Mas quando se pretende justiça social em
função do tal “outro”, o do menosprezo anterior, nem sempre verdadeiro, “o
outro” passa o tempo em vinganças e sevícias tantas vezes injustas, de que a
Revolução Francesa é exemplo também, tendo por patronos esses filósofos
mentores da justiça no mundo, tais o Rousseau, o Montesquieu, o Voltaire… atacantes
do menosprezo anterior, nem sempre verdadeiro, e defensores da tal teoria do “bom
selvagem”, nem sempre verdadeira, também, na relatividade dos condicionalismos
por esse mundo... Por cá, a primeira República, organizada em função do ódio à
monarquia prepotente, foi o primeiro grande exemplo da instabilidade contínua
na governação. Mas à paz da tal República seguinte, de 40 e tal anos
chamou-se-lhe podre. Esta terceira tem as greves e as leis da bondade a
desintegrar, no ensino, na ordem, na nação…
E todavia … sim, a teoria do respeito
social, na igualdade e na fraternidade, é justa. O mal é que descamba, nas
raivas, nos ódios, nas contínuas ambições de cada um, ou mesmo só de alguns,
para todos os efeitos, decididamente mais espertos, fautores das leis, sempre
com a faca e o queijo na própria mão…
O Dr.
Luís Soares de Oliveira, queda-se, esclarecedoramente, pela PRIMEIRA
REPÚBLICA, com a Primeira Grande Guerra a sublinhar tanta ambição…
1 d ·
Caos e ordem
episódio 16
OS EFEITOS DA
GRANDE GUERRA
Foi a luta pela igualdade que permitiu o
extraordinário progresso do século xx Piketty
A vez da plebe
A I Guerra Mundial e os posteriores tratados de paz provocaram forte impacto nas sociedades europeias. Para já, foi um desmentido aos propósitos de quem a propôs pois não perpetuou os regimes monárquicos e clericais. Antes pelo contrário, destronou os seus proponentes na Áustria, Alemanha, e Rússia, que a tinham julgado meio de perpetuar a obediência dos súbditos. Antes pelo contrário, apeou a hierarquia anterior. Só na GB, onde monarca e clérigos já tinham sido arredados das cadeiras do poder séculos antes, o sistema político existente acomodou os novos condutores proletários sem recurso á violência.
Em Itália, tanto como em Portugal, o processo foi diferente:- a
mudança já tinha ocorrido antes da Guerra internacional. No primeiro, o
promotor da mudança - Garibaldi - veio da plebe, enquanto no segundo o
orientador - Afonso Costa - veio da universidade, mas ambos vinham dominados
pelo ódio.
A Igreja, o maior latifundiário do tempo não poderia ficar indiferente
a esta mudança no comando social.
Séculos mais tarde, pensadores americanos reconheceram que no mando as ameaças sempre superaram as recompensas e isto porque a resposta à ameaça é forte, imediata e difícil de ignorar. Mesmo assim recomendavam aos executivos das empresas que reduzissem as ameaças no interior das suas empresas e na sua maneira de gerir porque tinham constatado que os seres humanos não conseguem pensar criativamente, trabalhar bem com outros ou tomar decisões correctas quando sua resposta à ameaça está em alerta. O maior desafio do líder, seria pois criar o tipo de ambiente adequado que promova o todos por igual.
Ração burguesa
Com a fuga de Afonso Costa, Chagas e Norton e a morte de Sidónio em Dezembro de 1918, a escória organizada ficou dona da praça, senhora da República. A ordem ficou nas mãos dos que só podiam viver na desordem António José de Almeida, presidente de um dos partidos republicanos, perseguido por terroristas no Rocio de Lisboa que o diga.
Traduzido em cifras, as desordens violentas em Portugal totalizaram,
entre 1911 e 1927, 208 ou seja perto de duas por ano.
Poderíamos admitir que as revoluções se distinguem pelos
manejadores dos instrumentos de violência que utilizam. São eles que
impõem o seu estilo. Na revolução inglesa de
Cromwell foram os "cabeças redondas" puritanos que seriam enforcados
ou fugiram para - e fizeram- os EUA ; na francesa, foram os jacobinos que
impuseram o terror vingativo, a sanha, e, por fim, a guerra europeia.
Só na Rússia (1907/17) um político - Lenine -
conseguiu pôr fim ao mando dos terroristas. Adiante veremos como. Afonso Costa admirava-o mas não tinha a
perspicácia do russo. Esse teria sido esse também o fim, aqui como na Rússia
. Só que Lenine teve a sorte de os ingleses terem invadido a Rússia o que
LHE permitiu conduzir o processo sob a lei militar e empregando os velhos
oficiais do czar.
Os militares poderiam
assegurar a ordem mas precisavam de gente com outro preparo para lidar com os
restantes aspectos da gestão da cousa pública.
Acresciam outras dificuldades.
A intelectualidade do tempo detestava uma ordem preestabelecida e universalmente
respeitada, aquilo que os antigos atribuíam ao magisterium cristão, ou seja, a
formulação de um modo único de ser membro de uma comunidade. E isto não se passava só em Portugal.
Por
toda a Europa o sentimento era idêntico. Ali, também, cada extracto social
aspirava ao direito de formar cidadãos a seu modo. E este seria o problema social de sempre, a oposição entre o social e o económico. O primeiro requer a retenção da comunidade,
o segundo, pede a pulverização da mesma. Como compatibilizá-las?
A Igreja trouxe a alternativa da
promoção a criaturas, Deus, e criou a paróquia: todos dignos
de igual atenção e todos merecedores de perdão. A propriedade e a consequente desigualdade económica porém
restaurariam o embaraço e continuariam a fornecer motivos para desobediência.
A guerra mundial de 14-18 deixara tudo por
resolver. A paz de
Versailles resultou de um atabalhoamento do Presidente americano.
Woodro wilsuson criou mais dilemas do que os que dispersou. Perante a nova
realidade das massas organizadas, o conflito tornou-se violento. Na confusão criada alguns países recorreram à força e
à violência para restabelecer a ordem - que submeteram à lei do mais forte.
Foi o caso, entre outros, da Itália,
da Alemanha, da Espanha e da recém-criada URSS. Só Portugal, pareceu de início
capaz de resolver o assunto sem verter sangue.
(Continua)
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