As imagens da nossa grandeza.
MIGUEL PINHEIRO Director executivo do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 12
out. 2024, 00:22118
Nosso Senhor Jesus Cristo nos acuda:
pelos vistos, temos uma intrusa no templo sagrado do jornalismo. Esta semana,
Maria João Avillez entrevistou Luís Montenegro durante o Jornal da Noite da SIC
e as virgens ofendidas começaram imediatamente a clamar por socorro. Luís Filipe Simões, que
segundo percebi é presidente do
Sindicato dos Jornalistas, ficou algures entre a apoplexia e a reacção
vagal: “O primeiro-ministro diz de manhã
que os jornalistas fazem perguntas encomendadas e à noite dá uma entrevista que
as pessoas pensam que é feita por uma jornalista que viemos a saber que não tem
carteira profissional de jornalista”. Depois do instinto de indignação veio
a vontade de perseguição: “Os actos
jornalísticos têm de ser feitos por jornalistas. Existe a figura da usurpação
de funções”.
Estamos, portanto, assim: ao fazer
perguntas ao primeiro-ministro, Maria João Avillez estava a cometer o crime de “usurpação de funções”. Tem
graça porque Luís Filipe Simões nasceu em 1973. Quer isso dizer que, quando o presidente do Sindicato dos
Jornalistas deu os primeiros berros na maternidade, já Maria João Avillez
estava a fazer perguntas — e a fazer jornalismo. Tendo em conta esse
inegável facto, a pessoa que transitoriamente lidera o sindicato da “classe”
devia conhecer Maria João Avillez. Como, aparentemente, não a conhece, não me
importo nada de os apresentar através deste texto.
Desde o 25 de Abril, Maria João Avillez
entrevistou todos os políticos que alguma vez levantaram uma bandeirinha em
Portugal. Para evitar transformar este artigo numa lista telefónica, basta
falar nos três principais líderes partidários do começo da democracia. Francisco Sá Carneiro falou repetidamente
e exaustivamente com Avillez, permitiu-lhe que o acompanhasse nos bastidores de
campanhas, confiou-lhe informações, deu-lhe acesso. Já Mário Soares, fez mais. Além de tudo
isto, ainda aceitou dar-lhe uma longuíssima entrevista biográfica que seria
mais tarde publicada em três livros (e que foi agora reeditada em dois volumes
— recomendo a todos, especialmente a Luís Filipe Simões, que comprem). E há Álvaro Cunhal. O líder do PCP
recebeu Maria João Avillez para várias entrevistas entre 1976 e 2000. E não
falaram apenas sobre política — Cunhal, que era reservado e desconfiado,
aceitou conversar também sobre família, sobre comédia ou sobre televisão. Há um outro detalhe que junta Sá
Carneiro, Soares e Cunhal: é que, além de terem dado inúmeras entrevistas a
Maria João Avillez, todos eles, em algum momento, se incomodaram com ela. Ou
seja: todos perceberam, sem que lhes fosse dada margem para confusões, que
Maria João Avillez é jornalista, não é uma activista nem é um pé de microfone.
Eu já disse isto no início do texto, mas
vou repetir, para que não restem dúvidas: dei os exemplos de Sá Carneiro, de
Soares e de Cunhal, mas, nos 51 anos de vida do presidente do
Sindicato dos Jornalistas, Maria João Avillez fez perguntas a muito mais
pessoas. E não apenas a personagens que se movem na “corte lisboeta”. Uma das
suas últimas “cachas” foi conseguir entrevistar o Papa Francisco, que
seguramente não se impressiona com apelidos nem com árvores genealógicas.
Imagina-se o sobressalto que terá percorrido os salões do Vaticano esta semana
ao descobrirem, com pasmo e horror, que Maria
João Avillez não colocou o seu nome na sacrossanta Comissão da Carteira
Profissional de Jornalista.
Estes
dias foram de inveja e de raiva reprimida. Em certo sentido, olhando para o
currículo do alvo da fúria deles, eu percebo: quem lhes dera. Mas valeu tudo.
Maria João Avillez foi acusada de não ser jornalista, foi acusada de ter feito
carreira apenas por pertencer à “corte” desde o berço — e foi ainda acusada,
claro, de ser “de direita”. É uma crítica interessante porque, durante quinze
longos anos, a “classe” não se importou de ter como presidente do sindicato um
jornalista que hoje é deputado eleito pelo PCP.
Além de mostrar incoerência, esta
crítica selectiva mostra ignorância. Conheço profissionalmente Maria João
Avillez há muitos anos, quase 20. Trabalhamos agora juntos no Observador e,
antes, trabalhámos juntos na revista Sábado. Em todo este tempo, nunca
vi Maria João Avillez a trocar um juízo jornalístico por um cálculo político:
escreveu sempre o que tinha a escrever e fez sempre as perguntas que tinha a
fazer. Mas, lá está, não precisam de acreditar no que eu digo. Nestas longas
décadas de trabalho e esforço, Maria
João Avillez nunca se escondeu: o trabalho que fez, pela sua própria natureza,
é público. As entrevistas estão gravadas, os artigos estão publicados, os
livros estão editados. Agora, ao fim de mais de 50 anos, querem convencer-nos
que Maria João Avillez não é uma jornalista, é apenas uma usurpadora. A mim,
dá-me vontade de rir. Suspeito que a ela também.
COMENTÁRIOS (de 118)
Francisco Costa > Ruço Cascais: Disparate completo. A qualidade e criatividade da obra
de nada interessam se não houver canudo ?! Defesa da mediocridade…. Leopoldo
Carvalhaes > Ruço Cascais: Ai Ruço. Esse pseudónimo assenta-te com uma
luva. Agora um canudo faz um jornalista. Tem-se visto a mediocridade dos
encartados… José B
Dias > Ruço Cascais: Presumo que quando escreveu
"cooperativismo" quisesse efectivamente dizer
"corporativismo"! Claramente coisa de quem não se esforçou a tirar um
curso de comentador ... ou, pelo menos, a prestar atenção nas aulas. Marta Santos > Ruço Cascais: Eu não sou da área mas é sabido que
antigamente não existia o curso de jornalismo ( foi uma coisa que se inventou
em 1979) normalmente os jornalistas tinham curso de direito, economia, letras,
etc), e a lei entretanto fez foi reconhecer quem tinha mais de 15 anos de
jornalismo não precisava do curso e podia automaticamente tirar a carteira de
jornalista. O curso só serviu para dar tachos no ensino a muita gente, e
diminuiu muito a qualidade do jornalismo porque ter um licenciado em direito a
fazer um artigo sobre justiça ou um economista sobre impostos é tendencialmente melhor
que um jornalista que tanto faz sociedade como justiça ou economia Maria
Tavares > Pedro Diogo Vaz: Exactamente. Nunca vi esse sindicato se insurgir
contra o LIXO que se produz, oral ou escrito, coitadinhos destes jornalistas, reconhecidos
pelo sindicato, que nem um texto ou apresentação sabem interpretar. Desde que
paguem a cota passam de mediocridade para estrelato. Não se espera outra coisa
desta esquerda. JOHN
MARTINS: O que
interessa é a clareza e profundidade das reportagens que não apenas informam
mas também educam e envolvem os cidadãos. Ora, Maria João tem-no feito ao
longo da sua vida. Depois desta entrevista ao Pº Mº Luís
Montenegro e antes tantas outras incluindo uma ao Papa, Maria João mostre a
essa casta que tem credibilidade para poder entrevistar altas figuras nacionais
e internacionais. Para inveja deles. Tim do A: De que é que a AD está à espera para acabar
imediatamente com a ERC e com todos esses órgãos censórios e pidescos compostos
por parasitas da sociedade que pululam por aí? Lupus Maris > Ruço Cascais: Pelos vistos, a "excelente" qualidade dos
cursos de jornalismo, não possibilita aos seus diplomados o conhecimento
suficiente para conhecerem o conceito de corporativismo, conforme demonstrado
no texto, no qual é escrito cooperativismo...ah, foi o corrector
automático!...ok... peço desculpa. João Floriano: Aplaudo Maria João Avillez e a crónica de Miguel
Pinheiro de quem tantas vezes discordo. A indignação destes guardiões do
jornalismo não é a falta de carteira, mas o facto de Maria João não ser
de esquerda. Gostaria de saber quantos jornalistas de esquerda andam por aí e
também têm a falta da tal «carteira». O garrote que a esquerda nos
está a impor está a ficar asfixiante. Os responsáveis pela classe
profissional dos jornalistas deveriam preocupar-se mais com a qualidade da
informação e sobretudo saber distinguir entre a notícia e a opinião. Maria jose de castro: Toda esta estúpida polémica em torno de MJA só
demonstra a importância que suas entrevistas e opiniões sempre tiveram desde o
25/4! Ela sempre
foi isenta, coerente e inteligente naquilo que disse e escreveu! Agora vêm uns tantos dizer que lhe falta um papel
qualquer! Ao que esta CS chegou!!! Fernando ce: Tenho 68 anos e meio. Sempre gostei de Política, e pelo menos desde os meus
19 anos (em 1975) que acompanho o percurso de MJA. Considerava-a a nossa Oriana
Falacci, pela forma como exercia a sua profissão. Sempre gostei de MJA, talvez
também por ser segundo penso de centro-direita, identificando-me com muitas das
suas análises. É alguém que nunca precisou da política nem do jornalismo para
sobreviver, o mesmo se passando com a sua irmã a saudosa Maria José
Nogueira Pinto que não precisava da política para nada, e que eu também
admirava e respeitava pelo desassombro , inteligência e independência. João
Ramos: Muito bem, Miguel Pinheiro, fica-lhe bem esta atitude pois a Maria João bem
a merece, este texto devia ser, e de certa maneira é, esfregado na cara de
tanto «jornalistas encartados» que mais não são do que incompetentes e
facciosos advogados de posições políticas que bem nos têm conduzido à
mediocridade deste país… Jorge Freitas: E, além disso, escreve
belissimamente, ao invés de 80% dos jornalistas encartados que, após
licenciaturas e mestrados, continuam a mal saber juntar duas letras. Marta
Santos: Diria que faltaram argumentos a demostrar que isto foi uma perseguição direccionada.
E o Ricardo Araújo Pereira que entrevista candidatos às eleições numa programa
de televisão? ou o Globo de Ouro da SIC que premiaram o Guilherme Geirinhas
pelo podcast “Bom Partido” onde foram quase todos os cabeças de lista das
Europeias? E todos os influencers e bloguistas que fazem entrevistas a políticos?
É que se vão pôr um processo à MJA que dêem o exemplo e processem todos Andrade > BG: Estava à espera que os meus filhos acordassem para lhes fazer algumas
perguntas, mas agora percebo que, antes disso, precisarei tirar a carteira de
jornalista. Considerando a qualidade linguística, o domínio dos temas e a
dicção de muitos dos que ouvimos diariamente, parece que não será uma tarefa
tão demorada. Quem sabe, talvez eu até consiga comprar uma carteira
profissional da mesma forma que se adquire um passaporte falso: em quinze
minutos e por 500€. António Soares: A entrevista que MJA deu a Montenegro, caiu como um pedregulho no esgoto
onde chafurda uma grande parte da nossa CS. O agitar das águas putrefactas,
causou um fedor nauseabundo... João
Floriano > Coxinho: O problema é que esses «pobres lacaios» não são tão
pobres assim e estão a dar cabo do nosso futuro. Veja por exemplo o caso do
Bloco. Não consigo encontrar gente mais preconceituosa, arrogante e donos da
superioridade moral. Totalmente errados. No entanto veja o poder que
continuam a ter sobretudo a nível da CS. Nuno Alves: Foi assim que tramaram o
António Abreu e o Noticias Viriato, lembram-se? Estaline e os seus sequazes, no
seu melhor. Coxinho:
Não faço ideia
se MJA é de direita ou de esquerda ou de alguma outra orientação política ainda
por baptizar. Provavelmente limita-se a ser uma pessoa honesta -- qualidade que
vai rareando nos dias que passam e cuja falta se nota mais na classe política. O
que sei é que ela preenche e excede todos os requisitos suficientes para a
elevar a um plano de excelência inusitado no jornalismo português. Quanto a
esse tipo do sindicato, seja ele politicamente convicto ou apenas ganancioso,
coitado... Paul C. Rosado: Figurinha ridícula, a deste
sindicalista. Cheira tanto a inveja... Graciete Madeira: Completamente de acordo com
este artigo. Carlos
Chaves: Sempre fui crítico (e continuo a ser), da tentativa de entronização de Mário
Soares (um político pernicioso para Portugal), que a Maria João Avillez, tem
feito durante a sua vida jornalística. Dito isto, esta minha posição não me
impede de ter por ela uma enorme consideração, admiração e agradecimento pelo
seu trabalho jornalístico exemplar, e pelo tratamento de luxo que sempre
deu, e dá, à nossa grande língua Portuguesa. Obrigado Maria João
(permita-me a familiaridade da linguagem). Este ataque vil, vindo de dentro da
classe jornalística é prova da sua degradação, um péssimo sinal para a
qualidade da nossa democracia. Obrigado Miguel Pinheiro, por vir pôr os pontos
nos ii. M Vicente: Felicito o Miguel Pinheiro,
por este artigo. Não conheço pessoalmente a Sra. M João Avilez, mas conhecedor
do seu trabalho, não a vejo merecedora de críticas tão mesquinhas e comichosas.
MJA, não precisa de fazer fretes a ninguém e, tomaram muitos, muitas e
"muites" jornalistas ter a postura, conhecimento e elevação da Sra. (Só
para acrescentar ao descrito pelo Miguel Pinheiro, se me permite: Acompanhei o
trabalho feito por MJA, recentemente aqui o Observador a 50 convidados, acerca
dos 50 anos do 25A). Nem é preciso referir mais nada, tudo o mais, o Miguel
Pinheiro, tem no texto... Afonso
Soares: Tem que ser
jornalistas do "yes man" para terem a aprovação dos
"independentes de esquerda". Infelizmente é o que temos e depois
queixam -se que ninguém os lê. Fernando ce: Adoro a Maria João Avillez.
Não precisa de fazer fretes para sobreviver. Obrigado, Miguel Pinheiro. josé cortes > Ruço Cascais: Tenha juízo. E cuidado. Se o ridículo matasse... Mas
não se passa nada, é só mais um comissário do PCP no sítio certo, como há anos
se esforçam por estar. Mas eles próprios estão em extinção. Agradeçam "mazé" ao
Montenegro por não se ir agora para eleições ALMA: Maria Joao Avillez, prepara as
entrevistas de forma competente, dá trabalho, mas o resultado é Bom. Mete Sindicato
de Jornalistas e o seu chefe manifestaram a sua " dor de corn." e
estupidez ao criticar uma Jornalista que lhes lembra , ainda hoje , a sua
incompetência. Leiam, aprendam português e ganhem algum sentido crítico e,
talvez, cheguem aos seus calcanhares. Comecem por deixar de publicar
notícias falsas ... Maria
Rita Menezes: Muito boa, justa e correcta defesa de uma óptima
jornalista! A inveja "mata"! Cpts Bernardo
Vaz Pinto: A mediocridade dos canudos e dos Srs drs professores…ridículo total …o
papelinho do corporativismo João
Angolano: O alimento da esquerda é a inveja o ressentimento e a pedra no sapato e
depois tem várias derivas uma delas é o ridículo
JOHN MARTINS > Ruço Cascais: Não discuto o conteúdo da
entrevista, o modo e o tom; o que vi foi um Montenegro muito descontraído e
certamente satisfeito com o trabalho feito em marcha acelerada em prol da
comunidade. Quanto à organização da entrevista, os seus assistentes fizeram o
que deviam... Nota: não vejo o porquê do seu comentário ter outro
destino! afonso moreira: A reacção da
"classe" é bem o espelho do que tem sido
a comunicação social nas últimas décadas. Estão mais preocupados consigo-mesmos
do que com o serviço que deviam prestar. São também culpados pelo nosso
subdesenvolvimento na medida e desde que se conluiem com o Poder instalado que
lhes distribui benesses várias. Só um ex: Ruela na comissão de inquérito das
gémeas. Maria Tejo > Jorge Tavares: Ora aí está uma excelente
pergunta? Suspeito de que o PS tem umas interpostas correias de transmissão
muito úteis, aparentemente ligadas à “extrema-esquerda” , que nos momentos de
aperto e perda arranjam faits-divers, que à falta de melhores argumentos, passam
pela detracção de factoides sem sentido. São propagandistas natos. João Fonseca: MJA tem muito que ensinar para
quem quiser aprender. Tem uma carreira e é uma profissional a sério! O
jornalismo em Portugal na sua maioria das vezes são a “voz do dono” e por isso
está na maioria dos casos falido à espera de sinecuras e serviços encomendados,
que permita a esses jornalistas vendidos uma vida dentro da zona de conforto a
que se habituaram. Pertinaz > josé cortes: Tocou no ponto criativo
crítico…
Pedro Lucas: Não me lembro dessa criatura sindical queixar-se da
inexistência de jornalismo em certos pasquins e Canais de M. na TV (got it?)
com muita carteira para dar...e vender (got it?). Os cães ladram, a caravana
passa. Ruço Cascais > Francisco Costa: A esta hora já devias estar a
fazer ó ó, senão ficas birrento e com pouco alcance intelectual. “O
canudo não interessa para nada. O que interessa são a qualidade e a
criatividade, valores inatos que dispensam a formação,” Deves ter razão, andam
as pessoas a estudar para quê? Pois é, ainda vou criar a NASA portuguesa com
meia dúzia de habilidosos e criativos que gostem de astrologia. Vai
dormir para acamares melhor essas ideias.
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