É o que parece, se formos justos.
Não importa em que dia começou a história
Qualquer país reagiria como Israel,
com a diferença de que teria o apoio da comunidade internacional. Em vez disso,
Israel é acusado de imoralidade e tem a ONU objectivamente ao lado dos
terroristas.
MARGARIDA BENTES
PENEDO, Arquitecta e deputada municipal
OBSERVADOR, 24
out. 2024, 00:1758
Chegaram a estar agendados para a mesma
sessão, até pela proximidade das datas: 5 e 7 de Outubro. Foram discutidos no princípio do mês, em reuniões sucessivas da Assembleia
Municipal de Lisboa, dois assuntos. Portugal, a propósito de um Voto
apresentado pelo PPM de Saudação pelos 881 anos do Tratado de Zamora, em que
Afonso VII de Leão e Castela reconhece a independência do Condado Portucalense
e Afonso Henriques como rei, a 5 de Outubro de 1143. Alguns consideram (e celebram) este dia como a primeira data da
fundação de Portugal. E
discutiu-se Israel, a propósito de um Voto de Repúdio pelos ataques do Hamas, a
7 de Outubro de 2023. Na
realidade, foram discutidos dois Votos, um de Repúdio apresentado pelo PPM,
outro de Pesar apresentado pelo CDS, ambos pelo mesmo ataque e no mesmo
sentido.
Veremos onde estes dois assuntos se cruzam, o que têm em comum, e de
que maneira a história da fundação de Portugal nos pode ajudar a compreender a
guerra no Médio Oriente.
Portugal
é um dos países mais antigos do mundo, no sentido em que existe como nação e
com as fronteiras estabilizadas há mais tempo. O Tratado
de Zamora, em 1143, terá sido a primeira data; mas foi preciso
esperar trinta e seis anos pela Bula
Manifestis Probatum, em 1179, carta em
que o papa Alexandre III valida o Tratado de Zamora, reconhecendo oficialmente
o reino de Portugal e respectiva soberania. Ainda assim, mantém-se
eternamente discutível qual a data exacta da nossa fundação com as fronteiras
de hoje. Houve batalhas antes e
depois destes documentos, invasões e conquistas aos mouros para sul, e alguns
dos territórios actuais só foram dominados e estabilizados em reinados posteriores.
Ao contrário da maioria dos países, nós não temos um feriado nacional
coincidente com a nossa fundação ou independência, em parte porque essa data é
impossível de fixar.
Onde é que o longuíssimo processo da
nossa fundação entronca com o ataque do Hamas a Israel? Entronca na lógica de um argumento: “A
história não começou a 7 de Outubro”, ou, na brumosa formulação de Guterres,
“os ataques não ocorreram no vácuo”. Numa ou na outra versão, este é um
dos principais argumentos do Hamas. O núcleo deste argumento, reduzido à sua
premissa fundamental, é que Israel é um Estado ilegítimo. Na base deste argumento, a ilegitimidade
de Israel está na maneira como foi criado, tirando territórios pertencentes aos
palestinianos, expulsando os palestinianos das suas casas sem os consultar e
com toda a brutalidade. Pelo processo da sua fundação, e segundo a tese do
Hamas, Israel é um “Estado colonial”.
Não vamos discutir se é verdade ou não.
Para a economia e para a lógica do nosso percurso mental, vamos imaginar que
sim, é verdade.
O que também é verdade, e disso temos
a certeza, é que se recuarmos o suficiente quase todos os países foram fundados
na invasão, colonização, e conquista brutal de territórios. Portugal, como vimos, não tem uma génese diferente:
também foi fundado na invasão, colonização, e conquista brutal de territórios. E o facto é que, gostemos ou não, Israel
existe, como Portugal existe; somos, num país e no outro, quase 10 milhões de
pessoas. Somos países muito semelhantes em termos de população, e diferentes em
densidade populacional: Israel tem cerca de um quinto da área do nosso
território. Pensar que estes 10 milhões de pessoas podem ou devem aceitar a
destruição do país delas é uma fantasia absurda. Israel não aceita como
Portugal não aceitaria. Imaginemos que os marroquinos acordavam com uma ideia…
Nenhum governo, de nenhum país, estaria
disposto a tolerar ataques com mísseis aos seus habitantes, nem matanças,
selvajarias, violações e reféns, em nenhuma circunstância, independentemente da
história e da legitimidade da sua fundação. A paz no Médio Oriente não será
conseguida tentando desfazer muitas décadas de história. Qualquer país,
qualquer um de nós, reagiria como o Estado de Israel, com a diferença de que
teria o apoio da comunidade internacional. Em vez disso, Israel é acusado de
imoralidade, tem o Ocidente hesitante, e tem a ONU objectivamente ao lado dos
terroristas.
ISRAEL MÉDIO
ORIENTE MUNDO PAÍS POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 58)
Jose Costa: Objectivamente, um bom artigo José Pinto de Sá: Excelente exposição. Há muito tempo que faço o mesmo
raciocínio, mas a Margarida expõe-no com brilho inexcedível. Obviamente que
todos os Estados nasceram e cresceram da violência! Eduardo Cunha: excelente crónica. Bernardo Gonçalves: Só falta referir que Israel foi reconhecido como
estado soberano em 1948 pela própria ONU, que como referido agora está ao lado
dos terroristas. Nessa data a Palestina. Os judeus que sempre lá viveram eram
"palestinianos". Hoje cerca de 2 milhões de árabes palestinos vivem
em Israel, com todos os seus direitos cívicos reconhecidos. V M Batista > Carlos Quartel: 40 mil segundo fontes do Hamas? Eduardo Costa: A ONU Credível morreu com o Idiot☆ António
Guterres. Esta ONU deixou de interessar. Ruço Cascais > V M Batista: Não só do Hamas, o Hezbollah também sabe contar muito
bem. Aliás, todos os funcionários da ONU captados a estas forças vitimizadas
por Israel tem que fazer um exame de contagem para poderem entrar para a ONU.
Por exemplo: um camião que leve 6 toneladas de alimentos, quantas toneladas de
tubos PVC para canalização de esgotos pode levar? Se temos 50.000 refugiados
para entrar numa fronteira ao ritmo de 100 refugiados por hora, quantas horas
são precisas para entrarem todos? E por fim a mais difícil: se um pântano
precisar de 1000 litros para afogar uma pessoa, quantos tempo tem essa pessoa
de vida se o pântano crescer a 10,5 litros por mês? Paul C. Rosado: Tem toda a razão. A ONU e o
Guterres têm sido o maior activo do islamismo nos últimos tempos. A Rússia, a
China e o Irão adoram-no! O rei do pântano! Gastão Ferreira: Tal e qual, a parcialidade de Guterres é chocante. Francisco Almeida: Comungo inteiramente dos
sentimentos de Margarida Gomes Penedo, apoio totalmente Israel e sinto vergonha
de Guterres. Dito isto, a comparação não foi historicamente feliz. O que é hoje Portugal era um
território do rei de Leão e outro dominado por sucessores dos invasores
muçulmanos. O primeiro, é apropriado por um filho da legítima governante que
lidera uma revolta de cavaleiros contra o domínio político de um conde galego e
o domínio feudal de cinco grandes famílias. Vencidos a governante, o conde
galego e as cinco famílias (todas apoiantes de D. Teresa) D. Afonso Henriques
intitula-se e faz-se reconhecer como rei e inicia a reconquista cristã dos
territórios sob domínio muçulmano. Nesta história a população não é sujeito. Tudo, desde
a revolução social que elimina um poder feudal e promove jovens cavaleiros, até
à deslocação do centro do poder do Norte para Coimbra, é promovido e executado
por elites. Ao invés a história de Israel, não envolve revoluções sociais nem elites e
o sujeito dessa história é a sua população. klaus muller > Novo Assinante: Chega a ser fascinante o modo
como te associas ao disparate a qualquer hora e sem consideração de espécie
nenhuma. Carlos Quartel: Demasiado simplista. Destruir
70% das casas, liquidar mais de 40 mil é resposta desproporcionada. Não é
reacção de defesa, é tentativa de provocar o pânico, na esperança de uma fuga
generalizada. Como se faz no West Bank, acossando os residentes, demolindo casas, com
colonos a fazerem tiro ao alvo às ovelhas, num acosso permanente e como se fez
em 1948, provocando o êxodo de quase um milhão. Demasiado complicado para uma
crónica ligeira, sobre um voto na CML.
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