país em geral.”
Na linha do que
é habitual, outros antigos líderes do partido, como Pedro Passos Coelho e Rui Rio, não vão marcar
presença no Congresso. Os dois, como também já escreveu o Observador, não estão
neste momento disponíveis para entrar numa contenda presidencial.
Um olhar para o aparelho e a aproximação de ano de autárquicas poderia
levar Montenegro a escolher Carlos
Moedas como
vice-presidente. Porém, o próprio autarca — na afirmação de um caminho que tem
trilhado para uma futura liderança do PSD — antecipou-se a mostrar aparente
indisponibilidade para uma opção desse género. Ainda não se sabe que papel pode
desempenhar no novo ciclo
O irritante Madeira: a pressão de Albuquerque
Depois de o PSD ter garantido a viabilização do
Orçamento do Estado para 2025, o presidente do PSD-Madeira veio ameaçar que os
três deputados da região podiam votar contra o documento. Na véspera do
Congresso, esta sexta-feira, o Público escreve, citando fontes do Governo
regional da Madeira, que Albuquerque estaria disponível para elevar o nível de
ameaça para outro nível: convencer os dois deputados do PSD-Açores a votarem
também contra o OE, numa nova aritmética que significaria o chumbo do Orçamento
do Estado.
O Observador sabe que José Manuel Bolieiro não aceitará entrar no jogo de
Miguel Albuquerque. Fontes do PSD/Açores explicam
ao Observador que alinhar no plano da Madeira não é viável por duas razões: o governo regional tem conseguido que as
suas reivindicações sejam aceites pelo Governo da República e porque “esse que
é o estilo de Albuquerque, está longe de ser o estilo de Bolieiro”.
A jogada
orçamental é mais um processo que contribui para o afastamento de Miguel Albuquerque da presidência da Mesa do Congresso, embora a direcção
Montenegro até aprecie a forma “eficaz e limpa” com que gere os Congressos. A
relação entre ambos esfriou com os casos judiciais na Madeira e quando
Montenegro disse que, se fosse ele, não se recandidataria.
“Ele não precisa
de ter dito aquilo. Foi desnecessário”, diz fonte do PSD/Madeira ao Observador.
Um dos nomes falados para substituir
Miguel Albuquerque é precisamente José Manuel Bolieiro, que até já faz
parte daquele órgão. Assim, a
liderança continuava a ser das regiões autónomas e Montenegro ficava menos
exposto a processos judiciais em curso.
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