sábado, 5 de outubro de 2024

A guerra promotora da justiça social


Mas quando se pretende justiça social em função do tal “outro”, o do menosprezo anterior, nem sempre verdadeiro, “o outro” passa o tempo em vinganças e sevícias tantas vezes injustas, de que a Revolução Francesa é exemplo também, tendo por patronos esses filósofos mentores da justiça no mundo, tais o Rousseau, o Montesquieu, o Voltaire… atacantes do menosprezo anterior, nem sempre verdadeiro, e defensores da tal teoria do “bom selvagem”, nem sempre verdadeira, também, na relatividade dos condicionalismos por esse mundo... Por cá, a primeira República, organizada em função do ódio à monarquia prepotente, foi o primeiro grande exemplo da instabilidade contínua na governação. Mas à paz da tal República seguinte, de 40 e tal anos chamou-se-lhe podre. Esta terceira tem as greves e as leis da bondade a desintegrar, no ensino, na ordem, na nação…

E todavia … sim, a teoria do respeito social, na igualdade e na fraternidade, é justa. O mal é que descamba, nas raivas, nos ódios, nas contínuas ambições de cada um, ou mesmo só de alguns, para todos os efeitos, decididamente mais espertos, fautores das leis, sempre com a faca e o queijo na própria mão…

O Dr. Luís Soares de Oliveira, queda-se, esclarecedoramente, pela PRIMEIRA REPÚBLICA, com a Primeira Grande Guerra a sublinhar tanta ambição… 

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

1 d  · 

Caos e ordem

episódio 16

OS EFEITOS DA GRANDE GUERRA

Foi a luta pela igualdade que permitiu o extraordinário progresso do século xx Piketty

A vez da plebe

A I Guerra Mundial e os posteriores tratados de paz provocaram forte impacto nas sociedades europeias. Para já, foi um desmentido aos propósitos de quem a propôs pois não perpetuou os regimes monárquicos e clericais. Antes pelo contrário, destronou os seus proponentes na Áustria, Alemanha, e Rússia, que a tinham julgado meio de perpetuar a obediência dos súbditos. Antes pelo contrário, apeou a hierarquia anterior. Só na GB, onde monarca e clérigos já tinham sido arredados das cadeiras do poder séculos antes, o sistema político existente acomodou os novos condutores proletários sem recurso á violência.

Em Itália, tanto como em Portugal, o processo foi diferente:- a mudança já tinha ocorrido antes da Guerra internacional. No primeiro, o promotor da mudança - Garibaldi - veio da plebe, enquanto no segundo o orientador - Afonso Costa - veio da universidade, mas ambos vinham dominados pelo ódio.

A Igreja, o maior latifundiário do tempo não poderia ficar indiferente a esta mudança no comando social.

Séculos mais tarde, pensadores americanos reconheceram que no mando as ameaças sempre superaram as recompensas e isto porque a resposta à ameaça é forte, imediata e difícil de ignorar. Mesmo assim recomendavam aos executivos das empresas que reduzissem as ameaças no interior das suas empresas e na sua maneira de gerir porque tinham constatado que os seres humanos não conseguem pensar criativamente, trabalhar bem com outros ou tomar decisões correctas quando sua resposta à ameaça está em alerta. O maior desafio do líder, seria pois criar o tipo de ambiente adequado que promova o todos por igual.

Ração burguesa

Com a fuga de Afonso Costa, Chagas e Norton e a morte de Sidónio em Dezembro de 1918, a escória organizada ficou dona da praça, senhora da República. A ordem ficou nas mãos dos que só podiam viver na desordem António José de Almeida, presidente de um dos partidos republicanos, perseguido por terroristas no Rocio de Lisboa que o diga.

Traduzido em cifras, as desordens violentas em Portugal totalizaram, entre 1911 e 1927, 208 ou seja perto de duas por ano.

Poderíamos admitir que as revoluções se distinguem pelos manejadores dos instrumentos de violência que utilizam. São eles que impõem o seu estilo. Na revolução inglesa de Cromwell foram os "cabeças redondas" puritanos que seriam enforcados ou fugiram para - e fizeram- os EUA ; na francesa, foram os jacobinos que impuseram o terror vingativo, a sanha, e, por fim, a guerra europeia. Só na Rússia (1907/17) um político - Lenine - conseguiu pôr fim ao mando dos terroristas. Adiante veremos como. Afonso Costa admirava-o mas não tinha a perspicácia do russo. Esse teria sido esse também o fim, aqui como na Rússia . Só que Lenine teve a sorte de os ingleses terem invadido a Rússia o que LHE permitiu conduzir o processo sob a lei militar e empregando os velhos oficiais do czar.

Os militares poderiam assegurar a ordem mas precisavam de gente com outro preparo para lidar com os restantes aspectos da gestão da cousa pública.

Acresciam outras dificuldades. A intelectualidade do tempo detestava uma ordem preestabelecida e universalmente respeitada, aquilo que os antigos atribuíam ao magisterium cristão, ou seja, a formulação de um modo único de ser membro de uma comunidade. E isto não se passava só em Portugal. Por toda a Europa o sentimento era idêntico. Ali, também, cada extracto social aspirava ao direito de formar cidadãos a seu modo. E este seria o problema social de sempre, a oposição entre o social e o económico. O primeiro requer a retenção da comunidade, o segundo, pede a pulverização da mesma. Como compatibilizá-las?

A Igreja trouxe a alternativa da promoção a criaturas, Deus, e criou a paróquia: todos dignos de igual atenção e todos merecedores de perdão. A propriedade e a consequente desigualdade económica porém restaurariam o embaraço e continuariam a fornecer motivos para desobediência. A guerra mundial de 14-18 deixara tudo por resolver. A paz de Versailles resultou de um atabalhoamento do Presidente americano. Woodro wilsuson criou mais dilemas do que os que dispersou. Perante a nova realidade das massas organizadas, o conflito tornou-se violento. Na confusão criada alguns países recorreram à força e à violência para restabelecer a ordem - que submeteram à lei do mais forte. Foi o caso, entre outros, da Itália, da Alemanha, da Espanha e da recém-criada URSS. Só Portugal, pareceu de início capaz de resolver o assunto sem verter sangue.

(Continua)

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