sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Sim, ele era humano


E, naturalmente, educado. Vítima maior, como representante-mor de um terreno propício a incendiários, seguidores do exemplo dos ex-não defensores da simples nação.

MARCELO CAETANO - 5

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

 A BEM DA  NAÇÃO, 10.10.24

Fartos de tanto chumbo, os liberais bateram com a porta da Assembleia e desligaram-se do «velho amigo» deixando-o desamparado. Marcelo recusou, entretanto, assumir a substituição de Américo Tomás na Presidência da República. Passados alguns dias, os mastins «convidaram-no» a ir passar uns tempos ao Palácio de Queluz donde só sairia quando Américo Tomás dissesse. Caetano teve que negociar a sua própria liberdade e remodelou o Governo substituindo tecnocratas por burocratas inqualificáveis. Pediu ajuda à «Brigada do Reumático» em vez de falar com os Capitães já em movimento e o caldo ferveu. Então, quando a corda estava já tão emaranhada que não havia ponta por onde pegar, os «militares de Abril» saíram à rua, cometeram a injustiça de tratarem Marcelo e Tomás por igual e deitaram o Ultramar para o caixote do lixo no Largo do Carmo. Passados 50 anos, a maior parte desses militares de Abril, ainda não acredita que foi manipulada por Moscovo.

Cada acção governativa de Marcelo foi um dedo apontado a cada defeito político de Salazar; dos defeitos de Marcelo é este texto fértil.

E agora? «Agora é tarde e Inês é morta» como disse Pedro I, Rei de Portugal. Será? Creio que a Democracia arranja solução.

 Outubro de 2024

Henrique Salles da Fonseca

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COMENTÁRIOS

 Francisco G. de Amorim  10.10.2024  16:21: Solução??? Cada vez mais longe da vista e a afastar-se.

Outubro de 2024

Henrique Salles da Fonseca

  Adriano Miranda Lima  10.10.2024  19:33: Confesso que não tenho memória de "os mastins terem 'convidado' Marcelo Caetano a ir passar uns tempos ao Palácio de Queluz donde só sairia quando Américo Tomás dissesse, tendo que negociar a sua própria liberdade". Bem, se a censura controlava a informação, filtrando-a e seleccionando-a para apenas chegar ao público o que convinha aos "mastins", não admira que eu não tivesse sabido de nada, pois imagine-se agora o que (não) chegaria em matéria de informação a quem estava no interior de África, como foi o meu caso! Bem, terá sido um encarceramento dourado, prelúdio do que aconteceria pouco tempo depois? Este é mais um texto do Dr. Salles da Fonseca em que resplandecem a ironia e a metáfora na sua arte de comunicar dizendo tudo em poucas palavras e deixando que o leitor faça o seu julgamento. E o meu só pode ser de apreço pelo rigor e respeito pela factologia histórica, o que só é possível a quem se despe de partidarismo e sectarismo ideológico. Caetano poderia ter falado com os capitães em vez de se encostar à "brigada de reumático"? Sim, talvez, mas resta saber qual teriam sido os seus resultados práticos. Os capitães não tinham qualquer preparação política, tanto assim que aceitaram pacificamente que Marcelo entregasse o poder a um general para que ele não caísse na rua. Só que ele acabou por cair mesmo na rua com a soltura de mastins de outras cores que só seriam açaimados em 25 de Novembro de 1975. Admitindo que Marcelo poderia ter sobrevivido politicamente, com um pouco de cedência, tolerância e tacticismo, mas acabaria por ser arrastado e devorado pelos acontecimentos tal como sucedeu com outros actores da cena político-revolucionária. Apesar de tudo, conseguiu-se salvar a democracia liberal de que hoje usufruímos, sim, com perplexidades e atribulações no seu percurso, mas incomparável com os regimes iliberais pelas potencialidades que oferece. O Dr. Salles encerra o seu texto com chave de ouro com o "epitáfio" certeiro que faz do antigo governante.

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