As causas sociais no século XX e as suas lutas de orientação proletária.
Por LUIS SOARES DE OLIVEIRA.
4 D ·
CAOS E ORDEM
episódio 16
Os efeitos da GRANDE GUERRA
Foi a luta pela igualdade que permitiu o extraordinário progresso do
século xx Piketty
A vez da plebe
A I Guerra Mundial e os posteriores
tratados de paz provocaram forte impacto nas sociedades europeias. Para já, foi um desmentido aos propósitos
de quem a propôs pois não perpetuou os regimes monárquicos e clericais. Antes pelo contrário, destronou os seus proponentes na
Áustria, Alemanha, e Rússia, que a tinham julgado meio de perpetuar a
obediência dos súbditos. Antes
pelo contrário, apeou a hierarquia anterior. Só na GB,
onde monarca e clérigos já tinham sido arredados das cadeiras do poder séculos
antes, o sistema político existente acomodou os novos condutores proletários
sem recurso á violência.
Em
Itália, tanto como em Portugal, o processo foi diferente:- a mudança já tinha
ocorrido antes da Guerra internacional. No
primeiro, o promotor da mudança - Garibaldi - veio
da plebe, enquanto no segundo o orientador - Afonso Costa - veio da universidade, mas ambos
vinham dominados pelo ódio.
A Igreja , o maior latifundiário do
tempo não poderia ficar indiferente a esta mudança no comando social.
Séculos mais tarde, pensadores americanos reconheceram que no
mando as ameaças sempre superaram as recompensas e isto porque a resposta à
ameaça é forte, imediata e difícil de ignorar. Mesmo assim recomendavam aos
executivos das empresas que reduzissem as ameaças no interior das suas empresas
e na sua maneira de gerir porque tinham constatado que os seres humanos não
conseguem pensar criativamente, trabalhar bem com outros ou tomar decisões
correctas quando sua resposta à ameaça está em alerta . O maior
desafio do líder, seria pois criar o tipo de ambiente adequado que promova o
todos por igual .
Ração burguesa
Com a fuga de Afonso Costa, Chagas e
Norton e a morte de Sidónio em Dezembro de 1918, a escória organizada ficou
dona da praça, senhora da República. A ordem ficou nas mãos dos que só podiam viver na desordem, António
José de Almeida, presidente
de um dos partidos republicanos, perseguido por terroristas no Rocio de Lisboa
que o diga.
Traduzido em cifras, as desordens
violentas em Portugal totalizaram, entre 1911 e 1927, 208 ou seja perto de duas
por ano.
Poderíamos admitir que as revoluções se distinguem pelos manejadores dos
instrumentos de violência que utilizam. São eles que impõem o seu estilo. Na
revolução inglesa de Cromwell foram os "cabeças redondas"
puritanos que seriam enforcados ou fugiram para - e fizeram- os EUA; na
francesa, foram
os jacobinos que impuseram o terror vingativo, a sanha, e, por fim, a guerra
europeia. Só na Rússia (1907/17) um político - Lenine - conseguiu
pôr fim ao mando dos terroristas.
Adiante veremos como. Afonso Costa
admirava-o mas não tinha a perspicácia do russo. Esse teria sido esse também o
fim, aqui como na Rússia. Só que Lenine
teve a sorte dos ingleses terem invadido a Rússia o que LHE permitiu conduzir o
processo sob a lei militar e empregando os velhos oficiais do czar.
Os militares poderiam assegurar a ordem mas precisavam de gente com
outro preparo para lidar com os restantes aspectos da gestão da cousa pública.
Acresciam outras
dificuldades. A intelectualidade do tempo detestava uma ordem preestabelecida e
universalmente respeitada, aquilo que os antigos atribuíam ao magisterium
cristão, ou seja, a formulação de um modo único modo de ser membro de uma
comunidade. E
isto não se passava só em Portugal. Por toda a Europa o
sentimento era idêntico. Ali, também, cada extracto social aspirava ao direito
de formar cidadãos a seu modo. E
este seria o problema social de sempre, a oposição entre o social e o económico. O primeiro requer a a retenção da
comunidade, o segundo, pede a pulverização da mesma. Como
compatibilizá-las?
A Igreja trouxe a alternativa da promoção a criaturas,
Deus, e criou a paróquia: todos dignos de igual atenção e todos
merecedores de perdão. A propriedade e a consequente desigualdade económica
porém restaurariam o embaraço e continuariam a fornecer motivos para
desobediência. A guerra mundial de 14-18
deixara tudo por resolver. A paz de Versailles resultou de um atabalhoamento do Presidente
americano. Woodro w Wilson criou mais dilemas do que os que dispersou. Perante a nova realidade das massas
organizadas, o conflito tornou-se violento. Na confusão criada alguns países
recorreram á força e á violência para restabelecer a ordem - que submeteram à
lei do mais forte. Foi o caso, entre outros, da Itália, da Alemanha, da
Espanha e da recém criada URSS. Só Portugal, pareceu de início capaz de resolver o assunto sem verter
sangue.
(Continua)
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